quinta-feira, 10 de abril de 2014

Valesca Popozuda é culpa nossa!

A última discussão filosófica, ou a atenção de todos e da mídia gira em torno de uma questão aplicada na prova de filosofia de um colégio de ensino médio, em Taguatinga, Distrito Federal. Na avaliação, o professor Antonio Kubitschek perguntou aos alunos qual era a continuação da frase "se bater de frente", que consta no funk "Beijinho no Ombro", de Valesca Popozuda, mencionando a "cantora" como grande pensadora contemporânea. Ironias à parte, Kubitschek, que não trata-se do falecido presidente da república, e sim do filósofo, moveu o país para refletir sobre "o preconceito e a realidade com a cultura"!
Foto: Reprodução
Muitos dos alunos reclamaram, os pais acharam absurdo, mas os alunos acertaram a questão. A Secretaria da Educação deu autonomia ao professor. Bom... pelo menos isso, pois salário é o que eles menos dão! Agora, o que isso tem a ver com filosofia?
Quando pensadores como, Sócrates e toda aquela turma barbada, elaboraram suas teorias, tratavam-se de questionamentos atuais, decorrentes das relações humanas, animais e geográficas da época. Tais questionamentos, que hoje a filosofia trata como pensamento, ou teoria, enquadram-se ao cotidiano e até parecem coisas óbvias. Mas, o óbvio já foi novidade! E claro... o que é óbvio hoje é porque foi novidade pra nós mesmos um dia.
Falamos de pensadores antigos, que são atuais... agora vamos falar dos atuais, que certamente não serão antigos um dia. Valesca Popozuda, que leva em seu nome artístico talvez o que tenha de maior em sua vida - a bunda - cantora de funk, voz horrível, dicção péssima, repertório deplorável e discursos prontos para a massa, é mais uma produção independente daqueles que se consideram "do povo"! É ela o alvo da vez, ela é quem ganhou o assunto da mídia e o título de "pensadora", pelo professor Kubitschek, que volto a dizer, não é o falecido presidente, e sim o filósofo.
Qualquer pessoa que gera uma informação, que pode servir de reflexão, pode ser um pensador. Um influenciador é um pensador. Por que Valesca, a Popozuda, não pode ser uma pensadora? É possível contar nos dedos de uma só mão quem não sabe um versinho de "Beijinho no Ombro", sobretudo após o vídeo gravado por Suzana Vieira deflagrando de vez a canção. Uma vez que todos nós sabemos um versinho sequer da canção, Valesca conseguiu influenciar-nos com sua péssima música, que mesmo péssima, sabemos cantar! Valesca é uma pensadora. Infelizmente!!!
Tudo isso é culpa nossa, nós deixamos qualquer coisa ser chamada de música, isso pode até ser preconceito meu... é isso que o professor, que não é o falecido presidente, quis levantar em discussão: "somos preconceituosos?" Será que somos capazes de aturar um ente querido cantando versinhos dessa canção? Por que não? Talvez, porque antes de cantar qualquer sobra de música, todo aluno deveria saber, no mínimo, um pequeno verso de Bossa, ou daquilo que muitos artistas penaram para emplacar na Ditadura. Todo aluno deveria saber um verso de poesia, o nome dos poetas populares, e não apenas o nome de populares.
Valesca é apenas uma popular! Ela é cantora, ela faz música... mas jamais será uma pensadora lembrada! O que pensamos hoje é apenas um flagelo do colapso que acontecerá no futuro e que nem lembraremos da causa. Ela é apenas mais uma que rouba, por um tempo, o cérebro de todos nós, até que venha um próximo e torne a cultura cada vez mais comercial e descartável. Isso é culpa nossa, que esquecemos que cultura é importante na educação dos nossos filhos. Isso é culpa do governo, que pouco investe em cultura. Isso é culpa das gravadoras, que morreram. É culpa da tecnologia que avançou demais. É culpa de todo mundo, que não sabe de quem é a culpa!!!
Cultura é isso - na Índia é jogar crianças do 15º andar, no Japão é comer insetos, na China as mulheres amarram os pés em pequenos sapatos para que eles mantenham-se pequenos desde a infância, nas Filipinas os caixões de enterros são pendurados em paredes de cavernas, alguns grupos de muçulmanos xiitas chicoteiam-se com navalhas e facas, os Aghoris, seita hindu, alimentam-se de cadáveres crus... e no Brasil, dentre tantas tradições bizarras nativas, enforcam a cultura! Cada país tem sua esquisitice.
O professor errou apenas em uma coisa, o nome da suposta cantora é com "V" e não com "W", como consta na prova. Certamente essa informação causará maior conforto ao docente, pois, penso que desconhecer, mesmo que minimamente, algo que venha da marginalização da cultura é sinônimo de um certo alívio.
Agora... o que Kubitschek, o professor, tem a ver com Kubitschek, o falecido presidente é a audácia! Isso é saudável para um país em que as únicas decorrentes discussões são a violência e corrupção, estamos tendo a oportunidade de discutir os nossos conhecimentos ou, desconhecimentos.
Parabéns ao professor, que com o pouco que ganha despertou nosso país para a questão do consumo da cultura. A pena é que, quase ninguém entendeu essa história!
Pra vocês... beijinho no ombro!

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