quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Mônica Salmaso 'molhando o biscoito'

Mônica entrou pra casa da música brasileira, e foi molhar o biscoito na "Biscoito Fino", pra deixar a música ainda mais "molinha". O som de Mônica vai passando por dentro do corpo e padecendo-nos aos poucos, até que retira todo o sangue das veias, e deixa apenas notas e timbre correndo e o corpo fica mole e de pé só com isso! Ou melhor, com tudo isso. Mônica Salmaso lança "Alma Lírica Brasileira", mostrando que música mais clássica que MPB não há!
"Lábios que Beijei" e "Minha Palhoça" parecem tão atuais e ao mesmo tempo redesenham o passado no presente quando pela roquidão que calça-se ao final do toque de voz da Mônica dilata o teatro. O show aconteceu no Teatro Paulo Autran, no Sesc Pinheiros, e aquele belíssimo lugar parecia sua sala de estar. A começar pela parceria com o marido Teco Cardoso, que sapeca sopros incomparáveis.
A voz é limpa, e ora surge a leve roquidão nas terminações, ora um choro das cordas vocais. Um choro nos olhos da gente, da gente que ouve. Parece que algo vem jorrando por dentro e não cabendo mais no corpo espirra-se pelos olhos. A música de Mônica empurra essa enxurrada do corpo afora.
Foto: Divulgação
Mônica molha o biscoito no palco, no bom sentido, pois mostra-nos um dueto com o seu próprio DVD. Utiliza de uma diversidade de instrumentos e deita seu deleitoso timbre ao piano, faz do palco um gigantismo maior do que o já existente.
A cantora revive os sambinhas de bar, ousando tocar com a caixa de fósforo, como faziam os deveras sambistas. Parece caminhar com leveza e tranquilidade numa corda bamba. Cantar aos poucos músicos, apenas com um piano e sopros no palco, é como cantar ao telhado de lua e estrelas. É mais do que o belo.
Tudo é tão comovente e feliz, que a roupa destratada, que mal conserva a cantora, acaba passando desapercebida. E o pretume da túnica cortada sem tino esmaece em meio as canções. Canções escolhidas com o tato de mestres, com a sutileza de bárbaros doces.
Mônica Salmaso é a dor de "Cuitelinho", a ternura do "Trem das Onze"... é a re-voz de Paulo Vanzolini e os olhos femininos de Herivelto Martins, os dedos viris de Adoniran Barbosa, o toquinho pueril de Villa Lobos e a daminha de honra de Chico Buarque. A Biscoito Fino ficou mais fina, com a música mais molhadinha!

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Fones de ouvido são obrigatórios

Foto: Reprodução de Internet
Enquanto não existiam aparelhos de celular capazes de armazenar álbuns completos de música a lei de proibição à aparelhos sonoros em ambientes públicos era mais respeitada. Hoje, à ela, a humanidade caminha para a indiferença. Fone de ouvido não é acessório, é extensão do aparelho celular!
Será que um dia vão entender isso? Largam os fones em casa, enrolados nos bolsos ou emaranhados nas bolsas. Esquecem de encaixá-los nos ouvidos encerados e empurram em nossos ouvidos toda a tranqueira que quiserem. Nos ônibus, no metrô, no trem, nas filas... em qualquer lugar, acionam o infernizado botão do play e qualquer lixo passa a impermear pelo ambiente. Funk, da pior categoria, o forró, cujo CD é encontrado apenas na banca de álbuns pirateados, e as canções do tipo "gospel", capazes de re-ressucitar Jesus Cristo. Essas são as mais executadas da playlist demoníaca dos coletivos.
Não sei se há culpados para esse exílio da boa música, mas se tem alguém que impulsiona esses gêneros tenebrosos é a mídia massiva. Ou, mídia maçante. O povo esquece que o "Esquenta" é na Globo, não é no metrô. Esquecem que toda essa "subcategoria" musical não é de obrigatoriedade geral. Eu não quero ouvir aquele vomito palavrudo que sai do celular de um qualquer. Sim, qualquer um compra um aparelho de celular, ou rouba, e enchem de péssimo gosto. Não contentes, assumem sua rebeldia musical em volume alto. Onde estão os fones de ouvido? E o bom senso?
A mídia coloca na abertura da novela um sacrifício chamado Daniel, premia num tal "Prêmio Multishow de Música" àqueles que pouco se esforçam pra emitir som com a boca, tampouco letra com a composição dos dedos. Esse prêmio foi a ignorância escancarada. Foi a história execrada! Qualquer lixo é motivo de luxo. São eles, que dão aos aparelhos de celular toda a displicência para ficarem ligados sem a conexão do sagrado fone de ouvido.
Qualquer malandro consegue um! Um celular! E sai distribuindo o jogral grosseiro de palavras fétidas e má formadas. São anencéfalos convictos. O fone de ouvido tem que deixar de ser considerado um acessório, pois é item obrigatório. É a continuação do aparelho telefônico, dos tablets, dos iPods e de qualquer tranqueira que se possa armazenar álbuns.
Ninguém coloca alto Mozart, nem Tom Jobim! Fazem questão de demonstrar sua ignorância ao som de Naldo! Fone de ouvido deveria ser o óleo de peroba dos blagues da humanidade.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

'Tem alguém que nos odeia' no Teatro Augusta

O texto é imediato, de um realismo fiel e ensejo poético contemporâneo. Os romances homoafetivos constroem e constituem um modelo familiar ainda incompreendido pela própria Constituição, é um modelo belo, capaz de admirar ao mesmo sexo, mas é um encontro repudiado por muitos. "Tem Alguém Que Nos Odeia" encontra-se às culturas, e coloca a sexualidade de frente com o comportamento cultural. É um diálogo necessário, imprescindível para a formação cultural do hoje!
O texto de Michelle Ferreira é esmiuçado pela direção de José Roberto Jardim, o que parece até um encontro homossexual, de tão uniforme que torna-se no palco. Os dois livram-se das convenções e encharcam um texto de uma beleza sublime e um temperamento realista na boca das atrizes Ana Paula Grande e Bruna Anauate. No início parecem atrizes desconhecidas, e enquanto o texto discorre, elas assemelham-se em um atual.
O roteiro discute a frieza do preconceito sem retratá-lo feito uma novela. Coloca-o de um modo mais factual, como um reconto. A história é nada mais do que uma vela que o vento insiste em apagar. É isso, o preconceito. O gênero imaturo da ignorância.
Foto: Divulgação
José Roberto Jardim não dirige, desliza os dedos pelo palco, e suas atrizes não são dirigidas, são maestradas. Ainda com um coágulo poético muito acentuado nas falas, que ainda parecem presas a leitura. Mas, talvez é fruto do realismo do roteiro, é como um decalque de um livro cheio de palavras cursivas. São ótimas atrizes, leves e de olhares astutos, transbordam o texto pelos olhos.
Tem um outro elemento que faz-se tão importante quanto a palavra e o silêncio do espetáculo, a iluminação, do próprio José Roberto. São riscos elementares. As atrizes ocupam-se de muito além das cenas, produzem, vestem e assinam, ao lado do diretor, o cenário do espetáculo. O público adentra ao cenário, na intimidade da sala experimental do Augusta, e vive, como no cotidiano, o roteiro de Michelle Ferreira.
Não há mais nada a ser dito. Há a ser apreciado, o tom do realismo contemporâneo na boca da arte!
O espetáculo "Tem Alguém Que Nos Odeia" está em cartaz no Teatro Augusta, na Sala Experimental, quartas e quintas, às 21h. Os ingressos custam R$ 30,00 inteira e R$ 15,00 meia. A peça fica em cartaz até o dia 3 de outubro.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Tarja Turunen lança 'Colours In The Dark'

Foto: Divulgação
Exatamente como cores no escuro, como canções que encurralam-se em becos e estouram as paredes criando rotas de fugas. Músicas que detonam o espaço e encruam partículas de ar. Somem com o oxigênio e respiramos subitamente a voz de Tarja Turunen, a soprano das guitarras... da sinfonia metálica. Tarja quebra ressaca de três anos e lança o "Colours In The Dark".

Tarja é a voz do alto. A que encobre as outras, sobrepõe o que instrumentos levam tempo pra desmanchar notas. É uma extensão maior do que os próprios ossos do corpo possuem. É a voz clássica encaçapada no rock, num rock de letras, de melodia, de encantamento.
A finlandesa é um intenso espasmo que dilata-se entre a orquestra de cordas de aço. Não cabendo em preto, sopra cores e sons. Tarja não cabe no seu já tão vasto gênero e discorre por outros, como o pó de cores que tecem seu novo álbum.
Tarja não é uma cantora lírica, é o lírico que hesita entre o rock e o clássico.
"Colours In The Dark" cria-se ao tocar, distribui-se em dez faixas arrancando pássaros negros da estrutura de Tarja. Dá-lhe cores, das brancas ao vermelho. "Victim of Ritual" é uma peça, uma ária tocada em aço e o refinamento de uma voz em ouro. É a trilha que dilacera um ouvido transformando-o em calabouço.
A pequena Turunen, filha de Tarja, ganha espaço no álbum e chora ao colo da soprano. Vai ao vento e as cores vão espalhando-se de música à música, como se o álbum fosse inacabado, ele termina feito uma peça, que não deveria terminar. Tarja segura faixas longas, duradouras, reservando-lhes instrumentos vorazes. Os instrumentos alçam ao lado da voz e retocam todo o tempo a extensão mais preciosa do rock. É um concerto de violência e calmaria. É uma ária só quebrada em atos. É um personagem vestido de som.
Foto: Divulgação
Outras músicas que merecem destaque são "Darkness", cover de Peter Gabriel, que mostra claramente a liberdade conquistada pela cantora ao longo desses anos de carreira solo; "Never Enough", com riffs de guitarra bem marcados; e "Medusa", que encerra o disco com força, potência e delicadeza, além de contar com a participação de Justin Furstenfeld, cantor, escritor e vocalista da banda "Blue October".
Apesar do pouco caso da Hellion, gravadora que distribuí o álbum de Tarja no Brasil, desbravei o CD em meus ouvidos. Gravadoras são pedaços singelos da grandiosidade dos artistas. Um mal necessário.
Não há como descrever faixa por faixa, assim como não há como destrinchar uma peça. Há como dizer que a sensação é quase que indescritível. A delicadeza robusta de Tarja é o que transcende. Ouvi-la é como casar-se com um sabiá histericamente afinado.
*O texto foi escrito com a colaboração de Alexandre Nicotelli.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

O som que vem do coração

Escrevo apaixonado, pela música, pelo menos duas vezes por semana. Por alguns anos repeti esse ato, esse despejo consciente de um amor entre eu e os sons. O som das vozes, dos teclados, das cordas, da percussão e dos sopros. Um dos instrumentos mais tocados no mundo, as vezes cai na rotina e a gente esquece que o compasso dele fica de fora. Todos nós sabemos tocar, muitas vezes fora de ritmo, sem tom, mas muitas vezes com uma percussão ritmada. Tem coração dentro de todo mundo, tem instrumento dentro de todo mundo, não dá pra dizer que não sabemos tocar nada. É a primeira vez que escrevo sobre o meu coração e dou o nome disso de coluna sobre música!
A música traz nossos primeiros lembretes sensoriais. As primeiras trilhas sonoras sexuais e escrevem aquilo que já vivemos. Sinto que Tom Jobim compôs o que eu queria dizer e Caetano deu pra Gal a canção que eu gostaria de ter dado. Parece que Bethânia canta com a letra que eu pensei em escrever. Essa gente toda canta por nós e a gente toca, com o coração, fica acompanhando com ele batendo, no mesmo compasso do cérebro, dos ouvidos. O sangue vai pulsando feito os poros da pele engolindo o resmungo do som. É a sensação da paixão... ou do amor. No meu caso, do amor! Pela música, pelo humano, pelo que toca, pelo que fala, pelo que canta, pelo que ouve ao meu lado, enquanto espreme os dedos de minhas mãos, respondendo aos vibratos de qualquer canção que sai do iTunes, do Youtube, do sei lá do que... do rádio!
Foto: Nyldo Moreira
Por vezes, basta-nos passar o fone de ouvidos de um ouvido para o outro, como quem passa a língua de boca para boca. É um ato de amor, é o sexo da música com os ouvidos. É preciso falar tanto, pra não parecer que estou dedicando este texto a uma banalidade. Tem gente que banaliza o amor, faz ele ruminar como um disco cheio de riscos. Eu, dou-lhe o valor, o do som. O do som do coração. Ele bate sem precisar de música, porque ele aprendeu a bater por estímulo de algo que não é o som. Aprendeu com o toque de uma mão, o solfejo de palavras, o palpite, o roçar de pés, o beijo, ou o simples ato de admirar, orgulhar-se... de amar! Eu te amo... e digo publicamente. Eu amo quem me ama! E isso torna-me música, composta pelo meu coração.
Tenho uma banda, uma banda de dois. Uma dupla! Dois corações quando batem juntos, fazem o que o meu e o do meu amor fazem. Batem e formam um som uniforme. Meu coração aprendeu a ter compasso. Não necessariamente com o estímulo de um marca-passo. Mas com o passo marcado do que um sente pelo outro. A música acompanha, a música transita pelos homens que amam. Eu ouço o que você ouve, e você ouve o que eu ouço. E a música corrói novos poros. Conhece ao outro, quando ouve-se o outro. E música é a voz do outro. É a voz do humano.
Eu comecei a amar pela música. Num show de Gal... passei a usar a palavra felicidade só após senti-la e tive inveja do Tom... o Jobim, por suas composições usando felicidade relacionada ao amor. Mas, foi lá na boca do palco que senti vontade de beijar. Sexo, fácil caminho que a música torna tácito. O sexo e a música andam pelos dedos sobre a cama. Amor e sexo, como disse Rita Lee! É isso, ela definiu tudo muito bem.
Quero casar, como quem sobrepõe dois discos. Quero riscar a aliança na pele do dedo. Primeiro em uma mão, depois na outra. Quero que o sol queime as redondezas dos dedos, em volta da aliança. Quando mudarmos de dedo, as alianças, todos saberão que namoramos e depois casamos. Que queimamos os pelos das pernas um no corpo do outro na molequeira escondida dos finais de semana, quando ninguém ouvia nossos urros e acham que apenas ouvíamos música no quarto, com o volume alto. É por isso que não ouviam nossos urros. A música desvela o sexo enquanto oculta-o para os outros. Grite, enquanto aperto teu sexo, que lá embaixo ninguém vai ouvir!
Quando o meu coração começou a bater pela culpa de um outro, fiquei feliz por saber que eu também era músico. Que, ainda por cima, tocávamos juntos. O amor me ensinou não só a amar, a desejar, a admirar. Ensinou-me o ato de musicar.
O amor é o cafonico estado de tornar o corpo uma orquestra. O coração faz um arranjo de letras apaixonadas. A boca, pelo beijo engole notas. Fomos rápidos, porque a música não dura mais do que "Faroeste Caboclo", do que uma ária, do que uma peça de Verdi ou Chiquinha Gonzaga.
Conhecemo-nos justamente, com mais destreza, na plateia do show. Eu ouvia o seu coração tocar, enquanto ouvias o meu dar-lhe o tom. Somos plateia de nós mesmos. Encarcerados pelos próprios corpos.
Eu te amo! Independente das convenções e do que os outros vão achar. Case-se comigo... eu, você e a música. Esse "ménage à trois" ao sugo da nossa paixão.
Eu te amo. A música e você, que veio-me como ela.
É pro resto da vida, como um acetato bem cuidado. Não importo-me com o que os outros vão achar. Com a inversão sexual. Com a Comissão dos Direitos Humanos. Com o verbo de nossos pais. Com a repudia dos crentes e das oposições. Amo-te como quem ama! Maior que uma clave de sol e de fá no mesmo verso, amplificadas no silêncio.
Amo-te mais do que aquele dia na plateia da Gal. Amo-te mais do que diz na música do Tom Jobim e de Buarque, juntos. Vou te amar mais do que as canções que irei compor. Do jeitinho que o nosso coração bate, é nesse ritmo que eu te amo, aceleradamente!
Só não direi publicamente o seu nome, porque o coração dos seus pais pode parar. E quero que todos os corações batam! Só assim a música vai continuar viva. Um dia, abro novamente essa coluna só pra dizer o seu nome aos curiosos.
Case-se comigo?!

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Jô Soares faz recorte em direção de 'Três Dias de Chuva'


Otávio Martins, Carolina Ferraz e Petrônio Gontijo encenam uma história articulada pelo amor e pela frigidez. Não é um romance policial, tampouco uma comédia, muito menos uma tragédia. Jô Soares traz ao Brasil o texto de Richard Greenberg com grosseiros recortes. A peça registra nada mais do que uma incógnita, deixa os atores gigantes, e o diretor fica pouco. Salvo o cenário e a generosa iluminação.


O espetáculo distribui-se em dois atos. O primeiro acontece em 1995, quando há o reencontro de Anna e Walker, interpretados por Carolina e Otávio, dois irmãos que precisam fazer a partilha dos bens, após a morte do pai. Pip, vivido por Petrônio, é um ator de televisão, filho do falecido sócio dos pais de Anna e Walker. Os três são amigos de infância e irão se confrontar com as próprias histórias entre a leitura do testamento.
O primeiro ato enrola numa história quase desnecessária, onde o elo com a compreensão surgirá no segundo ato. Este primeiro, têm um recorte de tesoura cega, com uma coordenação motora falha e um olhar distante do público na direção. Jô desprende-se do que o público vai ou não entender. O humor fica por conta de pequenos textos e a acidez, a ironia da versão nova-iorquina é esquecida por Jô. É picotada entre o longo espetáculo.
O segundo ato desafia aos atores entregarem-se a outros personagens. Torna-os mais corajosos e responsáveis por ocultar o fraco início da história. Ou melhor, o fim, pois o segundo ato acontece em 1960. Ned e Theo são os sócios, arquitetos, interpretados por Otávio Martins e Petrônio Gontijo. Os dois estão atarantados com o primeiro projeto, após a faculdade. Nina, interpretada por Carolina Ferraz, é a responsável pela mudança de comportamento dos dois, sedutora e romântica dá rumo às nuances de toda essa história. Eles são os pais, mencionados no primeiro ato.
Jô tira da manga a cartada que salva o jogo, aquele que estava completamente esquisito sobre a mesa. Carolina Ferraz sai dessa manga como um trunfo. É ela quem cresce no texto, que sobressai ao próprio texto. Otávio melhora no segundo ato, ganha as cenas e ajuda a tornar o primeiro ato menos insignificante. É um dos atores de peso que melhoram os cartazes do teatro brasileiro. Petrônio é um tanto mediano, é melhor do que o recorte do texto, mas sai prejudicado por ser apenas uma passagem na história. Importante passagem, mas não pode receber as mesmas flores que Carolina e Otávio. O desequilíbrio de um espetáculo, da-se, sobretudo ao diretor. O gênio dos erros.
Jô, que sempre escala seu nobre time, os mais vaidosos e merecidamente grandes do teatro, dá um banho de água fria nos assistentes de direção. Todo mundo se perdeu. Três assistentes de direção perdem a cena para Maneco Quinderé, que esbanja um desenho de luz deslumbrante e a cenografia cinematográfica de Marco Lima. Fábio Namatame já foi melhor no figurino, mas fica congelado no texto. E Ed Júlio continua como um dos meus favoritos produtores, é ele quem ajuda na condução de arriscadas manobras da direção.
"Três Dias de Chuva" é apenas uma peça, um frágil entretenimento, sem grandes ressalvas. Quase sem ressalvas. Tão fraco, quanto o "Libertino", também dirigido por Jô.
Só não digo que perdeu a mão, porque na cozinha há sempre tempo de surpreender.
O espetáculo fica em cartaz até 16/12, no Teatro Raul Cortez, em São Paulo. Sexta às 21h30, sábado às 21h e domingo às 19h. Os ingressos variam entre R$ 60,00 e R$ 70,00.