Vão
dizer por aí que jornalista é carne de pescoço, pessimista, extremista e o que
mais puderem tirar do diabo e colocar na gente. Mas, espera! Não dava para
deixar passar batido, nem a preocupação, muito bacana, por sinal, da MTV em
homenagear Renato Russo, nem as falhas que ocorreram no show, que aconteceu nos
dias 29 e 30, no Espaço das Américas, em São Paulo. O público, entusiasmado,
cantou muito e salvou o tributo.
Eu
fico sempre receoso com esses tributos, porque em grande parte saem um
cambalacho. É gente emocionada, o cantor chora, vira uma missão impossível.
Wagner suou no palco, tirou fôlego até de onde não tinha. A voz não estava
preparada, ele tentou por diversas vezes igualar seu timbre ao de Renato,
engrossando a voz bem perto do microfone, mas logo vinha um grave riscando um
agudo ao mesmo tempo, e ficava tudo estranho. Microfonia também foi uma das
falhas, além de instrumentos desafinados e o descompasso da guitarra de Dado
Villa-Lobos, que cheio de marra sapecava os dedos nas cordas.
Achei
bacana o palco, iluminado por bastões e com uma projeção inteligente no teto,
aprofundando a direção cenográfica. Wagner entregava ao público a missão de
cantar, em algumas músicas, e foi bacana pra poupar nossos ouvidos de alguns de
seus estragos vocais amplificados pelo microfone.
Não
tem como dizer que foi um ensaio público, porque nos dois dias os erros se
repetiram, o mesmo abuso de algo que parecia tornar-se impossível à cada música
que sucedia o fracasso da anterior. Mas volto a dizer, o público estava tomado
de emoção, isso contou. A intenção também é bacana, sei o quanto o Wagner é fã
do Legião e do Renato, mas até então, muita gente boa é. O cara é bom ator, mas
como cantor vai entrar pra tributo também.
Dado
disse que Wagner é um homem de coragem, e eu tenho que fazer das palavras dele,
as minhas. É preciso realmente coragem.
Marcelo
Bonfá e Dado Villa-Lobos fizeram um dueto bacana em “Geração Coca-Cola”, com a
gaita de Clayton Martin, dessa vez sem Wagner. “Andrea Doria” é a canção
preferida do ator, evidente que não foi suficiente para uma boa apresentação,
que aconteceu com a participação de Fernando Catatau. Sabe quando aquela pessoa
que canta mal pra caramba sobe no palco do karaokê afim de estilhaçar o
estribilho da gente? Então, definido está!
Dado
Villa-Lobos tomou a guitarra em mãos para relembrar os sucessos da Legião,
Marcelo Bonfá na bateria, Rodrigo Favaro no baixo, Caio Costa fazia os arranjos
e o teclado, enquanto Gabriel Carvalho mandou no violão. Andy Gil, do Gang of
Four, e Bi Ribeiro, dobraram no palco com “Damaged goods” e “Ainda é cedo”.
A
Legião Urbana teve suas origens em Brasília, no ano de 1982. Com 16 álbuns,
foram vendidos mais de 20 milhões de cópias pelo mundo todo, e ainda continua
liderando o catálogo da EMI. A Legião formava o quarteto sagrado do rock
brasileiro, junto ao Barão Vermelho, Titãs e Paralamas do Sucesso. Acho até que
deveriam ter chamado os caras pra cantarem no tributo. Renato era um cara filosófico,
profundo em suas composições, não preocupava-se no tempo que duraria a melodia
no palco. A banda estourou em todos os cantos, e parou de fazer shows em 1995,
com uma apresentação em Santos, no “Reggae Night”. Mesmo com o fim dos shows,
um álbum foi lançado, “Uma outra Estação”, e poucos dias após o lançamento de
“A Tempestade”, penúltimo álbum de estúdio, em 1996, faleceu Renato Russo, por
consequências da AIDS.
O
show em tributo à Legião Urbana acabou com “Será”, com o timbre de Wagner descendo
uma ribanceira. Até aqui, nenhuma novidade né? Wagner afirmou: “Eu não vou
esquecer nunca isso”! E eu pergunto: “quem de nós esquecerá?”
Muita
gente deve estar descordando de mim neste instante, mas eu sou jornalista,
jamais me atreverei a homenagear Pina Bausch dançando balé num tributo. Acho
que tributo é homenagem, e não distorção. Cada um precisa aturar seu limite.
Wagner é um bom ator, sua performance no palco foi espetacular. Ele chorou,
deitou, cantou olhando pro teto, interpretou canções jamais arranjadas no palco
pelo Legião. Tem um monte de menininhas aborrecidas comigo. Mas entendam, ele
pode ser ídolo, ser o galã do cinema, porém ele não passará disso para nenhuma
garotinha histérica. Foi bacana o esforço, mas agora eu é que faço um tributo
ao Wagner, calando-me!
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