segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

“A Dama e o Vagabundo”, um musical bom pra cachorro


Um musical nem sempre deve ser uma mega produção, com um elenco extenso e repetidamente com as mesmas vozes. As vezes, quando assisto aos musicais que desembarcam por aqui, sinto-me sentado à mesa daquela família de todos os domingos, que contam as mesmas histórias e as piadas de sempre. Incomoda-me o elenco de sempre. “A Dama e o Vagabundo” escapa dessa mesa, avança no conceito da simplicidade e caminha para um roteiro compreensível para pais e filhos. O espetáculo, dirigido por Tiago Pessoa, tira dos livros infantis uma história romântica e divertida entre um cão vira-lata e uma cadela de raça.

O espetáculo segue o modo brando de equilibrar as maldades e as bondades no roteiro. Lembro-me certa vez de ter visto uma peça criada para crianças contendo um roteiro completamente mal dirigido, com um clima pesado para o vilão, psicologicamente inviável para classificação livre. Mas isso acontece em alguns roteiros infantis, tudo depende da canalhice comercial de cada produção e direção. “A Dama e o Vagabundo” prende e diverte não só as crianças, mas cria um elo com os familiares que os acompanham. Um roteiro de classificação livre deve ser assim, afinal, ele precisa compreender à todo o público.

Higor Fernandes vive o cão Vagabundo, que em seu nome já revela a vida mundana que leva, agraciado pelos regalos dos fins de jantares em restaurantes, mas sempre fugindo da carrocinha. Lili, a delicada cadela vivida por Laís Lenci, deixa sua casa, onde era cuidada por uma família, que enquanto viajava deixou o filho e a cocker aos cuidados da temida tia Gioconda, interpretada por Delidia Duarte. O musical desenrola uma história romântica entre os dois cães, entrelaçando confusões e graça.

A importância dos espetáculos infantis em cartaz nos teatros é evidentemente explicada pela presença do público, que é assíduo, além disso, a produção de peças dessa natureza inserem a infância à cultura e trazem a experiência de, em muitos casos, ser esta a primeira peça de teatro daquela criança, ou mesmo dos pais, que por preços mais acessíveis podem também inserirem-se nesta experiência. Para um diretor este deve ser o maior mérito, e Tiago Pessoa deixa isso bem claro, enquanto monta este espetáculo com total carinho, que pode ser percebido a cada cena que prende o público, que os faz sorrir, cantar, baterem palmas e dançar. Vê-se pelas cadeiras fundas do teatro (item que precisa ser adaptado no Teatro Ressurreição*) as cabecinhas pensantes espichando-se para acompanharem cena a cena, enquanto comentam as surpresas com os pais. Isso é teatro, isso é direção, isso é cena, isso é público.

O roteiro é adaptado por Maria Fernanda Gurgel, e apresenta canções contagiantes sobre notas de músicas famosas. Laís Lenci, que vive Lili, adocica o espetáculo com sua voz e atinge bem ao público com uma atuação “didática”, feito uma contadora de histórias infantis, daquelas que a gente só conhece e gosta quando é criança. Higor Fernandes, que interpreta Vagabundo, além de destacar-se pelo seu atípico “H” no nome, desperta a dinâmica canina do musical, flexível e inteiro ao texto, ele doa-se com total carisma artístico ao personagem e faz a química pueril no romance. Delidia Duarte apresenta erros técnicos de cena em sua primeira entrada, falta mais naturalidade, sei que falar isso é um tanto clichê, mas há clichês que não podemos fugir, já que os atores também não o desprendem de si. Porém durante o espetáculo ela cai no humor, e vai revelando-se grande no palco e mais solta. Aos atores que completam o elenco, Alexandra Paixão, Felipe Ludovico, Marcela Arribet, Márcio Diniz, Mariana Merenda e Ruy Brissac, ficam os aplausos, porém espero os aplaudir ainda mais, quando também desprenderem-se mais do texto e levarem melhor a naturalidade ao personagem. O palco é uma outra vida, e precisa ser vivida com a mesma espontaneidade da vida real.

A iluminação, de Paulo Tardivo e Robson Vellado, é, em grande parte, muito bem desenhada, contornado o clima alegre, ou mais tenso das cenas, porém, em alguns momentos, ela mancha o cenário projetado por imagens ao fundo, apagando a profundidade do palco. O cenário é como tirado de um livro de contos, logo, adequado em suas cores, mas eu mudaria um pouco o tamanho disso, deixaria os adereços do palco maiores, já que os cães não podem ser do mesmo tamanho que um banco da braça, ou que um poste de luz, isso torna a trama um tanto irreal demais. Tony Filho, que assina a cenografia, também é responsável pelo lindo figurino, que é bem visual, criativo e característico.

O espetáculo “A Dama e o Vagabundo” é uma recomendação minha, tanto para as férias, quanto para todo o período em que estiverem em cartaz, que deve ser até Abril, no Teatro Ressurreição, em São Paulo, sempre aos domingos, às 16h. O valor do ingresso é de R$ 30,0, inteira. A Pessoa Produções é a responsável pelo espetáculo, que sempre recebe seu público com total carinho, e aos quais estimo o contínuo sucesso que noto seguirem.

*Obs.: Ao Teatro Ressurreição recomendo que adquiram aqueles adaptadores de assentos, para que as crianças possam ficar mais altas quando acomodadas às poltronas. Isso é um descuido de alguns teatros. As poltronas tornam-se fundas para as crianças, que acabam colocadas no colo dos pais e acompanhantes.

2 comentários:

  1. Maria Cláudia Gurgel do Amaral24 de janeiro de 2012 às 20:03

    Sucesso para A Dama e O Vagabundo, sucesso para a autora diretor, atores e todo corpo técnico

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  2. Parabén atodos da equipe.Sucesso sempre.
    Victor Hugo Santiago.

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