Nestes
dois dias, 12 e 13 , o Teatro Paulo Autran, no Sesc Pinheiros, em São Paulo,
recebe Milton Nascimento. Ontem (11), Bituca estreou em grande estilo sua
passagem pela capital, relembrando sucessos e permitindo-se emocionar ao ouvir
o próprio público cantar. O meio século de carreira parece ser muito, mas a
grande fatia deste tempo foram as consagradas composições que o tornaram um dos
maiores poetas da música brasileira.
A
voz de Milton rasga o silêncio com uma beleza emocionante, ele sabe encontrar
as palavras à melodia de uma forma excepcional e abusa do português com um
trabalho poético impecável.
Milton
Nascimento é carioca, nascido no início da década de quarenta ganhou projeção
nacional após gravar “Travessia”, de Fernando Brant, em 1967. Quando criança,
filho de uma empregada doméstica muito humilde e que não teve condições de
criá-lo, entregou-o a um casal, que o adotou. A mãe adotiva, que o apelidou de
Bituca, devido ao beiço que Milton fazia quando era contrariado, era professora
de música, e o pai dono de uma estação de rádio. Morando em Minas Gerais, pra
onde mudou-se, passou a tocar em bailes e boates, inclusive ao lado de Wagner
Tiso. Foi para Belo Horizonte cursar Economia e por lá passou a compor com mais
frequência.
Bituca
marcou a vida de muita gente e adentrou com suas composições aos diversos
capítulos de nossas vidas, participando efetivamente dos cotidianos
descrevendo-o com sua beleza autoral inigualável e o carimbo marcante de uma
das vozes mais consagradas de todos os tempos. Milton integrou o Clube da
Esquina, que é um dos capítulos mais relevantes da MPB. Na capital mineira,
morando em uma pensão, conheceu os irmãos Borges, Marilton, Lô e Márcio, e dos
encontros na esquina das Ruas Divinópolis com Paraisópolis nasceram memoráveis
canções que ultrapassaram fronteiras e caíram nas vozes de cantores que o
Brasil elegeria como os maiores, a exemplo de Elis Regina e Gal Costa. “Maria,
Maria”, que está neste espetáculo apresentado em São Paulo, veio desta época,
trazendo astral pra uma letra engajada na história de muitas mulheres
brasileiras. “Coração de Estudante”, que foi hino das Diretas Já surgiu dos
encontros, e na época ganhou destaque como “Canção da América”, tema de
diversas ocasiões.
No
show, Milton entrega o microfone ao público e sentado ouve esboçando emoção. A
plateia canta a “Canção da América” inteira e ele finaliza participando com
aplausos. Ele tem o domínio total do palco, a voz joga a luz pra frente e
desembrulha instrumento por instrumento, aproveitando cada solo para galantear
as cordas, os sopros, as batidas e as teclas. Nota atrás de nota unem-se em
acordes e voz numa harmonia fantástica.
Milton
tem uma expressão jazzística que deita sobre a bossa e o estilo popular da
música com uma digital expressiva causada por sua voz. Ele não perde sequer um
grau da lisura de sua voz e caminha, pula e dança no palco como se ainda fosse
um menino com 50 anos de carreira.
Ele
passa os dedos no violão e dissolve a genialidade de suas canções nos olhos e
no coração do público. Porque Milton ouve-se atentamente com o coração, pois é
a forma mais generosa de agradecer a um dos maiores ícones da nossa música.
Milton
sempre foi uma inspiração e seria impossível poupar adjetivos ao falar dele!
Os
ingressos para os próximos shows no Sesc Pinheiros, em São Paulo estão
esgotados, porém no próximo dia 16 ele apresenta-se no Sesc Itaquera, também na
capital.
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