sábado, 26 de maio de 2012

Gal Costa coloca SP de pé e novamente emociona público



Gal agora está em casa, São Paulo é o seu mais novo endereço e que, segundo ela, é o lugar que mais lhe conforta e a retrata atualmente. Foi por aqui que ouvimos a estreia paulista do álbum “Recanto”, do qual já falei, muito bem por sinal, em minha estreia aqui na RedeTV!, portanto vou direto ao show, que aconteceu na última quinta-feira (24), no HSBC Brasil, e também na sexta. Mesmo rouca, por conta de uma faringite, Gal celebrou sua música no palco.

Numa plateia recheada de estrelas, lá estava Caetano Veloso, o diretor de “Recanto”, que sintetizou muito bem a história de Gal Costa nas letras das canções, de um álbum completamente eletrônico. Gal surge ao palco iluminada apenas por um facho de luz, e sob aplausos abre sua voz cantando “Da Maior Importância”, antiga composição de Caetano. Logo era possível sentir a desobediência entre o tom e as cordas vocais da cantora. Recentemente dois shows foram cancelados decorrente à uma faringite, porém ela resolveu encarar São Paulo e prometeu fazer um lindo show, e assim foi.

Gal brincou, conversou com o público, era uma veterana menina no palco, ao lado dos espetaculares solos do guitarrista Pedro Baby. Eu nunca pensei que ia assistir e ouvir a maior cantora do Brasil rouca e achar tudo maravilhoso, de fato era um recanto, onde cada letra trazia de volta sua história, seu tom, seu olhar e revelava uma grandiosa atriz num palco da música. Em “Folhetim”, de Chico Buarque, Gal deu voz ao público, e deixou que pudéssemos reforçar o tom que parecia vir com suor se recuperando no show.
 Há quem diga do porque não ter desmarcado o show, e eu penso que Gal já pode ousar o que bem entender sob um palco, e mesmo assim ela não se cansa de bem produzir, de inovar. Quando parecia que todo o show seguiria arranhando as cordas vocais, “Minha voz, minha vida”, de Caetano, parecia voltar dos anos 80 para calhar naquele instante. Mas foi na novíssima composição dele, “Autotune Autoerótico”, que a voz parecia entrar no eixo daquela Gal que veio da Bahia, para ser chamada por João Gilberto de “a melhor cantora do Brasil”. A canção traduz exatamente a imensidão de Gal para a música e a história brasileira, “Não, o autotune não basta pra fazer o canto andar”, é preciso ser a tradução correta de uma intérprete para à frente de uma banda e de uma legião de fãs mostrar como é que se canta. A canção ainda conta um trecho de sua história, quando Gal, para ouvir sua própria voz e poder ajustá-la, colocava ao ouvido uma panela e cantava à sua metade, funcionando como um retorno, “americana global, minha voz na panela lá”. Foi assim que o público a aplaudiu de pé, mesmo sem ter terminado a canção, e a ovacionou com emoção.

Em “Miami Maculelê”, o funk aventureiro de Caetano, Gal também soltou o corpo, e tirou o público das cadeiras. “Baby”, “O amor”, “Vapor Barato”, e então “Um dia de Domingo”, relembrou os graves de Tim Maia. Gal o imitou na segunda parte, e não deixou a voz perder o tom em nenhum instante. O show ia chegando ao fim, quando Gal Costa voltou ao palco sob a baixa e intimista iluminação, cantando “Mansidão”, “Força Estranha” e “Meu Bem, Meu Mal”. A voz já estava quente, São Paulo entendeu a situação, e saímos de lá colocando Gal num posto ainda acima do que ela já está, se é que é possível. Fiquei surpreso, ou talvez já esperava. Não tenho medo de ouvir Gal, sei que será sempre suntuoso. Gal também se ouve com os olhos, sente-se, e aí vem os ouvidos, que nunca se decepcionam.

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