terça-feira, 27 de novembro de 2012

Oktoberfest realiza sua primeira edição em SP


A tradicional festa alemã, que esbanja litros e mais litros de cerveja, aconteceu pela primeira vez na capital paulista, no último final de semana, no Pavilhão de Eventos do Anhembi, com a organização catarinense, o sucesso do evento não aconteceu como o esperado, mas os barris de chopp não pararam de abrir suas torneiras. No camarote Brahma, que imperou o patrocínio do evento, as canecas bailavam ao som das bandas típicas e enchiam-se da loira mais famosa do mundo em concursos do mais rápido “boca de litro”.

A Oktoberfest nasceu em terras alemãs, no ano de 1810, em Munique. Porém, o evento não representava nenhuma mostra cervejeira, nem a degustação de comidas típicas, como acontece hoje. Com o casamento do príncipe herdeiro Luís, que mais tarde tornaria-se rei, nomeado I da Baviera, com a princesa Teresa de Saxe-Hildburghausen, foi instituída uma festa para a comemoração das bodas, e ao final acontecia uma corrida de cavalos, com a presença da família real e de toda a cidade convidada. A festa acontece até hoje, no parque Theresienwiese, nomeado em homenagem a noiva, porém regada a muita cerveja, dança e comida.

A tradição da festa começou, quando marcaram o evento para Outubro do ano seguinte e assim para os outros anos. Hoje, o festival de Munique é o maior do mundo, com o proporcional número aproximado de seis milhões de visitantes e seis milhões de litros de cerveja, em cada edição.
Acredita-se que a cerveja tenha sido uma das primeiras bebidas alcoólicas desenvolvidas pelo humano, sendo a mais antiga e a terceira mais popular do mundo, ficando atrás, apenas da água e do chá.

A agricultura, incluindo a da matéria prima da cerveja, a cevada, surgiu por volta de 6000 a.C., na Mesopotâmia, espalhando-se pelos povos sumérios, egípcios e ibéricos, durante o período da revolução do Neolítico e a Idade dos Metais. Leis de produção e venda da bebida foram instituídas desde então, a mais antiga é a Estela de Hamurabi, em 1760 a.C., que condenaria à morte quem desrespeitasse os critérios. Os clientes também tinham deveres perante essas leis. O código também previa que o povo da Babilônia consumisse 2 litros para os trabalhadores, 3 aos funcionários públicos e 5 aos administradores e Sumo Sacerdote.

No antigo Egito, a cerveja, de acordo com o escritor grego Ateneu de Náucratis, teria sido desenvolvida para ajudar aos que não podiam pagar o vinho. Qualquer açúcar, ou alimento que contenha amido pode sofrer fermentação, de forma natural. Um poema sumeriano de três mil e novecentos anos, homenageando a deusa dos cervejeiros, Ninkasi, contém a mais antiga receita conhecida, que descreve a produção da cevada utilizando pão.
Para os romanos, durante a República, o vinho derrubou a cerveja, deixando-a como bebida própria de bárbaros, que fora preparada pelos povos germânicos. Na Idade Média, diversos mosteiros fabricavam a cerveja, distribuindo ervas aromatizantes na fabricação, e o lúpulo, utilizado até os dias de hoje para dar o gosto amargo e preservar a bebida, essa aplicação é atribuída aos monges do Mosteiro de San Gallo, na Suíca. Na época do Vikings, as famílias tinham suas próprias varas de cerveja, eles utilizavam essas varas para agitar a bebida durante a produção. Era uma herança de família, segundo eles, o uso das varas garantia que a cerveja daria certo. Em cada vara havia uma cultura de levedura.

As cervejas foram ganhando novas adições de especiarias e tornando-se cada vez mais artesanais, mesmo em sua grande produção. As famosas “ales”, por exemplo, eram produzidas com as leveduras em temperatura alta, por acidente foi descoberto o tipo “lager”, que ultrapassou a produção das “ales”. Esse tipo foi descoberto no século XVI, quando as bebidas eram estocadas em cavernas frias por longos períodos.

O mundo todo passou a compartilhar a produção da cerveja. A França, por exemplo, cultiva o lúpulo desde o século IX. Enquanto, na Inglaterra produzia-se a cerveja tipo “ale” sem a adição do lúpulo, que com sua aplicação daria o nome de cerveja ao resto do mundo. A cerveja com lúpulo era importada para a Inglaterra a partir dos Países Baixos, desde 1400, em Winchester. Os ingleses fabricantes de cerveja especificavam que nenhuma “ale” teria adição de qualquer outro elemento fora a água, malte e uma levedura. Contudo, o lúpulo passou a ser cultivado por lá e “ale” passou a referir-se a qualquer tipo de cerveja forte, e passaram a conter o lúpulo.
À cerveja coube o estudo etimológico para entender a origem da palavra em diferentes países e a todos entende-se a importância da bebida, originada de culturas fundamentais para as sociedades.

A Alemanha ganhou a graúda fatia famosa da produção cervejeira, inclusive, em 1516, a Reiheitsgebot, Lei da Pureza Alemã, definia os únicos materiais permitidos para produção da cerveja, bem como malte, lúpulo e água. Porém com a evolução das produções, essa lei foi destronada, por exemplo, com a descoberta do fermento e sua função final, por Louis Pasteur. Mas, os alemães preservaram sua cultura e produzem ainda os melhores rótulos do mundo, alguns que podem, inclusive, serem tranquilamente consumidos sem refrigeração, preservando a temperatura ambiente.

As festas alemãs, evidentemente, seriam regadas à muita cerveja, com direito aos embutidos que só eles sabem preparar.

Chegando ao Brasil, o mercado cervejeiro tornou-se o quarto maior do mundo, produzindo mais de 10 bilhões de litros. A AmBev é uma das maiores marcas, em market share e consumo no Brasil. A empresa de capital aberto reúne os rótulos Skol, Antártica, Bohemia, Original, Serra Malte, Polar e a Brahma, que patrocinou a Oktoberfest paulista.
A Oktoberfest de Bulmenau é o evento mais famoso da cerveja no Brasil, recebendo um fluxo turístico elevado na época. Em São Paulo, o evento contou com uma grande produção, bandas típicas, concursos de bebidas, vestidos sulistas e tranças aloiradas, os tradicionais chapéus cheios de bótons e sem faltar o esbanjo do chopp nas canecas boêmias do público.

Com o cair da noite o público foi aumentando nos camarotes e na pista, as lembrancinhas e presentes saiam das prateleiras das lojas e o chopp da Brahma encheu até o caneco deste colunista que vos fala, com um sabor inigualável e um colarinho mais branco do que o meu, que já estava suando como as torneiras geladas dos barris.

domingo, 18 de novembro de 2012

Precisamos de mais Walcyr Carrasco no teatro


Walcyr Carrasco deu banho na releitura da obra de Jorge Amado, Gabriela, no remake da minissérie da TV Globo. Foi um grande “ressucesso”. Para os que esperavam uma pirataria da primeira versão, foi uma grande surpresa. Das mãos do Walcyr eu já esperava um belo cartaz para o horário. O Brasil e o mundo conhecem o talento sempre irreverente do dramaturgo, mas queremos além, queremos mais Walcyr Carrasco no teatro. Alguns roteiros já foram para o palco, mas o teatro é insaciável, é muito mais rápido, entra-se e sai de cartaz em curtas temporadas, por isso requer mais alimento, e requer autores de pesados quilates. Vamos poder acompanhar uma leitura da obra de Walcyr para o teatro, “Jonas e a Baleia”, com o talentoso Tiago Martelli e Daniel Faleiros.

Na leitura, o ator Tiago Martelli interpreta Jonas, um garoto moderno que mora na Rua Augusta, uma das mais emblemáticas da capital paulista. Ele tem como amante o pai de sua ex-namorada, o executivo Amadeu, vivido pelo ator Daniel Faleiros.  Em uma tarde em seu pequeno apartamento, Jonas vive uma intensa história de paixão, sexo e vingança.
A leitura faz parte do 20º Festival MixBrasil de Cultura da Diversidade, considerado o maior festival LGBT da América Latina, traz uma seleção de filmes, peças teatrais e eventos relacionados ao universo gay, que acontece em São Paulo de 08 a 18 de Novembro e Rio de Janeiro de 22 a 29 de Novembro.
“Jonas e a Baleia” de Walcyr Carrasco
Com Tiago Martelli e Daniel Faleiros
Direção dos atores
Dia 28 de Novembro, ás 21h.
Entrada franca – Retirar ingresso com 1h de antecedência
Teatro Cândido Mendes
Rua Joana Angélica, 63 - Ipanema –R.J.
Tel.:(21) 2267-7295

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Querem desmoralizar a cultura para os alunos, mas a literatura persiste


Esse bate boca acerca das obras de Monteiro Lobato ganharam uma ênfase ridícula, quase que beirando a censura. Ou melhor, é um pedido de censura. Onde já se viu, depois de tantos anos taxar o homem de racista? Querem mandar recolher duas obras de Lobato das escolas, e já andaram trocando letras de músicas populares também. A rosa não brigou com o cravo e não podemos mais atirar o pau no gato. Pior ainda, o boi não tem mais a cara preta! A hipocrisia e a exacerbação dos direitos e a superproteção patética aos nossos jovens está atrapalhando a história cultural do nosso país. Há algo que não pode-se mudar numa nação, sua cultura!

Quem diria que Monteiro Lobato e suas obras estariam no banco dos réus anos luz após serem lançadas? “Caçadas de Pedrinho” e “Negrinha” estão arrodeados de discussões, enaltecendo expressões utilizadas pelos personagens como se fossem hostis à raça negra. Hoje era capaz de Lobato ser apedrejado na rua, com tanto sensacionalismo. Na época ele já teve suas obras queimadas pela Igreja.

O Instituto de Advocacia Racial e Ambiental (Iara) protocolou uma representação junto à Controladoria-Geral da União solicitando que as obras sejam suspensas do Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE), responsável por distribuir livros às escolas no Brasil. O Ministério da Educação pretende continuar a defesa pela permanência das obras, enquanto audiências terminam sem acordo. Tanta coisa pra discutir no país e esse tipo de coisa vem à tona. Ao invés de tentarem proibir a leitura, porque não investem nela?
As obras foram escritas em tempos de marginalização racial e não é possível reaver a história, ela está escrita porque aconteceu. Os professores são letrados e cabe a eles contextualizar a história à atualidade, eles são capazes disso, apesar de receberem tão pouco para raciocinar em salas superlotadas em todo Brasil. Agora são até instruídos a mudarem letras de canções do folclore. O politicamente correto está querendo destacar-se entre as canalhices cometidas pelas beiradas. Proibir é uma palavra terrível e utilizada na última carimbada dolorosa deste país. Isso é coisa de ditadura, não bastou? Preconceito e racismo é limitar a história da cultura. Agora, vão dizer que o racismo é influenciado pelas pessoas, que um dia foram crianças e leram Monteiro Lobato? Estão ultrapassando o limite dos direitos, não é assim que conquista-se respeito e igualdade.

As traquinagens de crianças sempre foram o ponto alto de Lobato em suas obras, a intenção das palavras referente aos negros, nos livros, não remetem ao esdruxulo sensacionalismo que estão causando. As entidades deturpam tudo! Até a Bíblia.

Os jovens não podem ler Monteiro Lobato, mas podem assistir a corrupção e ouvir a deturpação da história? Podem ver miséria e ouvir as letras sujas que andam circulando pela internet? Isso é permitido, afinal, moramos no Brasil!

Querem tornar os jovens preguiçosos, mais ainda, e pior, analfabetizá-los. Querem tomar Princesa Isabel de um jeito torto, mais torto.

É preciso tornar a leitura mais assídua e não trancá-la. Recentemente recebi uma coleção bárbara para os pequenos leitores. A editora FTD, lançou cinco obras clássicas dos musicais em livros ilustrados e com uma linguagem prática. “La Traviata”, “Aída”, “Lago dos Cisnes”, “Flauta Mágica” e “Turandot” já estão nas livrarias ao alcance da meninada. Não podem mais dizer que ópera e balé são programas de velho.
As histórias foram adaptadas e podem ser acompanhadas com ilustrações impecáveis, em livros de capa dura e páginas muito bem impressas. A entrada do clássico, da música e do teatro para os livros, torna ainda mais tácita e acessível a cultura.

Ainda falando em livros, essa semana acontece um projeto muito bacana em São Paulo, no prédio histórico dos Correios, centro da capital. O "Lê Pra Mim?" (Na primeira foto, Marília Gabriela) é um projeto de incentivo à leitura de livros infantis brasileiros, com atividade sócio-cultural, onde artistas e personalidades lêem livros infantis brasileiros para crianças de escolas públicas e instituições filantrópicas. O projeto conta ainda a interpretação de LIBRAS (Linguagem Brasileira de Snais) que ocorre simultaneamente às leituras e ao final de cada encontro literário, todas as crianças levam para casa um livro infantil.

Participam desta temporada as seguintes personalidades: Joyce Pascowicht, Mônica Waldwogel, Marco Luque, Fernando Scherer, Pasquale Cipro Neto, Fafá de Belém, Fúlvio Stefanini, Eva Wilma, Denise Fraga, Roney Facchini, Ilan Brenmam (autor de livros infantis), Isolda (compositora), Dirceu Alves (jornalista), entre outras personalidades que estão sendo convidadas.

O projeto acontece nos dias 12, 13, 15 e 15 de novembro. Durante toda essa semana, com econtros literários às 11h, 14h e às 16h no prédio dos Correios, na Praça do Correio, em São Paulo. Serão distribuídas 50 senhas com 1 hora de antecedência.

É assim que a cultura deste país e de qualquer outro deve discorrer. Cresci numa família de educadores e aprendendo a brincar e a ler, a discernir e codificar a leitura. Na escola existe a aula de interpretação textual, para que discussões sejam erguidas em prol do exercício mental. O próprio Monteiro Lobato, alocado neste conflito exagerado atual, dizia que “um país se faz com homens e livros.”

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Peter Pan ainda é a montagem predileta da criançada, em cartaz em SP


Não fiz um estudo sobre isso, mas acredito que a história de Peter Pan seja  uma das mais lembradas dentre os infantis, justamente por tratar-se de uma infância infinita e, ainda, talvez por esse motivo seja tão lembrada pelos adultos. Com requintes de produção balanceados a uma simplicidade nas cenas, Peter Pan volta para os cartazes paulistanos e sob o pó mágico da fada Sininho o menino da Terra do Nunca pousa no Teatro Ressureição com os amigos João, Wendy e o destemido Capitão Gancho.

Fui ao teatro esperando encontrar-me com a infância, após tê-la vivido há alguns anos sob a companhia de diversos livros, acredito que até por isso tenha escolhido trabalhar com as palavras. Peter Pan sempre foi uma das minhas histórias prediletas, mas estreei no teatro com o papel do Visconde de Sabugosa, personagem de Monteiro Lobato na obra do Sítio do Picapau Amarelo. Nunca encontrei a vocação exata para fazer as estripulias de Peter e contentei-me em ser espectador dos filmes, das histórias em livros e das montagens musicais e teatrais. Assisti a inúmeras montagens, das mais suntuosas às mais singelas e amadoras e há tempos não encontrava uma tão tácita e próxima ao público. Peter Pan, dirigido por Tiago Pessoa é a coqueluche da “kids-Broadway” paulistana atual.

Contamos nos dedos de uma mão apenas, alguém que não conheça Peter Pan, mas, vamos lá! Peter Pan é um garoto diferente de todos os outros, com suas vestes elaboradas para uma vida de aventuras, o menino recusa-se a crescer e por isso habita, junto a diversas figuras, a Terra do Nunca. Como em toda história, há o vilão que tentará aterrorizar os caminhos do “Todos viveram felizes para sempre”. Em Peter Pan não poderia ser diferente, nas águas da Terra do Nunca o barco do grotesco Capitão Gancho mira a captura de Peter. Ao lado da fada Sininho, Peter viaja para a cidade e adentra ao quarto dos irmãos João e Wendy, fascinados por histórias e contos. O garoto os leva para conhecer sua terra e por lá vivem aventuras fascinantes e que serviram de inspiração para tantos outros contos.
A produção do espetáculo, formada pela Pessoa Neo Produções e RPR Produções, configura toda a história em uma adaptação, assinada por Elisa Reis, apropriada para a atenção dos pequenos espectadores, que correm o risco de dispersarem a qualquer instante. Isso acontece no tempo exato, permitindo que as crianças conversem, “alertem” os personagens do perigo de Capitão Gancho, pois cada ator fala no tom adequado, ligando imediatamente o texto ao público. E a criançada quer participar, quer falar e dar palpite. Espetáculo infantil tem essa magia. Os movimentos das danças, pois trata-se de um pequeno musical, são coreografados por Ruy Brissac e Delidia Duarte com sincronismo e a certeira atenção aos limites do palco e a extensão muscular de cada ator, além da desenvoltura no espetáculo que cabe a cada personagem. A iluminação é um flash que desenha muito bem a fotografia das cenas, sob o comando de Robson Vellado, que faz questão de usar cores leves para um tom pueril ao espetáculo. Todo este desenho de luz contorna o cenário que é visto como um relevo das obras literárias que contam a história de Peter Pan, portanto é um deslumbre, com simplicidade, autenticidade e de uma beleza deleitosa aos olhos de quem assiste.

Peter Pan foi criado em 1911, pelo escocês J.M. Barrie e foi para o teatro, depois ganhou adaptação para os livros e para o cinema. O personagem nasceu enquanto Barrie praticava um de seus prazeres, contar histórias para dois filhos de uma amiga muito especial. Quando os pais destas crianças morreram, ele passou a ser co-tutor dos filhos da amiga, porém sem adotá-los. Imagina-se que a inspiração de Barrie tenha vindo de um casamento de ideias, Peter era o nome de um dos meninos, para quem ele contava histórias, e Pã é o nome de um deus grego, considerado o deus das florestas, dos bosques e dos vales, segundo a mitologia ele era muito esperto e trazia consigo sempre uma flauta e era temido por quem precisava atravessar as florestas durante a noite. Fazendo referência a isso, em Londres há uma estátua de Peter Pan tocando flauta.
A ideia da eterna juventude pode ter vindo após a morte do irmão mais velho de Barrie, David. O acidente, numa pista de patinação, quando ainda tinha 13 anos de idade, abalou profundamente sua mãe, que nunca se recompôs. O conforto dela foi pensar que ele teria morrido tão jovem para eternamente permanecer jovem. Barrie entrelaçou diversas inspirações para o nascimento do menino Peter Pan, que corre aos olhos e ouvidos do mundo inteiro.

Eu já vi Peter Pan interpretado até por menina, talvez pela delicadeza em alguns de seus movimentos e a destreza para dança, que a mulher possuí em sua musculatura. Porém, Peter nasceu de uma ideia diferente dessas, apesar de ótimas montagens, elaboram Peter Pan com uma delicadeza distante da realidade de quem vive entre aventuras no ar e nas florestas. Tiago Pessoa dirige o personagem, interpretado por Matheus Paiva, com a exata figura descrita pelo autor e adaptada para essa versão. Matheus cumpre uma desenvoltura jazzística, de dança e movimentos, com leveza e rapidez, tudo isso casado a expressões e uma dicção justa para o conjunto da obra. Ator bárbaro, digno de aplausos e dos olhinhos atentos da moçada.
Aline Carvalho vive Wendy, com doçura e a ternura colorida que lhe cabe. Ótima parceria com os atores que mais contracena e compactua belamente seu olhar com o público. Os movimentos executados por ela em um número aéreo, suspensa sobre panos, apresenta certo engessamento na evolução por conta do figurino que usa, acaba não desvelando nenhuma surpresa e torna-se um elemento sem muito requinte, porém não é descartável.

A tão adorada fada Sininho, que volta atrás para recuperar sua doçura, após erros e trapalhadas, é interpretada por Gabriela Carvalho, dotada de expressões que descrevem seu texto ausentando a fala sem fazê-la necessária. Lucas Britsky é o Capitão Gancho e configura o personagem na dosagem correta, para não pesar com pavor nenhuma cena. É um personagem de peso, escolhido com acerto para aquela produção. André Haidamus é o ajudante do Capitão, e surge para ele como um papagaio de pirata, explorado por ele e posto ao elenco com a comicidade que entretém o público. Bruno Figueira e Larissa Lessa são as crianças que entregam-se ao clima jovem do espetáculo na Terra do Nunca.
Paulo Candura veste os personagens acertando cada peça deste xadrez às suas casas montadas para um jogo bem feito. Cada costura é trabalhada com a necessidade de manter o destaque da obra como ela é.  Jay Vaquer assina as canções da obra, que não são entoadas pelos personagens. Isso é uma pena, porém microfones cabem aos espetáculos com mais recursos de produção. Para a bilheteria e a montagem deste Peter Pan tudo está como deveria ser.

Alguém lembra-se do ponto fraco do Capitão Gancho? É nele que está a surpresa tão bacana do espetáculo, dirigida com frescor e sem agressão ao texto, nem ao público. O que entra ao teatro... Bom, eu não vou contar. Eu sugiro que vocês assistam para saber!

Peter Pan está em cartaz no Teatro Ressurreição, em São Paulo. Aos sábados e domingos às 17h30. Os ingressos custam R$ 30,00 inteira e R$ 15,00 meia entrada. Podem ser comprados pelo Ingresso.com na internet, ou não bilheteria do teatro, quem tem sempre uma fila enorme de grandes e pequenos espectadores.