Nada
me impressionaria mais do que Amália Rodrigues, nascendo em terras lusas. Nada
violaria meus poros da pele, como Amália Rodrigues, vindo de terras
portuguesas. Nenhuma voz em fado seria o ponto mais alto de uma sensação de
paz, como Amália Rodrigues, saindo de terras irmãs... Talvez, não antes de
Carminho!
Nos
últimos tempos eu não ouvi nada mais belo. E belo em seu significado mais
mitológico e profundo. Carminho é a entrada triunfal do fado no Brasil, e no
mundo. De um jeitinho simples, com uma voz de parar todos os órgãos do corpo à
passagem de um timbre incomparável.
Não
há como sair citando canções, e tentando destrinchá-las ao som dos sentimentos
todos que a fadista impõe enquanto canta. Há como ouvir, e esquecer de todos os
títulos, sentir-se, talvez, com um pé na lua, num silêncio inundado de
calmaria.
Quando,
na última edição do Prêmio da Música Brasileira, Carminho subiu ao palco do
Theatro Municipal do Rio de Janeiro, ao lado de António Zambujo, era como se
uma criança descobrisse a beleza de um encontro vocálico. “Vocálico”, por serem
duas vogais simples, fundamentais para a extensão de um texto. Formaram um texto
legível e impossível de ler, por emoção, quando dividiram “Sabiá”, de Tom
Jobim. Naquele instante, Carminho tinha meu coração esmagado em suas mãos, apto
a desfazer-se feito um farelo.
Incansável,
na tarefa de impressionar, e de embarcar em caravelas singelas sua voz
colossal, Carminho gravou “Cais”, com Milton Nascimento. “Carolina”, com Chico
Buarque. E tornou-se o passarinho de Caetano Veloso. Veio de asas curtas, e pra
mim já é uma águia!
Carminho
tornou-se fundamental, como Amália. Tornou-se imprescindível, como sua presença
que emudece no palco.
Sua
voz atravessa pela traqueia não com a intenção de matar, mas sim com o
propósito de ressurgirmo-nos.
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