Mais
uma vez estou aqui para falar de Gal Costa, mas é impossível assistir ao show
desta notável artista e não repassar ao público que não estava presente, os
arrepios, as impressões e as lágrimas que encorparam a gravação do DVD
“Recanto”, que virá cheio de interpretações e emoções tiradas da história de
vida de Gal Costa nas canções bravamente dirigidas e compostas por Caetano
Veloso. O primeiro dia de gravação aconteceu no Teatro Net Rio, o antigo Tereza
Rachel, no Rio de Janeiro, onde Gal já havia realizado o show Fatal, em 1971.
A
volta de Gal ao Terezão foi triunfal, com direito a interpretação de cada
letra. Gal apontava os olhos para o microfone como uma apaixonada pela própria
voz que adentrava à penumbra em frente aos fãs que dilatavam as vistas
acompanhando o baile de sua roupa preta.
“Segunda”
embalou batidas tão lindas, que tocavam intimamente o público que arrodeava a
voz mais linda do Brasil. “Vapor Barato” evaporava lágrimas que passavam pelo
cristal que afina a voz de Gal e exaltavam pelos olhos espalhando para todo o
público aquela mesma emoção. Enquanto
cantava, o público aplaudia o espasmo que nos causava, as lágrimas iam
empoçando os olhos de Gal, que olhava para a ribalta soprando-a para que o
fôlego tentasse ser maior que a emoção e deixá-la homenagear Tim Maia, com a
irreverência que ele requer.
O
olhar de Gal Costa passeava por cada letra e soprava a imensidão de sua
importância para a música enquanto os aplausos adentravam ao meio das canções e
levantava a plateia, de onde erguia-se a voz de Milton Nascimento, Paulinho da
Viola e Ana Carolina. Gal mostrava como “Força Estranha” e ela eram unha e
carne, essa canção pertence a sua intimidade com o público.
“Miami
Maculelê” servia-lhe o gingado do corpo com um rebolado generoso. Os pés de Gal
passavam ao chão como o beijo apaixonado de dois amantes. Ao contraste do
“Recanto Escuro”, que abriu a primeira parte do show, em meio aos embalos, uma
rosa vermelha cortou o drama e a irreverência fitando o palco com o brilho de
uma fã que beijava-lhe com os olhos. O som abraçava Gal que abria os braços
para o feixe de “Mãe” e “Minha Voz, Minha Vida”.
O público gritava, Gal respondia. Ela estava com um brilho especial. Gal, com
todo respeito, estava gostosa!
Não
sei se ando muito chorão, mas acho que Gal tem esse poder de nos transportar
para dentro de cada nota que derrama por seus fartos e fatais lábios. É uma
injeção de paz e outra de adrenalina, assim é ouvi-la e vê-la. Gal é
imprescindível a todas as gerações, porque ela é sempre uma novidade e um
avanço musical. Quem poderia imaginar um álbum cheio de encontros instrumentais
e eletrônicos acariciados por Caetano Veloso como um presente à Gal? Ela é
assim, surpreendente!
Começo
mexendo os pés, depois a perna toda, em alguns instantes os braços estão para o
alto e de repente um “Barato Total” compartilha-se entre o público e todos
recebem sua voz com a doçura recíproca a maior cantora que este país produziu.
Vou deixar de chamá-la de maior cantora do Brasil. Gal é para o mundo!
O
DVD vai chegar lindo, mas a emoção de fitar Gal no palco e senti-la tocar a voz
na pele é um descanso na loucura do mundo. Sem Gal a música não teria o acorde
necessário para ser música!
O
show passa rápido e deixa-nos salivando de vontade de algumas canções que
seriam prato fino neste repertório, mas as escolhas de Caetano deixam Gal com a
bola toda, afinal ela merece mais do que qualquer um.
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