A
tradicional festa alemã, que esbanja litros e mais litros de cerveja, aconteceu
pela primeira vez na capital paulista, no último final de semana, no Pavilhão
de Eventos do Anhembi, com a organização catarinense, o sucesso do evento não
aconteceu como o esperado, mas os barris de chopp não pararam de abrir suas
torneiras. No camarote Brahma, que imperou o patrocínio do evento, as canecas
bailavam ao som das bandas típicas e enchiam-se da loira mais famosa do mundo
em concursos do mais rápido “boca de litro”.
A
Oktoberfest nasceu em terras alemãs, no ano de 1810, em Munique. Porém, o
evento não representava nenhuma mostra cervejeira, nem a degustação de comidas
típicas, como acontece hoje. Com o casamento do príncipe herdeiro Luís, que
mais tarde tornaria-se rei, nomeado I da Baviera, com a princesa Teresa de
Saxe-Hildburghausen, foi instituída uma festa para a comemoração das bodas, e ao
final acontecia uma corrida de cavalos, com a presença da família real e de
toda a cidade convidada. A festa acontece até hoje, no parque Theresienwiese, nomeado
em homenagem a noiva, porém regada a muita cerveja, dança e comida.
A
tradição da festa começou, quando marcaram o evento para Outubro do ano
seguinte e assim para os outros anos. Hoje, o festival de Munique é o maior do
mundo, com o proporcional número aproximado de seis milhões de visitantes e
seis milhões de litros de cerveja, em cada edição.
Acredita-se
que a cerveja tenha sido uma das primeiras bebidas alcoólicas desenvolvidas
pelo humano, sendo a mais antiga e a terceira mais popular do mundo, ficando
atrás, apenas da água e do chá.
A
agricultura, incluindo a da matéria prima da cerveja, a cevada, surgiu por
volta de 6000 a.C., na Mesopotâmia, espalhando-se pelos povos sumérios,
egípcios e ibéricos, durante o período da revolução do Neolítico e a Idade dos
Metais. Leis de produção e venda da bebida foram instituídas desde então, a
mais antiga é a Estela de Hamurabi, em 1760 a.C., que condenaria à morte quem
desrespeitasse os critérios. Os clientes também tinham deveres perante essas
leis. O código também previa que o povo da Babilônia consumisse 2 litros para
os trabalhadores, 3 aos funcionários públicos e 5 aos administradores e Sumo
Sacerdote.
No
antigo Egito, a cerveja, de acordo com o escritor grego Ateneu de Náucratis,
teria sido desenvolvida para ajudar aos que não podiam pagar o vinho. Qualquer
açúcar, ou alimento que contenha amido pode sofrer fermentação, de forma
natural. Um poema sumeriano de três mil e novecentos anos, homenageando a deusa
dos cervejeiros, Ninkasi, contém a mais antiga receita conhecida, que descreve
a produção da cevada utilizando pão.
Para
os romanos, durante a República, o vinho derrubou a cerveja, deixando-a como
bebida própria de bárbaros, que fora preparada pelos povos germânicos. Na Idade
Média, diversos mosteiros fabricavam a cerveja, distribuindo ervas
aromatizantes na fabricação, e o lúpulo, utilizado até os dias de hoje para dar
o gosto amargo e preservar a bebida, essa aplicação é atribuída aos monges do
Mosteiro de San Gallo, na Suíca. Na época do Vikings, as famílias tinham suas
próprias varas de cerveja, eles utilizavam essas varas para agitar a bebida
durante a produção. Era uma herança de família, segundo eles, o uso das varas
garantia que a cerveja daria certo. Em cada vara havia uma cultura de levedura.
As
cervejas foram ganhando novas adições de especiarias e tornando-se cada vez
mais artesanais, mesmo em sua grande produção. As famosas “ales”, por exemplo, eram
produzidas com as leveduras em temperatura alta, por acidente foi descoberto o
tipo “lager”, que ultrapassou a produção das “ales”. Esse tipo foi descoberto
no século XVI, quando as bebidas eram estocadas em cavernas frias por longos
períodos.
O
mundo todo passou a compartilhar a produção da cerveja. A França, por exemplo,
cultiva o lúpulo desde o século IX. Enquanto, na Inglaterra produzia-se a
cerveja tipo “ale” sem a adição do lúpulo, que com sua aplicação daria o nome
de cerveja ao resto do mundo. A cerveja com lúpulo era importada para a
Inglaterra a partir dos Países Baixos, desde 1400, em Winchester. Os ingleses
fabricantes de cerveja especificavam que nenhuma “ale” teria adição de qualquer
outro elemento fora a água, malte e uma levedura. Contudo, o lúpulo passou a
ser cultivado por lá e “ale” passou a referir-se a qualquer tipo de cerveja
forte, e passaram a conter o lúpulo.
À
cerveja coube o estudo etimológico para entender a origem da palavra em
diferentes países e a todos entende-se a importância da bebida, originada de
culturas fundamentais para as sociedades.
A
Alemanha ganhou a graúda fatia famosa da produção cervejeira, inclusive, em
1516, a Reiheitsgebot, Lei da Pureza Alemã, definia os únicos materiais
permitidos para produção da cerveja, bem como malte, lúpulo e água. Porém com a
evolução das produções, essa lei foi destronada, por exemplo, com a descoberta
do fermento e sua função final, por Louis Pasteur. Mas, os alemães preservaram
sua cultura e produzem ainda os melhores rótulos do mundo, alguns que podem,
inclusive, serem tranquilamente consumidos sem refrigeração, preservando a
temperatura ambiente.
As
festas alemãs, evidentemente, seriam regadas à muita cerveja, com direito aos
embutidos que só eles sabem preparar.
Chegando
ao Brasil, o mercado cervejeiro tornou-se o quarto maior do mundo, produzindo
mais de 10 bilhões de litros. A AmBev é uma das maiores marcas, em market share
e consumo no Brasil. A empresa de capital aberto reúne os rótulos Skol,
Antártica, Bohemia, Original, Serra Malte, Polar e a Brahma, que patrocinou a
Oktoberfest paulista.
A
Oktoberfest de Bulmenau é o evento mais famoso da cerveja no Brasil, recebendo
um fluxo turístico elevado na época. Em São Paulo, o evento contou com uma
grande produção, bandas típicas, concursos de bebidas, vestidos sulistas e
tranças aloiradas, os tradicionais chapéus cheios de bótons e sem faltar o
esbanjo do chopp nas canecas boêmias do público.
Com
o cair da noite o público foi aumentando nos camarotes e na pista, as
lembrancinhas e presentes saiam das prateleiras das lojas e o chopp da Brahma
encheu até o caneco deste colunista que vos fala, com um sabor inigualável e um
colarinho mais branco do que o meu, que já estava suando como as torneiras
geladas dos barris.