quarta-feira, 17 de abril de 2013

Você sabe quem foi Cleyde Yáconis...?



Grande atriz teria que triunfar em grande perda... pra nós, para o teatro, para o mundo de todas as suas qualidades!

Entristece-me saber que o palco está cada vez mais órfão e insubstituível... insubstituível, pois não há gente nova que recheie com o mesmo brilho que eles rabiscaram genuinamente a história do teatro. Esses mesmos que não podem engatar uma nova história para o teatro, lembram-se apenas da grande atriz em sua partida, silenciosa... claro que silenciosa, desde 2012 a saúde vinha lhe cobrar a idade, e ninguém falava nada. Bastou-lhe um último e inesquecível papel numa novela global para findar seu brilhantismo artístico.

Irmã de Cacilda Becker, hoje venerada... claro, não está mais entre nós. Mania pérfida do brasileiro em vislumbrar o artista quando sua presença física já não cumpre-se mais. Mania besta do brasileiro, de envaidecer-se apenas de quem partiu.

Cleyde Yáconis inaugurou um dos mais importantes períodos do teatro brasileiro... parece que foi ontem que falava dela em meu TCC, parece que foi ontem que muitos artistas partiram para daí então as pessoas entenderem que nem só o fim é importante.


Mas ninguém aprende, nem na morte fazem jus ao que passou... estão todos falando da bomba em Boston. Não digo que esse seja um assunto desprezível... mas o tempo em que Cleyde passou no hospital também não poderia ter sido “o menos” das manchetes, nem da atenção dos núcleos artísticos. O artista não é fraco. Ele ;e mais do que qualquer titã. Não há nada que o pare... só aqueles que podiam incluí-lo ao mundo. Os diretores, os produtores, os investidores e patrocinadores... o público, que esquece de aplaudir!

Artista não é pra ver-se na morte em manchete do Jornal Nacional... o artista quer o palco!

De nada adianta ficarem fazendo correntes... postando suas fotos. São lindas e válidas as memórias, quando limpas de hipocrisia.

Você sabe quem foi  Cleyde Yáconis? Aplauda-a de pé... e não esqueça-se de que o Brasil a esqueceu. É assim... vide Ruth Escobar.

Cleyde não é só a mulher que dá nome a um teatro escondidinho na Zona Sul de São Paulo. Cleyde Yáconis é uma atriz, sempre será! Involuntariamente gigante pelo que foi... pelo que será em qualquer canto, em qualquer memória.


segunda-feira, 1 de abril de 2013

Maria Bethânia traz “Carta de Amor” para São Paulo


Não era só Bethânia que entrava ao palco naquele show, era ela e uma entidade muito íntima de sua inteligência musical. A introdução do espetáculo já antecipava-nos a grandiosidade daquilo tudo, enquanto deitava uma poeira alaranjada causada pela luz e pela fumaça, esvoaçava um dourado de Oxum vestindo uma voz inconfundível. Ia ecoando... ecoando... ecoando, até a imagem cobrir o palco. Uma das maiores cantoras do Brasil batia os pés descalços no palco do HSBC Brasil, em São Paulo.

Pude ver inúmeras Bethânias ao longo do tempo, algumas mais tímidas, principalmente na intimidade, e algumas explosivas, num entusiasmo expelido pelas canções de seus espetáculos e o norte sereno da calmaria de suas poesias. Bethânia vai do efusivo ao plano... Nesta noite, eram mulheres de todos os sentidos rasgando a pele da santamarense.

Ainda não havia visto aquela mulher dançar o tempo todo, sambar com os pés desinibidos e corpo sem limites. Ainda não tinha visto Bethânia extravasar os auges de sua carreira tão lindamente em ritmos batucados. Mas, quando ouvi “Lua Branca” corria-me um arrepio calado, que sussurrou em todos uma tranquilidade quase que impossível de recontar. Mas daí vinham os batuques e a poeira subia feito uma roda de samba na terra... feito um terreiro de portas abertas.

Maria Bethânia, tão impossível de dissociá-la de mãe Canô levantou-nos em aplausos quando deu-nos o “Reconvexo”. Ao cantar a canção escrita por seu irmão, Caetano Veloso, em lembrança, todo o público levantou para aplaudir enquanto soava “quem não rezou a novena de dona Canô...”

Com o poeta sentado a sua frente, ela cantou “A Casa é Sua”, e sem dúvidas laçou o brilho dos olhos de Arnaldo Antunes para suas notas.

É tão automático aguardar as toadas sem pressa de Jaime Alem, a viola caipira e o fitar aos passos de Bethânia... que ainda causa-me espanto ver Wagner Tiso em seu palco, comandando o piano. São duas imensas entidades musicais fundindo suas notas. Às vezes, Bethânia parece correr, além de sua naturalidade, junto a partitura do maestro. Mas, esse é o novo cenário da baiana. Aliás, a Bahia vem em peso no ritmo de “Carta de Amor”.
Quando chega a canção que dá nome ao show, é Bethânia poeta. Que permitiu-se não queimar uma composição sua pra mostrar-nos o monumento que a rege por dentro. Bethânia recebe algo muito grandioso para tornar o show tão monumental... ou é algo do tipo Iansã, ou é algo do tipo Fernando Pessoa. Sei que é ela com um gigantismo impressionante!

Nesta terça-feira Maria Bethânia ainda apresenta-se no HSBC Brasil, em São Paulo. Os ingressos estão esgotados. Depois, a cantora segue para o Rio de Janeiro, Pernambuco e Sergipe.

Fotos: Riziane Otoni