segunda-feira, 6 de setembro de 2010

‘Vamos?’, o diálogo entre sexos


O Teatro Imprensa é sede de um delicioso texto contemporâneo, uma comédia sobre os sexos e sobre o sexo, ‘Vamos?’ está em cartaz em São Paulo, na Bela Vista, com a ótima direção de Otávio Martins.

‘Vamos?’ é uma comédia contemporânea, das quais eu sempre procuro ressaltar a importância do texto atual, a peça nasceu no final dos anos 90 e já teve várias versões, nesta Mário Viana propõe um diálogo comum, independente do sexo, onde homem e mulher tem os mesmos desejos e na hora ‘H’ diferentes formas de reagir. Nenhum personagem é nomeado, algo que não faz falta no texto, pois na maior parte do espetáculo são dois atores em cena, logo o diálogo é sempre direcionado, quando não para o personagem, o papo é para o público, que não interage, porém a peça segura bem a conversa entre os atores, sem se tornar cansativa, pois é rápida e direta. Os personagens trocam de gênero durante toda a peça, homem vira mulher e vice-versa, está aí mais uma grande sacada de humor, Otávio Martins, o diretor do espetáculo transpôs de personagem para personagem um discurso similar, onde todos querem, mas na hora do ‘vamo-ver’ a reação é a mesma.

Falar de sexo é cômico, porém quando bem trabalhada a trama, poucos diretores conseguem eliminar qualquer vulgaridade nas expressões, em ‘Vamos?’ o linguajar é apropriado para uma comédia cítrica, onde misturam-se inúmeras possibilidades de se chegar a um finalmente. Durante o espetáculo os atores ficam bem a vontade, porém em alguns instantes isso acaba ficando demais, quando infiltram outros assuntos, ou fazem alguma brincadeira com quem está em cena, o que é engraçado, tira risos do público, porém em algum momento isso pode atrapalhar a concentração do ator para com o personagem, dispersando, além da plateia, o próprio ator que de repente pode se perder no assunto.

O elenco é bonito, tal como uma vitrine bem montada. Dalton Vigh, Tania Khalill, Rachel Ripani e Alex Gruli apresentam ótimo entrosamento em cena. No dia em que fui assistir ‘Vamos?’ Dalton Vigh foi substituído por Rafael Maia, que desenvolveu grandes papéis na peça, boa dicção, por vezes atrapalhada, porém causou bastante humor ao personagem. Estão ai também os merecidos aplausos pela direção deste bom stand in. A atriz Tania Khalil vive mulheres expressivas, movimenta-se muito bem no palco e usa os objetos de cena perfeitamente para sua desenvoltura. Quanto a Rachel Ripani eu desconhecia seu brilhante senso humorístico na dramaturgia, a peça lhe oferece um ótimo destaque sensual, sem tornar seus personagens volúveis, a atriz expressa o texto de maneira sublime, permite ao público que ria de suas feições e movimentações com o corpo. Alex Gruli é um destaque quando toma ao personagem sua feminilidade, na troca de gêneros, um ator espetacular e muito próximo ao humor cotidiano que o público procura para se entreter, exprime bem o texto entre angustias e graças que seus personagens pedem, e tonifica muito bem a voz e o corpo para cada cena.

O figurino de Elena Toscano é bem vistoso, as cores são bem trabalhadas e o jogo de estampas é igual para cada dupla de atores, casado à direção de trocas de gêneros. Márcia Moon descreve muito bem um apartamento no cenário, os objetos são bem práticos para a movimentação dos atores, para que cada um surja, seja da bancada, ou das pilastras sem que o público os veja sair ou entrar em cena, um trabalho também sincrônico à troca de gêneros. O desenho de luz é de Wagner Freire, que movimenta as cores no palco cautelosamente, sem que machuque as cores do cenário, além de preferir os tons mais claros, acompanhando a leveza do texto. O gênero latino da música de Ricardo Severo tem um arranjo muito bacana, as batidas são bem apropriadas para o tema do espetáculo, Rachel Ripani ainda exibe sua voz bem afinada na gravação.

A direção de produção é de Ed Júlio, e executiva de Waldir Terence, com realização da Baobá Produções Artísticas. ‘Vamos?’ está em cartaz no Teatro Imprensa de sexta às 21:30h, sábado às 21h e domingo às 19h, os ingressos de sexta e domingo R$ 40,0 e aos sábados R$ 50,0. O espetáculo ficará em cartaz até 28 de novembro.

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