quarta-feira, 21 de julho de 2010

“I Love Neide”, uma cinquentona atrevida, com Eduardo Martini


No Teatro Ruth Escobar, na Bela Vista, em São Paulo, está em cartaz a comédia I Love Neide, de Pablo Diego e Marcelo Saback, com Eduardo Martini na pele e no figurino exuberante de uma senhora de 50 anos muito mau humorada e engraçada. Direção de Clarice Abujamra.

Com muita irreverência o ator Eduardo Martini, traz ao palco, mais uma vez, Neide Boa Sorte, abordando assuntos hilários do cotidiano, desde seu casamento com Waldisney, que a abandona e daí começam inúmeras recordações da personagem. A alma feminina, casamento e uma viagem a Salvador fazem parte do manual de sobrevivência desta tão indiscreta senhora. O ator Bruno Albertini participa do espetáculo, onde é sempre obcecado por Neide, enquanto entra ao palco para trocar alguns elementos do cenário. A platéia está efetivamente inclusa no roteiro da peça, quando Neide faz piadas e comentários do público.

Eduardo Martini é sem dúvidas um ator de comédia contemporânea, traz sempre aos palcos temas atuais, o roteiro de I Love Neide já foi feito há um bom tempo, porém foi reformado, tem novos comentários e o palco vem mais limpo. Não há cenário, tudo fica por conta da iluminação, que climatiza e nos faz imaginar os ambientes que não cobram cenário, apenas a luz leva o público ao lugar proposto pela direção e o roteiro.

O áudio é limpo, mesmo com toda a movimentação do personagem, que dança e impressionantemente rodopia sobre um salto alto, não há interferência na frequência do microfone. As expressões de Eduardo Martini transfiguram uma mulher bem mau humorada e intolerante, a dentadura que ele usa para compor Neide deixa sua voz muito mais engraçada. Esmalte vermelho nas unhas, cabelos bem penteados e exuberantes, vestido espalhafatoso, pois Neide Boa Sorte deixa bem claro que ser chic não é nada, quando ser rica é o melhor.

O ator equilibra-se sobre dois diferentes saltos, ele dança, canta, pula, com total liberdade no palco, mostrando sua versatilidade artística em frente a uma plateia disposta a dar muitas risadas com Neide. Ao final, a personagem consegue chegar ao seu compromisso, o qual se atrasa por ficar presa num banheiro, e em sua estréia num programa Neide Boa Sorte desce de uma escada dançando um animado som levando todo o público a cantar junto, é difícil ver que é um homem que faz tudo isso, que vem como uma vedete descendo os degraus com um vestido branco e plumas, porém o cômico é saber que é um homem, Neide não nos permite ficar lembrando de Eduardo, ela é uma cinquentona atrevida no palco e só ali podemos vê-la com tanta audácia.

O público participa muito da peça, os apoiadores e patrocinadores são parte do espetáculo e além do incentivo deixam o público ainda mais sorridente quando Neide os presenteia com surpresas. Recomendo I Love Neide a todos que querem dar boas risadas. No Teatro Ruth Escobar, todos os domingos, às 19:30h, até 28 de novembro.

terça-feira, 20 de julho de 2010

“IN ON IT”, um ensaio sobre a vida


A gente já vai chegando ao teatro e encontra os atores passeando pelo palco, as cortinas abertas e o palco cru. Assim é In On It, em cartaz no Teatro Eva Herz, no endereço literário mais nobre de São Paulo, a Livraria Cultura, na Avenida Paulista. O texto é de Daniel MacIvor, tradução de Daniele Ávila e a respeitável direção de Enrique Diaz. Desde sua estréia a peça tem sido sucesso de público, no Rio e em São Paulo, onde dois atores vivem 10 personagens, com poucos recursos cenográficos e uma nobre interpretação e impacto.

Certamente os mais versáteis e intensos atores em cartaz atualmente, Emílio de Mello e Fernando Eiras, transpõe aos seus personagens alegria, sedução, tristeza, desespero, entrega, começo e fim. Os dois interpretam o acaso que é tão certo, a vida e a morte, o tempo, a verdade e a mentira, vivendo um casal de homens que conta tudo que acontece, Ray, personagem criado na construção de uma peça que é escrita por um dos dois personagens, cujo não se revela nomes, dois amantes que terminam por flagelar suas famílias e a própria vida dos dois, sempre relacionada com as histórias contadas. Isso nos permite ver a vida sobre um palco, mostra que um autor revela-se num texto, tudo sem a total preocupação do que o público irá entender, mas cada um constrói uma história, ou a compreende como ela realmente é.

A grande sacada de In On It é o equilíbrio que toda a estrutura cenográfica propõe, além da emoção dos personagens que é sempre diferente com a do outro, eles apenas se olham quando falam da própria vida, pois quando vão ensaiar a peça que estão montando, ou relembrar desde quando se conheceram, não se olham, ficam de lado uma para o outro, ou de costas, permitindo sempre que a platéia os veja simultaneamente, sem deixar escapar qualquer expressão, ou as lágrimas que são incrivelmente derramadas por Fernando Eiras, e o sarcasmo e a irreverência das interpretações de Emílio de Mello.

A troca de cenas, consequentemente de histórias, é diferenciada pelo jogo de luzes, sempre bem marcada, delineando todas as cenas e velando a história com perfeccionismo. A iluminação é de Maneco Quinderé. Os atores vestem camisa e calça social, Fernando de gravata, além de um casaco, que também caracteriza a permuta de personagens e é motivo pra histórias, o figurino é assinado por Luciana Cardoso. Duas cadeiras, que são movidas pelos atores durante a peça, um tablado de madeira crua, todo o fundo do palco exposto e a estética fica por conta do show de interpretação, que compõe todo o cenário, contando com a imaginação do público, que participa, ri em momentos cômicos e se emociona quando tocados por algum assunto que ganha intensidade com a trilha sonora de Lucas Marcier, que soa muito bem no cenário de Domingos de Alcântara. Os movimentos, que dão graça e suspense, ação e ganham o espaço de frases, muitas vezes, foram ensaiados com a técnica de alexander, que permite a coordenação do corpo, conduzida por Valéria Campos e a consultoria de movimento por Marcia Rubin.

O público deixa o teatro com emoções diversificadas, reflexões, risos, críticas, e ainda recontam a história de diferentes maneiras. A produção de Enrique Diaz também conta com Henrique Mariano na direção de produção, Roberta Koyama como produtora executiva e Richard Santiago na direção de cena.

Recomendo que corram ao teatro e garantam seus ingressos que estão esgotando rapidamente a cada apresentação de In On It, que fica em cartaz até 5 de setembro, de sexta e sábado às 21h e aos domingos 18h, no Teatro Eva Herz, na Livraria Cultura, do Conjunto Nacional, na Av. Paulista.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

“Jekyll & Hyde – O Médico e o Monstro”, as duas personalidades do homem numa grande superprodução


Em cartaz no Teatro Bradesco, em São Paulo, mais um musical da Broadway que vem fazendo sucesso, Jekyll & Hyde – O Médico e o Monstro impressiona por sua superprodução e toda reflexão que o texto promove ao público. O espetáculo estreou em 15 de Julho trazendo 28 atores e 17 músicos numa orquestra, além de mais de 150 pessoas envolvidas no projeto.

O Dr. Henry Jekyll, interpretado pelo experiente ator Nando Prado, inicia a história tentando curar a debilidade de seu pai. Numa reunião com o conselho do hospital ele propõe uma experiência com algum paciente cobaia, seu propósito era isolar o mal das pessoas, acreditando que todo o ser humano é dividido por duas personalidades, o mal e o bem, um ótimo propósito para se escrever um belo roteiro de musical. O conselho não aceita o pedido de Jekyll, que então secretamente se faz de cobaia da própria experiência, quando todas as noites tomava um reagente que despertava seu alter-ego do maligno. Às vésperas de seu casamento com Emma, vivida pela atriz Kiara Sasso, ele envolve-se com Lucy, interpretada por Kacau Gomes, uma meretriz que apaixona-se por ele, porém nas noites em que o lado mal do médico vem à tona, personificado em Edward Hyde, ela é sempre cercada por ele. Tudo é uma grande tragédia, que assusta Londres, na época de 1885, quando Hyde, o lado mal de Jekyll, comete uma série de crimes pela cidade.

Apesar do clima de suspense proposto pelo roteiro, não há violência, nem agressividade nas cenas dos crimes. As cenas são típicas de um musical da Broadway, as pitadas de sensualidade e o timbre das vozes dos atores pincelam o perfeito trabalho da direção de Fred Hanson, do diretor residente Léo Abel e da articulação dos próprios atores. A trilha sonora é toda ao vivo e completamente condizente com o texto, no poço uma orquestra composta de 17 músicos, em bom entrosamento, porém a percussão e a bateria por vezes esconde a voz dos atores, o volume dos microfones estava um pouco baixo, para o volume da orquestra. A direção musical é assinada por Paulo Nogueira. O cenário retrata fielmente as ruas de Londres, as casas e o cabaré, onde todo o dinamismo e mecanismo de troca são realizados sincronicamente, sem que hajam falhas de saída dos atores. Em um instante uma chuva cai sobre o palco, de água mesmo, onde Emma e Lucy cantam em cenas diferentes de sua rotina, e finalizam a música cantando com um guarda-chuva. O escoamento da água é muito bem feito, não permitindo que qualquer ator escorregue no palco, pois a queda de água é feita na parte frontal, onde há a saída para a água. O perfeito cenário, que envolve uma passarela feita em alumínio e todos os ambientes é obra de JC Serroni, com assistência de Laura Reis e Carmen Pereira Guerra.

O figurino é imponente, os tecidos são bem cortados, bem acabados, desde os costumes masculinos aos vestidos das moças, impecável trabalho do renomado Fause Haten. A produção de Renata Alvim e outros é recebida por tamanha grandeza pelo público que aplaude o espetáculo ao fim com entusiasmo. Kátia Barros é diretora de movimento, que permitiu ao espetáculo toda sua sensualidade e ao mesmo tempo equilíbrio, não deixando que os confrontos tornassem lutas pavorosas e impressionantes aos olhos do público. O elenco ainda se engrandece e deixa o palco ainda mais nobre quando nos presenteia com a ótima dramatização de Blota Filho, que representa um mordomo exatamente retratando os moldes ingleses e a morbidez de seu personagem. Cidália Castro e outros atores atendem à brilhante superprodução com total disciplina artística.

O musical Jekyll & Hyde – O Médico e o Monstro fica em cartaz até 25 de Julho, de quinta a domingo, no Teatro Bradesco, um dos mais lindos e completos do país.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

“Nara”, música e teatro sobre a musa da Bossa Nova


Sobre a vida de uma das cantoras mais influentes da música brasileira, estreou em abril, no Teatro Augusta, em São Paulo, a peça "Nara", sobre a vida da artista. Desde seus primeiros passos na música às grandes parcerias, e sua morte, o espetáculo nos faz viajar no tempo com canções imortalizadas. O texto é da própria atriz Fernanda Couto e de Márcio Araújo. Produção de Beti Antunes e Renato Araújo.

Nara Leão é representada pela atriz Fernanda Couto, que contracena e canta com Willian Guedes, Silvio Venosa e Rodrigo Sanches, que interpretam cantores como Tom Jobim, Chico Buarque e outros renomados nomes que fizeram parcerias com Nara Leão. Os mais de 25 anos de carreira da cantora são apresentados em passagens bem costuradas, os relacionamentos, bem como seu namoro com Roberto Menescal, Bôscoli e os cineastas Ruy Guerra e anos depois Cacá Diegues, com quem teve dois filhos e se casou, ainda o tumor que lhe tirou a vida é levado ao palco poeticamente, encenando aquilo que lhe perturbava e deixando sua morte sem ser representada, o que dá leveza ao enredo da peça.

O que me incomodou um pouco foi a sucessão de narrativas, onde o roteiro fica muito preso ao que a própria atriz, que representa Nara, conta. São poucas as encenações, onde ora fala-se na primeira pessoa, ora na segunda, o que acaba deixando o texto um tanto confuso. Porém a proposta é ótima, a atriz Fernanda Couto não tem lá tanta aparência com Nara, talvez o cabelo batido no ombro, que poderia ser um pouco mais curto, nos remeta a imagem da cantora, porém quando a ouvimos, com sua afinadíssima voz, logo vêm à lembrança aqueles tempos, da doçura de seu timbre vocal, de seus delicados gestos ao toque do inseparável violão. A proposta do diretor Márcio Araújo, que já conheço de outros textos, certamente não foi retratar a voz e aparência de Nara, mas sim fazer que o público relacione a imagem da atriz às expressões da cantora, sem que o espetáculo ganhe um tom de imitação, e sim de uma homenagem e recordação.

O singelo cenário é maravilhoso, tem um imenso pano retalhado ao fundo, onde são projetados os nomes dos intérpretes e compositores que fizeram parceria com Nara à medida que vão sendo citados em canções, eu mudaria a fonte das letras, não é tão ilegível, mas as palavras ficam muito carregadas de arte, o que confunde a leitura. O cenário é assinado por Valdy Lopes. Quando inicia-se o espetáculo somos surpreendidos pela voz da atriz e cantora, que vem do fundo do teatro carregando nas mãos um cravo, que ao final da peça é jogado ao público enquanto apaga-se a luz do palco. A iluminação de André Boll é de total bom gosto, o palco não ficou mórbido, nem alegre demais, e acompanha o ritmo e o sincronismo entre o tempo de entrada e saída dos atores do palco, e da movimentação da banda. Cássio Brasil também nos faz viajar de volta ao tempo com um figurino muito bem costurado, elegante e ao típico modo daqueles trajes que os intérpretes e compositores vestiam quando iam se encontrar no apartamento de Nara, no Rio de Janeiro.

A direção musical é de Pedro Paulo Bogossian que trabalhou muito bem o entrosamento da banda, a harmonia e a graciosa musicalidade de Nara Leão, sendo citados Fagner, Erasmo Carlos, Maria Bethânia e outros memoráveis nomes. Músicas que marcaram a carreira de Nara são passadas a linda voz de Fernanda, com um repertório inesquecível como: Diz que fui por aí (Zé Kéti e H Rocha), Opinião (Zé Kéti), Insensatez (Tom Jobim e Vinícius de Moraes), A Banda e Com Açúcar, Com Afeto (Chico Buarque), O Barquinho (Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli), entre outras.

O espetáculo Nara fica em cartaz até 29 de Julho, no Teatro Augusta, os ingressos custam R$ 30,0 (inteira), de quarta e quinta, às 21h. Vale a pena conferir.

“Macbeth”, a sanguinolenta tragédia de Shakespeare em cartaz em São Paulo


A mais curta e sanguinolenta tragédia de Shakespeare traz ao Sesc Pinheiros, em São Paulo, no Teatro Paulo Autran, Macbeth, vivido por Daniel Dantas, com direção assinada por Aderbal Freire-Filho. A peça que esteve no Rio de Janeiro, agora é sucesso de público na capital paulista, de 25 de junho a 18 de julho, em um dos mais belos teatros administrados por uma organização governamental. Resumir Macbeth, mesmo sendo o menor de Shakespeare, requer tamanha sensibilidade, é um texto que deve ser de conhecimento de muitos, porém vale apresentar o release enviado pela produção:

"Voltando de uma batalha, Macbeth e Banquo, generais do exército escocês do Rei Duncan, encontram três feiticeiras. Macbeth é saudado profeticamente por elas como futuro Barão de Cawdor e Rei da Escócia, e Banquo, como pai de uma linhagem de reis. Nobres escoceses trazem a mensagem de que o Barão de Cawdor havia sido executado por traição e que todas as suas terras e título passariam a Macbeth. A realização da primeira parte da profecia impulsiona a ambição de Macbeth em se tornar rei. Em seu castelo, sua mulher, Lady Macbeth, lê com satisfação a carta do marido relatando o encontro com as bruxas e a esperança ali contida. Mais tarde, na noite em que o rei Duncan se hospeda no castelo de Macbeth, este decide matá-lo, com a ajuda de Lady Macbeth. O ato brutal dá início a uma série de assassinatos que Macbeth, já coroado rei, cometerá para se manter no trono. De bravo guerreiro e grande general do exército escocês que retorna vitorioso dos campos de batalha; de súdito leal, merecedor da mais alta confiança do rei, Macbeth se transforma em um assassino inescrupuloso e bestial, cujos atos sanguinários são movidos por um único impulso: a ambição".

O texto é fielmente roteirizado no palco, as falas são exatas e ganham naturalidade nas vozes de todos os atores, as palavras vencidas pelo tempo se mantém nas frases dos personagens, dando o tom épico na peça. Nada pra mim é tão surpreendente assim, talvez na época em que foi escrito tenha sido bem mais impactante, visto que fala do homem e sua identidade, seus interesses e dos caminhos que ele pode tomar para alcançá-los. É comum que qualquer um de nós tenhamos atitudes humanas, visto que somos humanos, capazes de sermos dois num só homem. Somos automáticos e respondemos às nossas condutas, e isso nos faz seguir filosofias e caminhos diferentes, mediante aos nossos interesses e intenções. Macbeth desejava ser rei, e para isso decide matar Duncan, mostrando-se um homem inescrupuloso, induzido também por sua esposa Lady Macbeth, interpretada por Renata Sorrah, os dois almejavam o trono e para isso os limites foram esquecidos. Uma sucessão de mortes tentava apagar o primeiro crime cometido, até que os dois caem em sua própria teia sanguinária. Tudo é feito com tamanha leveza, desde a graça das bruxas, até a suavidade de como as mortes são retratadas, Dani Hu, que fez a consultoria de luta pôs aos gestos dos atores as expressões de confronto, porém sem vulgaridade e terrorismo, o que marca os romances trágicos de Shakespeare.

Todos nós temos o mal e o bem intrínsecos em nossa índole, porém cada um sabe como ponderá-los, e / ou utilizá-los. Assim todos os movimentos, os tons de voz e as expressões tornam quase 3 horas de peça uma real ambientalização shakespeareana, incorpando aos atores diferentes comportamentos à medida em que eles mudam de personagens, parecendo até outra pessoa interpretando. O cenário de Fernando Mello da Costa nos permite a permuta de ambientes imageticamente, onde castelo e espaços, que cabe ao público imaginar, são retratados com total realeza, assim como naqueles tempos ingleses. Os 4 tablados tornam-se mesas, ou palcos para uma interpretação, são a leveza das lutas, são a mudança do ambiente. O conjunto de atores são relatados na peça com importância, onde cada um tem sua individualidade respeitada, porém a integração do grupo é fantástica, não havendo interferência na atuação de nenhum outro ator.

O figurinista Marcelo Pies leva a realeza aos cortes e tecidos da corte, e a rusticidade das roupas dos soldados. As cores e o movimento que as roupas têm são fundamentais para a beleza do espetáculo. A iluminação, que dá característica às cenas de ação, de aparição e sumiço das bruxas e de mais calma, é obra artística de Luiz Paulo Nenen, sim, artística, pois tudo no tempo certo e com um jogo de luz que se mostra imponente no grande palco. Tato Taborda dirige a trilha sonora, impecável e no tom exato do texto. A atriz Renata Sorrah traz para sua personagem toda a característica da loucura que Lady Macbeth contraí quando atormentada pelo crime a qual foi coadjuvante, seus movimentos, olhares, passos, remetem ao medo e desconfiança. Daniel Dantas, o idealizador do projeto, retrata a postura do rei que desafiou os limites da vida, da convivência humana, da perturbação pelos crimes cometidos, observando manifestações sobrenaturais, fielmente encenadas, bem como apresenta o texto.

No elenco, além dos dois fantásticos atores mencionados, ainda, Andrea Dantas, Camilo Bevilacqua, Charles Fricks, Edgard Amorim, Felipe Martins, Guilherme Siman, Marcelo Flores, Miguel Thiré, Ricardo Conti e Thelmo Fernandes. Direção de produção de Maria Siman e uma realização do Sesc Pinheiros, Próspero Produções e Primeira Página Produções. Gostaria de poder falar de todos envolvidos com a grandiosa produção de Macbeth, porém são muitos, e merecem todos os aplausos.

A peça está em cartaz no Sesc Pinheiros, na região oeste de São Paulo, porém os ingressos estão esgotados para as apresentações até 18 de Julho. Espero que o espetáculo possa viajar por muitos palcos, levando a grandiosidade de sua produção.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

“Olhe Para Trás Com Raiva” o pós-guerra no palco do Teatro Vivo


Com texto de John Osborne e direção de Ulysses Cruz na versão brasileira, um dos mais famosos textos britânicos está em cartaz no Teatro Vivo, em São Paulo, “Olhe Para Trás Com Raiva”, um dos retratos da desilusão do pós-guerra que permeava entre os jovens.

O ator Sérgio Abreu protagoniza Jimmy, um jovem anti-herói, exausto das desigualdades sociais, simples e despojado, incomodado com os sogros, pais de sua esposa Alisson, interpretada por Karen Coelho, que deixou a família para se casar com ele. Vivem numa situação precária, seus trocados servem para comprar cigarros, os quais fuma enquanto passa os dias engomando roupas, vinda de berço de ouro, da cidade de Londres, crava diversas brigas com o marido, até sua separação. O personagem Cliff é vivido por Thiago Mendonça, este é um jovem desleixado, vendedor de doces e nada incomodado com o que acontece afora, é amigo de Jimmy e mora com eles no singelo e improvisado cômodo da casa. Uma amiga de Alisson hospeda-se em sua casa, enquanto apresenta uma peça de teatro, a qual ela é atriz, Helena, vivida por Maria Manoella convence sua amiga a voltar para Londres e se separar do marido, com isso ela torna-se amante de Jimmy e convive com as mesmas situações que criticava da amiga.

O drama é muito bem desenrolado, intrigas são bem articuladas e impactantes. Os atores climatizam muito bem o ambiente inglês, a frigidez britânica e a intensidade carnal. O público pode participar da peça comprando os docinhos vendidos pelos personagens, enquanto passeiam por entre as fileiras do teatro. A iluminação de Domingos Quintiliano é impecável, traz para os arredores do cenário a especificação do dia e da noite, sonoplastia bem ecoada, com sons da rua e do bater da porta, a direção de áudio e da trilha sonora é de Victor Pozas. O cenário, muito bem desenhado, retrata um cômodo simples, mesclando cama, móveis e aparelhos de jantar e de estar. A cenografia é de Milton di Biasi. O figurino nos permite voltar ao tempo, costura a costura remete a elegância das personagens mulheres e o despojo dos homens, assinado por Beth Filipecki e Renaldo Machado.

Recomendo a peça para todos que querem voltar ao tempo das histórias inglesas, do romance épico e de um ótimo triangulo amoroso. “Olhe Para Trás Com Raiva” fica em cartaz no Teatro Vivo até 22 de agosto.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

"10 Maneiras Incríveis de Destruir seu Casamento" agora no Teatro Folha, em São Paulo


Após fazer o público rir todas as segundas-feiras no programa da Hebe, no SBT, o ator Eduardo Martini, criador da personagem Neide Boa Sorte, leva para o palco do Teatro Folha, no Shopping Higienópolis, em São Paulo, a peça “10 Maneiras Incríveis de Destruir seu Casamento”, com sua própria direção e texto de Sergio Abritta. A peça mostra como os casamentos começam e terminam, com irreverência e versatilidade artística os atores se revezam entre 31 personagens que aterrorizam a mente de quem quer, ou já casou.

Tudo começa na cena de um casamento, a voz do padre, a noiva e o noivo, interpretado por Eduardo e todo o público como convidados, que acabam entrando na comédia, inteligente forma de integração entre a peça e a platéia. Essa é somente a primeira, de 10 cenas que promovem o fim de um relacionamento. Luciana Riccio, que divide o palco com os outros três atores, tem grande destaque na peça, sua presença de palco já nos remete a comédia e a caracterização das personagens é típica, não há comparações para fazer, apenas ressaltar seu show de interpretação. Os atores Vivi Alfano e Bruno Albertini completam o ciclo de relações desastrosas mostradas na peça.

As expressões são bem reveladas pelos atores sempre que mudam de personagem, permitem que o público note a personalidade de cada um ao mudar o tom da voz, o olhar e os gestos. Transmitem o cômico de cada maneira retratando a realidade, deixando que o público também se identifique com alguns momentos. Toda a graça começa desde a recepção da peça, com um coroinha um tanto inconveniente, interpretado por André Di Paulo, que nos recebe com uma reverência bem pitoresca de seu toque de feminilidade, mas que já introduz a graça do texto que se apresentará no palco.

Futebol, TPM, velhice, sexualidade, manias e desavenças diversas levam o público à reflexão de seus casamentos, pois mesmo sendo tudo uma grande comédia, poucos são os exageros, está ali, sobre um palco, a divertida comédia dos casamentos. Eduardo Martini sempre mostrou sua irreverência, até mesmo descaracterizado de qualquer um de seus hilários personagens, e seu destaque fica claro na peça, posto que muita gente vai para ver o motivo das gargalhadas de Hebe Camargo.

O que muito me incomodou foram as instalações do teatro, quando a peça foi apresentada no União Cultural. A recepção é muito bem feita, porém o espaço é muito amador, mesmo com a tecnologia audiovisual que a peça leva, com um telão que permite a ultrapassagem do personagem pela imagem, ainda há uma ausência de estética nas instalações, nada que afete a evolução da peça, mas é algo que incomoda muitas pessoas. Desde o mês passado o espetáculo vem sendo apresentado no Teatro Folha, com uma melhor disposição e arquitetura.

Toda terça-feira, às 21h, “10 Maneiras Incríveis de Destruir seu Casamento” se mantém no patamar das divertidas peças em cartaz.

terça-feira, 6 de julho de 2010

“A Grande Volta”, um diálogo entre pai e filho


A peça "A Grande Volta" estreou em Maio no Teatro FAAP, em São Paulo, com texto do belga Serge Kribus e tradução de Paulo Autran, que pretendia encenar o espetáculo assim que o descobriu, em 2001, junto com Rodrigo Santoro, porém adiou devido ao sucesso que Sr. Green estava fazendo em cartaz, assim acabou não a apresentando. Agora Fúlvio Stefanini e Rodrigo Lombardi interpretam pai e filho numa discussão de identidades, com um cenário simples e dinâmico. Direção de Marco Ricca.

Fúlvio é Boris, um velho ator, distante dos palcos, decide se instalar na casa do filho, devido a problemas de calefação em seu apartamento, enquanto hospedado ele ensaia a peça em que foi convidado a representar, o qual seria Rei Lear, personagem de Shakspeare. Henrique, o filho, é interpretado por Rodrigo Lombardi, que por vezes mostra-se incomodado com a presença do pai em sua casa, que agora tinha-o como único morador, já que separou-se da esposa que foi embora com seu filho. Nos diálogos entre os dois há sempre uma inversão de identidade, onde o pai assume uma postura que incomoda o filho, e vice versa, isso é feito com uma pitada de humor, sem deixar que o drama perca-se nas falas. Gritos e indagações são bem expressadas e dão o tom de agressividade aos diálogos, que por vezes ganham leveza quando pai e filho se entendem.

A cenografia é assinada por André Cortez, um ambiente que pode virar de tudo, desde o muro de uma rua, às paredes de um apartamento, até mesmo uma cela de prisão, sem que precise dizer ao público que aquilo é uma cadeia. O cenário é composto por corrediças trabalhadas com tecido transparente, o que na cena da prisão causa o clima de clausura, a silhueta, ora causada pelo jogo de luz, dramatiza um suspense no roteiro.

O trabalho de iluminação de Maneco Quinderé ilustra o temperamento dos diálogos, além de caracterizar e vestir o cenário. Sem o uso de qualquer luz colorida não há poluição visual no palco, todos os movimentos dos atores são iluminados precisamente, não há perda de um só momento.

Os singelos elementos que compõe o palco caracterizam a vida de solteiro de Henrique, bem como os caixotes em que guarda seus poucos utensílios que restaram, além da vodka, que ficava guardada numa caixa, era a única bebida que tinham e os acompanha nos diálogos, isso acaba numa grande bebedeira deixando Boris mais à vontade para contar certas coisas. Fúlvio Stefanini põe-se na loucura de Rei Lear, personagem que irá interpretar numa peça, porém assume um estado de desabafo sem perder a sanidade, e este desabafo cria um discurso sobre a verdade, que estava sempre escondida na história de pai e filho, e ali é posta nos diálogos.

A trilha sonora é de Eduardo Queiroz, fundamental num drama, e muito bem selecionada, dando imensidão e emoção às expressões dos atores. Acredito que Rodrigo Lombardi ainda precisa se esculpir mais ao personagem que Paulo Autran talvez teria trabalhado melhor com Santoro, falta um pouco mais de entrosamento entre os dois atores no palco, mesmo com todo artístico proposto pelo roteiro, o sentimental ainda está um pouco longe. Fúlvio tem grande vantagem neste personagem, permitindo-o maior aproveitamento do palco e exploração de dois personagens um tanto cômicos, o pai e o personagem que ele ensaia para a peça que irá estrear.

Até agosto estará em cartaz a peça A Grande Volta, no apertado Teatro FAAP, muito bonito, porém preferiu-se aproveitar o espaço colocando fileiras e cadeiras, esquecendo de um espaço que permita locomoção do público entre as filas. A peça tem feito sucesso de público, de sexta a domingo, no valor de R$ 70,00.