Na
última semana, as três vozes que nasceram da inspiração de Caymmi reuniram-se
em São Paulo, no Sesc Vila Mariana, para comemorar o centenário do pai.
Fechando os olhos, era possível enxergar o sorriso de Dorival que ao mesmo
tempo cantava sob a estonteante voz dos filhos. Tal pai, tal filhos!
Nana
dizia: “essa eu vou arrasar”. Ela sabe que arrasa! E a cada canção, entre um
gole de uísque, uma quebra na água, adentravam as vozes dos irmãos como se
ensaiassem aos nossos olhos sem medo de errar. Caymmis não erram... sorriem e
saem cantando.
Canções
que eu não ouvia há anos, e que só entre família emboscam-se na intimidade e na
simplicidade luxuosa de Dorival Caymmi. Bastavam os olhos brilhantes de Nana e
a emoção dos irmãos para que aquela noite findasse uma homenagem ao homem que
melhor cantou a Bahia e resumiu seu Brasil numa terra que tem cheiro e deixa
saudades.
Dori
e Danilo faziam dupla agrupando suas vozes na mesma extensão do velho mestre. A
simpatia do velho mestre. A genialidade musical do velho mestre. Quando tudo
parecia gigante, Nana Caymmi surge entre as sereias homens e desponta um
sorriso de quem quer o “Acalanto” do pai, na voz dos meninos. Um gole de uísque
e três goles de Dorival!
Meu
Deus, como eu queria ter ouvido Nana cantando “Maricotinha”, mas a canção ficou
para a voz dos rapazes, que não fizeram por menos, restaurando a carmenmirandisse
de “O Que é Que a Baiana Tem?”. Como se fossem fazer nossa adrenalina adormecer
no balanço do berço cantado por Caymmi, os três soltam “História pro
Sinhôzinho” e “Cantiga de Cego”. Não por menos, ensinam a receita do balanço da
mulher simples e sedutora mexendo o “Acaçá”.
Muitas
das mulheres da invenção de Dorival balançaram a poupança e os tornozelos no
palco. “Marina”, “Dora” e “Francisca Santos das Flores”, que ainda veio
cavalgada em fado por Nana. Vieram todas “Sem Poupar Coração” e vendo tudo aquilo
não teve como segurar as lágrimas, foi inevitável, eles arrebatam e não dá pra
segurar. “Aconteceu um Novo Amor”!
A
Bahia vinha de barco na “Suíte dos Pescadores” e a “Rainha do Mar” passava
entre a família seduzindo pela voz. “O Bem do Mar” era Dori em sua viola e
cabelos brancos. Ai, Dori... ô, Danilo... tanto do velho mestre cabe em suas
vozes!
A
santíssima trindade de Caymmi cantando juntos é como se estivessem de mãos
dadas com Dorival.
Dori
derramando lágrimas, Nana derramando uma das maiores vozes do mundo e Danilo
tirando o oco da flauta. Quem disse que não tem mais Dorival neste mundo? Tem
um acervo dele aceso no tripé dos filhos!
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