quarta-feira, 15 de setembro de 2010

“O Amante”, pouco assunto em um grande tema


Está em cartaz no Teatro Nair Bello, no Shopping Frei Caneca, em São Paulo, a peça “O Amante”, texto de Harold Pinter, com direção de Francisco Medeiros. No palco Paula Burlamaqui e Daniel Alvim vivem personagens que representam o conjugal e a liberdade conjugal.

O texto, única comédia de Harold Pinter, não é bem uma comédia como foi pintado o gênero, talvez por ser o primogênito humor do autor o roteiro não permita muita ironia e risos. Sarah, esposa de Richard, vive aventuras com seu amante Max, porém o marido também veste os moldes do relacionamento aberto, mantendo encontros com uma prostituta. O amor é sempre posto à prova neste emaranhado de traições às claras até que o clímax toma conta da peça.

A atriz Paula Burlamaqui, que interpreta Sarah, desempenha sua ótima atuação quando precisa dar para a personagem um grande toque de sensualidade, porém sua movimentação no palco é demais, ela anda muito e qualquer espectador fica sem saber para onde olhar, enquanto o texto de todos os diálogos são vagos, munidos de pouca informação sobre os personagens, pouca apresentação, são conversas curtas em um texto cheio de pausas, além dos intervalos para as trocas de objetos no cenário. O Daniel Alvin, apesar de manter um bom entrosamento com a Paula em cena, exprime muito pouco uma pessoa comum no palco, nota-se muito que o texto está sendo tecnicamente falado e pouco interpretado. A mudança do ator quando vive mais de um personagem é muito bacana, porém sua desenvoltura como um bom ator perde-se num texto de pouco interesse, que mais preza exibir sensualidade do que comédia e assuntos que ocupariam muito mais a imaginação do público.

O amante por vezes dota-se de uma postura mais selvagem, isso é muito bacana para uma comédia, ora o texto equilibra-se em carinho, ora sensualidade, mas em momento algum em comédia. Perde-se muito tempo quando os atores trocam de roupa fora de cena, se estamos assistindo um cenário que apresenta um quarto, a veste de um outro figurino poderia ser feita durante a cena, basta que o diretor articule muito bem a direção com a movimentação dos atores em cena. Os elementos que compõe as cenas são muito bem usados, desde as doses de uísque, até as almofadas do sofá, que a cada visita do amante, ou chegada do marido, são mudadas de lado, algo que substituí a cena por uma outra.

A iluminação é ponto alto do espetáculo, com a assinatura de Maneco Quinderé, que sempre faz seu ótimo trabalho em qualquer palco, atribuí muito bem o tempo e o clímax da peça, quando noite, percebe-se logo a mudança do dia, e toda projeção de luz sobre e através do cenário é maravilhosamente realizada. Os figurinos de Marichilene Artisevskis dão elegância às cenas, as sedas, as cores e o movimento que as roupas ganham no corpo dos atores também marcam ponto positivo para a peça. A cenografia compõe-se de persianas, que são utilizadas o tempo todo durante os diálogos entre os personagens, cores e modelos fazem um cenário bem desenhado, além de todos os outros objetos que também configuram o lar de um contemporâneo casal. As músicas foram bem selecionadas, porém deveriam ser mais usadas nos momentos de clímax e sensualidade, onde neste momento sim, o diálogo diminuiria e a cena seria de expressões e movimentos, a trilha sonora é de Aline Meyer.

O programa, distribuído em impresso na bilheteria, tem tonalidades de cores bem trabalhadas nas imagens, porém os textos escritos pelos atores e pelo diretor são grandes e com uma expectativa de um bom texto de comédia, um entretenimento que não é tão cômico assim. O público não reage tão bem às tentativas de humor dos personagens, pois para mim a reação da plateia num espetáculo de comédia é rir, e isso raramente acontece com algumas pessoas que assistem “O Amante”. O Teatro Nair Bello fica dentro da Escola de Teatro Wolf Maya, onde há um barulho alto dos alunos na sala ao lado, assim vazando todo o som para a sala de espetáculos, isso atrapalha a concentração dos atores e a atenção do público.

A intenção do tema é ótima, falar das relações amorosas rende muito assunto, porém o que falta na peça é assunto que renda. A produção é de Sonia Kavantan, e produção executiva de Ricardo Fabbri. “O Amante” está em cartaz em São Paulo, no Teatro Nair Bello, até 29 de setembro, com valores de R$ 30,0 à R$ 40,0, de quinta e sábado 21h, sexta 21:30h e aos domingos 19h.

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