terça-feira, 25 de janeiro de 2011
São Paulo: 457 anos da peça mais nobre do Teatro
Abrem-se as cortinas do palco para mais um ano de espetáculos, São Paulo estende o tapete no foyer e a cidade ganha 457 aplausos. São milhares de espectadores, centenas de peças, inúmeros teatros numa das cidades com o maior número de histórias contadas na dramaturgia. Daqui surgiram grandes e memoráveis atores, também vieram muitos fazer carreira e o teatro ganhou sua população, suas trupes, escolas e espetáculos. O aniversário de São Paulo também traz consigo a comemoração ao teatro, esta cidade que nasce a cada noite com os aplausos em mais uma página dos scripts de grandes roteiros.
A cidade de São Paulo é a única que nos faz viajar por vários lugares do mundo sem precisar ao menos sair dela, a Broadway paulistana espalha-se por essa megalópole e recebe musicais nos templários Teatro Bradesco, Teatro Abril e Teatro Alfa. Por aqui recriam-se roteiros consagrados como os que estão em cartaz “Mamma Mia” e “Aladdin”. Nem todos são grandes sucessos, mas colocam São Paulo no folheto da diversidade cultural. “A Gaiola das Loucas” e “Gypsy” semeiam a história da dramaturgia e da música nesta boemia paulistana. Somos os privilegiados por recebermos bons espetáculos, a famosa rua Augusta ganhou a “Comedians”, a primeira casa de stand-up comedy, um projeto dos humoristas Rafinha Bastos, Danilo Gentili e Ítalo Gusso. Bares e restaurantes acompanham o sucesso da gastronomia daqui e servem como couvert apresentações teatrais, como faz o “Café Paõn”, nos espetáculos de Nany People e Bruno Motta.
São mais de 150 teatros, muitos cobrando preços exorbitantes para acompanhar o luxo medieval, porém o século XX deu de presente a São Paulo oportunidades de incentivos fiscais e descontos em ingressos, a pena é que nem todos são leais a estes projetos, e muitas vezes também não conseguem captar os recursos pela falta de investimento privado. Por isso quero salvar a Porto Seguro, a Ticket, a Bradesco Seguros, a Vivo, a Nestlé, a Cielo, e tantos outros que bateram records de incentivos, são empresas compromissadas com a cultura e que de ano em ano penduram o nome de seus empreendimentos nos camarins de espetáculos. Um pouco de tudo ganha roteiro nos palcos de São Paulo, desde a ousada irmã de Wilson de Santos, “A Noviça Mais Rebelde”, que retorna no Teatro Renaissance, ao “Mambo Italiano”, que tira a máscara do “Zorro” Jarbas Homem de Mello e o veste numa comédia no Teatro Nair Bello.
Por falar em Nair Bello é saudoso relembrar o que o notório teatro paulistano deixou como história, além desta memorável comediante que fazia sorrir o bairro do Higienópolis, fazendo vizinhança ao maestro das direções teatrais Jô Soares, e ao cabeça do teatro Paulo Autran, tivemos por aqui as tinteiros escrevendo personagens inesquecíveis vividos e dirigidos por nobres talentos como Nídia Lícia, Cacilda Becker, Sérgio Cardoso, Flávio Rangel, Eva Todor, Maria Della Costa, Procópio Ferreira e sua filha Bibi, Tônia Carreiro, Walmor Chagas, Cleyde Yáconis, Ítalo Rossi e Fernanda Montenegro, que foi vizinha de um teatro na Bela Vista, e respirava os ares culturais. São nomes que destacaram-se dentre tantos outros, mas que alavancaram o sucesso da dramaturgia nos palcos. A imortal Ruth Escobar também escreveu sua graça na calçada do talento, mas anda perdendo o brio com seu esquecimento e o falecimento do teatro que leva o próprio nome, além de toda má administração, peças de péssimo gosto ganham a pauta e interferem a imagem de algumas boas.
A atuação de valentes atores que enfrentam, muitas vezes, o esmaecimento da arte é o que mais motiva-me a aplaudir, Marco Nanini, Dan Stulbach, Marcos Caruso, Glória Menezes, Eduardo Martini, e outros encabeçam a lista de uns dos maiores nomes do teatro paulistano. Nanini estréia “Pterodátilos” em março, Dan mantêm o sucesso de “39 Degraus” no teatro Frei Caneca, Caruso faz história com seu texto “Trair e Coçar é Só Começar”, no Teatro Bibi Ferreira, enquanto Glória Menezes emociona e diverte o público com “Ensina-me a Viver”, ao lado do talentoso Arlindo Lopes, no Teatro das Artes. Eduardo Martini emplaca as bilheterias com “I Love Neide” e suas outras tantas peças que já deveriam estar em cartaz novamente. Este esmaecimento da arte da-se muitas vezes pela exploração dos teatros ao cobrarem as pautas, ou do mau gosto na seleção de peças, o Teatro Folha deixa em cartaz muitas peças sem sucesso algum, o Teatro Frei Caneca estipula o valor dos ingressos, o Teatro Bradesco tem um impecável design interior, mas quando falamos de balcão a visão é parcial e o preço é alto. O Teatro FAAP também não fica por baixo quando o assunto é preço, as fileiras são apertadas, num lindo auditório, o Teatro União Cultural insiste na péssima administração e permite-se cobrar um mínimo que não compensa ao espetáculo. Há muita coisa pra arrumar, para aí sim o teatro paulistano ganhar ainda mais prestígio.
São Paulo tem nome no time artístico, tem um dos mais lindos teatros do país, o Teatro Municipal, recebe os maiores espetáculos e abre as portas para grandes direções e redações como as de Möeller e Botelho, Millôr Fernandes, Fernando Torres, Juca de Oliveira, Nilton Travesso, Roberto Lage, José Possi Neto e outros, também para o espetáculo de iluminação, a exemplo Maneco Quinderé, produções, interpretações e tudo que compõe nosso premiado teatro. A boemia da pauliceia é o mais perfeito cenário para mais um ano de tantas peças e à comemoração dos 457 anos de diversidade artística, da música, dos palcos, das cortinas, da comédia, do drama, da dança, do espírito teatral – de São Paulo.
Nas fotos, Paulo Autran e Fernanda Montenegro; e Teatro Municipal de São Paulo.
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