quarta-feira, 5 de outubro de 2011
Elisa Lucinda em “Parem de Falar Mal da Rotina”
Há dez anos Elisa Lucinda colocou nos palcos uma das produções mais compatíveis com o paladar do público, “Parem de Falar Mal da Rotina”, em cartaz no Teatro Vivo, é um dos espetáculos que mais merecem aplausos nos ultimos tempos. Com direção e roteiro da própria atriz, Elisa utiliza a voz para declamar seus poemas mais tácitos e verossímeis, além de aproximar a plateia da própria realidade.
O espetáculo, que extravasa o tempo comum de peças de teatro, passa por uma intimista relação entre o público e a atriz. Não há texto de escritor, há palavras de um cotidiano, frases cômicas de uma mulher sábia, poemas aquecidos à valentia de uma afro expressiva e não acomodada aos seus direitos. Elisa não pincela por temas, ela vai além do que os limites cravam na sociedade, “Parem de Falar Mal da Rotina” expõe as verdades aos sorrisos dos espectadores de suas próprias histórias.
A peça é uma inspiração dos livros de Elisa, “O Semelhante”, “Eu Te Amo e suas Estreias” e “A Fúria da Beleza”, que resultou num banho de palavras despejadas à bem temperada iluminação que pontua os assuntos ditos pela personagem. Na verdade Elisa não faz uma personagem, seu olhar, sorriso, lágrimas, dor e amor saem do coração brechó da própria atriz. Cada história nasce do observatório de Elisa, das andanças de uma poeta que lhe faz escrever a cara do brasileiro, os costumes mundanos e as críticas mais do que sociais, sociáveis. Sim, pois o humor do espetáculo leva a plateia ao palco e lança ao público suas verdades, o jeito preconceituoso de cada um, os orgulhos, a corrupção e a vaidade.
“Parem de Falar Mal da Rotina” esmiúça os cárceres que celam o cotidiano, captam em uma só mulher e em suas observações os comportamentos do ser humano, tudo com uma comicidade incrível, que eleva Elisa Lucinda à catarse artística de sua história na dramaturgia. O cenário é a própria casa. O banho, que acorda o espetáculo, já traz a atriz nua ao palco, transformando o trabalho de interpretação ainda mais excepcional. Ela fica à vontade e aproveita o espaço que o texto lhe promove para visitar cada ponto do cenário, quando critíca os padrões, que não deveriam ser padrões, as hipocrisias e, como o título da peça diz, a rotina que é de cada um de nós.
No texto não há lacuna, as linhas do script são passadas pelas agulhas afiadas regidas pela voz grauda de Elisa, que salienta com poemas e costura com canções que libertam o roteiro. A atriz tem a vêemencia vocal que abrange a mistura de mpb, samba, bossa e jazz num ritmo batucado por seu próprio timbre. Enfim, o espetáculo já foi até chamado, por espectadores, de uma missa da realidade brasileira. Isso resume tudo.
A peça “Parem de Falar Mal da Rotina” é um impecável trabalho da multi Elisa Lucinda, em cartaz no respeitoso Teatro Vivo, em São Paulo. A temporada é curta e apresentada aos sábados às 21h e domingo às 19h. Os ingressos custam R$ 50,0 e podem ser comprados pela internet no Ingresso Rápido, ou na bilheteria do teatro. O espetáculo é patrocinado pelo Vivo Encena.
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