O Sesc mantém a tradição de trazer grandes espetáculos para o circuito musical, em São Paulo. Adriana Calcanhotto jorrou "Olhos de Onda" no palco do Sesc Pinheiros, no grandioso Teatro Paulo Autran, no último final de semana, na capital paulista. Reunindo uma complexidade de delicados sucessos, a cantora dividiu a cena apenas com um violão e a mansidão de sua voz.
Como quem lapidasse cristais ao sopro, Calcanhotto desfolhava canções poéticas e visuais, que permitiam-nos visualizar pairando sobre o palco preto, rabiscado por fachos de luz.
Adriana Calcanhotto surgiu elegante, e valseava a voz como ondas, deitando seus olhos sobre ela. "Olhos de Onda" é um trabalho delicado, de dedilhadas carinhosas e afinação magistral. Sobre um poema de Wally Salomão, Calcanhotto permitiu a melodia de "Motivos reais banais", e incluiu na playlist "O nome da cidade", de Caetano Veloso e "Pra Lá", em parceria com Arnaldo Antunes.
A conversa com o público veio por meio da música e as serradas de dedos no violão. Uma das mais poéticas e serenas artistas do cenário musical entregava ao deleite outras incríveis composições: "Devolva-me", "Vambora", "Mentiras" e "Depois de ter você".
Apesar de completar o palco apenas com um violão, Calcanhotto não dispensou o uso de um outro recurso, e levou para a cena um radinho de pilha, inserindo na música um movimento genuíno. Como é de costume, a cantora sente-se satisfeita quando deixa a música mais bela, com alguns balaios essenciais para deixar o clássico com um toque moderno.
O álbum "Olhos de Onda" tem uma serenidade azulada, de rabiscos esverdeados, e como se desfiasse as fibras de um cristal com a ponta das unhas. Uma conotação poética para uma escritura poética.
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