quinta-feira, 31 de maio de 2012

Wagner Moura desafina e público salva tributo à Legião Urbana


Vão dizer por aí que jornalista é carne de pescoço, pessimista, extremista e o que mais puderem tirar do diabo e colocar na gente. Mas, espera! Não dava para deixar passar batido, nem a preocupação, muito bacana, por sinal, da MTV em homenagear Renato Russo, nem as falhas que ocorreram no show, que aconteceu nos dias 29 e 30, no Espaço das Américas, em São Paulo. O público, entusiasmado, cantou muito e salvou o tributo.

Eu fico sempre receoso com esses tributos, porque em grande parte saem um cambalacho. É gente emocionada, o cantor chora, vira uma missão impossível. Wagner suou no palco, tirou fôlego até de onde não tinha. A voz não estava preparada, ele tentou por diversas vezes igualar seu timbre ao de Renato, engrossando a voz bem perto do microfone, mas logo vinha um grave riscando um agudo ao mesmo tempo, e ficava tudo estranho. Microfonia também foi uma das falhas, além de instrumentos desafinados e o descompasso da guitarra de Dado Villa-Lobos, que cheio de marra sapecava os dedos nas cordas.

Achei bacana o palco, iluminado por bastões e com uma projeção inteligente no teto, aprofundando a direção cenográfica. Wagner entregava ao público a missão de cantar, em algumas músicas, e foi bacana pra poupar nossos ouvidos de alguns de seus estragos vocais amplificados pelo microfone.

Não tem como dizer que foi um ensaio público, porque nos dois dias os erros se repetiram, o mesmo abuso de algo que parecia tornar-se impossível à cada música que sucedia o fracasso da anterior. Mas volto a dizer, o público estava tomado de emoção, isso contou. A intenção também é bacana, sei o quanto o Wagner é fã do Legião e do Renato, mas até então, muita gente boa é. O cara é bom ator, mas como cantor vai entrar pra tributo também.

Dado disse que Wagner é um homem de coragem, e eu tenho que fazer das palavras dele, as minhas. É preciso realmente coragem.

Marcelo Bonfá e Dado Villa-Lobos fizeram um dueto bacana em “Geração Coca-Cola”, com a gaita de Clayton Martin, dessa vez sem Wagner. “Andrea Doria” é a canção preferida do ator, evidente que não foi suficiente para uma boa apresentação, que aconteceu com a participação de Fernando Catatau. Sabe quando aquela pessoa que canta mal pra caramba sobe no palco do karaokê afim de estilhaçar o estribilho da gente? Então, definido está!
Dado Villa-Lobos tomou a guitarra em mãos para relembrar os sucessos da Legião, Marcelo Bonfá na bateria, Rodrigo Favaro no baixo, Caio Costa fazia os arranjos e o teclado, enquanto Gabriel Carvalho mandou no violão. Andy Gil, do Gang of Four, e Bi Ribeiro, dobraram no palco com “Damaged goods” e “Ainda é cedo”.

A Legião Urbana teve suas origens em Brasília, no ano de 1982. Com 16 álbuns, foram vendidos mais de 20 milhões de cópias pelo mundo todo, e ainda continua liderando o catálogo da EMI. A Legião formava o quarteto sagrado do rock brasileiro, junto ao Barão Vermelho, Titãs e Paralamas do Sucesso. Acho até que deveriam ter chamado os caras pra cantarem no tributo. Renato era um cara filosófico, profundo em suas composições, não preocupava-se no tempo que duraria a melodia no palco. A banda estourou em todos os cantos, e parou de fazer shows em 1995, com uma apresentação em Santos, no “Reggae Night”. Mesmo com o fim dos shows, um álbum foi lançado, “Uma outra Estação”, e poucos dias após o lançamento de “A Tempestade”, penúltimo álbum de estúdio, em 1996, faleceu Renato Russo, por consequências da AIDS.

O show em tributo à Legião Urbana acabou com “Será”, com o timbre de Wagner descendo uma ribanceira. Até aqui, nenhuma novidade né? Wagner afirmou: “Eu não vou esquecer nunca isso”! E eu pergunto: “quem de nós esquecerá?”

Muita gente deve estar descordando de mim neste instante, mas eu sou jornalista, jamais me atreverei a homenagear Pina Bausch dançando balé num tributo. Acho que tributo é homenagem, e não distorção. Cada um precisa aturar seu limite. Wagner é um bom ator, sua performance no palco foi espetacular. Ele chorou, deitou, cantou olhando pro teto, interpretou canções jamais arranjadas no palco pelo Legião. Tem um monte de menininhas aborrecidas comigo. Mas entendam, ele pode ser ídolo, ser o galã do cinema, porém ele não passará disso para nenhuma garotinha histérica. Foi bacana o esforço, mas agora eu é que faço um tributo ao Wagner, calando-me! 

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