Jair Rodrigues veste luto à música brasileira no dia de hoje. Um dos mais animados ícones populares da canção, simples, gentil e que valorizava como ninguém a nossa cultura. É lastimável que com tantas recentes perdas não tenhamos quem substitua talentos memoráveis deste país. Jair Rodrigues deixa, aos 75 anos, ainda mais saudades da música que se fazia nos tempos de ouro. Que fique de lição para as rádios, para as emissoras, para as produtoras - tratem nossos artistas a pão-de-ló antes que seja tarde! A causa da morte ainda não foi divulgada, o cantor foi encontrado sem vida na manhã desta quinta-feira (8).
Certa vez tomei um táxi para ir a uma gravação e o motorista conversava comigo sobre música, sua primeira citação foi Jair Rodrigues. Jamais esqueci a ternura que aquele homem desvendava enquanto falava de Jair. Não era fã antigo, era um senhor, fã recente. Conheceu Jair no táxi, quando levou-o a uma gravação também. Jair sentou-se no banco da frente, ao lado do taxista, e com ele foi trocando confidências, jogando conversa fora, como se fossem amigos de longa data. Esse era o Jair!
O cantor fazia sambas do seu jeito, parecia ter algo jazzístico à tessitura de sua voz. Sapecava a mão no pandeiro como um jogador chuta uma bola. Jair tinha facilidade de aproximar a música ao público, porque ele fazia-se público antes de querer ser artista. O palco era a cozinha de sua carreira, todos nós estávamos ao alcance dele!
Ele nasceu em Igarapava (SP), em 6 de fevereiro de 1939. Começou a cantar em shows de calouros na década de 60. Jair fez grande sucesso com "Deixa isso pra lá" - essa é a mais fiel representante do rap nacional, para aqueles que não sabem o que é rap. O cantor ficou famoso por seu gingado irreverente e os movimentos que fazia com as mãos, enquanto cantava.
Jair teve uma das mais nobres parceiras, Elis Regina. Em 1965 lançaram o "Dois na Bossa", disco ao vivo, que deu origem a mais outros dois. A amizade rendeu-lhe um programa na TV Record, O Fino da Bossa.
Em 1966 venceu o II Prêmio de Música Popular Brasileira, com "Disparada", de Geraldo Vandré e Teo de Barros. Ele dividiu o prêmio com "A Banda", de Chico Buarque, interpretada por Nara Leão.
As idas mais inesperáveis são as mais dolorosas. Não sei se devo chamar essa partida de injusta. Acho mesmo que injusto é que não haja mais tamanho talento para compensar esse vazio!
Chegada a sua hora só nos resta homenageá-lo, afinal é assim que a imprensa vem tratando as pessoas. Lembrando-as apenas à morte.
Jair foi um homem feliz...