quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
“O Quebra-Nozes”, em cartaz a prata da casa da Cia. Cisne Negro
A tradicional companhia de dança Cisne Negro estreou no dia 8, para convidados, e dia 9 de dezembro para o público geral, o clássico do balé, “O Quebra-Nozes”, espetáculo natalino que conta a história de uma jovem apaixonada por seu brinquedo. Com números de deixar qualquer queixo caído Hulda Bittencourt comanda a direção artística da apresentação, que já marca as folinhas da Cisne Negro há 27 anos. Desta vez, em cartaz no Teatro Alfa, em São Paulo, cenário e figurino brilham com nobreza junto aos passos de dança.
O Quebra-Nozes é um dos balés mais tradicionais que existem no mundo, Tchaikovsky compôs toda a sonoridade clássica do espetáculo diretamente ligado ao romantismo. Clara, na noite de natal, ganha do padrinho Drosselmeyer um boneco soldado quebra-nozes, que dentre tantos brinquedos acaba sendo o mais querido. Quando esteve sozinha na sala, Clara adormeceu e com a ajuda do mago e padrinho seu boneco ganhou vida num sonho, aventuras e magia passam a fazer parte da história, partindo de um carinho adoçado no espetáculo. As cenas dividem-se em três, nos dois atos do espetáculo, a grande parte da beleza das execuções do balé ficam no segundo ato, no Reino dos Doces, onde a fada açucarada derrama lindos passos e perfeição. Neste cenário é encenado o sonho que viaja por várias nações, e o figurino dá um banho de elegância.
O balé tem a grande responsabilidade de contar uma história sem falas, com a música motivando os passos a deslizarem pelo palco. Assim a companhia Cisne Negro deu nas mãos de 120 artistas, sob os ensaios de Dany Bittencourt e toda disciplina artística de Hulda Bittencourt, uma das mais belas histórias musicais e dançantes do mundo, nascido em Moscou, na Rússia, as características do roteiro se mantêm preservadas, do alto do teatro nasce um anjinho lavando-nos na plateia com uma neve cenográfica, arrepiando nosso corpo e brilhando os olhos de todos que sentem-se parte do espetáculo. A fada açucarada ainda me vem à mente quando busco os grandes destaques do “Quebra-Nozes”, o pas-de-deux coloca os bailarinos como um príncipe e princesa na ponta dos pés elevando-se ao mais alto nível da dança.
Os solistas que executam lindos passos de balé revezam experiência e cavalheirismo à dança, respeito à história do roteiro e à disciplina que requer a apresentação. O semblante de todos revela alegria, leveza e uma grande diversão ao dividirem o palco com grandes artistas, pois todos são grandes artistas. Alguma coisa no tempo errado, na entrada correta de luz, descompassou um trecho da cena em que um bailarino desce ao palco, porém qualquer deslize torna-se fácil de contornar quando falamos de apreço ao balé, é o que se pode notar que há em cada ator e bailarino convidado. Anna Scherbakova e Dmitry Kotermin são os solistas e fazem parte do Russian State Ballet, de Moscou. O tom teatral do roteiro ganha vivacidade com os atores convidados, dentre eles Felipe Carvalhido, que atua no papel de Drosselmeyer, esbanjando o tom misterioso de seu personagem e toda capacidade artística de misturar-se a bailarinos, assim como ele, envaidecendo o espetáculo.
Há 27 anos o balé é apresentado e a cada ano reserva a atenção do público a esta adaptação perfeitamente adequada ao balé. Até o dia 19 de dezembro “O Quebra-Nozes”, pela Companhia Cisne Negro, estará em cartaz no Teatro Alfa, em São Paulo, de segunda à quinta, 21h. Sexta, 21:30. Sábados, 17h e 21h e aos Domingos, 16h e 19h. Os ingressos custam entre R$ 60,0 e R$ 90,0.
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
“Eduardo Martini”, a comédia de fato, num cartaz infinito
Um ator que nasceu há 50 anos comemora além de anos, o nascimento em carreira. Ele, sem dúvidas, estrelou nos palcos com o intuito de rir e nos fazer rir. É difícil resumir alguém em admirações, mas fica fácil escrevê-lo em crítica, já que não é algo imparcial, é uma visão, um sabor daquilo que se degustou. Não que eu o tenha degustado, mas já tive em minha boca o reflexo do sorriso deste humorista nato, e já deixei meus olhos falarem por sua emoção. Não foram só comédias, também houve dramas, tanto em pessoa, quanto no palco. Carlos Eduardo Porta Martini facilitou-nos chamar-lhe no teatro como Eduardo Martini, o ator que fez-me conhecer a profissão de criticar por puro prazer à arte, a mesma que o move o sangue nas veias, dando-lhe a vida para o teatro.
É notória a presença dos feixes de luz no palco redesenhando um semblante concentrado, seguindo sobre o linóleo seus passos artísticos que revelam a experiência do ator no palco. E eu falo de vários personagens juntos, pois vê-se um personagem e lembramos até daqueles que nem vimos, mas que faz sentir saudades mesmo assim. A direção é impecável, é própria, algumas foram de outros, mas que uma tarefa tão difícil foi arriscada com facilidade ao aplicar num grande ator. A trilha sonora é tão bonita que talvez eu tenha que ouvir mais vezes para escrever com maior propriedade, as notas são peculiares e o arranjo infinito de tão profundo, a música vai ampliando-se na plateia e impulsa nossas mãos para aplausos vibrantes. O cenário límpido, revisa uma vida detalhada pela família, pelos amigos, pelos profissionais que estiveram ao seu lado. Imagino que nem todo mundo lhe estendeu tapete, não que ele seja um rei, mas caminha até a côrte da arte, onde o teatro está no trono que ele, em volta, nasceu como plebeu.
Dê-lhe um palco, que fará a cena! Ilumine a cena, que ele fará o palco! As expressões releem o texto de maneira incrível e o corpo o revisa. A leitura que os olhos fazem da comédia explicam toda sagacidade artística que o ator empresta aos personagens. Foi vendo a Neide que resolvi assistir todos os outros e fui ainda mais crítico a outras comédias, alguns textos arruinados eu mesmo falei, mas de seus textos ainda não sobraram escombros, porque todos estão de pé e reformados. O Eduardo respeita o teatro e por ele é respeitado, quando lhe faltam respeito é hora de abandonar a arte, porque não sabe fazê-la, pois o primeiro que eu souber que distribuiu falsas estrelas, ou desmerecidas, dou-lhe uma boa crítica para aprender a apreciar o que deveras é incrível.
Quando o assisto nas boas peças sinto-me, de fato, um espectador, recebo o humor e retribuo com gargalhadas. Algumas peças eu me ponho como crítico e distribuo a pobreza artística da peça com palavras de crítica, mas com as comédias de Eduardo isso não aconteceu, e de alguém que já completa anos de arte torna-se difícil escorregar no salto. O ator rodopia, pula, canta, veste e tira, sai e entra, encena e vive um personagem em tantos outros, cada um sobrepõe a experiência do outro papel. O Eduardo é como um baralho inteiro, onde os vários naipes completam o jogo, cada um sobre uma cartada melhor, à fim de vencer a rodada, assim a cada final de peça os aplausos o agradecem pelo espetáculo doado ao público.
Uma produção sem erros, o figurino com a costura bem alinhavada e as cores pinceladas ao bom gosto. Hoje, quem lhe recebe é a plateia, e não vice-versa, como de costume. É evidente que sua vida tornou-se uma cena, que ganha uma nova história a cada apresentação e nela temos a oportunidade de ser coadjuvantes e completar seu elenco tão nobre. Eduardo Martini está em cartaz diariamente onde quiser-mos ver, a caminhada dele registrou-se em documentos de recordações pessoais e nos arquivos lindos do teatro e da dramaturgia. É um prazer tão sublime fazer parte do teatro, ainda mais dando-lhes críticas recíprocas ao carinho do trabalho deste ator tão próximo ao público e amante do que faz. Registro em palavras o meu aplauso aos 50 anos de sua estréia numa peça chamada “vida”.
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