terça-feira, 6 de julho de 2010

“A Grande Volta”, um diálogo entre pai e filho


A peça "A Grande Volta" estreou em Maio no Teatro FAAP, em São Paulo, com texto do belga Serge Kribus e tradução de Paulo Autran, que pretendia encenar o espetáculo assim que o descobriu, em 2001, junto com Rodrigo Santoro, porém adiou devido ao sucesso que Sr. Green estava fazendo em cartaz, assim acabou não a apresentando. Agora Fúlvio Stefanini e Rodrigo Lombardi interpretam pai e filho numa discussão de identidades, com um cenário simples e dinâmico. Direção de Marco Ricca.

Fúlvio é Boris, um velho ator, distante dos palcos, decide se instalar na casa do filho, devido a problemas de calefação em seu apartamento, enquanto hospedado ele ensaia a peça em que foi convidado a representar, o qual seria Rei Lear, personagem de Shakspeare. Henrique, o filho, é interpretado por Rodrigo Lombardi, que por vezes mostra-se incomodado com a presença do pai em sua casa, que agora tinha-o como único morador, já que separou-se da esposa que foi embora com seu filho. Nos diálogos entre os dois há sempre uma inversão de identidade, onde o pai assume uma postura que incomoda o filho, e vice versa, isso é feito com uma pitada de humor, sem deixar que o drama perca-se nas falas. Gritos e indagações são bem expressadas e dão o tom de agressividade aos diálogos, que por vezes ganham leveza quando pai e filho se entendem.

A cenografia é assinada por André Cortez, um ambiente que pode virar de tudo, desde o muro de uma rua, às paredes de um apartamento, até mesmo uma cela de prisão, sem que precise dizer ao público que aquilo é uma cadeia. O cenário é composto por corrediças trabalhadas com tecido transparente, o que na cena da prisão causa o clima de clausura, a silhueta, ora causada pelo jogo de luz, dramatiza um suspense no roteiro.

O trabalho de iluminação de Maneco Quinderé ilustra o temperamento dos diálogos, além de caracterizar e vestir o cenário. Sem o uso de qualquer luz colorida não há poluição visual no palco, todos os movimentos dos atores são iluminados precisamente, não há perda de um só momento.

Os singelos elementos que compõe o palco caracterizam a vida de solteiro de Henrique, bem como os caixotes em que guarda seus poucos utensílios que restaram, além da vodka, que ficava guardada numa caixa, era a única bebida que tinham e os acompanha nos diálogos, isso acaba numa grande bebedeira deixando Boris mais à vontade para contar certas coisas. Fúlvio Stefanini põe-se na loucura de Rei Lear, personagem que irá interpretar numa peça, porém assume um estado de desabafo sem perder a sanidade, e este desabafo cria um discurso sobre a verdade, que estava sempre escondida na história de pai e filho, e ali é posta nos diálogos.

A trilha sonora é de Eduardo Queiroz, fundamental num drama, e muito bem selecionada, dando imensidão e emoção às expressões dos atores. Acredito que Rodrigo Lombardi ainda precisa se esculpir mais ao personagem que Paulo Autran talvez teria trabalhado melhor com Santoro, falta um pouco mais de entrosamento entre os dois atores no palco, mesmo com todo artístico proposto pelo roteiro, o sentimental ainda está um pouco longe. Fúlvio tem grande vantagem neste personagem, permitindo-o maior aproveitamento do palco e exploração de dois personagens um tanto cômicos, o pai e o personagem que ele ensaia para a peça que irá estrear.

Até agosto estará em cartaz a peça A Grande Volta, no apertado Teatro FAAP, muito bonito, porém preferiu-se aproveitar o espaço colocando fileiras e cadeiras, esquecendo de um espaço que permita locomoção do público entre as filas. A peça tem feito sucesso de público, de sexta a domingo, no valor de R$ 70,00.

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