sexta-feira, 17 de maio de 2013

“O Rei Leão” ganha versão brasileira e o destaque de melhor musical



Os olhos começam a pedir ao corpo toda a sensibilidade e iniciam uma intriga entre as pupilas e àquilo que desfila pelo público boquiaberto. É hora de lacrimejar, de paralisar, fica difícil até de aplaudir. Tem algo gigante descendo ao lado, tem algo muito belo lá em cima... tem uma voz vazando por entre as cortinas e ensurdecendo o silêncio. Um dos atabaques invocam a savana e a flauta rabisca o cenário de som, balé e cor. Eu estava diante de uma das coisas mais lindas que já vi em toda a minha vida! O Rei Leão não é só um musical... O Rei Leão é o coração pulsando fora da gente.

Num repente todos os animais tomam conta de todo o espaço do teatro, passam por nós e familiarizam-se com a arte como se dela tivessem nascido. Rafiki, interpretada por Phindile Mkhize, narra sua angústia, seus anseios, suas virtudes e visões com o canto mais envolvente que já presenciei em um musical. Ela está no palco fitando o público e ressurgindo à África em sua magnitude na arte.
Quem não conhece a história do Rei Leão? O Rei que perde o trono quando morre, em uma emboscada criada pelo próprio irmão Scar, irreverentemente traduzido por Osvaldo Mil. O príncipe, muito jovem, some na savana e após anos, em saber que sua terra foi destruída pelo tio que tomara o trono, volta para reaver a vida do pai. Esse jovem, ainda filhote, é interpretado por Matheus Braga (na exibição em que assisti) e é notável que o público não quer que Simba, o leãozinho, cresça, só pra continuar com aquela presença agradável e extremamente alegre e artística do ator mirim. Mas ele cresce, e Tiago Barbosa toma o papel com galhardia. Ele torna-se gigante no palco.

César Mello é Mufasa, o Rei Leão, um ator que por sua voz e expressão traz aquele desenho que marcou épocas de volta a um palco que até então parecia pequeno sob seus pés.

Timão e Pumba, são interpretados respectivamente por Ronaldo Reis e Marcelo Klabin. Zazu por Rodrigo Candelot. Sarabi por Renata Vilella, e a jovem Nala... que torna-se a mulher do reizinho por meninas que revezam-se no elenco. É um grupo de atores sensacionais. Que só não são maiores do que a própria arte, pois juntos formam o que mais belo exprime-se dela. É o melhor elenco que já vi reunido. Um elenco jovem, de cara nova... sem a chatice dos mesmos, que parecem apenas trocar de personagem. Vocês são a cara e o sentido do espetáculo.

Gilberto Gil dirigiu aqui o que Elton John criou. E a impressão digital deste baiano é evidente. Gilberto Gil tirou das páginas americanas o folheto mais belo de todos, deixou todas as cores de nanquim caírem sobre a suntuosidade africana e feito palmadas em um timbal berrar junto à miscigenação brasileira. Esse musical parece tão nosso... Gil é o responsável por isso.

É a entrada mais triunfal da cultura africana no Brasil... e no mundo.

Rachel Ripani traduziu o script e Gustavo Vaz dirige o espetáculo. Roberto Montenegro  dirige a dança e Vânia Pajares comanda as batutas sob a regência musical. Essa turma torna O Rei Leão íntimo da gente e as intervenções brasileiras casam-se com irmandade aos vibratos d’África. Aquela voz de Phindile vivendo Rafiki é um presságio de que o mundo ainda vai viver de cultura.
A gente não precisa mais ir até a Broadway pra ver grandes produções. O Brasil está escancarado pra isso. Que orgulho!

As coisas parecem não deixar de acontecer em tempo algum, em certos momentos turvam nossos olhos e fogem do controle de visão, pois estão acima, abaixo... na irreverência das hienas, no voo dos pássaros, nas passadas largas das girafas que curvam seus pescoços cumpridos ao público, no rugido dos leões. Todos os animais ganham o realismo dos movimentos, o jeito rústico da comunicação e o afeto entre os seus. Dão vida a um texto lúdico. E a gente vive aquilo tudo emprestando-nos à realidade fictícia.

Um baile de cores, de coreografias, de vozes... um coro extenso, movimentos em um compasso invejável a qualquer outro diretor. Um conjunto que ganha os corpos, um cenário quase real e a iluminação exata, com o clima da naturalidade. É o filme em 3D... é a inspiração do autor e a concepção da história em sua maturidade mais aflorada.

“Hakuna Matata” ganha as vozes da plateia... essa é uma frase em “suaíle”, idioma predominante na África oriental. A frase significa a distância entre os problemas. E problemas é o que não há durante o tempo em que vivemos uma das mais belas histórias da Disney dentro daquele teatro. O mundo isola-se naquele período.

O Rei Leão é um acontecimento perfeito!

O espetáculo está em cartaz em São Paulo, no Teatro Renault. Apresentado pelo Ministério da Cultura e Bradesco Seguros, com realização da Time For Fun, “O Rei Leão” é roteiro indispensável na capital. Os ingressos podem ser comprados na bilheteria do teatro e pelo site ticketsforfun.com.br. As apresentações acontecem de terça a domingo em diversos horários. Os valores variam entre R$ 45,00 e R$ 280,00 reais.

Um comentário:

  1. Perfeito o sei review, assisti o musical e não consigo colocar em palavras o que eu vi e senti, logo no primeiro "aaa" de circle of life meu olhos já encheram de lágrimas, e seu texto me fez chorar de novo lembrando do quao lindo é esse espetáculo, que me fez entender porque é que chamamos as coisas de "espetaculares" quando elas são ótimas... XD É realmente espetacular. ♥

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