quinta-feira, 15 de julho de 2010

“Nara”, música e teatro sobre a musa da Bossa Nova


Sobre a vida de uma das cantoras mais influentes da música brasileira, estreou em abril, no Teatro Augusta, em São Paulo, a peça "Nara", sobre a vida da artista. Desde seus primeiros passos na música às grandes parcerias, e sua morte, o espetáculo nos faz viajar no tempo com canções imortalizadas. O texto é da própria atriz Fernanda Couto e de Márcio Araújo. Produção de Beti Antunes e Renato Araújo.

Nara Leão é representada pela atriz Fernanda Couto, que contracena e canta com Willian Guedes, Silvio Venosa e Rodrigo Sanches, que interpretam cantores como Tom Jobim, Chico Buarque e outros renomados nomes que fizeram parcerias com Nara Leão. Os mais de 25 anos de carreira da cantora são apresentados em passagens bem costuradas, os relacionamentos, bem como seu namoro com Roberto Menescal, Bôscoli e os cineastas Ruy Guerra e anos depois Cacá Diegues, com quem teve dois filhos e se casou, ainda o tumor que lhe tirou a vida é levado ao palco poeticamente, encenando aquilo que lhe perturbava e deixando sua morte sem ser representada, o que dá leveza ao enredo da peça.

O que me incomodou um pouco foi a sucessão de narrativas, onde o roteiro fica muito preso ao que a própria atriz, que representa Nara, conta. São poucas as encenações, onde ora fala-se na primeira pessoa, ora na segunda, o que acaba deixando o texto um tanto confuso. Porém a proposta é ótima, a atriz Fernanda Couto não tem lá tanta aparência com Nara, talvez o cabelo batido no ombro, que poderia ser um pouco mais curto, nos remeta a imagem da cantora, porém quando a ouvimos, com sua afinadíssima voz, logo vêm à lembrança aqueles tempos, da doçura de seu timbre vocal, de seus delicados gestos ao toque do inseparável violão. A proposta do diretor Márcio Araújo, que já conheço de outros textos, certamente não foi retratar a voz e aparência de Nara, mas sim fazer que o público relacione a imagem da atriz às expressões da cantora, sem que o espetáculo ganhe um tom de imitação, e sim de uma homenagem e recordação.

O singelo cenário é maravilhoso, tem um imenso pano retalhado ao fundo, onde são projetados os nomes dos intérpretes e compositores que fizeram parceria com Nara à medida que vão sendo citados em canções, eu mudaria a fonte das letras, não é tão ilegível, mas as palavras ficam muito carregadas de arte, o que confunde a leitura. O cenário é assinado por Valdy Lopes. Quando inicia-se o espetáculo somos surpreendidos pela voz da atriz e cantora, que vem do fundo do teatro carregando nas mãos um cravo, que ao final da peça é jogado ao público enquanto apaga-se a luz do palco. A iluminação de André Boll é de total bom gosto, o palco não ficou mórbido, nem alegre demais, e acompanha o ritmo e o sincronismo entre o tempo de entrada e saída dos atores do palco, e da movimentação da banda. Cássio Brasil também nos faz viajar de volta ao tempo com um figurino muito bem costurado, elegante e ao típico modo daqueles trajes que os intérpretes e compositores vestiam quando iam se encontrar no apartamento de Nara, no Rio de Janeiro.

A direção musical é de Pedro Paulo Bogossian que trabalhou muito bem o entrosamento da banda, a harmonia e a graciosa musicalidade de Nara Leão, sendo citados Fagner, Erasmo Carlos, Maria Bethânia e outros memoráveis nomes. Músicas que marcaram a carreira de Nara são passadas a linda voz de Fernanda, com um repertório inesquecível como: Diz que fui por aí (Zé Kéti e H Rocha), Opinião (Zé Kéti), Insensatez (Tom Jobim e Vinícius de Moraes), A Banda e Com Açúcar, Com Afeto (Chico Buarque), O Barquinho (Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli), entre outras.

O espetáculo Nara fica em cartaz até 29 de Julho, no Teatro Augusta, os ingressos custam R$ 30,0 (inteira), de quarta e quinta, às 21h. Vale a pena conferir.

“Macbeth”, a sanguinolenta tragédia de Shakespeare em cartaz em São Paulo


A mais curta e sanguinolenta tragédia de Shakespeare traz ao Sesc Pinheiros, em São Paulo, no Teatro Paulo Autran, Macbeth, vivido por Daniel Dantas, com direção assinada por Aderbal Freire-Filho. A peça que esteve no Rio de Janeiro, agora é sucesso de público na capital paulista, de 25 de junho a 18 de julho, em um dos mais belos teatros administrados por uma organização governamental. Resumir Macbeth, mesmo sendo o menor de Shakespeare, requer tamanha sensibilidade, é um texto que deve ser de conhecimento de muitos, porém vale apresentar o release enviado pela produção:

"Voltando de uma batalha, Macbeth e Banquo, generais do exército escocês do Rei Duncan, encontram três feiticeiras. Macbeth é saudado profeticamente por elas como futuro Barão de Cawdor e Rei da Escócia, e Banquo, como pai de uma linhagem de reis. Nobres escoceses trazem a mensagem de que o Barão de Cawdor havia sido executado por traição e que todas as suas terras e título passariam a Macbeth. A realização da primeira parte da profecia impulsiona a ambição de Macbeth em se tornar rei. Em seu castelo, sua mulher, Lady Macbeth, lê com satisfação a carta do marido relatando o encontro com as bruxas e a esperança ali contida. Mais tarde, na noite em que o rei Duncan se hospeda no castelo de Macbeth, este decide matá-lo, com a ajuda de Lady Macbeth. O ato brutal dá início a uma série de assassinatos que Macbeth, já coroado rei, cometerá para se manter no trono. De bravo guerreiro e grande general do exército escocês que retorna vitorioso dos campos de batalha; de súdito leal, merecedor da mais alta confiança do rei, Macbeth se transforma em um assassino inescrupuloso e bestial, cujos atos sanguinários são movidos por um único impulso: a ambição".

O texto é fielmente roteirizado no palco, as falas são exatas e ganham naturalidade nas vozes de todos os atores, as palavras vencidas pelo tempo se mantém nas frases dos personagens, dando o tom épico na peça. Nada pra mim é tão surpreendente assim, talvez na época em que foi escrito tenha sido bem mais impactante, visto que fala do homem e sua identidade, seus interesses e dos caminhos que ele pode tomar para alcançá-los. É comum que qualquer um de nós tenhamos atitudes humanas, visto que somos humanos, capazes de sermos dois num só homem. Somos automáticos e respondemos às nossas condutas, e isso nos faz seguir filosofias e caminhos diferentes, mediante aos nossos interesses e intenções. Macbeth desejava ser rei, e para isso decide matar Duncan, mostrando-se um homem inescrupuloso, induzido também por sua esposa Lady Macbeth, interpretada por Renata Sorrah, os dois almejavam o trono e para isso os limites foram esquecidos. Uma sucessão de mortes tentava apagar o primeiro crime cometido, até que os dois caem em sua própria teia sanguinária. Tudo é feito com tamanha leveza, desde a graça das bruxas, até a suavidade de como as mortes são retratadas, Dani Hu, que fez a consultoria de luta pôs aos gestos dos atores as expressões de confronto, porém sem vulgaridade e terrorismo, o que marca os romances trágicos de Shakespeare.

Todos nós temos o mal e o bem intrínsecos em nossa índole, porém cada um sabe como ponderá-los, e / ou utilizá-los. Assim todos os movimentos, os tons de voz e as expressões tornam quase 3 horas de peça uma real ambientalização shakespeareana, incorpando aos atores diferentes comportamentos à medida em que eles mudam de personagens, parecendo até outra pessoa interpretando. O cenário de Fernando Mello da Costa nos permite a permuta de ambientes imageticamente, onde castelo e espaços, que cabe ao público imaginar, são retratados com total realeza, assim como naqueles tempos ingleses. Os 4 tablados tornam-se mesas, ou palcos para uma interpretação, são a leveza das lutas, são a mudança do ambiente. O conjunto de atores são relatados na peça com importância, onde cada um tem sua individualidade respeitada, porém a integração do grupo é fantástica, não havendo interferência na atuação de nenhum outro ator.

O figurinista Marcelo Pies leva a realeza aos cortes e tecidos da corte, e a rusticidade das roupas dos soldados. As cores e o movimento que as roupas têm são fundamentais para a beleza do espetáculo. A iluminação, que dá característica às cenas de ação, de aparição e sumiço das bruxas e de mais calma, é obra artística de Luiz Paulo Nenen, sim, artística, pois tudo no tempo certo e com um jogo de luz que se mostra imponente no grande palco. Tato Taborda dirige a trilha sonora, impecável e no tom exato do texto. A atriz Renata Sorrah traz para sua personagem toda a característica da loucura que Lady Macbeth contraí quando atormentada pelo crime a qual foi coadjuvante, seus movimentos, olhares, passos, remetem ao medo e desconfiança. Daniel Dantas, o idealizador do projeto, retrata a postura do rei que desafiou os limites da vida, da convivência humana, da perturbação pelos crimes cometidos, observando manifestações sobrenaturais, fielmente encenadas, bem como apresenta o texto.

No elenco, além dos dois fantásticos atores mencionados, ainda, Andrea Dantas, Camilo Bevilacqua, Charles Fricks, Edgard Amorim, Felipe Martins, Guilherme Siman, Marcelo Flores, Miguel Thiré, Ricardo Conti e Thelmo Fernandes. Direção de produção de Maria Siman e uma realização do Sesc Pinheiros, Próspero Produções e Primeira Página Produções. Gostaria de poder falar de todos envolvidos com a grandiosa produção de Macbeth, porém são muitos, e merecem todos os aplausos.

A peça está em cartaz no Sesc Pinheiros, na região oeste de São Paulo, porém os ingressos estão esgotados para as apresentações até 18 de Julho. Espero que o espetáculo possa viajar por muitos palcos, levando a grandiosidade de sua produção.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

“Olhe Para Trás Com Raiva” o pós-guerra no palco do Teatro Vivo


Com texto de John Osborne e direção de Ulysses Cruz na versão brasileira, um dos mais famosos textos britânicos está em cartaz no Teatro Vivo, em São Paulo, “Olhe Para Trás Com Raiva”, um dos retratos da desilusão do pós-guerra que permeava entre os jovens.

O ator Sérgio Abreu protagoniza Jimmy, um jovem anti-herói, exausto das desigualdades sociais, simples e despojado, incomodado com os sogros, pais de sua esposa Alisson, interpretada por Karen Coelho, que deixou a família para se casar com ele. Vivem numa situação precária, seus trocados servem para comprar cigarros, os quais fuma enquanto passa os dias engomando roupas, vinda de berço de ouro, da cidade de Londres, crava diversas brigas com o marido, até sua separação. O personagem Cliff é vivido por Thiago Mendonça, este é um jovem desleixado, vendedor de doces e nada incomodado com o que acontece afora, é amigo de Jimmy e mora com eles no singelo e improvisado cômodo da casa. Uma amiga de Alisson hospeda-se em sua casa, enquanto apresenta uma peça de teatro, a qual ela é atriz, Helena, vivida por Maria Manoella convence sua amiga a voltar para Londres e se separar do marido, com isso ela torna-se amante de Jimmy e convive com as mesmas situações que criticava da amiga.

O drama é muito bem desenrolado, intrigas são bem articuladas e impactantes. Os atores climatizam muito bem o ambiente inglês, a frigidez britânica e a intensidade carnal. O público pode participar da peça comprando os docinhos vendidos pelos personagens, enquanto passeiam por entre as fileiras do teatro. A iluminação de Domingos Quintiliano é impecável, traz para os arredores do cenário a especificação do dia e da noite, sonoplastia bem ecoada, com sons da rua e do bater da porta, a direção de áudio e da trilha sonora é de Victor Pozas. O cenário, muito bem desenhado, retrata um cômodo simples, mesclando cama, móveis e aparelhos de jantar e de estar. A cenografia é de Milton di Biasi. O figurino nos permite voltar ao tempo, costura a costura remete a elegância das personagens mulheres e o despojo dos homens, assinado por Beth Filipecki e Renaldo Machado.

Recomendo a peça para todos que querem voltar ao tempo das histórias inglesas, do romance épico e de um ótimo triangulo amoroso. “Olhe Para Trás Com Raiva” fica em cartaz no Teatro Vivo até 22 de agosto.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

"10 Maneiras Incríveis de Destruir seu Casamento" agora no Teatro Folha, em São Paulo


Após fazer o público rir todas as segundas-feiras no programa da Hebe, no SBT, o ator Eduardo Martini, criador da personagem Neide Boa Sorte, leva para o palco do Teatro Folha, no Shopping Higienópolis, em São Paulo, a peça “10 Maneiras Incríveis de Destruir seu Casamento”, com sua própria direção e texto de Sergio Abritta. A peça mostra como os casamentos começam e terminam, com irreverência e versatilidade artística os atores se revezam entre 31 personagens que aterrorizam a mente de quem quer, ou já casou.

Tudo começa na cena de um casamento, a voz do padre, a noiva e o noivo, interpretado por Eduardo e todo o público como convidados, que acabam entrando na comédia, inteligente forma de integração entre a peça e a platéia. Essa é somente a primeira, de 10 cenas que promovem o fim de um relacionamento. Luciana Riccio, que divide o palco com os outros três atores, tem grande destaque na peça, sua presença de palco já nos remete a comédia e a caracterização das personagens é típica, não há comparações para fazer, apenas ressaltar seu show de interpretação. Os atores Vivi Alfano e Bruno Albertini completam o ciclo de relações desastrosas mostradas na peça.

As expressões são bem reveladas pelos atores sempre que mudam de personagem, permitem que o público note a personalidade de cada um ao mudar o tom da voz, o olhar e os gestos. Transmitem o cômico de cada maneira retratando a realidade, deixando que o público também se identifique com alguns momentos. Toda a graça começa desde a recepção da peça, com um coroinha um tanto inconveniente, interpretado por André Di Paulo, que nos recebe com uma reverência bem pitoresca de seu toque de feminilidade, mas que já introduz a graça do texto que se apresentará no palco.

Futebol, TPM, velhice, sexualidade, manias e desavenças diversas levam o público à reflexão de seus casamentos, pois mesmo sendo tudo uma grande comédia, poucos são os exageros, está ali, sobre um palco, a divertida comédia dos casamentos. Eduardo Martini sempre mostrou sua irreverência, até mesmo descaracterizado de qualquer um de seus hilários personagens, e seu destaque fica claro na peça, posto que muita gente vai para ver o motivo das gargalhadas de Hebe Camargo.

O que muito me incomodou foram as instalações do teatro, quando a peça foi apresentada no União Cultural. A recepção é muito bem feita, porém o espaço é muito amador, mesmo com a tecnologia audiovisual que a peça leva, com um telão que permite a ultrapassagem do personagem pela imagem, ainda há uma ausência de estética nas instalações, nada que afete a evolução da peça, mas é algo que incomoda muitas pessoas. Desde o mês passado o espetáculo vem sendo apresentado no Teatro Folha, com uma melhor disposição e arquitetura.

Toda terça-feira, às 21h, “10 Maneiras Incríveis de Destruir seu Casamento” se mantém no patamar das divertidas peças em cartaz.

terça-feira, 6 de julho de 2010

“A Grande Volta”, um diálogo entre pai e filho


A peça "A Grande Volta" estreou em Maio no Teatro FAAP, em São Paulo, com texto do belga Serge Kribus e tradução de Paulo Autran, que pretendia encenar o espetáculo assim que o descobriu, em 2001, junto com Rodrigo Santoro, porém adiou devido ao sucesso que Sr. Green estava fazendo em cartaz, assim acabou não a apresentando. Agora Fúlvio Stefanini e Rodrigo Lombardi interpretam pai e filho numa discussão de identidades, com um cenário simples e dinâmico. Direção de Marco Ricca.

Fúlvio é Boris, um velho ator, distante dos palcos, decide se instalar na casa do filho, devido a problemas de calefação em seu apartamento, enquanto hospedado ele ensaia a peça em que foi convidado a representar, o qual seria Rei Lear, personagem de Shakspeare. Henrique, o filho, é interpretado por Rodrigo Lombardi, que por vezes mostra-se incomodado com a presença do pai em sua casa, que agora tinha-o como único morador, já que separou-se da esposa que foi embora com seu filho. Nos diálogos entre os dois há sempre uma inversão de identidade, onde o pai assume uma postura que incomoda o filho, e vice versa, isso é feito com uma pitada de humor, sem deixar que o drama perca-se nas falas. Gritos e indagações são bem expressadas e dão o tom de agressividade aos diálogos, que por vezes ganham leveza quando pai e filho se entendem.

A cenografia é assinada por André Cortez, um ambiente que pode virar de tudo, desde o muro de uma rua, às paredes de um apartamento, até mesmo uma cela de prisão, sem que precise dizer ao público que aquilo é uma cadeia. O cenário é composto por corrediças trabalhadas com tecido transparente, o que na cena da prisão causa o clima de clausura, a silhueta, ora causada pelo jogo de luz, dramatiza um suspense no roteiro.

O trabalho de iluminação de Maneco Quinderé ilustra o temperamento dos diálogos, além de caracterizar e vestir o cenário. Sem o uso de qualquer luz colorida não há poluição visual no palco, todos os movimentos dos atores são iluminados precisamente, não há perda de um só momento.

Os singelos elementos que compõe o palco caracterizam a vida de solteiro de Henrique, bem como os caixotes em que guarda seus poucos utensílios que restaram, além da vodka, que ficava guardada numa caixa, era a única bebida que tinham e os acompanha nos diálogos, isso acaba numa grande bebedeira deixando Boris mais à vontade para contar certas coisas. Fúlvio Stefanini põe-se na loucura de Rei Lear, personagem que irá interpretar numa peça, porém assume um estado de desabafo sem perder a sanidade, e este desabafo cria um discurso sobre a verdade, que estava sempre escondida na história de pai e filho, e ali é posta nos diálogos.

A trilha sonora é de Eduardo Queiroz, fundamental num drama, e muito bem selecionada, dando imensidão e emoção às expressões dos atores. Acredito que Rodrigo Lombardi ainda precisa se esculpir mais ao personagem que Paulo Autran talvez teria trabalhado melhor com Santoro, falta um pouco mais de entrosamento entre os dois atores no palco, mesmo com todo artístico proposto pelo roteiro, o sentimental ainda está um pouco longe. Fúlvio tem grande vantagem neste personagem, permitindo-o maior aproveitamento do palco e exploração de dois personagens um tanto cômicos, o pai e o personagem que ele ensaia para a peça que irá estrear.

Até agosto estará em cartaz a peça A Grande Volta, no apertado Teatro FAAP, muito bonito, porém preferiu-se aproveitar o espaço colocando fileiras e cadeiras, esquecendo de um espaço que permita locomoção do público entre as filas. A peça tem feito sucesso de público, de sexta a domingo, no valor de R$ 70,00.

sábado, 26 de junho de 2010

“O Santo Inquérito”, de Dias Gomes, no Teatro Escola Macunaíma


Foram apenas três dias de apresentação, até ontem “O Santo Inquérito” do memorável dramaturgo Dias Gomes foi encenado como poucas vezes. O Teatro Escola Macunaíma, na Barra Funda, em São Paulo, organizou um festival, onde inúmeras peças se apresentarão até o final de julho, relembrando nobres textos , e neste meio foi que o intenso roteiro de Dias Gomes ganhou emoção e cena no corpo e na voz dos novos atores.

A peça retrata a inquisição na época de 1750, tendo como cenário épico o estado da Paraíba, onde vivia a lendária Branca Dias, que até hoje não sabe-se ao certo de sua existência, portanto falemos como lenda. A jovem é daquelas que sonham em casar, e o namorado, Augusto Coutinho, já tem pra isso, a permissão de seu pai. Ela era acostumada ao contato com a natureza, vestia-se com leveza e banhava-se sempre no rio. Numa de suas perambulações pelo rio, encontra Padre Bernardo afogando-se, após virar seu barco, onde levava as esmolas da igreja num cofre, ajuda-o e o salva – com respiração boca a boca e ainda oferece sua casa pra descansar e trocar as roupas – Padre Bernardo rejeita e agradece muito pelo gesto, a toma de perguntas sobre sua fé, seus costumes e sua vida. Seu avô era Novo Cristão - Judeu convertido à força, por falta de opção, ou se convertia ou morreria. Branca era incessantemente deturpada pela Igreja, quando passa a ser perseguida pela inquisição. O visitador, que vai à cidade julgar os casos de heresia, mostra sua rigidez e mata o noivo de Branca, o pai dela permite que isso aconteça sem nenhum protesto, enquanto sua filha permanece em sua verdade, com seus costumes, não se abdicando da fé, de sua casta e de Deus, porém a inquisição era severa e cega, parecia preferir a injúria por uma fé completamente desviada do que diz a bíblia, mas era de pessoas leigas que a igreja gostava, isso fica bem claro na peça, pois Branca lia livros de poesia e lia a bíblia em português, quando o latim era o idioma oficial da igreja para manter a ignorância de seus fiéis. Padre Bernardo vê-se envolto pela sedução, imagina-se nas circunstâncias mais íntimas com a moça e a culpa deste estímulo que o circulava afastando-a da forma que a igreja oferecia, ele a denúncia para a igreja que a julga, persistindo na presença do demônio em seu corpo, na sedução em seus atos, Branca Dias é queimada na fogueira.

A direção é de Márcia Azevedo e assistência de Márcio Rocha, o elenco de 17 atores se reveza até que todos participem dos mesmos personagens, por vezes há dois atores contracenando o mesmo personagem. As trocas de roupa são feitas no próprio palco, Branca de vestido, os guardas oficiais e toda entidade religiosa com suas batinas, tudo feito em frente ao público, divido em cadeiras na esquerda e na direita, tendo ao centro o palco, como uma arena. A iluminação ficou a desejar, faltou sensibilidade técnica e artística, quando não há cenografia, precisa-se manter um bom equipamento de luz e ensaios para passagens de iluminação, as entradas dos feixes eram muito secas, logo a luz explodia ao palco, quando deveria vir com leveza. O tom quente da luz dava o clímax à peça, mas esse foi o único acerto técnico do espetáculo.

Falar de humanismo numa peça requer inúmeros cuidados, mesmo tratando-se de atores de oficina, bem como entonação vocal, o que ainda precisa ser mais cobrado destes, na época, em que a história é passada, os corredores frios e as salas de julgamentos ecoavam a voz divina e ríspida dos guardas, os bispos tinham a face sisuda, os ombros recolhidos e as mãos meticulosas. Alguns gestos foram fielmente definidos por alguns atores que encenaram o visitador, porém outros não tiveram a mínima sensibilidade de rebuscar a história e levá-la para seu personagem, está aí também a importância de tomar o personagem a partir da hora que o veste no camarim, o ator precisa ter seu espírito disposto a dar espaço ao personagem. A respiração de alguns estava desarmônica, quando falava-se mais alto, quando alguma fala chamava um tom mais rude, havia dificuldade de se articular frases formais, atropelavam-se palavras e sopros de ar. Neste assunto é que aplaudo o ator Vitor Brunoro, que soube impressionar, e climatizar o ambiente com seu tom de voz, onde neste instante, certamente, o público sentia-se parte desta inquisição, quando assistiam aos berros de um julgamento.

Notava-se que alguns atores prendiam-se até as vírgulas do texto, o que atrapalhava a passagem de uma fala para a outra, um personagem é um homem natural, não é um pergaminho que fala, portanto na arena do espetáculo tem-se que preservar o texto sim, mas não com tanto nervosismo, tampouco com singularidade, é necessário manter a história nas falas, porém recriá-las também. Bom desenvolvimento corporal, feição, os rostos reproduziam os traços da época. A peça impressiona o público, cria a sensação de tristeza e indignação no público, o roteiro é ótimo e bem distribuído. Concentração bem trabalhada, dedicação também tinha, mas faltou um pouco para que as falas, a respiração, o significado que a peça traz, fosse melhor incorporado ao profissionalismo de um ator. Há um grave erro, o de atrasar o espetáculo, com meia hora, cansa o público e exausta o próprio ator. Além do ator Vitor, outros também merecem os aplausos, e certamente se destacarão bem mais cedo, desde o início as atrizes Stella Maris e Bruna Mariani mantiveram a sensibilidade da personagem Branca, tomadas pela emoção souberam colocar aos olhos do público essa emoção, e ao nosso corpo todo o arrepio e dor da personagem.

Não há como citar todo o desenvolvimento de cada ator, até por desconhecer alguns nomes, porém os aplaudo, assim como fiz na apresentação, fica somente o desejo de uma equipe técnica que os leve com mais sensibilidade aos palcos e ensaios mais rígidos para a perfeita encenação com outros personagens.

A peça não está mais em cartaz, porém vale a pena conhecê-la através de textos e quem sabe uma futura nova temporada, basta que o público cobre do elenco e o mesmo queira levar a diante este roteiro.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

“Estranho Casal” segue em cartaz em São Paulo com sucesso de bilheteria


Desde janeiro, em São Paulo, a peça “Estranho Casal” está em cartaz, com sucesso de bilheterias no mundo inteiro, o espetáculo já teve 922 montagens com cerca de dez milhões de espectadores. A comédia continua em cartaz no Teatro Renaissance atraindo uma diversidade de público para assistir a um discurso nada formal entre dois amigos solteirões.

Recém separado da mulher, Felix, interpretado pelo ator Edson Fieschi, se muda para a casa do amigo Oscar, vivido por Carmo Dalla Vecchia, que é um homem desleixado, solteiro também, vive na bagunça e à procura de diversões com mulheres. Toda sexta-feira os amigos se reuniam no apartamento de Oscar para partidas de poker, com a mudança de Felix, obcecado por limpeza, as coisas acabam mudando na rotina da casa e os dois amigos acabam parecendo um verdadeiro casal enquanto discutem suas diferenças.

As trocas dos elementos cenográficos são feitas de uma maneira bem interessante, à meia luz, apenas das luminárias das paredes do apartamento, os outros 4 personagens, parceiros de poker é que fazem a troca dos objetos da cena, retiram a mesa, põe a mesa, cadeiras e etc, tudo feito com muito humor para entreter o público enquanto a parte técnica é mesclada com a artística. Duas personagens ainda participam das cenas, onde Oscar tenta conquistá-las e ajudar o amigo Felix a sair da tristeza de sua separação.

A comédia tem uma boa pitada de humor, não tanto, mas tem, tudo depende a que o público relaciona, muitos ali já viveram situações parecidas, então quando o roteiro de uma comédia aproxima-se da realidade do espectador tudo torna-se mais engraçado, porém não deixa de ser um bom texto, com direção de Celso Nunes e adaptação e tradução de Gilberto Braga e peça de Neil Simon tem a sacada de pensarmos que o título remete a um casal gay, porém não é, e por isso é um estranho casal. O tempo todo a obsessão de Felix pela limpeza vai divertindo o público, enquanto Oscar o pirraça com suas porquices e desleixos. Por alguns instantes o assunto pode parecer redundante demais, a peça acaba se estendendo um tanto no assunto, mas não se perde no roteiro, o fio da meada é sempre retomado, ora com a agonia de Felix, ora com o incômodo de Oscar.

A cenografia de José Dias não deixa duvidar que estamos diante de um apartamento no 12º andar, podem haver falhas em alguns batentes e na pintura, porém alguns retoques devem ser refeitos em outras apresentações, levando em conta que no transporte dos elementos cenográficos algumas partes acabam machucando, mas tudo foi bem caprichado e desenhado conforme uma sala de estar e as entradas para outros ambientes. A profundidade de cada local, bem como varanda, quartos, cozinha e banheiro, é bem trabalhada, dando melhor imaginação ao espectador. Os efeitos sonoros ainda são um pouco amadores, os barulhos não são tão bem ecoados, acabam perdendo a sensibilidade do que é real, para o que sai de uma caixa de som. Paulo César Medeiros foi criterioso na iluminação e soube usar com poucas cores o essencial para um apartamento e para o jogo de luzes na troca dos objetos do palco. O figurino elegante de alguns personagens e o despojado de outros caracteriza muito bem a personalidade de cada um, Ney Madeira, soube colocar a cada personagem o corte ideal para seu perfil.

Recomendo “Estranho Casal” a todos que querem se divertir com o convívio de dois diferentes amigos, algo de cotidiano, mas que é engraçado quando visto dentre quatro paredes. A peça segue em cartaz no Teatro Renaissance, no próprio hotel, na Al. Santos 2233, em São Paulo, de sexta a domingo com ingressos entre R$ 70,0 e 80,0 até agosto.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

“Gloria Gaynor” relembra grandes sucessos em turnê pelo Brasil


Na última quarta-feira (09), no HSBC Brasil, em São Paulo a grande estrela da música dos anos 70 e 80, Gloria Gaynor, fez show relembrando inúmeros sucessos que marcaram época. O show marcado para as 22h atrasou 30min, porém nada que deixasse os fãs irritados, as opções de vinho, drinques e petiscos da casa deixaram o público à vontade.

Gloria veio ao palco convidando o público a cantar I Am What I Am, soando a mesma grandiosa voz de há 30 anos atrás. Mesmo com 60 anos, seu fôlego ainda se mantém o mesmo, Gloria está mais polida no palco, porém a voz ainda é a mesma que sempre embalou as festas e eventos pelo mundo inteiro. Com 20 discos lançados ela ainda é um dos maiores sucessos de sua época e trouxe de presente para o público paulistano Never Can Say Goodbye, primeiro sucesso de seu disco music.

No palco a banda e Gloria Gaynor, a cenografia fica por conta das luzes, porém os canhões movimentam-se aleatoriamente voltando inúmeras vezes feixes de luz para o público, o que acaba atrapalhando a visão. Três backing vocal também marcam com exuberância suas vozes acompanhando Gloria até com dueto. Em entrevistas a programas de televisão no Brasil, a cantora norte-americana declara sua paixão pelo país latino, e no show agradece São Paulo calorosamente, até mesmo recebendo o público no camarim.

Entre os sucessos relembrados no show destacam-se canções inesquecíveis e repassadas com um arranjo próprio passando harmonicamente pelas cordas da guitarra, Every Brath You Take, do The Police. Também I’ll Be There, de Michael Jackson fez todo mundo cantar junto. Gloria deixou para o final sua imortal música, que acabou virando ícone para movimentos gays e até um hino, indispensável tocar em qualquer boate ou festa, I Will Survive, uma das músicas mais famosas do mundo levantou muita gente para dançar e a cantora ainda disse, numa transição de ritmo em que a música foi dividida, que há 30 anos ela canta essa música, mas como sobrevive ela não sabe.

Nesta sexta-feira Gloria Gaynor se apresentará no Vivo Rio, no Rio de Janeiro e no sábado na Arena Vitória, em Vitória.

terça-feira, 8 de junho de 2010

"10 Maneiras Incríveis de Destruir seu Casamento" de volta aos palcos, no Teatro Folha


De volta aos palcos o espetáculo "10 Maneiras Incríveis de Destruir seu Casamento" mostra no revezamento de 31 divertidos personagens as mais irreverentes formas de acabar com um casamento, enquadrando-se ao humor contemporâneo com bastante originalidade, com os atores Eduardo Martini, Luciana Riccio, Vivi Alfano e Bruno Albertini.

A peça está em novo palco, muito melhor, em localização e espaço, além de um dia alternativo, muito bom para trazer humor logo no meio da semana. Às terças-feiras, "10 Maneiras Incríveis de Destruir Seu Casamento" fica em cartaz, às 21h, no Teatro Folha, no piso da praça de alimentação do Shopping Patio Higienópolis, em São Paulo.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Diogo Portugal em cartaz com a comédia “Senta Pra Rir”, em São Paulo


O humorista Diogo Portugal está em São Paulo, no Teatro das Artes, no Shopping Eldorado, com o show de humor “Senta Pra Rir”, depois de sucesso em Curitiba, sua terra natal, ele volta à capital paulista para, mais uma vez, encher o teatro de gente e de risos.

Diogo recebe convidados durante a temporada para fazer o chamado humor de cara limpa, onde não se usa nenhuma caracterização para fazer o público rir. Os temas cotidianos tornam-se comédia em qualquer um dos personagens que Diogo interpreta, pois a cada espetáculo o hilário porteiro Ediomar, interpretado pelo humorista, leva divertidas expressões e histórias para o público. Diogo Portugal já interpretou diversos outros personagens na TV Globo, no programa Zorra Total, e já marcou presença diversas vezes no Programa do Jô. O mais famoso de seus personagens é o office-boy Elvisley.

O humorista é um dos maiores sucessos de visitas aos seus vídeos na internet, com mais de 23 milhões de acessos. Diogo já esteve em cartaz com 3 diferentes espetáculos, inclusive no Japão. Senta Pra Rir é uma interação com o público, é muito difícil alguém escapar das risadas. O show de humor já recebeu diversos apoiadores e já se apresentou outras vezes em São Paulo.

Toda quinta-feira às 21H30, o espetáculo está em cartaz no Teatro das Artes, em São Paulo, no valor de R$ 40,00. Vale a pena conferir.