Mônica entrou pra casa da música brasileira, e foi molhar o biscoito na "Biscoito Fino", pra deixar a música ainda mais "molinha". O som de Mônica vai passando por dentro do corpo e padecendo-nos aos poucos, até que retira todo o sangue das veias, e deixa apenas notas e timbre correndo e o corpo fica mole e de pé só com isso! Ou melhor, com tudo isso. Mônica Salmaso lança "Alma Lírica Brasileira", mostrando que música mais clássica que MPB não há!
"Lábios que Beijei" e "Minha Palhoça" parecem tão atuais e ao mesmo tempo redesenham o passado no presente quando pela roquidão que calça-se ao final do toque de voz da Mônica dilata o teatro. O show aconteceu no Teatro Paulo Autran, no Sesc Pinheiros, e aquele belíssimo lugar parecia sua sala de estar. A começar pela parceria com o marido Teco Cardoso, que sapeca sopros incomparáveis.
A voz é limpa, e ora surge a leve roquidão nas terminações, ora um choro das cordas vocais. Um choro nos olhos da gente, da gente que ouve. Parece que algo vem jorrando por dentro e não cabendo mais no corpo espirra-se pelos olhos. A música de Mônica empurra essa enxurrada do corpo afora.
Mônica molha o biscoito no palco, no bom sentido, pois mostra-nos um dueto com o seu próprio DVD. Utiliza de uma diversidade de instrumentos e deita seu deleitoso timbre ao piano, faz do palco um gigantismo maior do que o já existente.
A cantora revive os sambinhas de bar, ousando tocar com a caixa de fósforo, como faziam os deveras sambistas. Parece caminhar com leveza e tranquilidade numa corda bamba. Cantar aos poucos músicos, apenas com um piano e sopros no palco, é como cantar ao telhado de lua e estrelas. É mais do que o belo.
Tudo é tão comovente e feliz, que a roupa destratada, que mal conserva a cantora, acaba passando desapercebida. E o pretume da túnica cortada sem tino esmaece em meio as canções. Canções escolhidas com o tato de mestres, com a sutileza de bárbaros doces.
Mônica Salmaso é a dor de "Cuitelinho", a ternura do "Trem das Onze"... é a re-voz de Paulo Vanzolini e os olhos femininos de Herivelto Martins, os dedos viris de Adoniran Barbosa, o toquinho pueril de Villa Lobos e a daminha de honra de Chico Buarque. A Biscoito Fino ficou mais fina, com a música mais molhadinha!
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