Demorei
pra escrever sobre ela, sobre esse álbum de 25 anos. Eu fiquei procurando o que
havia de inédito nisso tudo e encontrei, a própria Roberta. Acho ela inédita
sempre. Dentro de seu estilo, que espalha do sertanejo e vaza para outros
ritmos. Sua irreverência ultrapassa a rigidez do palco e confunde Roberta entre
a majestade e o sabiá. Majestade na arte de imperar naquilo que canta. Sabiá
por cantar. “Roberta Miranda, 25 anos”, pela Som Livre.
Roberta
é daquelas que vai pegando o violão, entre um café e outro, entre um copo e
outro, e grava no papel. Borra-lhe com canções próprias. Uma mulher que compõe
já é algo poético. O sertanejo é poético, sobretudo quando cantado sem aquele
vibrato insuportável que é de qualidade da classe. A Roberta não cabe em nenhuma
versão masculina, porque os caras do sertanejo ultrapassam o limite do que é
cantar e alcançam-o no grito. Roberta, mesmo na seriedade do olhar, canta e
cumpre o seu papel.
Ela
não é o destaque supremo da música popular brasileira, mas tem meu respeito.
Não só o meu. Roberta coube direitinho dentro de seu estilo e foi comportada em
avançar por outros. Colocou no álbum em que comemora os 25 anos uma homenagem a
própria vida, a da música. Foi sincera com a própria originalidade. Ficou
bonito, um pouco incômodo, mas bom! Incômodo por encarcerar-se num estúdio,
mesmo com um gato pingado de público que cabia ali dentro. Mas, não naturaliza
a coisa, foge do seu jeito, mas ao mesmo tempo deixa a gente mais íntimo dela,
como ela gosta. Colocando o DVD você sente-se ao lado dela. Mas, ainda sim,
incomoda-me um pouco. Gosto de cantor do lado de fora, colocando a equipe pra
carregar caixa, entrar e sair de avião e encher o palco de câmeras, como
grava-se um ao vivo.
Roberta
tem um jeito original de cantar, uma dureza que parece resistir a saída da voz,
mas sai com uma salpicada de barzinho. Roberta cantou por anos na noite e isso
ainda resiste em seu presente.
Neste
álbum, Alcione leva seu samba para um gingado tímido de Roberta. Ela não poupa
a banda, e cobra-lhes um monte de ritmos. Comemora os 25 anos sem precisar
dizer: “sou sertaneja!” Se Roberta fosse só o sertanejo, sem preconceito, eu
não a ouviria. Tem gente demais estragando essa classe e eu acabo
distanciando-me disso.
Roberta
Miranda não precisa de disco barato, de produzir cores em capa pra vender
disco. Ela é ela, goste quem gostar. Cafona? Brega? Já ouvir dizerem e acho
isso muito chato de dizer, pois quem diz perde consigo mesmo. Quem nunca cantou
“Vá com Deus”?... não sabe o que é soltar a voz sem compromisso. “Vá com Deus”
está no álbum, como benção de carreira.
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