terça-feira, 3 de setembro de 2013

Jô Soares faz recorte em direção de 'Três Dias de Chuva'


Otávio Martins, Carolina Ferraz e Petrônio Gontijo encenam uma história articulada pelo amor e pela frigidez. Não é um romance policial, tampouco uma comédia, muito menos uma tragédia. Jô Soares traz ao Brasil o texto de Richard Greenberg com grosseiros recortes. A peça registra nada mais do que uma incógnita, deixa os atores gigantes, e o diretor fica pouco. Salvo o cenário e a generosa iluminação.


O espetáculo distribui-se em dois atos. O primeiro acontece em 1995, quando há o reencontro de Anna e Walker, interpretados por Carolina e Otávio, dois irmãos que precisam fazer a partilha dos bens, após a morte do pai. Pip, vivido por Petrônio, é um ator de televisão, filho do falecido sócio dos pais de Anna e Walker. Os três são amigos de infância e irão se confrontar com as próprias histórias entre a leitura do testamento.
O primeiro ato enrola numa história quase desnecessária, onde o elo com a compreensão surgirá no segundo ato. Este primeiro, têm um recorte de tesoura cega, com uma coordenação motora falha e um olhar distante do público na direção. Jô desprende-se do que o público vai ou não entender. O humor fica por conta de pequenos textos e a acidez, a ironia da versão nova-iorquina é esquecida por Jô. É picotada entre o longo espetáculo.
O segundo ato desafia aos atores entregarem-se a outros personagens. Torna-os mais corajosos e responsáveis por ocultar o fraco início da história. Ou melhor, o fim, pois o segundo ato acontece em 1960. Ned e Theo são os sócios, arquitetos, interpretados por Otávio Martins e Petrônio Gontijo. Os dois estão atarantados com o primeiro projeto, após a faculdade. Nina, interpretada por Carolina Ferraz, é a responsável pela mudança de comportamento dos dois, sedutora e romântica dá rumo às nuances de toda essa história. Eles são os pais, mencionados no primeiro ato.
Jô tira da manga a cartada que salva o jogo, aquele que estava completamente esquisito sobre a mesa. Carolina Ferraz sai dessa manga como um trunfo. É ela quem cresce no texto, que sobressai ao próprio texto. Otávio melhora no segundo ato, ganha as cenas e ajuda a tornar o primeiro ato menos insignificante. É um dos atores de peso que melhoram os cartazes do teatro brasileiro. Petrônio é um tanto mediano, é melhor do que o recorte do texto, mas sai prejudicado por ser apenas uma passagem na história. Importante passagem, mas não pode receber as mesmas flores que Carolina e Otávio. O desequilíbrio de um espetáculo, da-se, sobretudo ao diretor. O gênio dos erros.
Jô, que sempre escala seu nobre time, os mais vaidosos e merecidamente grandes do teatro, dá um banho de água fria nos assistentes de direção. Todo mundo se perdeu. Três assistentes de direção perdem a cena para Maneco Quinderé, que esbanja um desenho de luz deslumbrante e a cenografia cinematográfica de Marco Lima. Fábio Namatame já foi melhor no figurino, mas fica congelado no texto. E Ed Júlio continua como um dos meus favoritos produtores, é ele quem ajuda na condução de arriscadas manobras da direção.
"Três Dias de Chuva" é apenas uma peça, um frágil entretenimento, sem grandes ressalvas. Quase sem ressalvas. Tão fraco, quanto o "Libertino", também dirigido por Jô.
Só não digo que perdeu a mão, porque na cozinha há sempre tempo de surpreender.
O espetáculo fica em cartaz até 16/12, no Teatro Raul Cortez, em São Paulo. Sexta às 21h30, sábado às 21h e domingo às 19h. Os ingressos variam entre R$ 60,00 e R$ 70,00.

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