quinta-feira, 11 de julho de 2013

O inominável fado de Carminho


Nada me impressionaria mais do que Amália Rodrigues, nascendo em terras lusas. Nada violaria meus poros da pele, como Amália Rodrigues, vindo de terras portuguesas. Nenhuma voz em fado seria o ponto mais alto de uma sensação de paz, como Amália Rodrigues, saindo de terras irmãs... Talvez, não antes de Carminho!

Nos últimos tempos eu não ouvi nada mais belo. E belo em seu significado mais mitológico e profundo. Carminho é a entrada triunfal do fado no Brasil, e no mundo. De um jeitinho simples, com uma voz de parar todos os órgãos do corpo à passagem de um timbre incomparável.

Não há como sair citando canções, e tentando destrinchá-las ao som dos sentimentos todos que a fadista impõe enquanto canta. Há como ouvir, e esquecer de todos os títulos, sentir-se, talvez, com um pé na lua, num silêncio inundado de calmaria.

Quando, na última edição do Prêmio da Música Brasileira, Carminho subiu ao palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, ao lado de António Zambujo, era como se uma criança descobrisse a beleza de um encontro vocálico. “Vocálico”, por serem duas vogais simples, fundamentais para a extensão de um texto. Formaram um texto legível e impossível de ler, por emoção, quando dividiram “Sabiá”, de Tom Jobim. Naquele instante, Carminho tinha meu coração esmagado em suas mãos, apto a desfazer-se feito um farelo.

Incansável, na tarefa de impressionar, e de embarcar em caravelas singelas sua voz colossal, Carminho gravou “Cais”, com Milton Nascimento. “Carolina”, com Chico Buarque. E tornou-se o passarinho de Caetano Veloso. Veio de asas curtas, e pra mim já é uma águia!

Carminho tornou-se fundamental, como Amália. Tornou-se imprescindível, como sua presença que emudece no palco.

Sua voz atravessa pela traqueia não com a intenção de matar, mas sim com o propósito de ressurgirmo-nos.

Se você não conhece a alma de ninguém, basta ouvir Carminho. É possível notar a saída de sua alma do corpo, derramando-se poro a poro. Ao fim do som, ela volta tímida e encantada, ao corpo.

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