sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Peter Pan ainda é a montagem predileta da criançada, em cartaz em SP


Não fiz um estudo sobre isso, mas acredito que a história de Peter Pan seja  uma das mais lembradas dentre os infantis, justamente por tratar-se de uma infância infinita e, ainda, talvez por esse motivo seja tão lembrada pelos adultos. Com requintes de produção balanceados a uma simplicidade nas cenas, Peter Pan volta para os cartazes paulistanos e sob o pó mágico da fada Sininho o menino da Terra do Nunca pousa no Teatro Ressureição com os amigos João, Wendy e o destemido Capitão Gancho.

Fui ao teatro esperando encontrar-me com a infância, após tê-la vivido há alguns anos sob a companhia de diversos livros, acredito que até por isso tenha escolhido trabalhar com as palavras. Peter Pan sempre foi uma das minhas histórias prediletas, mas estreei no teatro com o papel do Visconde de Sabugosa, personagem de Monteiro Lobato na obra do Sítio do Picapau Amarelo. Nunca encontrei a vocação exata para fazer as estripulias de Peter e contentei-me em ser espectador dos filmes, das histórias em livros e das montagens musicais e teatrais. Assisti a inúmeras montagens, das mais suntuosas às mais singelas e amadoras e há tempos não encontrava uma tão tácita e próxima ao público. Peter Pan, dirigido por Tiago Pessoa é a coqueluche da “kids-Broadway” paulistana atual.

Contamos nos dedos de uma mão apenas, alguém que não conheça Peter Pan, mas, vamos lá! Peter Pan é um garoto diferente de todos os outros, com suas vestes elaboradas para uma vida de aventuras, o menino recusa-se a crescer e por isso habita, junto a diversas figuras, a Terra do Nunca. Como em toda história, há o vilão que tentará aterrorizar os caminhos do “Todos viveram felizes para sempre”. Em Peter Pan não poderia ser diferente, nas águas da Terra do Nunca o barco do grotesco Capitão Gancho mira a captura de Peter. Ao lado da fada Sininho, Peter viaja para a cidade e adentra ao quarto dos irmãos João e Wendy, fascinados por histórias e contos. O garoto os leva para conhecer sua terra e por lá vivem aventuras fascinantes e que serviram de inspiração para tantos outros contos.
A produção do espetáculo, formada pela Pessoa Neo Produções e RPR Produções, configura toda a história em uma adaptação, assinada por Elisa Reis, apropriada para a atenção dos pequenos espectadores, que correm o risco de dispersarem a qualquer instante. Isso acontece no tempo exato, permitindo que as crianças conversem, “alertem” os personagens do perigo de Capitão Gancho, pois cada ator fala no tom adequado, ligando imediatamente o texto ao público. E a criançada quer participar, quer falar e dar palpite. Espetáculo infantil tem essa magia. Os movimentos das danças, pois trata-se de um pequeno musical, são coreografados por Ruy Brissac e Delidia Duarte com sincronismo e a certeira atenção aos limites do palco e a extensão muscular de cada ator, além da desenvoltura no espetáculo que cabe a cada personagem. A iluminação é um flash que desenha muito bem a fotografia das cenas, sob o comando de Robson Vellado, que faz questão de usar cores leves para um tom pueril ao espetáculo. Todo este desenho de luz contorna o cenário que é visto como um relevo das obras literárias que contam a história de Peter Pan, portanto é um deslumbre, com simplicidade, autenticidade e de uma beleza deleitosa aos olhos de quem assiste.

Peter Pan foi criado em 1911, pelo escocês J.M. Barrie e foi para o teatro, depois ganhou adaptação para os livros e para o cinema. O personagem nasceu enquanto Barrie praticava um de seus prazeres, contar histórias para dois filhos de uma amiga muito especial. Quando os pais destas crianças morreram, ele passou a ser co-tutor dos filhos da amiga, porém sem adotá-los. Imagina-se que a inspiração de Barrie tenha vindo de um casamento de ideias, Peter era o nome de um dos meninos, para quem ele contava histórias, e Pã é o nome de um deus grego, considerado o deus das florestas, dos bosques e dos vales, segundo a mitologia ele era muito esperto e trazia consigo sempre uma flauta e era temido por quem precisava atravessar as florestas durante a noite. Fazendo referência a isso, em Londres há uma estátua de Peter Pan tocando flauta.
A ideia da eterna juventude pode ter vindo após a morte do irmão mais velho de Barrie, David. O acidente, numa pista de patinação, quando ainda tinha 13 anos de idade, abalou profundamente sua mãe, que nunca se recompôs. O conforto dela foi pensar que ele teria morrido tão jovem para eternamente permanecer jovem. Barrie entrelaçou diversas inspirações para o nascimento do menino Peter Pan, que corre aos olhos e ouvidos do mundo inteiro.

Eu já vi Peter Pan interpretado até por menina, talvez pela delicadeza em alguns de seus movimentos e a destreza para dança, que a mulher possuí em sua musculatura. Porém, Peter nasceu de uma ideia diferente dessas, apesar de ótimas montagens, elaboram Peter Pan com uma delicadeza distante da realidade de quem vive entre aventuras no ar e nas florestas. Tiago Pessoa dirige o personagem, interpretado por Matheus Paiva, com a exata figura descrita pelo autor e adaptada para essa versão. Matheus cumpre uma desenvoltura jazzística, de dança e movimentos, com leveza e rapidez, tudo isso casado a expressões e uma dicção justa para o conjunto da obra. Ator bárbaro, digno de aplausos e dos olhinhos atentos da moçada.
Aline Carvalho vive Wendy, com doçura e a ternura colorida que lhe cabe. Ótima parceria com os atores que mais contracena e compactua belamente seu olhar com o público. Os movimentos executados por ela em um número aéreo, suspensa sobre panos, apresenta certo engessamento na evolução por conta do figurino que usa, acaba não desvelando nenhuma surpresa e torna-se um elemento sem muito requinte, porém não é descartável.

A tão adorada fada Sininho, que volta atrás para recuperar sua doçura, após erros e trapalhadas, é interpretada por Gabriela Carvalho, dotada de expressões que descrevem seu texto ausentando a fala sem fazê-la necessária. Lucas Britsky é o Capitão Gancho e configura o personagem na dosagem correta, para não pesar com pavor nenhuma cena. É um personagem de peso, escolhido com acerto para aquela produção. André Haidamus é o ajudante do Capitão, e surge para ele como um papagaio de pirata, explorado por ele e posto ao elenco com a comicidade que entretém o público. Bruno Figueira e Larissa Lessa são as crianças que entregam-se ao clima jovem do espetáculo na Terra do Nunca.
Paulo Candura veste os personagens acertando cada peça deste xadrez às suas casas montadas para um jogo bem feito. Cada costura é trabalhada com a necessidade de manter o destaque da obra como ela é.  Jay Vaquer assina as canções da obra, que não são entoadas pelos personagens. Isso é uma pena, porém microfones cabem aos espetáculos com mais recursos de produção. Para a bilheteria e a montagem deste Peter Pan tudo está como deveria ser.

Alguém lembra-se do ponto fraco do Capitão Gancho? É nele que está a surpresa tão bacana do espetáculo, dirigida com frescor e sem agressão ao texto, nem ao público. O que entra ao teatro... Bom, eu não vou contar. Eu sugiro que vocês assistam para saber!

Peter Pan está em cartaz no Teatro Ressurreição, em São Paulo. Aos sábados e domingos às 17h30. Os ingressos custam R$ 30,00 inteira e R$ 15,00 meia entrada. Podem ser comprados pelo Ingresso.com na internet, ou não bilheteria do teatro, quem tem sempre uma fila enorme de grandes e pequenos espectadores.

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