segunda-feira, 30 de agosto de 2010

“Ensina-me a Viver”, uma comovente e engraçada lição de vida


Novamente em cartaz em São Paulo, no Teatro Tuca, na PUC, a peça “Ensina-me a Viver”, com Glória Menezes e Arlindo Lopes, numa direção de João Falcão, sucesso também no Rio de Janeiro, arrebata um público disposto a rir e se emocionar com um incrível texto de Colin Higgins, tradução por Millôr Fernandes.

Harold, um jovem de aproximadamente vinte anos, obcecado pela morte, para chamar a atenção da mãe, tão indiferente e sem qualquer demonstração de afeto pelo filho, conhece a octogenária Maude, uma mulher disposta a viver muitas aventuras e curtir cada segundo do que lhe resta na vida. Os dois vivem uma paixão comovente, porém Maude é marcada por sua irreverência e sensibilidade, quando Harold aprende com ela os prazeres da vida até o caminho do fim dela.

Arlindo Lopes, idealizador do projeto, mostra-se incrível na peça, o tempo todo impressiona com uma interpretação profunda de seu personagem Harold, um rapaz mórbido, desprovido do amor de uma família. Ele é um rapaz rico, sempre inventando engenhocas tragicômicas, quando finge se suicidar para que este terror desperte na mãe qualquer sentimento de afeto e preocupação. Ele tem grande desenvoltura com o personagem, Arlindo vive a peça como um homem que já interpretou inúmeros personagens, pois sabe personificar diversas características num jovem de pouca expressão, ele passa do rapaz sombrio para um homem que ama. Sua química com a atriz Glória Menezes, que vive Maude, é indiscutível, não permite qualquer descrição, pois somente vendo para que os olhos comovam-se com a trama de sensibilidade e irreverência. Glória venceu prêmios de interpretação com sua personagem serena e engraçada, Maude é uma senhora graciosa e que ensina a Harold o quão bom é a vida e a liberdade. Entre o texto e a personagem o toque especial de Glória fica fantástico, o olhar, a voz cômica, os trejeitos, o despertar ao amor e as surpresas comoventes que a peça revela.

Stella Maria Rodrigues é Helena, a mãe de Harold, uma ótima atriz, impecável atuação, deixa a expressão clara de uma mãe indiferente ao amor do filho. A atriz Fernanda de Freitas vive três personagens, as pretendentes de Harold, ela dá um tom de muita graça para a peça, deixa a história ainda mais confortável. Antonio Fragoso reveza o tempo todo entre cinco personagens, cada um com total diferença de características, a troca do figurino é muito rápida, e quando não há possibilidade de troca, a mudança é de ator, mas o destaque é sempre de Antonio, que desprende-se de qualquer convenção para interpretar um soldado, ou um padre, e faz um humor controlado, inteligente, sem qualquer exagero. Cada personagem demonstra durante o texto sua grande importância para que a história de Maude e Harold aconteça como propõe o tema, para que o público aprenda junto com Maude a viver e comova-se com Harold. A direção de João Falcão não poderia ter sido melhor, todo o cenário, iluminação, figurino e encenação tornam esta uma das melhores peças em cartaz, aproxima-se do público quando fala de amor, quando preserva o lirismo e sensibilidade de cada personagem.

O palco envolve cores bem retalhadas, a transação de tons é muito bem arquitetada, o posicionamento de cada feixe de luz propõe às telas de filó preto uma dinâmica incrível para o espetáculo, a iluminação de Renato Machado foi premiada pela APTR/08. O cenário de Sérgio Marimba acompanha a elegância e o baile das luzes, deixa-se projetar pela tecnologia, quando parte do cenário ganha vida com a projeção de imagens, tudo é fácil de movimentar no palco, as cores nos transportam no tempo e situam o texto em cada ambiente proposto. As roupas são partículas daquela época, as trocas de figurino são feitas no tempo correto, e demonstram a fusão de sentimentos dos personagens, Maude vêm sempre colorida, enquanto Harold vai deixando o pretume de suas vestes para acompanhar seu caminho ao amor. Kika Lopes merece aplausos pelo bem trabalhado figurino. Um ótimo arranjo da banda Beirut exprime a dor de Harold e ao mesmo tempo a alegria de Maude, os gestos dos atores e seu texto acompanham o compasso da música, a trilha sonora é de Rodrigo Penna.

“Ensina-me a Viver” sem dúvidas fará qualquer pessoa rir e se emocionar, levará a qualquer palco sua grandiosidade literária e se aproximará de um trecho da vida de cada um de nós. A linda produção de Maria Siman, com realização de Primeira Página Produções Culturais ficará em cartaz até 26 de setembro, com temporada popular de R$ 30,0 de sexta e sábado às 21:30h e aos domingos 19h, no Teatro Tuca, na PUC, em São Paulo.

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