sexta-feira, 3 de setembro de 2010

‘Novelo’, a prova de que homem é tudo diferente


Cinco homens em cena e muito o que tricotar, está em cartaz no Teatro Augusta, em São Paulo, a peça ‘Novelo’, onde irmãos com personalidades completamente diferentes encontram-se após muito tempo procurando o pai. Direção de Zé Henrique de Paula.

Depois de muitos anos, Mauro, o irmão mais velho, recebe um telefonema do hospital anunciando que um senhor, seu pai, está internado, e com a saúde debilitada, o telefone do filho estava num papel no bolso dele. Os cinco irmãos, que foram criados pelo primogênito reúnem-se para ter uma última palavra com aquele que os abandonou na infância. Mauro cuidou de João Pedro, Zeca, Maurício e Cláudio, visto que além do pai sumir a mãe havia morrido. Cada um com suas peculiaridades esmiúçam seu próprio perfil em cena, discutem diferenças entre eles, porém sempre protegidos pelos cuidados do mais velho.

O texto de Nanna de Castro permite ao público a aproximação de uma realidade tão comum na sociedade, além de falar da cautelosa relação entre irmãos com personalidades tão diferentes. A costura de novelos é bem trabalhada nas palavras, nada fica perdido em cena, todo o diálogo é completamente compreensível, o texto é bem inédito, adequado ao contemporâneo, comovente e cômico. O propósito do título da peça é esclarecido no instante em que os atores contam sobre os ensinamentos da mãe, um deles o tricô.

Mauro é interpretado pelo ator Flavio Baiocchi, que vive um irmão zeloso, assim como um pai herói ele busca sempre proteger a relação entre os irmãos e os aproximar. É um grande ator, intenso, expressivo e desenha seu texto com suas feições e expressões corporais. Alexandre Freitas vive o personagem Maurício, alcoólatra e sempre mais mórbido, um homem triste, perturbado por suas desventuras e magoado com o pai, o ator carrega em seu personagem o abismo de sua história, exprime uma das melhores propostas do texto, e parece ser o mais afetado pelo sumiço do pai e a saudade da mãe. Elvis Shelton, faz João Pedro, um homem mais delicado, cauteloso e distante da família, seu intelecto o deixa cada vez mais longe das discussões entre os irmãos, porém completa o mesmo sentimento que cada um tem pelo outro, João é um personagem calmo e sortudo por ser vivido por este ótimo ator, que sabe como equilibrar-se no palco, e apesar de interpretar um homossexual, não permite que o personagem torne-se um clichê, sendo portanto um homem de gostos diferentes, assim como cada irmão tem sua escolha. Como em qualquer família há aquele que empina o nariz, o que nem sempre por suar é o mais afortunado, assim é Zeca, vivido pelo ator Fábio Cadôr, que vai se destacando no palco por suas ironias e sarcasmo, um homem um tanto bossal e sem escrúpulos, o ator vai dando um expressionismo fantástico ao personagem e fica responsável pela maior parte cômica do texto, fazendo isso muito bem. O mais novo e descolado dos irmãos é Cláudio, interpretado por Flavio Barollo, um ator de muito talento, capaz de caracterizar seu personagem como um homem indeciso, especulado sempre pelos outros por ter uma namorada e herdar os trejeitos do irmão João. Ele é contente, porém equilibra-se num homem sentimental e feliz, sempre disposto a um abraço e dependente dos carinhos dos irmãos, com exceção de Zeca, os quais se entendem ao final de tudo.

Todos os atores fazem passagens incríveis entre a infância e suas idades atuais no texto, várias vezes retornam no tempo alterando a voz e suas expressões. Além de dirigir, Zé Henrique de Paula é responsável por um cenário simples, mas adequado aos movimentos que os atores precisam desenvolver e permite que a imaginação da plateia seja estimulada para que cada um construa a cenografia que couber em sua compreensão e emoção do que cada um codifica do texto. A iluminação de Frans Barros não exagera em nada, nem fica abusando de cores, trabalha apenas com um tom mais claro e outro mais baixo, climatizando bem o hospital e o espaço que os atores ocupam quando mudam a cena. O figurino caracteriza cada personagem, ao entrar no teatro os atores já estão em cena tricotando, e neste instante já podemos notar a personalidade de cada um por aquilo que vestem, as roupas acompanham bem as expressões de cada um, trabalho do figurinista Mário Queiroz. A trilha sonora surge dos momentos certos, os sons são cenário de fundo para os sentimentos e falas dos personagens, direção musical de Fernanda Maia.

A produção executiva é de Marisa Medeiros, e fica em cartaz no Teatro Augusta até 16 de setembro no valor de R$ 30,0. ‘Novelo’ é mais um texto contemporâneo dos quais eu recomendo. Após o dia 16 eles estarão no Espaço Parlapatões, na Praça Roosevelt, também de quarta e quinta, assim como no Augusta, e ficarão de 22 de setembro a 28 de outubro.

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