sábado, 24 de abril de 2010
“Terça Insana”, mais de 8 anos de pura insanidade
A atriz Grace Gianoukas dirige esta trupe humorista há quase nove anos revelando sucessos por vários lugares, porém é em São Paulo que às terças-feiras ficam bem mais insanas. Não é muito comum encontrar peças de teatro numa terça-feira, pra falar a verdade a Terça Insana não é bem uma peça de teatro, mas também não é um satand up comedy, é sim algo bem típico deles, que parece inimitável, mas que já tem sido possível para alguns. Ser insano é engraçado, quando regrado a um bom texto e cabíveis expressões, que talvez sejam naturais e, ou até mesmo ensaiadas. Imaginem um ensaio desses atores, isso fica um pouco difícil de se pensar, visto que tudo sobre o palco insano é tão insano que não da pra ver artificialidade. Além de Grace, Agnes Zuliani, Mila Ribeiro, Arthur Kohl e Renato Caldas divertem o público paulistano em plena terça-feira, ou melhor Terça Insana.
Tudo acontece num horário nobre, o público, muitos deles, deixaram seu escritório, ou casa mesmo, mas vê-se gente de todo tipo, trajando social, vestidos, jeans, e não só isso transparece a abrangência que a Terça Insana atingiu, mas muita gente os conhece, hoje alguns estão na TV, ou fazem muito sucesso nos vídeos da internet. Tudo acaba ganhando voz pra insanidade, ali qualquer assunto, acontecimento, pessoa vira humor. O sucesso foi tanto que já foram lançados dois DVDs e a casa está sempre cheia.
O que mais me impressiona é a versatilidade humorística da diretora e atriz Grace Gianoukas, sim, pois os atores mudam a cada temporada, mas ela está sempre interpretando hilários personagens e com sua marcante e irreverente voz, que parece um pouco atrapalhada, afobada, mas que nos faz ver que nem todo humorista precisa de um bordão, até porque quem interpreta vários num só espetáculo penaria um pouco para sempre criar um bordão, mas é muito inusitado, ousado e bacana quando um ator coloca sua característica em vários papéis, com exceção da personagem Aline Dorel, interpretada por Grace, que acaba sendo bem mais serena por um vício compulsivo a Lexotans.
Incomodou-me um pouco e pude ouvir de algumas pessoas sobre a locação do espetáculo, que está sendo na Acústica São Paulo, pois é muito apertado, as mesas acabam sendo pequenas e o desconforto atrapalha, com a passagem de garçons e sempre um pedido de licença para afastar a cadeira um pouco. Isso também acaba fazendo com que o show perca um certo número de público, pois a disposição de lugares não é tanta, assim muitas pessoas acabam voltando para casa sem conseguir um ingresso.
No mês que vem a Terça Insana já muda de tema, não falará mais sobre a mídia, como tem feito nas últimas apresentações, as quais também não tiveram muito foco no assunto, porém não deixou de fazer o público se divertir com temas atuais, personagens novos e também os já conhecidos, como a Santa Paciência e Carlota Joaquina. Alguns fazem falta no espetáculo, como personagens vividos pelos atores Luis Miranda, Octávio Mendes, Roberto Camargo, Marco Luque e Marcelo Mansfield que já deram vida e humor a inesquecíveis e mesmo recentes papéis.
A Terça Insana realiza sua temporada 2010 com muita insanidade, humor e um show de interpretação, vale a pena conferir personagens como Marli, interpretada por Mila Ribeiro, que já esteve ao lado de Cláudia Rodrigues, em A Diarista, na TV Globo. Marli é uma síndica muito solitária que conta histórias muito engraçadas dos moradores, além da novíssima personagem de Grace, a funcionária pública Mônica Limão, que já dá pra ter uma ideia de humor só pelo sobrenome. Como as apresentações mudam frequentemente quem não viu precisa mesmo assistir para tirar suas próprias conclusões e dar boas gargalhadas, e quem já viu também pode voltar, verá novos temas e alguns repetidos também, mas que não perdem a graça. A Ticketmaster comercializa os ingressos para a Terça Insana, que, obviamente, está às terças-feiras na Acústica São Paulo, na Bela Vista.
sexta-feira, 23 de abril de 2010
Uma freira, uma platéia, música e nada de Madre Superiora só podia dar numa “Noviça Mais Rebelde”, em cartaz em São Paulo
Existem assuntos que quando feitos em comédia caem num clichê, talvez falar de uma freira seja algo batido, pois é difícil encontrar quem supere, por exemplo, Whoopi Goldberg nesta tão religiosa função, no filme Mudança de Hábito. Porém no espetáculo, em cartaz no Teatro Raul Cortez, na Bela Vista, em São Paulo, a noviça não é rebelde, ela é muito mais do que isso, é “A Noviça Mais Rebelde”, interpretada por Wilson de Santos, e supervisão artística de Marcelo Médici, o espetáculo é inspirado no musical Nunsense, de Dan Goggin. Com muita irreverência essa freirinha faz a platéia pecar com muita graça.
Claro que o título dessa peça é uma boa sacada para relacionarmos com o filme A Noviça Rebelde, com Julie Andrews, e com isso sabermos do quão é engraçada e logo corrermos para a bilheteria e comprar um ingresso, porém o título de qualquer coisa, até mesmo obras teatrais serão estratégias de marketing. Mas falando de A Noviça Mais Rebelde não há propaganda enganosa não, realmente a rebeldia desta freira nos leva ao riso o tempo todo, de repente um beato incomode-se com certas críticas, mas não ficará fora da irreverência proposta pelo texto, que não é nem um stand up, nem um monólogo, pois o público tem efetiva participação, e quem ainda for assistir saiba que pode ser fisgado pelo terço da irmã. Já que estou falando em quem ainda for assistir a peça, é porque a recomendo, as críticas à instituição religiosa que agrega e catequiza freiras são postas no texto de maneira sútil e muito engraçadas, mas também são abertos paresentes para falar de política.
Tudo isso torna uma comédia ainda mais completa, usar uma freira para divertir uma platéia é, sem dúvidas, ser alvo de críticas religiosas, mas não se preocupem que ninguém irá pro inferno por assistir a peça. Irmã Maria José faz parte da irmandade de Salut Marie que promove um show beneficente justamente no dia em que o senador José Sarney faz uma visita ao convento. Com o atraso da Madre Superiora, irmã Maria José envolve o público com suas brincadeiras e histórias, autorizada pela Madre à dar início ao espetáculo, mediante orações de abertura. O palco vira um cassino, o público joga o bingo, que reserva surpresas, a promoção dos patrocinadores é incorporada ao texto e valiosa para a graça do número. Imitações são feitas pela freira, onde o intuito não é aproximar-se da voz do cantor imitado, mas o ator Wilson de Santos consegue retratar muito bem a fisionomia destes. A trilha sonora é produzida por Ivan Huol e Cia das Vozes, e a tradução das músicas feita por Flávio Marinho e Wolf Maya.
Os jogos encenados e realmente finalizados em prêmios para algumas pessoas que são convidadas ao palco, dão clareza ao que muitas instituições religiosas são capazes de fazer para lucrar com seu papel cristão, porém nada que seja diretamente falado nem explícito. Como a Madre Superiora não aparece no show a irmã Maria José, ao lado da imagem de um santo tão desconhecido, o Santo Antônio de Categeró, e munida de um cenário que dá apoio as suas histórias sobre Adão e Eva, sempre contadas aos risos da platéia, toma conta do palco e junto às suas lembranças da juventude nos leva às gargalhadas, cantando, dançando e fazendo muito humor a freira desprende-se dos clichês e faz um espetáculo autêntico.
Ainda dá tempo de assistir e rir com A Noviça Mais Rebelde, no Teatro Raul Cortez, na Fecomércio, Bela Vista – São Paulo.
quinta-feira, 22 de abril de 2010
"Cats", um musical cheio de garras revira os latões e becos no palco do Teatro Abril
Prendam seus cachorros, pois diretamente da Broadway, um dos mais famosos espetáculos solta seus gatos em São Paulo, onde o Teatro Abril apresenta o musical Cats. O bairro da Bela Vista, famoso por seus tantos teatros, traz mais uma vez uma superprodução, e nada que fique devendo para espetáculos como O Fantasma da Ópera e A Bela e a Fera, pois desde março muita gente tem ido ver os famosos gatinhos do Cats.
Do poeta americano T.S. Eliot, Cats foi baseado em 14 poemas do livro Old Possum’s Book of Practical Cats, que teve sua primeira publicação em 1939 e foi inspirado no comportamento dos gatos do próprio autor. As letras de Tim Rice e os arranjos do inglês Andrew Lloyd Webber foram mantidos no espetáculo, porém os 38 atores encenam e cantam músicas em português, inclusive canções de Toquinho. Os personagens são muito bem caracterizados, o figurino é também um dos pontos que impressiona o público e torna-se bem mais visível quando os felinos usam os espaços entre a platéia para caminhar, aí sim tudo fica realmente parecendo uma invasão de gatos. Desde a maquiagem à voz dos atores tudo é de nos deixar estonteado, o primeiro ato talvez leve algumas crianças e outros aos bocejos, por ainda introduzir as aventuras que virão no show, mas logo o entusiasmo toma conta dos felinos quando a história ganha seu climax e surpresas.
Todo espetáculo gira entorno da tribo Jellicle Cats, que naquela noite reúne-se para escolher os seus melhores, num cenário cheio de efeitos mecânicos e de iluminação, sem economizar nada na produção todo o amontoado de lixos do beco foi confeccionado com muito luxo. O líder da tribo, um gato velho e muito saudoso de sua profissão de ator, que é relembrada no palco salientando grandes nomes e retratando o passado dele, Old Deuteronomy, é quem escolhe qual deles irá para um lugar especial chamado Heavyside Layer, onde poderá renascer para uma nova vida. Porém apenas um dos gatos não pode compartilhar, uma gata triste e cabisbaixa, interpretada por Paula Lima, Grizabella abandonou o grupo anos antes para explorar o mundo afora, porém tudo terminará com grandes e emocionantes surpresas.
Com humor, sutileza e encanto Cats já foi apresentado em 20 países e 250 cidades e ainda estará em cartaz até o mês que vem aqui em São Paulo. O preço não é dos mais doces, porém não fica abaixo da tabela que o Teatro Abril costuma apresentar, e não deixa de valer a pena investir em ser publico deste tão bem sucedido musical.
quarta-feira, 14 de abril de 2010
Marisa Orth é Simone de Beauvoir em “O inferno sou eu”, ousada, corajosa e intensa
“Entre a fidelidade e a liberdade haverá uma conciliação possível? A que preço?"
Simone de Beauvoir em A Força da Idade
São Paulo recebe, após trinta anos de morte, a filósofa e escritora Simone de Beauvoir nos palcos, porém intensamente interpretada pela atriz Marisa Orth. O drama de Juliana Rosenthal K. é uma bela obra de ficção, mas baseada na vida de uma francesa que viveu um amor junto ao filósofo Jean-Paul Sartre, que numa viagem ao Brasil deparam-se com uma realidade totalmente diferente, de regionalismos, de comportamento e sobrevivência. Na década de 60, Simone de Beauvoir esteve com Sartre viajando pelo Brasil, no Amazonas contraíram tifo, que no Recife foram tratar hospedando-se na casa da amiga Marta, que contratou uma jovem de vinte anos para cuidar de Simone.
Na cenografia, de Isay Weinfeld, apenas um quarto, simples como eram os quartos em Recife, uma cama que sobre a cabeceira leva, presa na parede, uma cruz com Jesus Cristo, um penteadeira, uma mesinha, um guarda-roupas e um espelho, que num momento de fúria é estilhaçado quando Simone lhe atira um objeto contra, assustando a todo o público com o estardalhaço. Dorinha, que cuida de Simone, enquanto Sartre aproveita passeios e namoricos com Marta, não era bem uma empregada, pois é uma menina estudada, fala francês e estuda letras, de uma família religiosa, que repudiava filósofos como Sartre e Simone, seu sonho era conhecê-la e para isso insistiu para trabalhar na casa de Marta enquanto eles ficassem hospedados por lá. O que será que duas mulheres tão diferentes podem ter de tão comum, e no comum o que há de tão diferente entre elas? O texto explora exatamente isso, a mulher dos séculos passados, porém num texto completamente atual.
O diretor José Rubens Siqueira soube conduzir muito bem os diálogos entre as personagens das atrizes Marisa Orth e Paula Weinfeld, soube tecer frases de mulheres comuns e de uma filósofa, levou com o roteiro uma realidade falando de amor em realidades diferentes com mulheres tão diferentes. Dorinha ama um pedreiro de nome Nivaldo, e grávida diz que jamais largaria o homem para acompanhar Simone à Paris, em busca de crescimento profissional, que mesmo morando em Brasília, ainda o amava. Dorinha preserva o amor como uma moça que viveria pacatamente em seu casebre, crítica e decidida, isso sim são similaridades à personalidade de Simone. “Vocês falam muito com a cabeça, e pouco com o coração”, assim a jovem estudante de cabelo chanel e óculos redondos define os filósofos. Claro, isso antes de ler uma carta de Simone ao seu amado Nelson, um americano que vive em Chicago. A carta declama um amor por Nelson, como qualquer mulher muito apaixonada poderia dizer e debruçada num sentimento revelava numa das frases desta carta: “...eu quero ser sua mulherzinha e viver na nossa casinha...” .Ela já não sentia mais amor por Sartre, ele tampouco por ela, viviam realmente em casas separadas em Paris, Simone de Beauvoir era uma intrigante filósofa em seus livros e intensa mulher em seu romance, “não devemos amar só com o coração, mas sim com todo o corpo”, assim era Simone, de amor e de sexo.
Simone critica muito como uma menina tão inteligente como Dorinha poder parecer tão submissa ao amor, porém ela apenas disfarça sua submissão, atrás de seus pensamentos e críticas mora uma mulher frágil, que chora as saudades de um homem e o desejo de tê-lo. É este o confronto entre duas mulheres, tão iguais e tão diferentes.
Com graça e emoção, Marisa Orth abusa sensacionalmente de suas feições, de sua presença de palco, e a divide com irreverencia e veracidade os diálogos com Paula Weinfeld, selecionada num teste com outras atrizes.
Dorinha, religiosa, insiste que Deus está em todo lugar, e tentando refrescar-se em frente ao ventilador, daquele calor escaldante nordestino, Simone ironicamente extravasa: “Aqui no Recife ainda não o vi”. Enquanto no palco o calor é pernambucano, a platéia pode ocupar-se escapando do frio paulistano no Teatro Jaraguá, até o dia 16 de Maio, onde os ingressos variam entre R$ 50 e R$ 60 reais, de sexta à domingo, na Rua Martins Fontes, 71 – Bela Vista.
sábado, 10 de abril de 2010
Com “Amor, festa e devoção” Maria Bethânia encanta o publico paulistano
Na última sexta-feira Maria Bethânia desembasrcou em São Paulo para mais uma vez emocionar o público com seu show “Amor, Festa e Devoção”, de seu próprio roteiro, junto a Fauzi Arap. Com músicas inéditas a intéprete mais aclamada da MPB inaugurou sua turnê ainda no ano passado, e agora no Citibank Hall ela traz romance, alegria e fé, sempre de branco e valseando sobre o palco banhado a rosas e com os pés descalços.
O show foi inteiramente dedicado a sua mãe dona Canô, a quem Bethânia dedica especialmente uma música e demonstra ainda mais emoção em sua interpretação. Assistir Maria Bethânia sobre uma arena, como diz Bibi Ferreira quando refere-se ao palco, é ouvir, ver e ler, é um teatro, um musical, um poema vivo. Bia Lessa comanda a direção do show, com uma banda singela e expressiva sob a regência de Jaime Alem. As músicas ganham intervalos poéticos e costuras que viajam o tempo, por instantes parecemos adentrar numa galeria de arte, outrora numa singela casinha do interior onde cantam-se músicas brejeiras e bem sertanejas. “ Tua” e “Encateria” ainda são recentes composições muito aplaudidas pela platéia e que serenam em meio a composições imortais de Vinícius de Moraes, Chico Buarque e Caetano Veloso, que nunca faltam nas interpretações de Bethânia.
Um vasto repertório não deixa o show calar-se em momento algum, de tempo em tempo a banda vai esmaecendo o som ressaltando apenas a voz de Maria Bethânia. Eclética e intensa ela traz músicas que extasiam a todos que ouvem, não basta uma boa letra para encantar alguém, mas dê essa letra à voz de Bethânia que ela faz o intocável show. “ Feita na Bahia” e “Santa Bárbara”, ambas de Roque Ferreira nos fazem ficar ainda mais próximos de sua terra natal, “Ê Senhora”, de sua tão queridinha e elogiada Vanessa da Mata, “Drama” e “Não Identificado” de Caetano Veloso, e outras músicas de compositores respeitosos dão romance, agito e fé ao show, como também “Estrela”, de Vander Lee e “Explode Coração” de Gonzaguinha.
O tempo que se passa no show é o privilégio de encantar a alma com a baiana soberana da música popular brasileira, é um momento de apreciar os acordes serenos, de sertão, de terreiro e de carinho, é um instante de saudade e prospecção daquilo que sentimos sempre e chama-se amor. Muita coisa torna-se indescritível, pois cada um sente Bethânia de uma forma particular.
Ainda há tempo para encantar-se e saborear dos batuques, das cordas brejeiras e dos tons sobre tons flauteados pela voz de Maria Bethânia, até este domingo e no próximo final de semana São Paulo ainda deitará a lua sobre o Citibank Hall, enquanto ela ecoa sua voz por aqui, quando depois partirá para Maceió e em seguida para a Europa, seguindo sua turnê encantando e amando sua música.
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