sábado, 2 de abril de 2011
Maria Bethânia empresta a voz para a música e a poesia
Acompanhada de Jaime Alem, no violão e Carlos César, na percussão Maria Bethânia volta aos palcos do teatro emprestando a voz às palavras. Música e poesia costuram uma leitura ininterrupta, “Iansã” é saudada no início da leitura pela canção de Gil e Caetano, enquanto o som do atabaque ascende ao palco com luzes delineando “Bethânia e as Palavras”. A leitura foi criada na Universidade Federal de Minas Gerais, especialmente para mestres e alunos de escolas públicas. Entre tantas lindas palavras, exaltações à educação resumem a intenção do espetáculo, junto ao resgate aos tão importantes e nobres poetas.
Vestindo casaco branco, celebrando Mãe Menininha do Cantuá, sobre o vermelho de Santa Bárbara, Maria Bethânia une todos os seus grandes poetas para conversarem ao som do batuque, da viola e de seu inigualável timbre. Seus três reis magos, Guimarães Rosa, Fernando Pessoa e Dorival Caymmi encontram-se em músicas e poesia, versos e citações, cruzando entre Brasil e Portugal, além do São Francisco de Roberto Mendes e Capinam, em Águas e Mágoas de Carlos Drumond de Andrade. Passeando pelos trilhos da literatura Villa Lobos e Ferreira Gullar fazem a voz de Bethânia vislumbrar o “Trenzinho Caipira”, com o “Comboio Malandro”de Antônio Jacinto, “Vou danado pra Catende”, de Ascenso Ferreira e “Trem de Ferro”, de Manuel Bandeira.
Dona Canô é homenageada com sua imagem projetada ao fundo do palco, onde o único cenário de Bethânia é a voz, pois para uma intérprete se faz necessário o timbre que lhe contempla. “E Depois de uma Tarde”, de Clarice Lispector finda a noite poética junto aos heterônimos de Pessoa, às canções de Chico Buarque e os arranjos fantásticos do maestro Jaime Alem. Encontrar com “Bethânia e as Palavras” é estar aos batuques de uma festa na casa de mãe Canô em Santo Amaro da Purificação, para quem esteve a “Ladainha de Sto. Amaro”, poema de sua irmã Mabel Veloso, é capaz de nos fazer ouvir e caminhar pelas ruas do recôncavo baiano sobre os ladrilhos e terras.
Os poetas Castro Alves e Vinícius de Moraes explodem amores e pátria no mesmo cenário de Moraes Moreira, que fala de Luzia, de Lusíadas, e da canção “Sonhei que estava em Portugal”. Bethânia revela-se poeta e compositora, conta através de versos próprios sua vida em Santo Amaro, na família e na escola. O “Berimbau”, de Manuel Bandeira e “João Valentão”, de Caymmi santificam a Bahia em nossa história. “Romaria”, de Renato Teixeira e “Cálice Bento”, vestem o “Poema do Menino Jesus”, de Alberto Caeiro, um dos heterônimos de Fernando Pessoa, capaz de tocar e enxugar lágrimas de emoção.
“Uma Canção Desnaturada”, de Buarque, “Quero Ser Tambor”, de Craveirinha, “O Poeta Come Amendoim”, de Mário de Andrade, “Jenipapo Absoluto”, de Caetano Veloso e “Abc do Sertão”, de Luis Gonzaga completam o livro de poesias de um dos mais lindos espetáculos que eu já vi em todos os tempos. A Icatu Seguros patrocina a leitura “Bethânia e as Palavras”, incentivada pelo Ministério da Cultura. As notas dos violões e o embalo do atabaque abrem aos orixás o templo de Maria Bethânia e seus versos, aos educadores e educandos, e a todos os amantes das palavras. A canção “Ronda”, de Paulo Vanzolini despede-nos de toda poesia e música. A leitura esteve em cartaz por três dias no Teatro Faap, ao preço de R$ 60,0 ou R$ 30,0 meia entrada, ou mediante doação de um livro. Bethânia segue com o espetáculo para Porto Alegre e Curitiba. Foto: Daniel Marcusso; Foto: Divulgação; respectivamente.
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