Quando conheci Carminho, uma catarse foi tomando conta de mim. Todo e qualquer som foi expulso do redor e só sua voz girava pelo ar. É daquelas vozes que adentram ao nosso corpo e vai escapando em arrepios consecutivos, como se ela procurasse espaço pra eclodir, enquanto desfragmenta-se dentro da gente. Carminho despertou-me a atenção ao fado, a delicadeza das letras e o calor de sua voz, como Amália Rodrigues fez-me.
A fadista apresentou-se na última edição do Prêmio da Música Brasileira, que homenageou Tom Jobim, e cantando "Sabiá" pôs em pé toda a plateia de músicos e ganhou os holofotes da edição. Carminho recolonizou o Brasil e aproximou ainda mais a religiosidade artística entre nós e os lusos. A cantora azeita ainda mais a poesia de nossa língua, faz com que ela pareça bem mais nossa do que a história conta.
Incansável de surpreender no palco, de arrancar aplausos, sorrisos, arrepios e lágrimas, Carminho sapecou uma história de Fernando Pessoa, e cantou-a inspirada. Seu último CD, "Alma", traz duetos com Milton Nascimento, Chico Buarque e Nana Caymmi. Carminho é apaixonada pelo Brasil e por nossa música, algo que nos torna tão comuns!
Ao final do show, abracei-a com um propósito ainda maior do que o agradecimento pelo belíssimo e impecável espetáculo: "cante com Maria Bethânia, por favor!", foi o que pedi a ela!
A cantora ainda apresenta-se hoje no Tom Jazz, em São Paulo.