segunda-feira, 5 de março de 2012

Hoje eu comemoro 20 mil leitores em dois anos


Pode parecer um pouco de achismo meu comemorar a marca de 20 mil leitores, mas na verdade, é uma retribuição, daquelas que só um escritor e colunista pode fazer ao seu público. Escrever, escrever e escrever! Desde então foi isso que me moveu à cultura, foi este o ofício que escolhi após subir ao palco de um teatro, após ser um espectador numa plateia, após chorar com um drama e sorrir com uma comédia. Estar ao lado de inúmeros e atenciosos leitores, que me retribuem e-mails e apertos de mãos, é olhar a cultura com os olhos que estavam cegos, calejados por um país que ainda rasteja fraco no campo das artes. Hoje posso enxergar, por meio dos meus leitores, uma cultura mais assistida, mais querida, mas que ainda pede melhores incentivos.

Enquanto maquinava o que caminhar na vida, já escrevia em papéis largados pela casa, que fazia de escritório, aqueles destinos, que pra mim seriam incertos. Médico, arquiteto, designer, piloto, dentista, era tudo que me encantava para instrumentar minha profissão. Mas, grandes nomes ampliavam as saídas para meios comunicativos no Brasil e criavam importantes veículos guiados por talentos intitulados de Roberto Marinho, Silvio Santos, Boni, Walter Clark, Octavio Frias de Oliveira e Júlio de Mesquita, fazendo então meus olhos atentos para o curso das palavras, da notícia, da voz e da comunicação social. Ainda era pouco sonhar em escrever para milhares de pessoas, eu queria aparecer pra elas, eu sentia falta de cores, de movimento e de som. Foi no teatro que eu encontrei esse outro tom, o tom de Fernanda Montenegro e Paulo Autran, Dercy e Fauzi Arap, que também encontrei na música, e subi ao palco pela primeira vez. Cantei ao lado de Cauby Peixoto, abracei a voz mais linda (na minha opinião) da feminilidade musical, Maria Bethânia, registrei meu primeiro encontro com a dama do rock’n roll brasileiro, Rita Lee, e apaixonei-me pelo som que fazia sabores nas ruas de Salvador, enquanto por lá deparei-me com os sons de Gal, Caetano, Gil e toda baianidade da música. No Rio, a bossa e o Jobim. Em Sampa, o samba e Adoniram.

O teatro e a música invadiram por definitivo meu jeito de fazer jornalismo, me fizeram liderar tudo que eu podia na universidade, desde jornais do curso, às vídeos-reportagens. Dirigi meu primeiro curta-metragem, que nada falava de cultura artística, mas dava um tapa numa sociedade preconceituosa, ao falar de adoção. O segundo filme veio pelo encantamento que sempre tive pelo humor, e ao lado de grandes nomes da televisão e do teatro firmei um dos meus maiores trunfos cinematográficos. O teatro e o jornalismo, e a música, todos juntos, ainda por me fisgarem, rabiscaram a giz de cera o meu cérebro e não permitiram-me fazer mais nada, a não ser escrever para quase 20 mil leitores.

Desde o ano de 2010, quando estreei com um texto sobre Cauby Peixoto, impulsionado e instigado a escrever este texto, pelo companheiro de ofício, Luiz Felipe Carneiro, estive em mais de cento e vinte eventos, que enobreceram um blog que parecia singelo demais, sem sal, sem doce, com um nome estranho, que não parecia nada comercial, e que ainda não é. Mas o tango e o bolero são movimentos minuciosos, estudados enquanto olhos se encaram, e passos entrelaçam sentidos. Assim é a arte da cena, do jornalismo e da música. Eu tinha os três unidos! Faltava o público, os leitores, os convites para as peças de teatro e os shows, faltava mais tesão para escrever.

Eu nunca parei de me especializar, pois criticar é o ato respeitoso de analisar e expor, feito por poucos, mas exaltado por muitos, que, me desculpem, nem sabem o que fazem. Enquanto eu cursava a vida do teatro e da música, esbarrei-me a nomes gloriosos, que em tempos perdi o contato por furtuitas ondas da vida, e estes uniram-se as minhas palavras de honra. Eu não posso escrever este texto sem agradecer ao Eduardo Martini, pelas primeiras palavras de incentivo, pelo primeiro e-mail que recebi de um artista aplaudindo o meu trabalho. Foi então que eu notei que não era só o ator que podia ser aplaudido. Cá, na plateia, alguém também era alcance de aplausos, um crítico deve treinar sua educação, escrevendo o que de fato o espetáculo retrata, sem culpá-lo com dureza por erros, nem o melar com acertos. Neste tempo recebi convites, dos que não tive mais contato, dos que causamos intrigas, afinal, sou um crítico, e recebo palavras não tão educadas em meu e-mail, mas também continuo a receber aplausos. Estive num outro site, de oportunidade de Deborah Ventura, do qual respeitosamente agradeço a oportunidade. Voltei ao blog, e nele consagrai-me como comunicador, de grande alcance, de uma arte que só esmaecia, ao meu ver, no mundo literário do jornalismo: a crítica de teatro.

Obrigado aos diretores, aos atores, aos produtores, às equipes e famílias teatrais, musicais e em seu conteúdo cênico, de uma seriedade profissional indiscutível, alcançada com mérito neste País. Faço um apelo de que o Governo olhe melhor para tudo isso, e o público que ainda não é público de arte, faça valer sua existência, pois, só existiu de verdade quem já amou a arte. Eu gostaria de nomear a todos que caminharam comigo, inclusive aos que me recusaram e ainda recusam-se a me deixarem ocupar a poltrona de seus espetáculos, estes um dia entenderão, o quanto a arte precisa da crítica de respeito, que constrói, e não que faz publicidade tacanha em textos de grandes veículos que deixam vazar para o nicho estapafúrdio da comunicação barata e sem relevância intelectual e abrangente ao público num todo. O texto deve atingir ao máximo, e não só a quem entender. Isso é papo de anedota.

Sou grato ao público, aos leitores que carinhosamente ocupam-se de arte, e de ler sobre a arte. Eu aprendi a encenar melhor e a cantar melhor, depois de ser um espectador de mais de 120 espetáculos, no período de dois anos. Destes dois, faço ponto de partida, pois eu estou só começando. Nunca recebi pelo que faço, mas o dinheiro sempre esteve abaixo da palavra, da cena e do som. É assim que a iniciativa privada olha pra arte, e assim que a iniciativa pública burla aquilo que deveria atender.

Num país onde, em muitas vezes, a cultura se faz com olhos vendados, ou debochadamente como um sexo tântrico entre público e o movimento artístico, sob a leitura de 20 mil pessoas, eu permito-me publicar esta minha vida. Logo nos vemos, quem sabe no palco, eu na cena, e vocês na crítica. Mas, estarei ainda aqui.

Fotos: Sabrina Maekawa e Semana Ticket de Cultura, respectivamente.

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