segunda-feira, 30 de agosto de 2010

“Ensina-me a Viver”, uma comovente e engraçada lição de vida


Novamente em cartaz em São Paulo, no Teatro Tuca, na PUC, a peça “Ensina-me a Viver”, com Glória Menezes e Arlindo Lopes, numa direção de João Falcão, sucesso também no Rio de Janeiro, arrebata um público disposto a rir e se emocionar com um incrível texto de Colin Higgins, tradução por Millôr Fernandes.

Harold, um jovem de aproximadamente vinte anos, obcecado pela morte, para chamar a atenção da mãe, tão indiferente e sem qualquer demonstração de afeto pelo filho, conhece a octogenária Maude, uma mulher disposta a viver muitas aventuras e curtir cada segundo do que lhe resta na vida. Os dois vivem uma paixão comovente, porém Maude é marcada por sua irreverência e sensibilidade, quando Harold aprende com ela os prazeres da vida até o caminho do fim dela.

Arlindo Lopes, idealizador do projeto, mostra-se incrível na peça, o tempo todo impressiona com uma interpretação profunda de seu personagem Harold, um rapaz mórbido, desprovido do amor de uma família. Ele é um rapaz rico, sempre inventando engenhocas tragicômicas, quando finge se suicidar para que este terror desperte na mãe qualquer sentimento de afeto e preocupação. Ele tem grande desenvoltura com o personagem, Arlindo vive a peça como um homem que já interpretou inúmeros personagens, pois sabe personificar diversas características num jovem de pouca expressão, ele passa do rapaz sombrio para um homem que ama. Sua química com a atriz Glória Menezes, que vive Maude, é indiscutível, não permite qualquer descrição, pois somente vendo para que os olhos comovam-se com a trama de sensibilidade e irreverência. Glória venceu prêmios de interpretação com sua personagem serena e engraçada, Maude é uma senhora graciosa e que ensina a Harold o quão bom é a vida e a liberdade. Entre o texto e a personagem o toque especial de Glória fica fantástico, o olhar, a voz cômica, os trejeitos, o despertar ao amor e as surpresas comoventes que a peça revela.

Stella Maria Rodrigues é Helena, a mãe de Harold, uma ótima atriz, impecável atuação, deixa a expressão clara de uma mãe indiferente ao amor do filho. A atriz Fernanda de Freitas vive três personagens, as pretendentes de Harold, ela dá um tom de muita graça para a peça, deixa a história ainda mais confortável. Antonio Fragoso reveza o tempo todo entre cinco personagens, cada um com total diferença de características, a troca do figurino é muito rápida, e quando não há possibilidade de troca, a mudança é de ator, mas o destaque é sempre de Antonio, que desprende-se de qualquer convenção para interpretar um soldado, ou um padre, e faz um humor controlado, inteligente, sem qualquer exagero. Cada personagem demonstra durante o texto sua grande importância para que a história de Maude e Harold aconteça como propõe o tema, para que o público aprenda junto com Maude a viver e comova-se com Harold. A direção de João Falcão não poderia ter sido melhor, todo o cenário, iluminação, figurino e encenação tornam esta uma das melhores peças em cartaz, aproxima-se do público quando fala de amor, quando preserva o lirismo e sensibilidade de cada personagem.

O palco envolve cores bem retalhadas, a transação de tons é muito bem arquitetada, o posicionamento de cada feixe de luz propõe às telas de filó preto uma dinâmica incrível para o espetáculo, a iluminação de Renato Machado foi premiada pela APTR/08. O cenário de Sérgio Marimba acompanha a elegância e o baile das luzes, deixa-se projetar pela tecnologia, quando parte do cenário ganha vida com a projeção de imagens, tudo é fácil de movimentar no palco, as cores nos transportam no tempo e situam o texto em cada ambiente proposto. As roupas são partículas daquela época, as trocas de figurino são feitas no tempo correto, e demonstram a fusão de sentimentos dos personagens, Maude vêm sempre colorida, enquanto Harold vai deixando o pretume de suas vestes para acompanhar seu caminho ao amor. Kika Lopes merece aplausos pelo bem trabalhado figurino. Um ótimo arranjo da banda Beirut exprime a dor de Harold e ao mesmo tempo a alegria de Maude, os gestos dos atores e seu texto acompanham o compasso da música, a trilha sonora é de Rodrigo Penna.

“Ensina-me a Viver” sem dúvidas fará qualquer pessoa rir e se emocionar, levará a qualquer palco sua grandiosidade literária e se aproximará de um trecho da vida de cada um de nós. A linda produção de Maria Siman, com realização de Primeira Página Produções Culturais ficará em cartaz até 26 de setembro, com temporada popular de R$ 30,0 de sexta e sábado às 21:30h e aos domingos 19h, no Teatro Tuca, na PUC, em São Paulo.

‘Gypsy’ um dos mais belos musicais já vindos para o Brasil


Está em cartaz em São Paulo, no Teatro Alpha, o musical ‘Gypsy’, uma das mais impecáveis obras trazidas para o Brasil, por Charles Möeller e Claudio Botelho. No palco 38 atores, 18 trocas de cenários e 140 lindos figurinos e 17 músicos afinadíssimos. Sem dúvidas este é um dos mais belos roteiros exibidos aqui.

Mama Rose projeta em sua filha a realização de um sonho, tenta de tudo para que ela torne-se uma grande estrela do teatro, enquanto sua caçula é sempre a coadjuvante, Porém o talento das duas é indiscutivelmente um fracasso, June, a mais velha, cansada das projeções feitas pela mãe deixa o grupo. Para não esmaecer seu sonho, Louise, a filha mais nova de Rose, torna-se a atenção da mãe e ganha muito mais êxito do que se imaginava. Herbie, o empresário das meninas, vive uma paixão com Rose, que leva a filha ao estrelato após o espetáculo trazer o rejuvenescimento do teatro vauneville, ou burlesco, onde diversas apresentações, dentre elas o striptease eram exibidas.

O musical, inspirado na história real de Rose, é contado de uma forma diferente da história, à fim de dar um tom a mais para o espetáculo, uma história com romance e familiaridade leva ao público maior aproximação do que se conta no palco, na verdade Rose tinha estatura bem mais baixa do que Totia Meireles, que a interpreta em Gypsy, além disso era lésbica, visto que Herbie não existiu em sua vida, mas está presente na peça para preservar o romantismo que qualquer musical carimba em suas grandes produções.

A obra é inspirada na autobiografia de Gypsy Rose Lee, a mais famosa stripper dos Estados Unidos, com a característica de que não tirava totalmente a roupa, o que é preservado no musical, onde Mama Rose jamais permitiria que a filha torna-se vítima do teatro burlesco, aceitaram a proposta porque era a única alternativa, já que as apresentações produzidas por Rose fracassavam sempre. Entre atores, bailarinos e cantores a história é muito bem desenvolvida, o texto de Arthur Laurents permite que crianças participem do espetáculo, a passagem da infância para a juventude dos personagens é impecável, e os pitacos de humor são inteligentemente inseridos às falas.

Totia Meireles, vivendo a Mama Rose, veste bem a personagem da mãe que realiza no filho os sonhos que gostaria de ter realizado, uma mulher aventureira e sem limites, porém que preservará sempre a integridade das filhas, tem uma voz linda, afinada, acompanha muito bem a orquestra e desliza no palco com total irreverência e leveza. Eduardo Galvãe é Herbie, também com uma ótima desenvoltura, não tem tanta participação musical, até por estar na história de Rose apenas no musical e não na história real, porém sua participação enaltece mais ainda a presença da Mama em todo o espetáculo, que acaba ganhando a história. Eduardo mantém seu clima calmo e passa ao personagem toda sua serenidade. June é vivida por Renata Ricci, que preserva o jeitinho da mesma atriz mirim que a faz no início do espetáculo, tem ótima atuação e presença no palco. Adriana Garambone, que comprou os direitos da peça, interpreta Louise, que após realizar os desejos da mãe torna-se uma stripper de grande fama, Gypsy Rose Lee, espetacularmente interpretada, pois é uma personagem que altera seu jeito de ser, e a atriz trabalha isso muito bem, nos permite visualizar a passagem do tempo através de sua mudança, além de ser dona de uma voz deliciosa de se ouvir.

Louise não vive um romance no espetáculo, porém oscila os olhares do público para uma cena com Tulsa, vivido por André Torquato, os dois cantam e interpretam “All I Need is the Girl”, ele faz-se exuberante quando passa do sapateado para o vocal. Sendo pequena, a coxia do teatro Alpha não comporta os cenários que aguardam troca e os atores juntos, portanto números de cortina são apresentados sempre durante a troca de cenário, em frente do palco o sapateado canta no chão do teatro, trabalho de Flávio Salles. Quando falam do teatro burlesco strippers pra lá de engraçadas roubam a cena, Liane Maya, Sheila Matos e Ada Chaseliov desfilam um figurino impecável e despertam risos da plateia. O elenco todo é muito bonito e talentoso.

Casa, rua, palco de show e de teatro são um dos melhores cenários que já vi serem montados no Brasil, pois atendem exatamente ao que o roteiro propõe, Rogério Falcão leva para o palco cores e muita técnica para cada cena, compondo um conjunto de perfeição cênica. Paulo Cesar Medeiros cuida da iluminação, as vezes explosiva demais quando acendem-se todas as pequenas lâmpadas do palco, porém tudo segue sincronicamente, sem abusar de cores e tons, dando importância ao cenário e respeitando os limites do palco. O figurino de Marcelo Pies é digno de muitos aplausos, levam o personagem a sua época e situam o texto, as roupas são muito bem costuradas, bem cortadas e não poluem de cores quando um conjunto maior se apresenta no palco. Tudo é muito bom, a coreografia de Jerome Robbins e a remontagem por Janice Botelho e a regência de Márcio Telles harmonizam todo o espetáculo. As letras são de Stephen Sondheim e música de Jule Styne.

Gypsy apresenta a melhor overture já vista, a orquestra segura muito bem o início do espetáculo, e também o entreato, o tempo entre a música e os movimentos dos atores é sensacional. A criação de Gypsy no Brasil foi de grande responsabilidade e muito bem feito, não machucaram o que já existia e se conhecia na Broadway, preservaram a integridade artística da peça.

A produção de Aniela Jordan e Luiz Calainho, com realização da Aventura Entretenimento é digna de muitos aplausos. Gypsy, um dos melhores libretos já vistos ficará em cartaz até 17 de outubro no Teatro Alpha, com preços entre R$ 60,0 e R$ 140,0, de sexta à domingo.

“STOMP” sucesso mundial de volta ao Brasil


O espetáculo STOMP, está no Credicard Hall, em São Paulo, até 25 de agosto, trazendo muito ritmo e embalo, com sons extraídos de recicláveis e objetos rotineiros. A companhia que foi criada na década de 90 e já se apresentou em vários países, está de volta ao Brasil e passará por ainda 3 cidades daqui.

Os co-criadores do STOMP, Luke Cresswell e Steve McNicholas resolveram trazer para o Brasil apresentações com novos números, envolvendo o público com os sons tão próximos aos de batuques e atabaques brasileiros. O bom-humor faz parte do espetáculo, objetos como vassouras e tambores viram instrumentos de percussão, no cenário diversos elementos que poderiam ir para o lixo, ou fazem parte de sinalizações e utensílios caracterizam uma rua, um beco, ou qualquer lugar que se possa encontrar a diversão que monta-se sobre o palco.

Um dos números bem interessantes do espetáculo é quando ao redor da cintura deles são vestidas câmaras de pneus de trator, formando uma espécie de “Donuts”, nome o qual foi batizada a caracterização, e disso são tirados sons que ecoam distribuindo diversas sonoridades, quando eles batem nas câmaras com pedaços de madeira. Das vassouras também é possível fazer som, desde os batidos com os cabos, até as varridas mais leves e fortes, as cerdas são de palha e a madeira não me pareceu ser de tanta qualidade, pois espedaçavam com muita facilidade quando batidas ao chão, mas o número não perde sua característica pitoresca de uma dança de rua.

Um dos integrantes é Marivaldo dos Santos, um baiano que foi para Nova Iorque, e após passar por uma seleção se tornou parte do STOMP, levando a brasilidade das expressões e movimentos de corpo, principalmente quando eles tocam tambores e latões, um som muito envolvente, assim como as palmas que são interagidas com o público. O número dos isqueiros também desafiam o som e a imagem, além do atrito entre o feixe do aparelho, a luz do fogo cria uma linda imagem no palco.

O espetáculo STOMP já passou por mais de 350 cidades do mundo, aqui no Brasil ficará até 25 de agosto em São Paulo, depois viajará para para o Rio de Janeiro, onde ficará entre 27 e 29 deste mês, seguindo para Curitiba e Porto Alegre. Os ingressos na capital paulista variam de R$ 60,0 a R$ 200,0 e no Rio, de R$ 60,0 a R$ 190,0.

Marisa Orth em Romance, Volume II


Com somente 4 apresentações, Romance Vol. II volta a São Paulo com toda sensualidade e graça de Marisa Orth. No estúdio EMME, em São Paulo, uma casa de shows bem agradável a estréia do espetáculo atraiu artistas e um público animado à fim de interagir sobre amor e paixão com a atriz.

Após fazer temporada aqui em São Paulo, com “O Inferno Sou Eu”, peça que também fala de amor, Marisa Orth desfila toda sua irreverência e conforto sobre o palco, dá voz a paixão e a ridicularização do amor também. Ela desabafa, esnoba, e destila uma voz ainda melhor do que na época da banda Luni, a qual ela era integrante junto a Natália Barros, que em Romance Vol. II assina a direção geral. Marisa entra ao palco toda de preto, com uma calça transparecendo suas pernas, e um chapéu na cabeça, distribuí seu olhar e canta Minha Fama de Mau, de Erasmo Carlos. Várias composições que traduzem o amor, suas dores e prazeres são intercaladas a muito humor e improviso.

Canções de Tim Maia, Hildon, André Abujamra, Roberto Carlos e Rita Lee vestem o palco com sensualidade, humor e sarcasmo, sempre acompanhadas da ótima banda que veste preto e estampa um coração no meio da camiseta, Alexandre Prade (teclados), Marco Camarano (guitarra), Paulo Bira (baixo), Carneiro Sândalo (bateria) e Hugo Hori (sopros). A iluminação é por conta de Jairo Mattos, que distribuí ao público as luzes no tempo certo, aplica as cores ideais ao romantismo proposto, como também sensualidade ao palco. O cenário compõe-se de cortinas escuras, que ganham brilho e sobretom em contraste com as luzes. Alguns objetos, como o banquinho em que coreografias são desenvolvidas por Marisa, e a mesinha que reserva a taça de vinho que ela bebe durante o show, são de Humberto e Fernando Campana.

A maquiagem de Marisa estava muito bem delineada, desenhando suas expressões, o que tornava o show mais teatral ainda. Ela volta ao palco após um intervalo, enquanto sua banda toca e canta, Marisa entra com um vestido vermelho, cantando “Maneiras”, e encenando uma bêbada, as músicas sempre em primeira pessoa nos permite ver a atriz como personagem real daquelas histórias de amor que sintetizam em uma só mulher. O vestido é mal cortado, não se distribuí bem ao corpo dela, a intenção é bacana, porém a costura é desajeitada, não se define um vestido sensual, o figurino é de Fábio Namatame. Já a primeira roupa é muito bem feita, exibe muito mais sensualidade do que o vestido, o chapéu, o bolero que ela tira e pendura no pedestal do microfone trazem mais elegância ao espetáculo.

Marisa Orth interage com a platéia e discute sobre o amor, pauta o show sob pesquisas, sempre com muito humor, ela posiciona-se bem ao palco, às vezes não se comporta muito bem com o fio do microfone, que vai se prendendo por alguns espaços, o que dá mais trabalho ao roadine Alex, que precisa entrar em cena o tempo todo, por vezes desviando o olhar do público para o que se movimenta no palco. O projeto é muito bom, falar de amor com comédia e cantar torna o roteiro bacana e próximo ao público. Ela pretende aumentar a banda, e isso deixará a musicalidade ainda mais elevada, com mais glamour, permitindo aos músicos que não se desdobrem tanto no palco, os deixando com um pouco mais de fôlego para acompanhar Marisa nos vocais, e quanto a isso ela disse em entrevista ao Buxixo: “A gente quer ir crescendo, quer ir aumentando a banda de repente fazendo outras músicas que tão dando maior pé, né? Banda não precisa morrer, não é que nem teatro que nasce, cresce e morre. Banda dá pra ir levando ‘forever’”. Ao fim do show ela canta “Demais”, composição de Tom Jobim, exacerbando o amor e suas preces sentimentais, bem como propõe a letra.

Marisa ainda disse que já está com outros shows agendados pelo Brasil, por enquanto ficará nas quartas-feiras até 8 de setembro, às 21hrs no estúdio EMME, na Zona Oeste de São Paulo, em Pinheiros, com uma produção de Nicinha e Super Amigos Produções. Os ingressos são para mesa R$ 40,0 e camarote R$ 50,0.

“O Zorro”, um musical cigano de luta e romance


Baseado na obra de Isabel Allende, uma das histórias de maior sucesso entre os públicos diversos, está em cartaz no Teatro das Artes, do Shopping Eldorado, em São Paulo, o musical “O Zorro”, recheado de romance, luta e música cigana. Com direção de Roberto Laje numa produção de Murilo Rosa com 27 atores em cena.

Escrito por Stephen Clark e Helen Edmundson o texto envolve muita sensualidade e romance, retrata Zorro como um herói aventureiro e apaixonado. Diego de La Vega, vivido, no início da temporada por Murilo Rosa, e hoje por Jarbas Homem de Mello, recebe, em Barcelona, a notícia da morte de seu pai. Luiza, seu amor de infância, vivida por Camilla Camargo, viaja da Califórnia para Barcelona e o encontra, ao invés da academia de estudos, numa comunidade cigana, onde havia se juntado e fazia muito sucesso dentre os companheiros, com shows de ilusionismo e dança flamenca. Luiza o avisa do falecimento de Don Alejandro, pai de Diego, e da sucessão do poder pelo filho mais velho, Ramon, interpretado por Luiz Araújo, um tirano capitão que resolve impor limites bárbaros para o povo. Luiza convence Diego a voltar para a Califórnia, porém Inês, interpretada por Naíma, uma cigana apaixonada por ele, convence toda a comunidade cigana a segui-lo, pois o bando deveria sempre permanecer unido. Para ajudar seu povo, Diego busca um disfarce e adota Zorro como herói para combater o poder de seu irmão cravando diversas lutas de esgrima, buscando ainda saber da veracidade da morte de Don Alejandro.

A história é, em instantes, narrada e comentada por um velho cigano, interpretado pelo ator Cláudio Curi, e tem um tom de humor com o Sargento Garcia, vivido por Gerson Steves, que fielmente retrata um guarda submisso às imposições tiranas. Luiz Araújo dá ao seu personagem Ramon um destaque valioso ao espetáculo, faz com que o capitão seja sarcástico e irônico, não só permitindo que toda a história ganhe aventura, mas deixando o texto mais leve, sem arrogância e violência. Naíma, a cigana mais famosa dentre as outras, exibe sua voz latina com luxo dentro da colorida e bem desenhada roupa e presenteia o público com um show de interpretação. Quanto ao Jarbas há o tom de aventura em seu personagem Zorro, é sensual e munido da postura de um forte e rápido herói.

O elenco é muito bonito, entrosado. As danças têm bastante ritmo e envolvem o público, o espetáculo não é tanto de falas cantadas, sendo mais teatral, a parte rítmica e lírica fica por conta de danças e músicas do famoso grupo francês Gipsy Kings, destacando ótimos arranjos, trabalhados por 10 músicos da banda do espetáculo, como Bamboleo, Djobi Djoba e Baila Baila. A dança flamenca sempre impressiona por sua sensualidade e no espetáculo fica claro o ótimo trabalho de Juçara Correa e Kátia Barros, que levaram também o sapateado para dar mais ritmo às danças. As lutas de esgrima selam a época em que a história se passa e os instrumentos são fielmente utilizados, ensaio de Flávio Nabeiro e a coreografia de Marcelo Rodrigues.

O cenário é simples, porém atende ao palco do teatro, que não é tão grande quanto os usados por grandes musicais, permite que a visualização da história seja temática, utilizando cores da Espanha, quando a cena se passa em Barcelona, e as construções rústicas da Califórnia, na época, projeto do cenógrafo Alberto Camarero. A iluminação fica por conta de Wagner Freire, que leva ao palco a projeção de cores que aplicam profundidade, solidão, tristeza, alegria, ambientalização, dia e noite, de acordo com as cenas. O figurino é de Paula Valéria, que leva cores e elegância. Achei que faltou um pouco mais de som nas pulseiras, nas moedas presas às cinturas das ciganas, creio que isso não atrapalharia no som, e sim faríamos ver as ciganas com mais vaidade, como elas são. Ainda penso que faltou utilizar de algumas coisas, bem como fogo para impressionar mais na marca em que o Zorro sempre deixava em suas batalhas, e que a marca do Z de seu nome fosse melhor frisada em alguns instantes, o que foi utilizada apenas uma vez.

A produção de Murilo Rosa, César Castanho, Vitor Cardoso e Tathiana Senra fica até 24 de outubro, e recomendo aos que querem dar um pouco mais de aventura, romance e alegria às noites de sexta e sábado às 21h e domingo às 19h no Teatro das Artes, no Shopping Eldorado, onde os ingressos variam de R$ 60,0 a R$ 140,0. “O Zorro” tem 150 minutos em 2 atos, com intervalo de 15 minutos.

“Três Possibilidades” um picante triangulo amoroso


Após viajar por Brasília, Rio de Janeiro e Bahia, a comédia “Três Possibilidades” esteve em cartaz no Teatro Bibi Ferreira, em São Paulo, onde encerrou sua temporada no último sábado. A história de dois homens e uma mulher que moram juntos traz uma trama entre amor e desejo. A direção é de Bia Oliveira e produção de ProMB Produções.

Vinícius, um jovem que não permite dar satisfações de sua vida, passa a dividir o apartamento, que alugava, com Leo. A convivência dos dois, no início, é de indiferença com o estilo de vida do outro, porém, com o tempo, acabam misturando seus gostos. Com a vinda de Alexia, para morar no mesmo apartamento, a rotina desses rapazes muda completamente, pois Vinícius mostra-se interessado por Alexia, que na verdade encanta-se com a inteligência de Leo e deixa-se apaixonar, porém ele desejava Vinícius. Entre traições e transparências vai se dissolvendo a relação entre os três, até que tudo chega a um fim.

Há algum tempo eu não via no teatro tal história, o texto tem um bom sentido, segue um raciocínio inteligente, dar voz aos três jovens atores para falar de sexo e amor é realmente uma ótima estratégia de aproximar o público para o que vivemos hoje. Alexia, que era apaixonada por Leo, que gostava de Vinícius, que desejava Alexia é simplesmente uma mistura entre gêneros sexuais que resultam num mesmo objetivo, o desejo de um pelo outro, ultrapassando qualquer barreira, independente da sexualidade um do outro. Lidar com a homossexualidade é vencer alguns tabus, principalmente quando na plateia há pessoas de diferentes costumes e opções sexuais e este é um ponto a mais para a produção e direção.

Em determinada cena, o ator Fernando Bacalow, que interpreta Vinícius fica nu no palco, onde toma banho, dando maior impacto ao assunto da peça. Tiago Pessoa, que vive Leo, tem ótima performance e encara seu personagem com total liberdade, não se intimida ao beijar, quando a cena absorve a timidez e exala todo o desejo, assim como a atriz Camila Hage, que interpretando Alexia certamente desperta os olhares de muitos na plateia, e no palco não perde a irreverência e sensualidade.

O figurino é bem jovem e despojado, adequado para o cotidiano em que a peça se insere, porém há excessivas trocas de roupas desnecessárias, pois não é preciso mudar a veste para alterar uma cena, pequenos elementos no palco, ou a iluminação pode ser capaz de fazer isso. Quanto a iluminação, de César Pivetti, ficou muito a desejar e também acompanhou o tom excessivo que o figurino seguiu, há muita luz vermelha no palco, ora muito claro, ora muito escuro, sem definir dia e noite, houve a intenção, porém perdeu-se toda a técnica. O posicionamento dos objetos cenográficos foi muito bem trabalhado, porém fica perdido no palco quando não acompanha uma boa iluminação. Precisa diminuir cor vermelha e azul, que deixa o cenário feio, muda a cor dos objetos e deixa o clima pesado desnecessariamente.

Muitos palavrões desqualificam o texto, para fazer comédia, ou falar de sexo não precisa abusar das palavras, acaba criando um tom de vulgaridade, o qual o tema não se encaixa. O som, na apresentação a qual acompanhei, apresentava falhas, as músicas não tinham fim quando eram para ter, ruídos estavam presentes o tempo todo. A música também foi excessiva, muito som sem precisar, uma peça se caracteriza por gestos e falas, a trilha sonora deve ser apenas uma companhia, ou uma climatização da cena, não deve tomar o espaço o tempo todo, como acontece em Três Possibilidades. A peça precisa de uma re-direção para cortar o que está demais, e dar aos atores Fernando Bacalow e Camila Hage melhor direcionamento, pois o Fernando ainda não está totalmente com a proposta do personagem, ainda há uma distância, e a Camila atrapalha a respiração com a voz, o que baixa o tom e afina demais o som de sua voz.

Fazia tempo que eu não ia ao Bibi Ferreira, porém vejo que continua precisando de uma reforma, cadeiras com rasgos, as paredes falhadas, enfim é como sempre digo – o espaço também influí na estética da peça.

Três Possibilidades viajará para Maceió em setembro e continuará com seu elenco formado. Eles estão no Facebook e acredito que se reformulados os exageros o espetáculo possa ter ainda maior sucesso aqui em São Paulo, ou em qualquer grande cidade, pois a polêmica proposta pelo texto faz sentido para o nosso cotidiano.