terça-feira, 2 de julho de 2013

Dori, Danilo e Nana Caymmi cantam a Bahia de Dorival em seu centenário


Na última semana, as três vozes que nasceram da inspiração de Caymmi reuniram-se em São Paulo, no Sesc Vila Mariana, para comemorar o centenário do pai. Fechando os olhos, era possível enxergar o sorriso de Dorival que ao mesmo tempo cantava sob a estonteante voz dos filhos. Tal pai, tal filhos!

Nana dizia: “essa eu vou arrasar”. Ela sabe que arrasa! E a cada canção, entre um gole de uísque, uma quebra na água, adentravam as vozes dos irmãos como se ensaiassem aos nossos olhos sem medo de errar. Caymmis não erram... sorriem e saem cantando.

Canções que eu não ouvia há anos, e que só entre família emboscam-se na intimidade e na simplicidade luxuosa de Dorival Caymmi. Bastavam os olhos brilhantes de Nana e a emoção dos irmãos para que aquela noite findasse uma homenagem ao homem que melhor cantou a Bahia e resumiu seu Brasil numa terra que tem cheiro e deixa saudades.

Dori e Danilo faziam dupla agrupando suas vozes na mesma extensão do velho mestre. A simpatia do velho mestre. A genialidade musical do velho mestre. Quando tudo parecia gigante, Nana Caymmi surge entre as sereias homens e desponta um sorriso de quem quer o “Acalanto” do pai, na voz dos meninos. Um gole de uísque e três goles de Dorival!

Meu Deus, como eu queria ter ouvido Nana cantando “Maricotinha”, mas a canção ficou para a voz dos rapazes, que não fizeram por menos, restaurando a carmenmirandisse de “O Que é Que a Baiana Tem?”. Como se fossem fazer nossa adrenalina adormecer no balanço do berço cantado por Caymmi, os três soltam “História pro Sinhôzinho” e “Cantiga de Cego”. Não por menos, ensinam a receita do balanço da mulher simples e sedutora mexendo o “Acaçá”.
Muitas das mulheres da invenção de Dorival balançaram a poupança e os tornozelos no palco. “Marina”, “Dora” e “Francisca Santos das Flores”, que ainda veio cavalgada em fado por Nana. Vieram todas “Sem Poupar Coração” e vendo tudo aquilo não teve como segurar as lágrimas, foi inevitável, eles arrebatam e não dá pra segurar. “Aconteceu um Novo Amor”!

A Bahia vinha de barco na “Suíte dos Pescadores” e a “Rainha do Mar” passava entre a família seduzindo pela voz. “O Bem do Mar” era Dori em sua viola e cabelos brancos. Ai, Dori... ô, Danilo... tanto do velho mestre cabe em suas vozes!

A santíssima trindade de Caymmi cantando juntos é como se estivessem de mãos dadas com Dorival.

Dori derramando lágrimas, Nana derramando uma das maiores vozes do mundo e Danilo tirando o oco da flauta. Quem disse que não tem mais Dorival neste mundo? Tem um acervo dele aceso no tripé dos filhos!

Mulheres! Bahia! Saudade! Cantigas! Sambas! Tanto Caymmi que não cabe num show só... é preciso viver muitas gerações pra entender que ele é imortal. Você ainda não sabe quem é Caymmi? Ninguém vai saber... “Nem Eu”... nem eu, nem ninguém. Quando a gente ouve Dorival Caymmi, a gente não pensa, a gente só ouve. Porque o corpo se acaba!

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