terça-feira, 17 de maio de 2011

“O Fantasma da Máscara”: musical adaptado com ótima brasilidade e humor


O Teatro Raul Cortez, em São Paulo, recebe a peça “O Fantasma da Máscara”, texto de Vitor Louis Stutz, com direção de Rosi Campos. O musical tem bela performance, dança e músicas coreografam muito bem o texto, além da linguagem clara, moderna e pueril.

Há tempos eu não via um texto infantil adequado à classificação livre, ultimamente tenho assistido coisas horríveis direcionadas às crianças. “O Fantasma da Máscara” trata com leveza um livreto dramático e clássico, da livre adaptação de O Fantasma da Ópera. O musical exibe cores reluzentes em figurinos e compartilha com o público um ótimo entusiasmo dos atores em cena. Rosi Campos, com o musical, explica a ideal forma de dirigir cenas voltadas ao lúdico infantil, o que deveria ser aplicado a outros diretores que, ao invés de colorir, assombram. O espetáculo teve um atraso de 30 minutos, que independente do motivo, não justificado, foi desrespeitoso e fora dos padrões que um espetáculo deve seguir.

Belinha, vivida pela atriz Cristina Cândido, que no dia substituiu Lisah Martins, é uma cantora lírica muito famosa, ela sofre um sequestro liderado por Dilma (Naíma), assistente do Fantasma. A cantora, no dia de seu aniversário, recebe um presente de seu irmão Zeca (Pedro Bosnich), comprado na loja de Pierre (Alexandre Pessôa), um francês ganancioso que dá início a série de confusões que caracteriza o humor do espetáculo. Beto Marden interpreta com modernidade o Fantasma da Máscara, usa de tiradas políticas, muito mais compreensíveis pelo público adulto, e protagoniza razoavelmente um tirano atrapalhado. No musical também participa a personagem Helena, vivida por Luciana Milano (standing), uma enfermeira que surgirá após o suspense do texto.

Cristina Cândido atrai por sua intensa voz, além de graça e concentração em cena, enquanto Beto Marden responde ao suspense com sucessivas cenas atrapalhadas e com um terror controlado para a classificação etária. Cacos e ironias podem construir bem um roteiro, desde quando tratados com rigor. Beto, em dado momento, menciona a personagem Dilma como “cachorrona”, fazendo alusão às letras de funk, porém este é um caco desapropriado para o texto, mesmo com a resposta cômica de Naíma, em sua personagem. Todos os atores envolvem-se bem ao texto e contracenam de forma correta, porém, o que era fundamental para Pedro Bosnich fica a desejar, falta mais fôlego à voz do ator, que destaca-se melhor na produção.

O autor das coreografias, que limitam-se a atores, e não retratam tanto balé e dança, é Jarbas Homem de Mello, que trabalha muito mais o movimento dos atores e deslocamentos no palco. O cenário de Ciça Gut é dinâmico e prático, visto que ao fundo do palco Osiris Junior implantou um cenário digital. Laura Figueiredo é responsável pelo ótimo desenho de luz, que infantiliza e envaidece o clima de suspense e humor proposto pelo espetáculo. Os figurinos de Livia Schurr e Pedro Bosnich, que também assina a direção de produção, refletem com beleza as luzes e colorem o palco movimentando perfeitamente as cenas, com a bela composição das maquiagens de Chloé Gaya. A trilha sonora de Charles Dallas e Walter Junior é memorável e muito bem ritmada.

O musical “O Fantasma da Máscara”, em cartaz no Teatro Raul Cortez, em São Paulo, tem duração de 70 minutos, perfeito para seu público. A realização da BM produções é apresentada pela Porto Seguro, assídua na cultura, e pela Fini. Os ingressos à R$ 40,0 (meia-entrada R$ 20,0) estão à venda na bilheteria do teatro ou pela internet com a Ingresso Rápido, para apresentações aos sábados e domingos, às 16h.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Onze Homens e Uma Sentença, agora sem Zé Renato


Onde eram Doze Homens, no drama de Reginald Rose, dirigido por Eduardo Tolentino, agora são onze, Zé Renato deixou a trupe para a poltrona do espectador. O homem que nos fez rir, hoje mistura o sorriso às lágrimas de saudades. Não veremos mais em cartaz José Renato Pécora, que nesta noite, quando ia para sua rotineira viagem ao Rio de Janeiro, faleceu antes mesmo de embarcar no ônibus. Zé Renato gostava de viajar de ônibus sempre pela noite, assim chegava ao Rio enquanto amanhecia o dia, este era um de seus grandes prazeres.

Zé Renato foi amigo da arte, fundador do Teatro de Arena ele voltou recentemente aos palcos com o espetáculo “Doze Homens e Uma Sentença”, recomendado e premiado. O ator fazia parte do grupo Tapa, que hoje sente a falta de um amigo, de um personagem que não terá mais a voz de um grande ator, de um homem que realizava a arte de encenar e a amava. Com 85 anos de idade, José Renato Pécora entrou para a enciclopédia do teatro, em 1958 Giafrancesco Guarnieri deu-lhe a direção de seu texto “Eles não Usam Black-Tie”, que falava sobre uma greve operária e fazia reflexões sobre o ser humano. Ainda passaram por sua direção textos de Augusto Boal, Nelson Rodrigues, Oduvaldo Vianna Filho, Chico de Assis e Dias Gomes.

O ator foi o primeiro aluno da Escola de Artes Dramáticas, em São Paulo, assim ao terminar o curso propôs o formato de arena para espetáculos. Zé Renato apresentava peças em ginásios e escolas e até atuou para uma platéia de ministros e o presidente Café Filho, no Palácio do Catete, a peça “Uma Mulher e Três Palhaços”, ao lado de Eva Wilma e grandes atores, que ganhou duas páginas no Jornal O Cruzeiro. Ele ainda foi ousado, e administrou o Teatro Ruth Escobar, em São Paulo, que hoje vive seus dias de pena.

Zé era um boêmio de músicas, de piadas e de rir delas. Um infarto o levou para a platéia eterna, onde outros grandes atores aguardam que se abram cortinas para mais respeito e dedicação ao teatro. Algum tempo antes de sua morte, Zé Renato foi ao programa do Jô, onde aclamava patrocinadores a peça “Doze Homens e Uma Sentença”, em cartaz no Teatro Imprensa, em São Paulo, com temporada prevista até Junho.

Zé Renato completava o verdadeiro “teatro de atores”, era o ator que se impunha ao centro de uma arena para encenar a sua volta, permitia com sua idéia, similar a um picadeiro, que todos pudessem visualizar o espetáculo em todos os ângulos, popularizando a arte da cena. Ao engenheiro do teatro, ao sorriso do humor e ao sentimento do drama ficam meus aplausos em luto.