quinta-feira, 31 de julho de 2014

Maria Bethânia em 'Meus Quintais'

Não é surpresa alguma dizer que Maria Bethânia deixou seu toque interiorano num álbum. Apesar de viver numa grande cidade, a intérprete carrega a marca brejeira de suas raízes, o sotaque poético santamarense e agora cerca seus quintais com sons da melodia baiana. "Meus Quintais" é o título do último álbum lançado por Bethânia, pela gravadora Biscoito Fino, sem abrir mão das composições de Chico César, Roque Ferreira, Paulo Cesar Pinheiro, Adriana Calcanhoto, Tom Jobim e Dori Caymmi.
Maria Betânia. Foto: Divulgação

É quase que como uma menina lambuzando aos mãos de terra lá no fundo do quintal, quase à perder-se das vistas de sua mãe. E volta feliz, limpando as mãos na fina lã da calça, que protege do sereno do recôncavo, e recebendo um piscar conivente dos olhos e o sorriso de dobrar bochechas dessa mãe, que estirava-se na cadeira de balanço na varanda apenas para vigiar a filha. Uma longa sensação, essa que há de sentir ao ouvir "Meus Quintais".

Não há como ser tão técnico para falar de poesia, e Bethânia jamais poupou a poesia em seus trabalhos. Sobretudo agora, que desfia seus quintais. O álbum é muito íntimo, mas é um registro escancarado da doçura de uma artista baiana Enquanto desabrocham as faixas do CD, é possível deixar levar-se pelas canções e até mesmo notar a sensação de um anoitecer à luz do candeeiro sobreposto naquela mesma varanda, em que a mãe espreitava a volta de sua filha. Desta vez com a silhueta do coque branco de Canô repousado no ombro de sua menina.

Diante da petrificação das metrópoles, em que a extinção dos quintais dão lugar ao aperto dos casebres contemporâneos, a artista revela a imensidão de infâncias, sob a regência de sublimes composições, que cabem em seu preservado quintal. Como era em Santo Amaro!

Eu já estive naquele quintal de paredes brancas e janelas de madeira azul, sob os fachos do sol imperante no céu de Santo Amaro. Já estive no quintal das giras musicais, da voz fina e de acalanto de mãe Canô, da irmandade de Bethânia e Caetano, das poesias de Mabel, do cuidado de Irene, da preocupação de Bob e Rodrigo, do cheiro da comida de Clara e da saudade de Nicinha. O saudoso quintal de Santo Amaro, da casa de mãe Canô, ainda existe. Ao começar a ouvir o álbum "Meus Quintais" foi ele que veio aos meus olhos, sob as gargalhadas da família Veloso.

Uma reunião de caboclos é chamada e exaltada por Bethânia neste álbum, enquanto batucadas e violas parecem permitir que garças também participem da cantoria. É uma música quase espiritual, é um vibrato que resvala no insubstituível prato de Dona Edith, que jamais faltará nas criações de Maria Bethânia.

No disco há saudade, emoção, carinho, amor, raça, algo pueril, lágrimas e sorrisos... árvores chorando ao apanhar do vento, derramando galhos e folhas nos chãos daqueles inesquecíveis quintais, em que nós e Bethânia já pisoteamos no passado.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Elba Ramalho e Geraldo Azevedo no Theatro NET SP


O Theatro NET SP abre as portas novamente para um grande espetáculo, Elba Ramalho e Geraldo Azevedo em “Um Encontro Inesquecível”. Os  parceiros de longa data cantam os seus maiores sucessos, “Chão de Giz”, “De Volta pro Aconchego” e “Você se Lembra” ...

No palco, Geraldo lembra que Elba é a cantora que mais gravou suas músicas, os artistas gravaram 3 discos juntos e já se apresentaram em todo o País e no exterior.

O show terá apresentações nos dias 24 e 25 de julho.

Theatro Net SP
Rua das Olimpiadas, 360 – Shoppingo Vila Olimpia

Ingresso: R$ 50,00 a R$ 180,00

Texto e fotos: Riziane Otoni

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Gilberto Gil inaugura teatro em São Paulo

O mais novo teatro de São Paulo, o  Theatro NET SP, localizado no Shopping Vila Olímpia, abre as portas com um show imperdível do cantor Gilberto Gil, o “Gilbertos Samba”.

O espetáculo é uma homenagem a João Gilberto, com um repertório a altura. Nele estão: “Desafinado", "O Pato", "Desde que samba é samba", "Eu vim da Bahia",  e muitos outros sucessos da Bossa Nova.

Nesta segunda (21), Gil fez um show para convidados. Estavam na plateia o artista internacional Willem Dafoe e o bailarino Mikhail Baryshnikov. Também marcaram presença a atriz Bruna Lombardi, Marina Person, as cantoras Gal Costa e Gaby Amarantos, a atriz global Leona Cavallini, o cantor e compositor Arnaldo Antunes e o senador Eduardo Suplicy.

Gil veio acompanhado de Domenico Lancelotti, Maestrinho e Bem Gil, com produção musical de Moreno Veloso e Bem Gil.



Texto e fotos: Riziane Otoni

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Disney Live! Show de Talentos do Mickey


Disney Live volta ao Brasil com um novo espetáculo, o "Show de Talentos do Mickey". Os personagens Minnie, Donald e Pateta embarcam no fantástico ônibus do Mickey à procura de talentos e pelo caminho encontram Cinderela e as irmãs malvadas, Woody e seus amigos do Toy Story e o Tigrão.

O espetáculo incluí a participação do público, e convida as crianças para cantarem com a Cinderela, pularem com o animado Tigrão e  ainda a subirem ao palco para completar o show.

O "Show de Talentos do Mickey" é um daqueles musicais perfeitos para a família, todo mundo está convidado a interagir e a embarcar junto nesse ônibus de estrelas. A turnê estará em cartaz na capital paulista, no Teatro Bradesco, entre 16 e 30 de julho. Em seguida em Salvador.

Texto de Riziane Otoni

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Franz Keppler em suas delirantes influências

A Suíte Número 1, de Bach, queima as cerdas do cello como um dedo raspando uma vulva em calorosas brasas... a licença poética, dura, saiu da mesma catarse de Franz Keppler. Na presença do vinho e da Suíte de Bach o autor construiu mais uma de suas obras primas - "Só entre Nós" - um triângulo amoroso desenhado à lápis carvão, permitindo-se borrar pela delicadeza de um sopro.

"Só entre Nós" é mais uma das peças cravejadas de sequelas psicológicas, fiel marca de Keppler. Quando tudo começa uma angústia consome toda a mente, um vazio parece emburrecer e a inquietude estala nossa íris, como a de uma câmera que tenta dar close na presa. É assim que resumo o sentimento ao início de um texto "keppleriniano"... uma dor que vai sendo medicada e desatinada ao senso poético da prosa.

Para contemplar com mais fervor o véu cálido do texto, o autor jorra com um tiro pinçadas de Caio Fernando Abreu e deixa ao fundo o ruído hipnotizante de Bach. Seus textos parecem não amanhecer... eles aparentam dor, solidão, medo... e nós, no conjunto de público, tentando resolver com a impotência da angústia. Isso tudo, pra mim, é de uma beleza imensurável!


O triângulo amoroso da história geme as dores de uma possível solidão, a permissão de uma vida incomum aos dogmas do amor... a fuga do vazio e um jato de lembranças. O amor de dois homens á volta de uma mulher são como cravos e canelas num chá, que aromatizam um encontro para tomarmos anis. Essa loucura de Keppler, quase incompreensível, me fascina. Dois homens e uma mulher, encontram nas suas histórias um bom motivo para revisitar as próprias vidas e entrelaçá-las, causando dependência uma da outra, vivendo como se fosse o sangue do outro.

A prosa dura, como se fosse recitada por soldados, calçam uma beleza retrógrada... como um encontro de generais russos que solfejam flores uns para os outros. Joca Andreazza é o regente dessa prosa, o diretor do betume cheiroso e sem cor alguma... belo pela singularidade e simplicidade do conjunto da obra. Joca é um rebocador da genialidade de Keppler, é um Rodin de uma argila pronta para ganhar forma. Ele da o som, a forma e o movimento!

Marcia Nemer-Jentzsch, Ricardo Henrique e Tiago Martelli encenam o triangulo, ponteando cada extremidade com o cume de suas delicadezas cênicas. Eles agregam doce e amargo numa mistura homogênea... o trabalho de direção é claramente visível, um ator depende do outro para a história de seus personagens, é lindo! Marcia tem a voz, Ricardo tem o timbre e Tiago tem o tom... Marcia tem a forma, Ricardo os passos e Tiago o olhar. Cada um recita o outro, como se estilhaçassem o próprio coração, dissecassem as veias.

A iluminação de André Lemes circula com afago as histórias e Ricardo Gali desenha bem esse circulo com um trabalho invencível de preparação corporal... os corpos exaurem a própria mente artística do trio. Tiago parece embebedado pelo texto e exauri um hipnotismo na vermelhidão azulada de seu olhar. Marcia não poupa o tronco e deixa passar com força pela pele branca e escorrer da boca um som tão belo, que ela deve chamar de voz. Ricardo tira das barbas o que Aquiles arranjava do tendão, a força e a violência dos atos combinados de recitar e caminhar com as palavras.

As loucuras poéticas e tônicas de Franz Keppler são um brilho para o teatro contemporâneo, que caminha entre o ontem e o hoje sem ridicularizar a arte!

"Só entre Nós" está em cartaz até 15 de Julho no Espaço Beta, do Sesc Consolação, em São Paulo. Em dias e horário formidáveis - Segundas e Terças, às 20h.