sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

“Chove chuva, chove sem parar / Pois eu vou fazer uma prece pra Deus pra chuva parar...”


Confesso que estou com um pouco de medo desta cidade parar nos emaranhados das algas marinhas do fundo do oceano, ou ser sugada ao fim de uma enchente pelo ralo de um dos rios que embebedam São Paulo com seu “agradável” aroma. Tivemos em janeiro mais de quarenta consecutivos dias de chuva, que no começo da semana resolveu tirar alguma folga, porém deixou avisado que voltaria. Desde o desfecho da última terça-feira mais ruas vem sendo tomadas por água, casas vindo morro abaixo, quilômetros e mais quilômetros de trânsito deixando a metrópole cada vez mais caótica.

Não quero fazer alusão a nenhuma previsão científica ou religiosa, tampouco a filmes como o “2012”, que, aliás, não se preocuparam muito com os efeitos especiais, mas enfim, parece mesmo que estamos próximos ao fim do mundo. As olimpíadas de inverno em Vancouver não seriam suficientemente de inverno se caminhões de neve não tivessem despejado o cenário branco sobre a cidade, pois enfrentavam a falta de neve. Enquanto os EUA esbanjam nevascas violentas que preocupam os nobres americanos, e creio eu que a Casa Branca há muito tempo não ficava tão branca como nos últimos dias. Por aqui vamos recebendo os carros anfíbios que terão grande serventia e farão parte da brigada de “jet skis” do governo. Paralisações nos trens da CPTM, falta de energia em prédios públicos, interdição de importantes vias, como as marginais e falta de estrutura geográfica resultaram certamente num considerável déficit na economia paulistana, já que muitas pessoas não chegaram aos seus trabalhos, muitos comércios fecharam, houve dias em que tudo parou.

A terrível falta de educação de muitas pessoas também contribui para o assoreamento dos rios Pinheiros e Tietê, que não suportam a passagem de água por seus ductos e acabam jorrando para as avenidas próximas, resultado disso sofreram algumas escolas de samba que tiveram que correr contra o tempo para reconstruir suas alegorias que foram destruídas pela invasão da água nos barracões. Outras situações caóticas inundaram os noticiários e os periódicos mundo afora e as que mais representaram e ainda causam pânico são os deslizamentos e as mortes causadas por eles. Grande parte destes desastres acontece em bairros mais pobres, resultado da aglomeração de moradias em encostas de terra que quando úmida vem abaixo levando tudo o que está em seu caminho. Foram inúmeras mortes, talvez de pessoas que ainda brigariam na política para viverem numa situação melhor, e a política mesmo atrasa no atendimento a essas vítimas da chuva. Bairros como o Jardim Romano, na Zona Leste de São Paulo, já convivem com a água e a lama há um bom tempo, pelo menos o suficiente para a prefeitura construir uma passarela sobre o rio que se fez nas ruas para que os jovens possam frequentar a escola, que também já foi tomada pela água em uma das fortes tempestades. Os moradores do Jardim Romano já questionam desde os primeiros dias de enchente o futuro de suas vidas e poucas são as medidas tomadas. Quando a prefeitura decide fazer algo é para uma fila de muitos moradores e para aqueles que conseguem um atendimento são feitas propostas de morar em extremos da capital e lugares de outros aglomerados urbanos.

A grande metrópole passa pela crise natural, resultado de ações do próprio homem e ineficácia dos governos em ações ambientais e de planejamento urbano. Também o grande fluxo de pessoas que chegam a São Paulo em busca de emprego aperta o cinto da economia, em muitos casos não há muito o que se fazer. A falta de geração de emprego faz com que estas pessoas migrem para lugares impróprios que podem sofrer as ações dessas terríveis chuvas.

Falta de educação de muitos que despejam lixos em vias públicas, ineficiência dos governos em ações de saneamento e urbanização, e de São Pedro que também não tem cooperado muito fez de São Paulo um grande rio em janeiro, com mais mar do que o próprio Rio de Janeiro.



Foto Agência Estadão, Jardim Romano - SP

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