terça-feira, 9 de julho de 2013

Centenário de Vinícius de Moraes é comemorado em São Paulo


Dos meus olhos minavam água, de beber ou de benzer camará, mas eram lágrimas doces que destilavam-se feito o uísque do velho poeta. Era a música de Vinícius de Moraes exalando pelo corpo, exumando todo o mundo, e isolando-nos ao Auditório Ibirapuera, na noite do último sábado (6), em São Paulo. Lá dentro, um dos maiores espetáculos, em grandeza musical e emocional, tiravam a letra de Vininha do papel e reinventavam uma nova noite com o poeta.

Na abertura do espetáculo, o Coro da Escola do Auditório Ibirapuera desfilou canções em um controle de timbres impecável. Ousaram cantar “Dora” com os pés descalços e a vibratilidade de inúmeras vozes, Caymmi abria os trabalhos para Vinícius de Moraes.

Quando aquele bocado de gente entrou no palco, fazendo valer a máxima de melhor coro de São Paulo, Vinícius parecia sentar novamente em sua cadeira e preencher o corpo de uísque e os nossos de poesia. O maior poeta do Brasil, em minha opinião, descia do céu em voz!

Fabiana Cozza, a voz do samba, o coro monólogo feminino do palco, revestiu-nos com um timbre de causar arrepios. Ô, nega... você levou meu coração contigo. Feito um monumento de notas, cantou “Berimbau” arrancando além das três notas que o instrumento comporta.

Jean William, o jovem tenor, jogava pela boca notas em palavras enquanto sorria. Seus olhos gritavam um brilho que respingava em um por um de nós, humildezinhos na plateia. O menino ficou gigante!
O jornalista e ator Oswaldo Mendes contava com poesia, e não poderia ser diferente, rasgando sua voz marcante feito o cortar de uma seda molhada, recontando os caminhos do poeta. Até Fred Rossi, o último empresário de Vinícius, reviveu seus intensos momentos ao lado da mesinha e do inseparável uísque do amigo.

A orquestra não poupou notas, suor e coração. Martinho Lutero divertia as mãos à regência daquele batalhão vocal sobre o palco e parecia tirar dos dedos a alegria de Vinícius.

Teco Cardoso soprava mais do que um som, soprava tudo que havia dentro de si. No piano, renascia uma partitura que nunca envelheceu, Hércules Gomes tratou das teclas como deve-se tratar a própria vida.

Poucas vezes, raríssimas vezes, encantei-me outra vez com o poeta. É uma raridade um encontro desses. Ficou lá, a solitária mesinha de Vinícius, só não tão só porque o uísque entornava-se sobre ela, como nos velhos tempos. Saudades do maior!

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