quinta-feira, 15 de julho de 2010

“Macbeth”, a sanguinolenta tragédia de Shakespeare em cartaz em São Paulo


A mais curta e sanguinolenta tragédia de Shakespeare traz ao Sesc Pinheiros, em São Paulo, no Teatro Paulo Autran, Macbeth, vivido por Daniel Dantas, com direção assinada por Aderbal Freire-Filho. A peça que esteve no Rio de Janeiro, agora é sucesso de público na capital paulista, de 25 de junho a 18 de julho, em um dos mais belos teatros administrados por uma organização governamental. Resumir Macbeth, mesmo sendo o menor de Shakespeare, requer tamanha sensibilidade, é um texto que deve ser de conhecimento de muitos, porém vale apresentar o release enviado pela produção:

"Voltando de uma batalha, Macbeth e Banquo, generais do exército escocês do Rei Duncan, encontram três feiticeiras. Macbeth é saudado profeticamente por elas como futuro Barão de Cawdor e Rei da Escócia, e Banquo, como pai de uma linhagem de reis. Nobres escoceses trazem a mensagem de que o Barão de Cawdor havia sido executado por traição e que todas as suas terras e título passariam a Macbeth. A realização da primeira parte da profecia impulsiona a ambição de Macbeth em se tornar rei. Em seu castelo, sua mulher, Lady Macbeth, lê com satisfação a carta do marido relatando o encontro com as bruxas e a esperança ali contida. Mais tarde, na noite em que o rei Duncan se hospeda no castelo de Macbeth, este decide matá-lo, com a ajuda de Lady Macbeth. O ato brutal dá início a uma série de assassinatos que Macbeth, já coroado rei, cometerá para se manter no trono. De bravo guerreiro e grande general do exército escocês que retorna vitorioso dos campos de batalha; de súdito leal, merecedor da mais alta confiança do rei, Macbeth se transforma em um assassino inescrupuloso e bestial, cujos atos sanguinários são movidos por um único impulso: a ambição".

O texto é fielmente roteirizado no palco, as falas são exatas e ganham naturalidade nas vozes de todos os atores, as palavras vencidas pelo tempo se mantém nas frases dos personagens, dando o tom épico na peça. Nada pra mim é tão surpreendente assim, talvez na época em que foi escrito tenha sido bem mais impactante, visto que fala do homem e sua identidade, seus interesses e dos caminhos que ele pode tomar para alcançá-los. É comum que qualquer um de nós tenhamos atitudes humanas, visto que somos humanos, capazes de sermos dois num só homem. Somos automáticos e respondemos às nossas condutas, e isso nos faz seguir filosofias e caminhos diferentes, mediante aos nossos interesses e intenções. Macbeth desejava ser rei, e para isso decide matar Duncan, mostrando-se um homem inescrupuloso, induzido também por sua esposa Lady Macbeth, interpretada por Renata Sorrah, os dois almejavam o trono e para isso os limites foram esquecidos. Uma sucessão de mortes tentava apagar o primeiro crime cometido, até que os dois caem em sua própria teia sanguinária. Tudo é feito com tamanha leveza, desde a graça das bruxas, até a suavidade de como as mortes são retratadas, Dani Hu, que fez a consultoria de luta pôs aos gestos dos atores as expressões de confronto, porém sem vulgaridade e terrorismo, o que marca os romances trágicos de Shakespeare.

Todos nós temos o mal e o bem intrínsecos em nossa índole, porém cada um sabe como ponderá-los, e / ou utilizá-los. Assim todos os movimentos, os tons de voz e as expressões tornam quase 3 horas de peça uma real ambientalização shakespeareana, incorpando aos atores diferentes comportamentos à medida em que eles mudam de personagens, parecendo até outra pessoa interpretando. O cenário de Fernando Mello da Costa nos permite a permuta de ambientes imageticamente, onde castelo e espaços, que cabe ao público imaginar, são retratados com total realeza, assim como naqueles tempos ingleses. Os 4 tablados tornam-se mesas, ou palcos para uma interpretação, são a leveza das lutas, são a mudança do ambiente. O conjunto de atores são relatados na peça com importância, onde cada um tem sua individualidade respeitada, porém a integração do grupo é fantástica, não havendo interferência na atuação de nenhum outro ator.

O figurinista Marcelo Pies leva a realeza aos cortes e tecidos da corte, e a rusticidade das roupas dos soldados. As cores e o movimento que as roupas têm são fundamentais para a beleza do espetáculo. A iluminação, que dá característica às cenas de ação, de aparição e sumiço das bruxas e de mais calma, é obra artística de Luiz Paulo Nenen, sim, artística, pois tudo no tempo certo e com um jogo de luz que se mostra imponente no grande palco. Tato Taborda dirige a trilha sonora, impecável e no tom exato do texto. A atriz Renata Sorrah traz para sua personagem toda a característica da loucura que Lady Macbeth contraí quando atormentada pelo crime a qual foi coadjuvante, seus movimentos, olhares, passos, remetem ao medo e desconfiança. Daniel Dantas, o idealizador do projeto, retrata a postura do rei que desafiou os limites da vida, da convivência humana, da perturbação pelos crimes cometidos, observando manifestações sobrenaturais, fielmente encenadas, bem como apresenta o texto.

No elenco, além dos dois fantásticos atores mencionados, ainda, Andrea Dantas, Camilo Bevilacqua, Charles Fricks, Edgard Amorim, Felipe Martins, Guilherme Siman, Marcelo Flores, Miguel Thiré, Ricardo Conti e Thelmo Fernandes. Direção de produção de Maria Siman e uma realização do Sesc Pinheiros, Próspero Produções e Primeira Página Produções. Gostaria de poder falar de todos envolvidos com a grandiosa produção de Macbeth, porém são muitos, e merecem todos os aplausos.

A peça está em cartaz no Sesc Pinheiros, na região oeste de São Paulo, porém os ingressos estão esgotados para as apresentações até 18 de Julho. Espero que o espetáculo possa viajar por muitos palcos, levando a grandiosidade de sua produção.

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