terça-feira, 27 de março de 2012

O teatro e sua oficina diária


O Dia Mundial do Teatro resume uma longa caminhada que distribuiu ao mundo uma das mais belas artes já criadas para os olhos, os ouvidos, o tato e a mente. Nascido na Grécia Antiga, o teatro tinha suas apresentações discorridas em grandes arenas, em que atores utilizavam máscaras de fortes expressões para melhor visualização do público, além de domarem-se de uma identidade paralela, atividade até hoje descrita como: ator. Atualmente o teatro é uma fábula e um ato de realidade, são textos sobre textos disputando pautas caras e até as populares, o teatro ganhou e perdeu. Mas sempre irá permitir-se comemorar sua idoneidade e daqueles que o fazem, produzem, encenam, dirigem, iluminam, arquitetam, vestem, coreografam e fomentam.

No mesmo dia em que o teatro é exaltado, o Circo também comemora sua arte que se faz cênica e musical debaixo de uma lona. Desde seu nascimento, o que não há um registro preciso, já que esta é uma manifestação nômade, o circo tornou-se uma arte tão envolvente, quanto o teatro, pois veste um homem de palhaço e uma trupe de malabaristas, contorcionistas, ilusionistas e domadores para replicar sorrisos, surpresas e imaginação num público. Essa brilhante arte é uma criação alimentada junto ao teatro, que durante anos faz o público viver histórias diferentes, tornarem-se cúmplices e atos da história.

O teatro é um espaço físico que ganha vida em textos lúdicos, verossímeis, dramáticos e cômicos. Na Grécia, essa arte foi transcrita por gênios poéticos como Aristóteles, Sófocles, Eurípedes, Aristófanes, Menandro, e outros. Em Roma, Plauto e Terêncio se destacaram. Passeando pela história, chegamos a Portugal com os textos de Gil Vicente e Almeida Garrett. Na França, Molière. O inglês Shakespeare, e no Brasil, Padre José de Anchieta, João Caetano, Martins Pena, Gonçalves Dias, Oswald Andrade, Nélson Rodrigues, Machado de Assis, José de Alencar, Álvares de Azevedo, Castro Alves, José Celso Martinez Corrêa e então nasce o Teatro Brasileiro de Comédia, sediado no Bexiga, em São Paulo. Ainda surgiram Os Comediantes, o Teatro Oficina, Teatro de Arena, o Teatro dos Sete e a Companhia Celia-Autran-Carrero.

Nossa estrela maior do teatro completa 80 anos de ofício, filha de Procópio Ferreira, Bibi ainda é um dos maiores ícones vivos da arte de encenar e cantar. Estreou no teatro com apenas três semanas de nascida, substituindo uma boneca. Seu ápice, sem dúvidas, foi sua atuação em “Gota d’àgua”, de Chico Buarque de Hollanda e Paulo Pontes, quando a atriz mostrou a mulher mais imponente dos palcos. Além deste, Bibi estrelou o espetáculo “My Fair Lady”, ao lado de Paulo Autran, que também a acompanhou em “O Homem de La Mancha”. Bibi também marcou os palcos interpretando Piaf, que lhe rendeu os prêmios Mambembe e Molière, além de outros importantes títulos. Recentemente compôs o elenco do espetáculo “Às Favas com os Escrúpulos”, de Juca de Oliveira, e direção do amigo Jô Soares. A filha de um dos homens mais ilustres do teatro, também dirigiu Clara Nunes, e Maria Bethânia, que também revelou-se no teatro, antes mesmo de ganhar fama na música popular. Bethânia deixou a pequena Santo Amaro da Purificação, com seu irmão Caetano, e estrelou o espetáculo “Opinião”, substituindo Nara Leão. Ao chegar no Rio de Janeiro, a baiana roubou a cena e eternizou a canção Carcará, do musical de Zé Keti e João do Vale.

O teatro foi colecionando nomes em sua história, e reuniu eternos padrinhos dessa arte. Tônia Carreiro, Sérgio Cardoso, Lílian Lemmertz, Fernanda Montenegro, Cleyde Yáconis, Ítalo Rossi, Marco Nanini, Cassiano Gabus Mendes, Marília Pêra, Gianfrancesco Guarnieri, Juca de Oliveira, Sérgio Britto, José Pécora, Cacilda Becker, Beatriz Segall, Jackson Antunes, Max Nunes, Regina Duarte, Gloria Menezes, Dercy Gonçalves, Raul Cortez, Ruth Escobar, Jô Soares, Nicette Bruno, Paulo Goulart, e tantos outros astros que tornaram-se mestres na nova geração teatral.

O teatro celebra elementos de extrema importância, iluminadores, figurinistas, musicistas, produtores, diretores, camareiras, coreógrafos e cenógrafos fazem o espetáculo acontecer, entregam aos bilheteiros a responsabilidade de permitir a entrada dos maiores astros do teatro: o público. Este é que faz o teatro valer a pena, a plateia completa um espetáculo com seu caloroso e sincero aplauso e entrega à crítica a responsabilidade da verdade. Por que nós, críticos, também não podemos fazer parte disso? Parabéns a quem escreve a história do teatro, e aos apoiadores, patrocinadores e fomentos, que dão a oportunidade do teatro ser um ofício, uma profissão. Aos pipoqueiros que dão ao público o sabor da peça, e a Broadway que confiou aos brasileiros grandes sucessos que parecem serem nossos.

O teatro venceu a Ditadura Militar, que não foi capaz de calar os palcos. O teatro vence diariamente a guerra da captação de recursos, espalha-se com as trupes regionais, com os espetáculos de rua, o humor escrachado, o drama sentimental, as tragédias e comédias clássicas. O teatro de revista e as vedetes de Manga e Walter Pinto. O teatro é a maior relação de amor entre a arte e o homem. O teatro também é ainda um Alcorão, tão mal interpretado que faz do palco um campo de ataque ao que deveria ser uma exposição espontânea de cultura, ao invés de atores moralmente trajados de homens bombas, que autoflagelam-se e respingam nessa arte de encenar. Porém, a vela do teatro jamais se apagará, as luzes da ribalta se acenderão sempre que uma cortina abrir para mais uma estreia. E assim o teatro se faz a pele da humanidade e o coração de um texto. Não se faça de ator apenas por uma escola de teatro, faça-se um gigante no palco, como os imensos atores que nunca precisaram dela.

Fotos: Bibi Ferreira e Paulo Autran, em My Fair Lady / Sérgio Britto, Tônia Carreiro, Fernanda Montenegro, Ítalo Rossi e Jacqueline Laurence / Tônia Carreiro, Eva Vilma, Odete Lara, Norma Bengell and Ruth Escobar, em 1968 / Reinando Gianecchini, reestreia o espetáculo Cruel.

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