quinta-feira, 15 de julho de 2010

“Nara”, música e teatro sobre a musa da Bossa Nova


Sobre a vida de uma das cantoras mais influentes da música brasileira, estreou em abril, no Teatro Augusta, em São Paulo, a peça "Nara", sobre a vida da artista. Desde seus primeiros passos na música às grandes parcerias, e sua morte, o espetáculo nos faz viajar no tempo com canções imortalizadas. O texto é da própria atriz Fernanda Couto e de Márcio Araújo. Produção de Beti Antunes e Renato Araújo.

Nara Leão é representada pela atriz Fernanda Couto, que contracena e canta com Willian Guedes, Silvio Venosa e Rodrigo Sanches, que interpretam cantores como Tom Jobim, Chico Buarque e outros renomados nomes que fizeram parcerias com Nara Leão. Os mais de 25 anos de carreira da cantora são apresentados em passagens bem costuradas, os relacionamentos, bem como seu namoro com Roberto Menescal, Bôscoli e os cineastas Ruy Guerra e anos depois Cacá Diegues, com quem teve dois filhos e se casou, ainda o tumor que lhe tirou a vida é levado ao palco poeticamente, encenando aquilo que lhe perturbava e deixando sua morte sem ser representada, o que dá leveza ao enredo da peça.

O que me incomodou um pouco foi a sucessão de narrativas, onde o roteiro fica muito preso ao que a própria atriz, que representa Nara, conta. São poucas as encenações, onde ora fala-se na primeira pessoa, ora na segunda, o que acaba deixando o texto um tanto confuso. Porém a proposta é ótima, a atriz Fernanda Couto não tem lá tanta aparência com Nara, talvez o cabelo batido no ombro, que poderia ser um pouco mais curto, nos remeta a imagem da cantora, porém quando a ouvimos, com sua afinadíssima voz, logo vêm à lembrança aqueles tempos, da doçura de seu timbre vocal, de seus delicados gestos ao toque do inseparável violão. A proposta do diretor Márcio Araújo, que já conheço de outros textos, certamente não foi retratar a voz e aparência de Nara, mas sim fazer que o público relacione a imagem da atriz às expressões da cantora, sem que o espetáculo ganhe um tom de imitação, e sim de uma homenagem e recordação.

O singelo cenário é maravilhoso, tem um imenso pano retalhado ao fundo, onde são projetados os nomes dos intérpretes e compositores que fizeram parceria com Nara à medida que vão sendo citados em canções, eu mudaria a fonte das letras, não é tão ilegível, mas as palavras ficam muito carregadas de arte, o que confunde a leitura. O cenário é assinado por Valdy Lopes. Quando inicia-se o espetáculo somos surpreendidos pela voz da atriz e cantora, que vem do fundo do teatro carregando nas mãos um cravo, que ao final da peça é jogado ao público enquanto apaga-se a luz do palco. A iluminação de André Boll é de total bom gosto, o palco não ficou mórbido, nem alegre demais, e acompanha o ritmo e o sincronismo entre o tempo de entrada e saída dos atores do palco, e da movimentação da banda. Cássio Brasil também nos faz viajar de volta ao tempo com um figurino muito bem costurado, elegante e ao típico modo daqueles trajes que os intérpretes e compositores vestiam quando iam se encontrar no apartamento de Nara, no Rio de Janeiro.

A direção musical é de Pedro Paulo Bogossian que trabalhou muito bem o entrosamento da banda, a harmonia e a graciosa musicalidade de Nara Leão, sendo citados Fagner, Erasmo Carlos, Maria Bethânia e outros memoráveis nomes. Músicas que marcaram a carreira de Nara são passadas a linda voz de Fernanda, com um repertório inesquecível como: Diz que fui por aí (Zé Kéti e H Rocha), Opinião (Zé Kéti), Insensatez (Tom Jobim e Vinícius de Moraes), A Banda e Com Açúcar, Com Afeto (Chico Buarque), O Barquinho (Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli), entre outras.

O espetáculo Nara fica em cartaz até 29 de Julho, no Teatro Augusta, os ingressos custam R$ 30,0 (inteira), de quarta e quinta, às 21h. Vale a pena conferir.

2 comentários:

  1. Senhor Comentarista,

    Acredito que por erro independente de sua vontade,quando cita o emérito Ruy Barbosae Guel Arraes, comentem uma lamentável falha.
    Nosso ilustre Ruy Barbosa de Oliveira,nasceu no dia 05 de novembro de 1.849 e faleceu em Petrópolis no dia 01 de março de 1.923,não podendo ter ao menos cruzado seu caminho com a cantora Nara Leão.
    Entretanto, desculpo-me pela intromissão para o bem da cultura, e aproveito para citar uma frase de Ruy Barbosa, que julgo, me autorizar e me libertar para tanto:
    "A liberdade não é um luxo dos tempos de bonança; é, sobretudo, o maior elemento de estabilidade das instituições."

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  2. Acabo de enviar um e-mail retificando este erro. Peço-lhes desculpa por terferido o texto e a vida de Nara. Meu Deus, quão grave foi esse erro que assumo ter sido de uma distração tamanha. Muito obrigado pelo alerta, e abaixo segue e-mail que encaminhei com retificação:

    Eu estava pensando em um e escrevi outro. Isso é o que da ficar sem dormir aeuha. Estou ensaiando uma peça e tá bem puxado. Desculpe-me, já estou arrumando no site.

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