quinta-feira, 8 de maio de 2014

Jair Rodrigues deixa os palcos para sempre

Jair Rodrigues veste luto à música brasileira no dia de hoje. Um dos mais animados ícones populares da canção, simples, gentil e que valorizava como ninguém a nossa cultura. É lastimável que com tantas recentes perdas não tenhamos quem substitua talentos memoráveis deste país. Jair Rodrigues deixa, aos 75 anos, ainda mais saudades da música que se fazia nos tempos de ouro. Que fique de lição para as rádios, para as emissoras, para as produtoras - tratem nossos artistas a pão-de-ló antes que seja tarde! A causa da morte ainda não foi divulgada, o cantor foi encontrado sem vida na manhã desta quinta-feira (8).
Fotos: Reprodução de Internet
Certa vez tomei um táxi para ir a uma gravação e o motorista conversava comigo sobre música, sua primeira citação foi Jair Rodrigues. Jamais esqueci a ternura que aquele homem desvendava enquanto falava de Jair. Não era fã antigo, era um senhor, fã recente. Conheceu Jair no táxi, quando levou-o a uma gravação também. Jair sentou-se no banco da frente, ao lado do taxista, e com ele foi trocando confidências, jogando conversa fora, como se fossem amigos de longa data. Esse era o Jair!
O cantor fazia sambas do seu jeito, parecia ter algo jazzístico à tessitura de sua voz. Sapecava a mão no pandeiro como um jogador chuta uma bola. Jair tinha facilidade de aproximar a música ao público, porque ele fazia-se público antes de querer ser artista. O palco era a cozinha de sua carreira, todos nós estávamos ao alcance dele!
Ele nasceu em Igarapava (SP), em 6 de fevereiro de 1939. Começou a cantar em shows de calouros na década de 60. Jair fez grande sucesso com "Deixa isso pra lá" - essa é a mais fiel representante do rap nacional, para aqueles que não sabem o que é rap. O cantor ficou famoso por seu gingado irreverente e os movimentos que fazia com as mãos, enquanto cantava.
Jair teve uma das mais nobres parceiras, Elis Regina. Em 1965 lançaram o "Dois na Bossa", disco ao vivo, que deu origem a mais outros dois. A amizade rendeu-lhe um programa na TV Record, O Fino da Bossa.
Em 1966 venceu o II Prêmio de Música Popular Brasileira, com "Disparada", de Geraldo Vandré e Teo de Barros. Ele dividiu o prêmio com "A Banda", de Chico Buarque, interpretada por Nara Leão.
As idas mais inesperáveis são as mais dolorosas. Não sei se devo chamar essa partida de injusta. Acho mesmo que injusto é que não haja mais tamanho talento para compensar esse vazio!
Chegada a sua hora só nos resta homenageá-lo, afinal é assim que a imprensa vem tratando as pessoas. Lembrando-as apenas à morte.
Jair foi um homem feliz...

terça-feira, 6 de maio de 2014

Beth Carvalho, a branca mais preta do Brasil

Beth Carvalho, a cantora guerreira, subiu ao palco do Teatro Bradesco na quarta-feira (30), para mostrar que ela é a verdadeira Madrinha do Samba.
 
Cantando o seu mais novo álbum “Nosso Samba tá na Rua”, sem deixar de fora seus maiores sucessos como: Andanças, Coisinha do Pai, Vou Festejar, As Rosas não falam.. entre outras!
 
A madrinha ainda levou a menina Nicole, de apenas 6 anos, para dividir o palco, e acrescentou que tem medo de que o verdadeiro samba morra. Assistindo a um vídeo na internet encantou-se com a criança que canta lindamente e que com certeza não deixará o samba morrer.
 


O público retribuiu todo esse samba e antes mesmo do bis final todos já estavam em pé saudando a melhor das melhores.
No final ainda teve um pout-pourri com marchinhas de carnaval, que nos fez lembrar a infância. Os mais velhos saíram do show encantados e “cansados” de tanto dançar.

Sim, essa é a Beth Carvalho, a Madrinha do Samba, que leva o seu reinado por onde passa.

Foto: Bianca Tatamiya

Texto: Riziane Otoni

Beth Carvalho mostra porque o show tem que continuar

Foto: Nyldo Moreira
Beth Carvalho trouxe, mais uma vez, o samba para um teatro. A madrinha já é craque nisso, em 2007 gravou um DVD no Teatro Castro Alves, em Salvador, cantando o Samba da Bahia, em 2008 no Municipal do Rio de Janeiro e nas vésperas do último feriado colocou sua bateria sobre o palco do Teatro Bradesco, em São Paulo. Marcando a volta aos palcos, a sambista deixou a marca da superação e largou o samba na boca do público que permaneceu em pé durante todo o show.

Vamos ao teatro esperando assistir sentados a um espetáculo, mas, quando os repiques anunciam uma excitação maior do que as regras, os pés levam a emoção ao limite. Bastou que Beth Carvalho começasse a cantar seus sucessos, para o público dançar em pé. Em pouco tempo todo mundo foi contagiado. Essa é uma das minhas lembranças mais marcantes sobre o sucesso da passagem da sambista por São Paulo.
Após uma longa internação hospitalar, devido à complicações com a coluna, Beth voltou aos palcos. O samba, que andava murcho sem sua madrinha, está mais pomposo agora. A cantora, sempre muito afiada, não deixou de criticar o pagode que fazem atualmente, e conversou com o público como se estivesse em sua sala de estar. Emocionada, foi ovacionada pelos paulistanos!
O show ficou por conta dos diversos sucessos na voz da sambista, uma das poucas que ainda fazem a justa questão de mencionar os compositores. Beth é a mais expressiva e forte pronúncia dos poemas escritos sobre linhas de cavaco. Ela é a mangueira inteira na avenida!
O samba, nas cordas femininas, tornam-se melodias ainda mais belas. São traduções, que parecem passar por favos de mel, antes mesmo de cair nos pandeiros e tantãs. O Brasil, berço desse ritmo, é o nobre terreiro que gerou Clara Nunes, Dona Ivone Lara, Alcione e Beth Carvalho. O samba tem mais orgulho por causa delas!
Foto: Nyldo Moreira
A cantora levou para o show a pequena Nicole, de 6 anos. Beth conheceu a menina assistindo a um vídeo na internet, em que ela cantava "Tradição (Vai no Bexiga pra ver)", no Samba da Vela, tradicional reduto paulista. Imediatamente a mocinha subiu ao palco e dividiu a melodia com a cantora, que viu-se homenageada e com vida longa ao samba.
Beth fazia chorar seu cavaquinho e os olhos. O samba, melodia triste, como dizia o próprio Adoniran Barbosa, é mais feliz com sua majestade. Via-se uma escola de samba no palco, representada por uma sambista.
Ao ouvir Beth Carvalho sentimos no peito que realmente "o show tem que continuar"...