Resolvi
dar-me de presente essa coluna tão especial de hoje. No dia do meu aniversário
nada poderia ser tão gratificante quanto escrever sobre o ícone de maior
expressão do teatro brasileiro e da música mundial. Vou comemorar o dia de hoje
com Bibi Ferreira!
Na
última sexta-feira (19), estive num acontecimento quase que indescritível...
Bibi cantando Piaf mexe com o coração da gente. Exatamente, a dama do teatro
estreou “Bibi canta e conta Piaf”, acompanhada da elegância de Nilson Raman.
Nilson
ia ciceroneando Bibi com os olhos, passando-lhe as honras de canções emotivas,
narrativas e delicadas. Bibi era Piaf... Bibi era além de Édith Piaf.
Enquanto
as cerdas dos violinos eram cerradas e o piano sofria as dedilhadas de João
Bittencourt, as batutas do maestro Flávio Mendes triscavam o vento e um som
anunciador revirava nossos ouvidos e destrinchava os corações. Bibi cabia
direitinho dentro de “La Foule”, com seus passos suaves, sob um salto imenso e
uma idade de menina, na disposição de uma dama!
Falando
em francês, além de cantar... ouvindo as notas como quem ouvia uma mãe
dedicar-lhe histórias no anoitecer. Bibi trazia a graça de Procópio, o
idolatrado pai, e a alegria de suas glórias. Nilson Raman despontava um
contentamento sublime, namorando a Piaf de Bibi numa ponta do palco, como quem
queria correr sobre um flor e sugar-lhe o mel. Mas o mel ia escorrendo de Bibi
e lavando-nos ali embaixo.
Com
introduções aportuguesadas, na marolinha brasileira e de lábios lusos, Bibi
fazia serenatas com “Hymne à L’amour”, cantando-a como quem preenchia um
espetáculo inteiro.
Raman
não ficaria apenas na pontinha do palco, no deliciar de Bibi. Ele correu pra
cima da flor, tomou-a nos braços e sapecou-lhe o fraterno beijo. “A Quoi a ça
sert L’amour” unia-os generosamente. A emoção apontava-se necessária e
obrigatória neste instante. De lágrimas e risos no rosto!
Bibi
trazendo Piaf de volta ao Olympia em plena condição das noites geladas
paulistanas, é como chocar o coração contra um emaranhado doce de notas. “La
vie en rose” em vibratos que trepidavam o peito. “Non, Je Ne Regrette Rien”
resplandeceu em calvário e beleza os últimos suspiros de Piaf no fôlego imortal
de Bibi Ferreira.
Não
sei se ela é a tradução de Judy Garland, ou o reencontro de Piaf com a vida!
Sei, por sentir aos pés dela, que Bibi é ainda maior que o gigantismo de Édith
Piaf e mais ampla e profunda que a expressividade de Judy Garland. Bibi é um musical
em pé!
“Bibi
canta e conta Piaf” comemora os 30 anos dela cantando a maior da França. Sob a
vívida e saborosa produção de Ricco Antony, que navega o teatralismo e a
musicalidade de Bibi num só encontro e a realização da Montenegro e Raman, o
espetáculo ficará em cartaz no Teatro Frei Caneca, em São Paulo, até setembro.
As apresentações acontecem às sextas, sábados e domingos. Os ingressos custam
R$ 120,00.
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