segunda-feira, 30 de junho de 2014

“Abandonados Por Você” traz o bom humor para um desastre nupcial


Duas noivas abandonadas. Um noivo abandonado e um padrinho. Personagens do texto, um tanto clichê, mas muito bem humorado, de Pablo Diego, sob a direção de Tiago Pessoa e André Di Paulo. “Abandonados Por Você” encerrou suas apresentações no domingo (29), em São Paulo, mas voltam em Agosto para confrontar o típico combate de ideias entre homens e mulheres.

O roteiro é quase um recorte hollywoodiano, daqueles filmes de casamento que acabam em Las Vegas. Duas noivas, amigas, são abandonadas pelos noivos. Um noivo, que nada tem a ver com as abandonadas, compartilha da coincidente infelicidade, mas conta com a companhia de um padrinho machista e bon vivant. Um elevador engrenado é o cenário do encontro destes casais ameaçados pela atual onda da pegação e solteirice. Mas, seus destinos serão alterados pela própria contradição!

Pablo Diego esboça relações muito próximas ao que vemos nas discussões públicas, nas ruas e na literatura, inclusive embaixo do nosso nariz. O épico confronto entre homens e mulheres não apresenta novidade no texto,  mas pinça ótimas frases e deixa nas mãos dos diretores um ótimo jogo de cenas. A compartilhada direção de André Di Paulo e Tiago Pessoa desenha muito bem a proposta do autor, e sintetiza um pouco de cada cotidiano sobre o palco, permitindo aos atores um saboroso encontro de palavras e movimentos cômicos.
Paulo Tardivo, que interpreta o noivo abandonado, já foi mais feliz no palco, o texto quase pobre de seu personagem ajuda a engessá-lo ainda mais, e vende seu talento para uma imprecisão artística e pouco destaque, mas ele ainda sai bem dessa enrascada. De qualquer forma ele demonstra pertencer ao palco. Thalyta Medeiros, a noiva traída, interpreta um diálogo de dondoca, cansativo e pouco humorado. A dicção, movimentação e execução são bem razoáveis, pouco para um artista de palco. O trunfo fica nas mãos de Félix Graça, o padrinho, e Vivian Nagura, a outra noiva abandonada. Félix usa muito bem o corpo, a voz e o talento. Ganha o público com bom humor e desliza bem num bom texto. A graça transpassa o próprio sobrenome do ator. Vivian utiliza um sotaque pitoresco do interior paulista, um pouco exagerado, mas permissível para ganhar um texto que vaza comicidade. Ela é o texto! Os dois equilibram um espetáculo de assunto inesgotável.

Cenário e iluminação são pontuais e bem desenhados. O espetáculo ganhou sala nobre no Teatro Augusta e o público parece gostar, inclusive entrando na peça. Em dado momento, o público participa das cenas em uma perigosa inserção. Trabalhar com outras pessoas sobre o palco é um grande risco para o texto. Este trecho é um capítulo desnecessário da história, uma embromada um tanto caricata. Esse ponto contribuí para que o texto tenha um ar de algum comum sitcom.  Mas, a plateia parece gostar!


“Abandonados Por Você” encerrou suas apresentações em São Paulo, mas volta em Agosto para o Teatro Augusta!

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Filipe Catto canta Cássia Eller

Entre os dias 4 e 6, o Sesc Vila Mariana apresentou o show de Filipe Catto cantando Cássia Eller. Houve a participação da percussionista Lan Lan, que tocou com a cantora durante anos.

O show foi espetacular e emocionante, Catto cantou com todo o seu profissionalismo sem deixar o seu lado “garoto”. Quando a percussionista Lan Lan subiu ao palco a plateia foi ao delírio.

Entre outras canções, estavam no repertório: "E.C.T.", "Eu Queria Ser Cassia Eller", "Por Enquanto", "Relicário"e "Rubens" (que o cantor ofereceu ao  Deputado Federal Jean Wyllys).

Catto encerrou o show ao som de "Malandragem", deixando o público ainda mais insaciável.
Texto de Riziane Otoni.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Jair Rodrigues deixa os palcos para sempre

Jair Rodrigues veste luto à música brasileira no dia de hoje. Um dos mais animados ícones populares da canção, simples, gentil e que valorizava como ninguém a nossa cultura. É lastimável que com tantas recentes perdas não tenhamos quem substitua talentos memoráveis deste país. Jair Rodrigues deixa, aos 75 anos, ainda mais saudades da música que se fazia nos tempos de ouro. Que fique de lição para as rádios, para as emissoras, para as produtoras - tratem nossos artistas a pão-de-ló antes que seja tarde! A causa da morte ainda não foi divulgada, o cantor foi encontrado sem vida na manhã desta quinta-feira (8).
Fotos: Reprodução de Internet
Certa vez tomei um táxi para ir a uma gravação e o motorista conversava comigo sobre música, sua primeira citação foi Jair Rodrigues. Jamais esqueci a ternura que aquele homem desvendava enquanto falava de Jair. Não era fã antigo, era um senhor, fã recente. Conheceu Jair no táxi, quando levou-o a uma gravação também. Jair sentou-se no banco da frente, ao lado do taxista, e com ele foi trocando confidências, jogando conversa fora, como se fossem amigos de longa data. Esse era o Jair!
O cantor fazia sambas do seu jeito, parecia ter algo jazzístico à tessitura de sua voz. Sapecava a mão no pandeiro como um jogador chuta uma bola. Jair tinha facilidade de aproximar a música ao público, porque ele fazia-se público antes de querer ser artista. O palco era a cozinha de sua carreira, todos nós estávamos ao alcance dele!
Ele nasceu em Igarapava (SP), em 6 de fevereiro de 1939. Começou a cantar em shows de calouros na década de 60. Jair fez grande sucesso com "Deixa isso pra lá" - essa é a mais fiel representante do rap nacional, para aqueles que não sabem o que é rap. O cantor ficou famoso por seu gingado irreverente e os movimentos que fazia com as mãos, enquanto cantava.
Jair teve uma das mais nobres parceiras, Elis Regina. Em 1965 lançaram o "Dois na Bossa", disco ao vivo, que deu origem a mais outros dois. A amizade rendeu-lhe um programa na TV Record, O Fino da Bossa.
Em 1966 venceu o II Prêmio de Música Popular Brasileira, com "Disparada", de Geraldo Vandré e Teo de Barros. Ele dividiu o prêmio com "A Banda", de Chico Buarque, interpretada por Nara Leão.
As idas mais inesperáveis são as mais dolorosas. Não sei se devo chamar essa partida de injusta. Acho mesmo que injusto é que não haja mais tamanho talento para compensar esse vazio!
Chegada a sua hora só nos resta homenageá-lo, afinal é assim que a imprensa vem tratando as pessoas. Lembrando-as apenas à morte.
Jair foi um homem feliz...

terça-feira, 6 de maio de 2014

Beth Carvalho, a branca mais preta do Brasil

Beth Carvalho, a cantora guerreira, subiu ao palco do Teatro Bradesco na quarta-feira (30), para mostrar que ela é a verdadeira Madrinha do Samba.
 
Cantando o seu mais novo álbum “Nosso Samba tá na Rua”, sem deixar de fora seus maiores sucessos como: Andanças, Coisinha do Pai, Vou Festejar, As Rosas não falam.. entre outras!
 
A madrinha ainda levou a menina Nicole, de apenas 6 anos, para dividir o palco, e acrescentou que tem medo de que o verdadeiro samba morra. Assistindo a um vídeo na internet encantou-se com a criança que canta lindamente e que com certeza não deixará o samba morrer.
 


O público retribuiu todo esse samba e antes mesmo do bis final todos já estavam em pé saudando a melhor das melhores.
No final ainda teve um pout-pourri com marchinhas de carnaval, que nos fez lembrar a infância. Os mais velhos saíram do show encantados e “cansados” de tanto dançar.

Sim, essa é a Beth Carvalho, a Madrinha do Samba, que leva o seu reinado por onde passa.

Foto: Bianca Tatamiya

Texto: Riziane Otoni

Beth Carvalho mostra porque o show tem que continuar

Foto: Nyldo Moreira
Beth Carvalho trouxe, mais uma vez, o samba para um teatro. A madrinha já é craque nisso, em 2007 gravou um DVD no Teatro Castro Alves, em Salvador, cantando o Samba da Bahia, em 2008 no Municipal do Rio de Janeiro e nas vésperas do último feriado colocou sua bateria sobre o palco do Teatro Bradesco, em São Paulo. Marcando a volta aos palcos, a sambista deixou a marca da superação e largou o samba na boca do público que permaneceu em pé durante todo o show.

Vamos ao teatro esperando assistir sentados a um espetáculo, mas, quando os repiques anunciam uma excitação maior do que as regras, os pés levam a emoção ao limite. Bastou que Beth Carvalho começasse a cantar seus sucessos, para o público dançar em pé. Em pouco tempo todo mundo foi contagiado. Essa é uma das minhas lembranças mais marcantes sobre o sucesso da passagem da sambista por São Paulo.
Após uma longa internação hospitalar, devido à complicações com a coluna, Beth voltou aos palcos. O samba, que andava murcho sem sua madrinha, está mais pomposo agora. A cantora, sempre muito afiada, não deixou de criticar o pagode que fazem atualmente, e conversou com o público como se estivesse em sua sala de estar. Emocionada, foi ovacionada pelos paulistanos!
O show ficou por conta dos diversos sucessos na voz da sambista, uma das poucas que ainda fazem a justa questão de mencionar os compositores. Beth é a mais expressiva e forte pronúncia dos poemas escritos sobre linhas de cavaco. Ela é a mangueira inteira na avenida!
O samba, nas cordas femininas, tornam-se melodias ainda mais belas. São traduções, que parecem passar por favos de mel, antes mesmo de cair nos pandeiros e tantãs. O Brasil, berço desse ritmo, é o nobre terreiro que gerou Clara Nunes, Dona Ivone Lara, Alcione e Beth Carvalho. O samba tem mais orgulho por causa delas!
Foto: Nyldo Moreira
A cantora levou para o show a pequena Nicole, de 6 anos. Beth conheceu a menina assistindo a um vídeo na internet, em que ela cantava "Tradição (Vai no Bexiga pra ver)", no Samba da Vela, tradicional reduto paulista. Imediatamente a mocinha subiu ao palco e dividiu a melodia com a cantora, que viu-se homenageada e com vida longa ao samba.
Beth fazia chorar seu cavaquinho e os olhos. O samba, melodia triste, como dizia o próprio Adoniran Barbosa, é mais feliz com sua majestade. Via-se uma escola de samba no palco, representada por uma sambista.
Ao ouvir Beth Carvalho sentimos no peito que realmente "o show tem que continuar"...

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Jesus Cristo tem 'estreia' regular em musical no Brasil

Não... você não vai ver o Padre Marcelo erguendo as mãos no palco, tampouco as Carmelitas Descalças sentadas na plateia. Heresia? Profano? Agnóstico? O musical de Andrew Lloyd Weber e Tim Rice não tem nada disso, é apenas uma rápida releitura da Paixão de Cristo, que chegou ao Brasil encabeçado pela direção de Jorge Takla, versão brasileira de Bianca Tadini e Luciano Andreys, com Igor Rickli e Negra Li nos papeis principais. O musical tem erros grosseiros e um enredo que inova-se apenas na maneira de recontar a história, que não demonstra nenhum outro ângulo de visão. Não expressa nenhuma opinião!

Todos conhecem a católica história da Paixão de Cristo e sua vida pelo povo. O que vamos discutir aqui é como essa história é recontada.
Pensar em colocar a mais conhecida história do mundo no palco é genial, o desafio é: "como inovar recontando tudo isso"? Num arranjo em Rock and Roll, em um musical completamente cantado, Takla substitui as vestes clássicas de Jesus Cristo, interpretado por Igor Rickli, por calças jeans. Maria Madalena, vivida por Negra Li, torna-se uma figura quase hippie e evidentemente deslumbrada pelo personagem central.
Judas é vivido por Alírio Netto, o grande trunfo do espetáculo. O verdadeiro superstar! Neste conto, Judas brilha praticamente só. Peço licença às beatas e carolas, mas, Judas é o grande personagem deste musical! Alírio tem um timbre impecável para segurar os afinados berros propostos pela pegada rock da "ópera", enquanto Igor Rickli tem a voz calada pela própria técnica em que apoia. É notório que seu desenvolvimento musical é apenas técnico, numa voz mal impostada e com falhas evidentes. Negra Li tem a oportunidade de destilar a doçura de seu timbre, mas ainda fraco para um musical que poderia fazer mais sucesso por seu elenco. A comunicação entre os atores deixa a desejar pela dicção e por conta do diálogo maçante resumido apenas entre canções (letras) mal adaptadas.
A atuação dos personagens é anêmica, Alírio destaca-se com galhardia nesse time. Apesar do pouco desenvolvimento cênico de Igor, a escolha para o personagem foi bem forte, uma vez que a aparência com a figura relatada de Jesus Cristo é bem próxima e seu desdobramento físico é notável.
O título do musical, "Jesus Cristo Superstar", em si, é algo profano para as igrejas. É sensacional que as diversas expressões estejam ganhando mais espaço num país tão sufocado pelas ditas maiorias. O título leva-nos a crer num enredo com mais novidades, com uma roupagem mais crítica, que vai muito além do proposto por Takla, que fica apenas entre o figurino e os arranjos musicais. Nem ao público é possível jogar qualquer tipo de reflexão, pois o proposto no livreto já foi visto em milhares de missas e cultos dominicais. A Páscoa está ai, teremos diversas procissões amadoras, que talvez sejam muito melhores do que "Jesus Cristo Superstar".
A encenação consegue sim emocionar, fazer refletir e até possibilita risadas. Mas nada sensacional!
Em dado momento, um número de revista costura a história bíblica e diferencia-se do que já foi contado. Este é o único ponto de transformação da produção, uma discussão crítica, porém muito resumida para dar as razões ao estrelismo apontado a Jesus Cristo.
Ele foi um líder político? Um pensador religioso? Um revolucionário? Infelizmente o musical não deixa isso nem implícito, nem explícito.
Chegaram ao cenário paulistano num turbilhão de espetáculos, mas com a oportunidade do destaque, em plena quaresma, período em que qualquer contraditório poderia contestar com esplendor diversas passagens bíblicas, e tudo isso foi desperdiçado. Na hipótese de não ter sido essa a proposta, e de ser apenas o reconto, com uma abordagem contemporânea da história, os méritos ficam apenas para o cenário de Anselmo Zolla, os figurinos de Mira Haar e a luz de Ney Bonfante. Ah... Wellington Nogueira, que interpreta Herodes, consegue deixar o bíblico ainda mais irreverente. E Gustavo Muller, que vive Caifás, impressiona pelo grave e impecável timbre.
Vânia Pajares, responsável pela direção musical do espetáculo, distribui à orquestra um perfeito arranjo, com entradas assertivas da guitarra, que perfura com beleza o piano e todos os instrumentos muito bem usados pelos músicos. Ponto alto, isolado, do musical.
"Jesus Cristo Superstar" é uma realização da Time For Fun e Takla Produções, em cartaz no Teatro do Complexo Ohtake Cultural. Quintas e sextas, às 21h; sábados, às 17h e 21h; domingos, às 18h. O preço dos ingressos vai de R$ 25,00 à R$ 230,00.
Apesar da inconsistência do musical, ele abre mais uma via para a questão da diversidade na cultura e nas religiões. É preciso aceitar toda forma de manifesto e toda mensagem desarmada. Aos religiosos deve caber o respeito aos não religiosos. Aos não religiosos, deve caber o respeito aos religiosos!
Cada um comemora como quiser a sua Páscoa! Renascimento, antes de tudo, deve caber ao interior de cada um de nós...
Feliz Páscoa!!!

terça-feira, 15 de abril de 2014

Ney Matogrosso sempre "Atento aos Sinais"

Ney Matogrosso subiu mais uma vez ao palco com o show "Atento aos Sinais". Performático e com seu jeito sensual levou o público do Teatro Bradesco à loucura.

O cenário perfeito  chamava a atenção do público para as trocas de roupa do cantor ali mesmo no palco, sensualizando com o jeito que é só seu e de mais ninguém.

Iluminação e direção, assinadas pelo artista, estavam impecáveis.
 
O repertório contou com composições de Criolo, Itamar Assumpção, Paulinho da Viola, Lobão e para fechar com chave de ouro Ney interpretou "Ex Amor", de Martinho da Vila.

Ney desceu as escadas e cantou "Beije-me", convidando o público à beijá-lo até o fim da canção. A plateia foi abaixo.

Ao final do espetáculo, Ney recebeu o público com total simpatia.
 
 
Texto de Riziane Otoni

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Ney Matogrosso, a catarse dele mesmo

Foto: Nyldo Moreira
Mais do que um show, em qualquer palco que ele pisa a música funde-se ao teatro. Ney Matogrosso é simplesmente o maior artista vivo deste país! Ele prova isso em todos os seus espetáculos, com seu leque de figurinos, de expressões, repertório e a impecável iluminação, sempre assinada por ele. Na última sexta (11) e sábado (12), Ney desbravou o palco do Teatro Bradesco, em São Paulo, a mais bela arena contemporânea da capital, que "ganhou um colar de pérolas" com a estupenda atuação do cantor.

Com o show "Atento aos Sinais", Ney assinalou diversos recados ao público, recheando o repertório com canções incisivas, capazes de lacerar qualquer falsário que se diz artista. Ney Matogrosso é a prova viva da arte em movimento.
Luzes, roupas, expressões - tudo que ele mais trabalha em suas produções. Ele abusa da arena como um leão que é enfrentado por um gladiador. Ney abre o peito para um país de cultura decadente e finca um bisturi num dos alvos mais doentes da nação: a música! Ele faz a gente querer ouvir mais, idolatrá-lo ainda mais... e a ele sinto que não devo poupar predicados. Ney é algo além do gigante.
O cenário desse espetáculo todo é um recado ao novo, ao atual. Ney, atenta-nos aos sinais do moderno, da fusão das informações com o que há dentro de cada um de nós. Ele caminha por diversos campos, contempla um show pra cima, alegre, e fala de tudo, parecendo que está apenas cantando. Cantar, tratando-se de Ney Matogrosso, não é apenas cantar... é suar sangue e gozar letras.
Foto: Nyldo Moreira
No repertório, Itamar Assunção, Dani Black, Lobão, Paulinho da Viola e Criolo, entre outros. Uma miscelânea sem precedentes e que já era em tempo. O espetáculo tem um arranjo belo e composições, que ao passar pelo açúcar condensado das cordas vocais de Ney, inovam-se e deixam a música popular brasileira mais popular, mais próxima de nós, os imortais. Ney tem a estrutura de um imortal, mas desmistifica-se disso, ao descer à plateia e convidar o público a beijá-lo.
Ney canta para o público, adentra, por meio das vísceras, em cada órgão e cria espasmos dentro de nós. Ele olha-nos como quem enfrenta a si mesmo... o artista, que compõe seu figurino no próprio palco, supera-se a cada canção. Ele é a catarse dele mesmo!
O show chegou ao fim nos batuques de samba, com "Ex-amor", numa noite em que luzes adentraram luzes, olhares penetraram olhares e a voz imperou única num teatro de ouvidos acariciados.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Valesca Popozuda é culpa nossa!

A última discussão filosófica, ou a atenção de todos e da mídia gira em torno de uma questão aplicada na prova de filosofia de um colégio de ensino médio, em Taguatinga, Distrito Federal. Na avaliação, o professor Antonio Kubitschek perguntou aos alunos qual era a continuação da frase "se bater de frente", que consta no funk "Beijinho no Ombro", de Valesca Popozuda, mencionando a "cantora" como grande pensadora contemporânea. Ironias à parte, Kubitschek, que não trata-se do falecido presidente da república, e sim do filósofo, moveu o país para refletir sobre "o preconceito e a realidade com a cultura"!
Foto: Reprodução
Muitos dos alunos reclamaram, os pais acharam absurdo, mas os alunos acertaram a questão. A Secretaria da Educação deu autonomia ao professor. Bom... pelo menos isso, pois salário é o que eles menos dão! Agora, o que isso tem a ver com filosofia?
Quando pensadores como, Sócrates e toda aquela turma barbada, elaboraram suas teorias, tratavam-se de questionamentos atuais, decorrentes das relações humanas, animais e geográficas da época. Tais questionamentos, que hoje a filosofia trata como pensamento, ou teoria, enquadram-se ao cotidiano e até parecem coisas óbvias. Mas, o óbvio já foi novidade! E claro... o que é óbvio hoje é porque foi novidade pra nós mesmos um dia.
Falamos de pensadores antigos, que são atuais... agora vamos falar dos atuais, que certamente não serão antigos um dia. Valesca Popozuda, que leva em seu nome artístico talvez o que tenha de maior em sua vida - a bunda - cantora de funk, voz horrível, dicção péssima, repertório deplorável e discursos prontos para a massa, é mais uma produção independente daqueles que se consideram "do povo"! É ela o alvo da vez, ela é quem ganhou o assunto da mídia e o título de "pensadora", pelo professor Kubitschek, que volto a dizer, não é o falecido presidente, e sim o filósofo.
Qualquer pessoa que gera uma informação, que pode servir de reflexão, pode ser um pensador. Um influenciador é um pensador. Por que Valesca, a Popozuda, não pode ser uma pensadora? É possível contar nos dedos de uma só mão quem não sabe um versinho de "Beijinho no Ombro", sobretudo após o vídeo gravado por Suzana Vieira deflagrando de vez a canção. Uma vez que todos nós sabemos um versinho sequer da canção, Valesca conseguiu influenciar-nos com sua péssima música, que mesmo péssima, sabemos cantar! Valesca é uma pensadora. Infelizmente!!!
Tudo isso é culpa nossa, nós deixamos qualquer coisa ser chamada de música, isso pode até ser preconceito meu... é isso que o professor, que não é o falecido presidente, quis levantar em discussão: "somos preconceituosos?" Será que somos capazes de aturar um ente querido cantando versinhos dessa canção? Por que não? Talvez, porque antes de cantar qualquer sobra de música, todo aluno deveria saber, no mínimo, um pequeno verso de Bossa, ou daquilo que muitos artistas penaram para emplacar na Ditadura. Todo aluno deveria saber um verso de poesia, o nome dos poetas populares, e não apenas o nome de populares.
Valesca é apenas uma popular! Ela é cantora, ela faz música... mas jamais será uma pensadora lembrada! O que pensamos hoje é apenas um flagelo do colapso que acontecerá no futuro e que nem lembraremos da causa. Ela é apenas mais uma que rouba, por um tempo, o cérebro de todos nós, até que venha um próximo e torne a cultura cada vez mais comercial e descartável. Isso é culpa nossa, que esquecemos que cultura é importante na educação dos nossos filhos. Isso é culpa do governo, que pouco investe em cultura. Isso é culpa das gravadoras, que morreram. É culpa da tecnologia que avançou demais. É culpa de todo mundo, que não sabe de quem é a culpa!!!
Cultura é isso - na Índia é jogar crianças do 15º andar, no Japão é comer insetos, na China as mulheres amarram os pés em pequenos sapatos para que eles mantenham-se pequenos desde a infância, nas Filipinas os caixões de enterros são pendurados em paredes de cavernas, alguns grupos de muçulmanos xiitas chicoteiam-se com navalhas e facas, os Aghoris, seita hindu, alimentam-se de cadáveres crus... e no Brasil, dentre tantas tradições bizarras nativas, enforcam a cultura! Cada país tem sua esquisitice.
O professor errou apenas em uma coisa, o nome da suposta cantora é com "V" e não com "W", como consta na prova. Certamente essa informação causará maior conforto ao docente, pois, penso que desconhecer, mesmo que minimamente, algo que venha da marginalização da cultura é sinônimo de um certo alívio.
Agora... o que Kubitschek, o professor, tem a ver com Kubitschek, o falecido presidente é a audácia! Isso é saudável para um país em que as únicas decorrentes discussões são a violência e corrupção, estamos tendo a oportunidade de discutir os nossos conhecimentos ou, desconhecimentos.
Parabéns ao professor, que com o pouco que ganha despertou nosso país para a questão do consumo da cultura. A pena é que, quase ninguém entendeu essa história!
Pra vocês... beijinho no ombro!

sexta-feira, 4 de abril de 2014

A Diva no "Terra da Garoa"

“Terra da Garoa” - A mais nova casa de shows de São Paulo, localizada onde funcionava o antigo Cine Hitz, na Avenida São João e próxima ao famoso cruzamento com a Avenida Ipiranga, trouxe nesta quarta-feira (2) uma das melhores vozes da música popular brasileira, Gal Costa, acompanhada do violonista Luiz Meira, seu parceiro há anos e interpretaram grandes sucessos, como: “Divino Maravilhoso”, “Baby”, “Você não entende nada” e, como boa baiana que é não deixou faltar a homenagem a Dorival Caymmi com as canções “Vatapá” e “Gabriela”.

Dentro do projeto, em que o artista convidado escolhe o prato que será servido no jantar que escolhe o jantar que antecederá o show, Gal Costa optou por uma deliciosa moqueca, que é o seu prato predileto, preparada por Ana Célia, chefe de cozinha do conceituado restaurante Zanzibar em Salvador.

Gal Costa estava solta e sorridente, elogiou muito a casa e sua acústica, disse que é um lugar aconchegante. Quando interpretou “Trem das onze” de Adoniram Barbosa, teceu muitos elogios à “Sampa” e revelou ao público que esta amando morar em nossa cidade. Sim, Gal Costa agora mora em São Paulo!

Na próxima quarta-feira (09), teremos novamente a apresentação da diva Gal Costa com toda a sua musicalidade e gostinho da Bahia.

A casa possuí manobristas e é um local intimista, com uma decoração sóbria e acomodações bastante confortáveis. De fácil acesso a todos os setores e com bom espaço entre as mesas, o que demonstra respeito ao público. O cardápio é variado e o atendimento eficiente.

O espaço “Terra da Garoa” não poderia ter escolhido melhor artista para inaugurar esse projeto!!!


Riziane Otoni