quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Hebe Camargo grava DVD em show exuberante na noite de ontem


O palco do Credicard Hall, em São Paulo, recebeu ontem (27) uma das maiores damas brasileiras, Hebe Camargo vestiu a paixão de vermelho e derramou lembranças sobre a noite que brindou um eterno espetáculo. Batizado como “Hebe Camargo e Convidados”, o show recebeu grandes nomes que desfolharam a rosa Hebe em lágrimas durante vários momentos.

O show marcou seu início com um grande atraso, que aumentou ainda mais a ansiedade do público, as cortinas subiram e revelaram luzes coloridas e elegantes destacando um cenário cromado ao fundo com um diamante enorme cravado ao meio, porém quem veio brilhando foi a estrela da noite, Hebe Camargo convidou todos os cantores logo no começo e juntos cantaram “O que é, o que é?”, de Gonzaguinha. Por ali ficou Alcione marcando o show com seu timbre inigualável, com a dama da TV ela cantou “Como vai você”, de Roberto Carlos. As canções do rei ganharam a playlist do show, reflexo da paixão e carinho que Hebe tem pelo amigo e cantor. Em seguida as teclas do piano receberam os dedos nobres de Ivan Lins, que cantou “Começar de novo”. Maria Rita vestia preto e os cabelos caídos num lado do rosto lhe traduziam o jeito da mãe, emocionada com uma homenagem preparada para ela, após cantar com Hebe a canção “Foi Assim”, a sambista deixou o palco em lágrimas quando no telão ao fundo viu e ouviu a mãe dizer da importância do nascimento da filha.

A nata sertaneja também cravou o luxo do espetáculo de Hebe, ao lado dela Chitãozinho & Xororó cantaram “Brigas”, Bruno e Marrone “Vai dar namoro”, Leonardo retratou a dama com “Talismã”, Daniel veio ao final do show com “Como é grande o meu amor por você”, quando Hebe errou a entrada da canção e pediu para voltar. A dupla Zezé di Camargo e Luciano ficaram com o público cantando “É o amor”, enquanto a estrela da noite trocava seu vestido vermelho por um branco. Porém ainda de vermelho ela cantou ao lado de Gilberto Gil a música “Esperando na janela”, arriscando sua voz caracterizada com um timbre não muito fácil de ser acompanhado, mas que deu de presente ao público sua irreverência e carisma. Com Daniel Boaventura o espetáculo foi ganhando seu tom mais clássico, cantou ao lado dele “Consuelo” e com o tenor, filho da atriz Sylvia Massari, Max Wilson “Dio como ti amo!”, que deixaram a emoção deslizar nas notas, mas todo o jogo de cintura musical amparou este momento.

Muito emocionado Fábio Jr. deu ao show o seu pitaco romântico, com beijos nos olhos chorosos Hebe lhe acompanhou em “Eu não existo sem você”, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. Paula Fernandes trouxe sua lírica voz rural um tratamento a qualquer estribilho, seu timbre doce soprou um contentamento contagiante em Hebe que juntas cantaram “Tocando em Frente”. A apresentadora Xuxa Meneghel estava na primeira fileira do show, enquanto Hebe Camargo cantava “Pohon Pom Pom”, de Catulo de Paula, num tom de bossa, desceu a escada até o público e sentou no colo de Xuxa, depois passeou por entre as pessoas dando-lhes a voz para acompanhá-la na canção. Com o quarteto feminino Barra da Saia mais uma música de Roberto Carlos ficou na sublime voz das meninas, “Índia”, canção de praxe de Hebe passeou pelos instrumentos que deram ao arranjo uma interessante partitura.

O show foi gravado pela Sony Music que lançará para o próximo ano um DVD, onde Hebe Camargo não deixa de lado sua irreverência como apresentadora e sua voz clássica, muito bem acompanhada ela abrilhantou a noite de ontem. Sozinha cantou “Você não sabe”, de Roberto Carlos, que na segunda parte da música deixou gravada sua voz enquanto passavam imagens do rei numa cortina branca ao fundo do palco. Emocionada ela terminou a canção e levantou o público com a música “É preciso saber viver”, também do rei e deixou o Credicard Hall sob aplausos dos amigos, como ela mesma referiu-se a todos ali presente.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

“A Gaiola das Loucas”, um musical de plumas e paetês


Estreou essa semana em São Paulo o musical “A Gaiola das Loucas”, no Teatro Bradesco, com texto de Harvey Fierstein e direção de Miguel Falabella, que também atua. O musical faz voar plumas quando exibe as danças bem coreografadas e cospe fogo ao criticar a homofobia de forma indireta. Mas de contraponto o espetáculo especula muito mais o homossexualismo e esquece de exuberar mais o lado artístico disso tudo, com uma partitura engessada e camadas de humor a gaiola solta suas loucas.

O espetáculo é baseado na peça “La Cage Aux Folles”, de Jean Poiret, e agora traz a história num musical com versão brasileira de Miguel Falabella, que interpreta o personagem Georges, um homossexual que vive com Albin, que num cabaré ganha os espetáculos como a travesti Zazá, interpretação fabulosa de Diogo Vilela. Jean Michel é filho de Georges com uma mulher a qual se aventurou, porém o jovem foi criado pelo casal de homossexuais tendo Albin como uma mãe. Jean anuncia seu noivado com Anne Dindon, vivida por Carla Martelli, a moça é filha de um deputado extremamente conservador, que ao descobrir a formação da família que sua filha está prestes a entrar tenta proibir este casamento, mas Jacqueline, amiga de Albin e Georges, interpretada por Sylvia Massari, tem em mãos o trunfo que poderá reverter a proibição do deputado Dindon, elevando o humor do texto.

Ontem (25) estive na exibição do espetáculo para convidados, neste tive o desprazer de assistir o musical do balcão nobre, onde a estrutura nos inibe de enxergar qualquer detalhe importante para se escrever uma crítica respeitosa ao musical, além do mais não há como falar de expressões, passos de dança, cortes do figurino quando se vê em grande parte do tempo apenas as cabeças dos atores, talvez eu consiga lhes dizer melhor como são as perucas dos personagens, ou da iluminação, assim como quando estamos sobrevoando uma cidade e só enxergamos pequenos objetos e a iluminação das ruas. Não consigo ao menos citar os atores que compõe o elenco, nos números de dança e também de interpretação, quase não vi seus rostos, não acho justo falar de nomes sem citar as interpretações.

Olhando de frente minha visão enxergava bem a iluminação de Maneco Quinderé, que trança cores sublimes por todo o palco, mesclando a energia dessas cores com os telões de led que engrandecem o show de tecnologia que o espetáculo traz. O figurino assinado por Cláudio Tovar, mesmo de longe me permite saborear a elegância e cuidado, plumas e paetês envolvem os tecidos com um desenho nobre, porém este é outro detalhe do qual não posso transmitir com tanta autonomia, desta forma não irei escrever sobre o que vi nas fotos, um crítico de teatro escreve aquilo que vive no momento do espetáculo. Os cenários têm suas trocas rápidas, porém não são tantos cenários, tudo gira em torno de cortinas, telões, e a montagem cenográfica fica por conta da casa do casal, do restaurante onde se encontram e do terraço de um outro restaurante, além de elementos que são usados no palco do cabaré, como uma escada muito bem desenhada que recebe os passos das loucas.

O texto deste musical explora muito mais os temas homossexuais, no palco vários homens trajados de mulher dão o toque feminino e transformista do espetáculo, porém são poucos os números de dança, tratando-se de uma história que também acontece no cabaré, acredito que poderia haver mais cenas dançantes. A coreografia de Chet Walker, ensaiada junto com a coreógrafa assistente Fernanda Chamma, pinta e borda um ânimo bacana no musical, e ganha mais ritmo no segundo ato. O movimento das roupas ajuda bastante na beleza do conjunto de tudo. A direção musical e adaptação do original é de Carlos Bauzys, com assistência de Daniel Rocha, que também assume a regência. A partitura é um tanto engessada, parece que ouvimos as mesmas notas em várias músicas, o segundo ato vem mais embalado e com diferenças entre uma música e outra. O timbre de Diogo Vilela é espetacular, assim como o de Miguel Falabella também surpreende. A co-direção do espetáculo é assinada por Cininha de Paula, que creio ainda precisar explorar melhor o palco do Teatro Bradesco, pois a diferença de visibilidades entre o Oi Casa Grande, que recebeu o Gaiola no Rio de Janeiro, e o Bradesco é bem perceptiva, mesmo os preços sendo um pouco mais populares nos balcões e frisa, é bem desagradável ver cenas em parcialidade.

A produção geral de Sandro Chaim fica em cartaz até 19 de dezembro no Teatro Bradesco, do Shopping Bourbon, em São Paulo. O musical “A Gaiola das Loucas” é apresentado de quinta e sábado, às 21h. Sexta, às 21:30h e aos domingos, 19h. Os ingressos vão de R$ 20 a R$ 170,0 e podem ser comprados na bilheteria do teatro, ou na internet no site do Ingresso Rápido.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

“O Filho da Mãe”, não há como não sentir-se em casa


A comédia “O Filho da Mãe” é um texto de Regiana Antonini, com direção de Eduardo Martini que entra em cena com o estrelado Bruno Lopes, em cartaz no Teatro Ruth Escobar, em São Paulo, a peça é o retrato fidedigno das relações entre mães e filhos, as pitadas de comédia e emoção misturam-se com música e realidade dando ao espetáculo seu tom de “estamos em casa”.

O texto desenrola a relação entre mãe e filho muito bem costurada por Regiana, que estampa sempre a marca familiar em seus roteiros. Eduardo Martini, que dirige e interpreta Valentina, não deixa de derramar ao deleite cômico da peça sua irreverência e ainda revela-se num estilo diferente do que ele apresenta em seus espetáculos, põe paixão e emoção nas expressões da mãe Valentina e emite uma voz súplica e antecipa as saudades do filho Fernando, interpretado por Bruno Lopes, que partirá para Nova York, onde estudará cinema. Valentina é separada do pai de Fernando, porém deixa sempre escapar a paixão que ainda tem pelo ex-marido, quando com a bela performance de Eduardo leva às inquietudes da personagem esse amor que está intrínseco no texto. A peça conta com momentos de flashback que redesenham a história dos dois, sempre com muito humor e respeito a essa relação de afeto.

O palco é muito bem aproveitado pelo cenário, obra também de Eduardo Martini, os espectadores acabam deparando-se com um apartamento, que tem a história de uma família contada dentro dele, com esse belo trabalho não há como não se sentir em casa. A iluminação de Marcos Meneghessi mantém as cores caseiras que são suficientes para qualquer apartamento, para acompanhar os momentos de emoção da peça ora a luz isola os atores formando uma cena, ora amplia-se para todo o palco. Os figurinos retalham cores bem ornadas, vestem bem às idades de cada personagem e deixam Valentina bem feminina, escondendo qualquer sinal masculino do ator. A costura elegante e bonita é assinada por Adriana Hitomi. Foi uma das poucas vezes que vi uma comédia ser interpretada por várias fisionomias do público, cada mãe identifica-se de uma forma, outras por inteiro, assim como os filhos também, a trilha sonora, de Sergio Luis, acompanha esse clima materno e clássico, Valentina é fã de Tim Maia que vem embalando as cenas com seu swing cômico. Entre as cenas sons de pianos tornam-se lembranças e alimentam a ótima trilha.

A entrega dos atores é muito bacana, a sintonia cresce a cada contato entre os personagens, Bruno Lopes entra um pouco recatado, mas revela-se grande quando não limita-se, de repente, de enxergar sua mãe na personagem Valentina. Eduardo Martini não se preocupa em mascarar sua voz, muda um pouco o tom, mas caracteriza a mãe de uma forma peculiar, como já está acostumado a interpretar mulheres Valentina entra para seu novo álbum. Movimentos, expressões e timbres vocais não cercam a peça só em comédia, mas justificam toda entrega de uma mãe ao filho e a recíproca deste. A sensibilidade da produção fica bem aparente, dirigir e atuar não é uma das mais fáceis tarefas, por isso Vivi Alfano cumpre dignamente a assistência de direção.

Mais uma vez Yara Leite arrebata aplausos para sua produção, ao lado do assistente Bruno Albertini e da administração de Adriana Amorim. A comédia “O Filho da Mãe” ficará em cartaz até 26 de novembro, na Sala Dina Sfat, do Teatro Ruth Escobar às quintas-feiras 21h e sextas 21:30h. Os ingressos custam R$ 50,0 e podem ser comprados na bilheteria do teatro ou pelo ingresso.com na internet. Fotos: Claudia Martini.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Bibi Ferreira faz única apresentação em São Paulo


Será nesta noite (13) que um dos mais imponentes endereços artísticos de São Paulo, o Teatro Bradesco, receberá Bibi Ferreira com o espetáculo “De Pixinguinha a Noel, Passando por Gardel” em única apresentação. A cantora, atriz, compositora e diretora comemora 70 anos de carreira, filha do ator Procópio Ferreira e da bailarina espanhola Aída Izquierdo, Bibi trilha a longevidade artística de sua família.

Abigail Izquierdo Ferreira, conhecida como Bibi Ferreira, nasceu em Salvador, na Bahia, em 1922, porém sem saber ao certo o dia, a mãe dizia que era em 1º de junho e o pai em 4 de junho, mas sua certidão traz a data 10 de junho. Aos 24 dias de vida a atriz fez sua estréia substituindo uma boneca que tinha sumido pouco antes do início do espetáculo, na peça Manhãs de Sol. Até os quatro anos falava em espanhol, pois após a separação dos pais Bibi passou a morar com a mãe na Espanha. Participou do corpo de Baile do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, quando voltou definitivamente ao Brasil, também entrou para a companhia de seu pai, até que em 1941 estreou profissionalmente nos palcos na peça “La lacondiera”, até que em 1944 montou a própria companhia. Bibi também foi para Portugal, onde passou 4 anos na direção teatral. De volta ao Brasil, na década de 60, participou dos musicais que adentravam ao País, “Minha Querida Dama”, que fez ao lado de Paulo Autran, além de outros no teatro e na televisão. Em 1960 começou a apresentar um programa na TV Excelsior de São Paulo, que levou para a telinha grandes nomes do teatro. Bibi Ferreira já dirigiu shows de Maria Bethânia, além de peças teatrais com sucesso de críticas, também atuou em inúmeras e destacou “Gota d'àgua” como uma das melhores produções teatrais do Brasil.

Bibi ainda fez e faz sucesso com sua voz esplendorosa, revive Edith Piaf através de suas líricas cordas vocais, paixão que veio do amor aos clássicos e óperas de seu pai. Desde a década de 90 ela têm sido premiada por seus musicais que incluem as canções de Piaf, sofisticadamente interpretadas por sua finesse artística. Até mesmo a França recebeu a cantora no palco do Maison de France no ano passado. O Espetáculo “De Pixinguinha a Noel, Passando por Gardel” divide em dois atos a brasilidade de Bibi junto com os passos de tango herdados da mãe. Tom Jobim, Chico Buarque, Vinícius de Moraes, Orestes Barbosa, Maysa e Dolores Duran ganham a voz da cantora logo no primeiro ato, além de três fados lembrando Amália Rodrigues e três canções de Piaf, uma homenagem a Noel Rosa ganha um destaque num mini bloco do espetáculo. O segundo bloco é introduzido com um solo do pianista Diego Schissi, quando entra Bibi e canta dois tangos “Milonga Triste” e “Yo Soy El Tango”. Em seguida a orquestra argentina El Arranque acompanha Bibi Ferreira nos tangos “Debajo”, “Questa Abajo” “Esta Noche me Emborracho”.

Esta noite será clássica, tanto para o tango, quanto para a música brasileira. Um das mais importantes orquestras da Argentina, com uma das mais importantes atrizes e cantoras do Brasil se unirão sob as luzes do Teatro Bradesco e sobre o palco paulistano, além da certeza de aplausos carinhosos do público. O valor dos ingressos vão de R$ 60,0 a R$ 120,0 para essa única apresentação no Teatro Bradesco, do Bourbon Shopping, em São Paulo.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Eduardo Martini com um festival de comédias

Eduardo Martini reservou para os meus leitores lugares vips para quem quer assistir uma boa comédia, das quais recomendo! Não deixem de ir, imprima qualquer um destes flyers, designado às respectivas peças e entregue na bilheteria do Teatro Ruth Escobar, mas assistam todas, são ótimas!





quinta-feira, 7 de outubro de 2010

“Dos Escombros de Pagu”, a história do Brasil nos sentidos de uma mulher


O texto de Tereza Freire, com direção de Roberto Lage, é um deleite para qualquer historiador, está como uma exposição de imagens, lembranças e formas no Teatro Eva Herz, da Livraria Cultura, em São Paulo, encenada por Renata Zhaneta, Pagu, a militante comunista volta a protestar e calibrar sua vida.

A peça “Dos Escombros de Pagu” nasceu de uma tese de doutorado da autora Tereza Freire, que levita a história no tempo e nos traz um passado que ainda protesta. Pagu, a comunista Patrícia Galvão, não foi apenas uma mulher mãe, ela nasceu em Santos e por lá revolucionou, fundou uma vida nova para os padrões femininos da época e apenas a deixou por fatalidade. Pagu foi a primeira mulher presa política no Brasil, casou-se com Oswald de Andrade, então separado de Tarsila do Amaral. Era jornalista, se meteu a escrever contos policiais numa revista, dirigida por Nelson Rodrigues, e sempre os fazia com meticulosidade, junto com Oswald fundou um jornal esquerdista, empastelado pela polícia da era Vargas. Na França foi presa e deportada, por aqui ficou 5 anos no cárcere e na tortura, onde chegou a pesar 40kg e foi liberada por adoecer. Era uma incentivadora do teatro amador e amante das poesias. Morreu aos 52 anos com câncer no pulmão, daí caiu no esquecimento da história. Aos 100 anos de idade sua história, desde o nascimento dela, faz Pagu de livro, música e agora um drama no teatro.

Uma fumaça introduz a entrada de Renata Zhaneta ao palco, claro, vinda do vício de tabaco que tinha Pagu, inseparável dos cigarros, a cada boa recordação valia acender um. Assim queima a brasa das lembranças e do fumo junta a intensa interpretação da atriz, que vem chicoteando a história brasileira com expressões bárbaras, com lágrimas recolhidas nas bolsas dos olhos, e qualquer irreverência que também compunha a personalidade de Pagu. A iluminação de Wagner Freire não distribuí um arco-íris mirabolante como muitos iluminadores têm feito em alguns palcos, ele opta por uma luz branca e azul, isso deixa o palco com o tom de um amontoado de recordações, a cortina preta no fundo recebe luzes a cada dobra, e auxilia no belo cenário de Heron Medeiros, que distribuí no palco móveis de época, uma cadeira, onde a atriz relê a postura de Pagu sentando espalhada e sem preocupar-se com os modos, ainda uma tela branca acomodada num cavalete com a gravura de Tarsila do Amaral, muito envolvida na trama.

O figurino assinado por Gilda Bandeira de Mello neutraliza as cores e as une num creme com um xale branco, que escondia a pintura do quadro. A atriz maquia-se no palco durante uma de suas falas, vai delineando os olhos e revelando um ótimo trabalho de ensaio e direção. Os cabelos presos são liberados num dado momento estilizando a atriz num outro momento de Pagu. A trilha sonora de Aline Meyer acompanha a leitura do texto com muita beleza, o roteiro exprime sentimento, tristeza e alegria, o texto leva um olhar compenetrado para a atriz, a voz com tom de lembranças, as passagens das falas em poesias, irreverência e a boca vermelha, bem pintada declamando a reflexão de uma ditadura.

A produção é um belo ensaio do Lage, que rasgou uma bela seda em sua história, tragou uma peça que não é de domínio popular, mas que assim como a música popular brasileira é popular, a história desta mulher também deveria de ser. Regilson Feliciano é o produtor executivo e a direção de produção e administração é de Charles Geraldi e Maurício Inafre. Realização de Charge Produções e Promoções Artísticas. A peça poderia chamar-se apenas Pagu, não acredito que ela tenha sido encoberta por seus escombros, a peça é uma grande oportunidade de revivê-la, porém “Dos Escombros de Pagu” não é uma redescoberta da personagem, mas sim, como deixa claro o texto, uma recordação carinhosa. A peça ficará em cartaz até 18 de novembro no Teatro Eva Herz, na Livraria Cultura, da Avenida Paulista, quarta e quinta-feira, às 21h. Os ingressos custam R$ 30,0.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Claudia Martini traz para São Paulo o Cristo Redentor em fotografias


Hoje (4), em São Paulo, no restaurante Piola, a fotógrafa Claudia Martini exibirá numa exposição, que inaugurará seu trabalho com um cocktail, fotos do Cristo Redentor, monumento hasteado em 1931, eleito, em 2007, uma das 7 maravilhas do mundo moderno. Sob a perspectiva de apenas um ângulo Claudia Martini revela o olhar através da janela de seu apartamento interpretando o Cristo além do símbolo religioso, exprime a sensibilidade, beleza e identidade carioca que resume o Brasil. O curador do acervo é Marco Antonio Portela.

“Da janela, O Redentor” é uma exposição que mistura o clássico e semeia um sentimento boêmio da bossa nova, as fotografias recortam o estilo contemporâneo da fotógrafa ao revelar suas imagens, tendo o Corcovado como estúdio, a iluminação que oscila entre amanhecer, dia, entardecer e noite, o Cristo como um personagem estático, além do ângulo exato, sua janela que acorda ao abraço. Cada imagem exalta uma sensibilidade, ou a rigidez das nuvens que passeiam por detrás e sobre o Redentor, ainda exalam a perspicácia que artista tem ao receber o momento correto de disparar seus flashes.

Quem dera todas as imagens fossem bossa, que todos os disparos no Rio fossem de uma câmera para aclamar a beleza, as lentes de Claudia Martini aproximam um astro de 38 metros e respiram o céu que mostra-se artístico, aquilo que se vê diariamente torna-se diferente, anula toda a rotina e ganha novos olhares e mensagens. A fotografia é uma arte mensageira, de tantas interpretações e leituras, fiel a seus percussores Claudia exibe sua graça carioca e sensibilidade poética através de um grande acervo. A fotógrafa, irmã do ator Eduardo Martini, traz para São Paulo a confirmação do talento familiar. A exposição “Da janela, O Redentor” será inaugurada hoje (4) com um cocktail a partir das 20h no Piola, localizado no Jardins, em São Paulo.

Rita Lee marcou SP em sua agenda de shows


No último sábado (2), um dia antes das eleições, a roqueira mais famosa do Brasil, Rita Lee, trouxe para o palco do Grande Auditório, do Parque Anhembi, o show “ETC...”, com inteira participação instrumental de seu filho Beto Lee e do marido Roberto de Carvalho. Rita cantou sucessos de sua carreira e deu ao público mais de uma hora e meia de muita música boa.

Como sempre, irreverente, a roqueira destilou o seu veneno musical inigualável, se no Brasil houvesse uma Woodstock ela seria tão grandiosa quanto Janis Joplin, ela conversa, protesta e canta com sua sabedoria artística que deu a ela o prestígio de uma das maiores mulheres da música brasileira. O repertório estava recheado de sucessos, “Agora só falta você” abriu o show, que veio seguida de “Ti Ti Ti”, tema de novela da TV Globo, que fez o público todo cantar. Ainda “Pagu” e “Amor e Sexo” embalaram a noite com a dama roqueira das madeixas acobreadas.

Rita Lee e Roberto de Carvalho exibem não só o amor conjugal, mas à música também, os acordes revelam a paixão pelo rock, ainda mais ao levá-lo aos palcos com notas mais abrasileiradas. Um telão exibe imagens da cantora, fotos antigas recebem a música “Ovelha Negra”, inspirada em si mesma, a guitarra e o baixo silenciam a letra e deitam a história de Rita sobre um gramado que engoli folhas de um vendaval, ela relembra os dias de festa, a infância, o pai, as revoltas, as drogas, o casamento, os três filhos e a neta que tornou-se um xodó. A iluminação faz seu show particular, esculpi um cenário que abusa das cores, todas as cores, com total controle e beleza.

Os fãs iam se manifestando, carregavam discos de vinil e todo patriotismo pelo rock de Rita Lee. “Doce Vampiro” foi cantada a uma só voz, com seu violão vermelho Rita ia adocicando as cordas e mexendo o público, trazendo saudade dos anos 80, tirando do baú coisas como “Banho de Espuma”, que lavou-se de bolinhas de sabão por todo o palco. Canções que viraram hits brasileiros cumprimentaram os amantes do som, “Bwana” e “Mania de Você” roubaram a cena entre o meio e o fim do show. O ídolo da cantora também foi relembrado, o cover de Michael Jackson, Nick Goulart fez a performance de “Bad”. Antes da última música, Roberto de Carvalho mandou “It´s only rock and roll”, dos Rolling Stones.

A banda que os acompanha é uma orquestra do rock, o baiano Danilo Santana canta com os dedos assim como Rita com as cordas vocais, além dele acompanham Beto Lee (guitarra) e os músicos Brenno di Napoli (baixo), Edu Salvitti (bateria), Debora Reis e Rita Kfouri (backing vocals). Para brindar a noite com saudades dos trash 80´s fecharam as cortinas do show as músicas “Lança Perfume” , “Flagra” e “Erva Venenosa”, deixando o público com vontade de muito mais bis. A produção foi da Poladian, que também levou para o Grande Auditório, depois de anos, esses sucessivos sucessos, Ney, Gal e Rita.

sábado, 2 de outubro de 2010

Gal Costa volta aos palcos de SP com show acústico


Ontem anoite, no Grande Auditório, do Parque Anhembi, Gal Costa, já considerada pelo meio artístico como a maior cantora do Brasil, fez um show acústico relembrando diversas músicas que fizeram sucesso em sua voz. Com o mesmo timbre romântico de sempre ela voltou a São Paulo após anos sem se apresentar nos palcos daqui.

Gal veio ao palco triunfante, já entrou sobre um tapete de aplausos, debaixo de um banho de luzes nobres e ao fundo uma cortina prateada que refletia diversas cores ambientalizando as notas que traziam compasso à sua voz. Acompanhada de Luiz Meira, no violão, ela relembrou canções que marcaram sua carreia, da bossa às palavras de Dorival Caymmi, que cantaram a Bahia, boa parte da caminhada de Gal Costa na música passeou pelas vozes de todos os presentes.

O figurino lhe deixava ainda mais leve, ainda mais total. Os cabelos relembravam aquela mulher profana, que dobrava os joelhos e em uma leve abaixada para reverenciar o público com a cortinada que seus encaracolados novelos negros dava ao rosto dela. As três primeiras músicas introduziram sua volta grandiosa aos palcos, ela cantou “Azul”, com um certo descompasso, mas calibrava o belo repertório que viria trazer toda sua brasilidade durante o show. Estava mais falante do que nunca, na medida certa, conversou com a plateia e com uma homenagem para Dorival Caymmi ela trouxe “Vatapá”, com uma versão tão gostosa quanto à receita.

O repertório esquentou a noite, “Wave”, “Garota de Ipanema” e “Chuva de Prata” fizeram todo mundo cantar, músicas que Gal gravou enquanto embalava as rádios cariocas e do país todo. Ainda “Meu bem, meu mal” e “Vapor Barato” não ficaram de fora da elegância que a preservaram num show classudo. A baiana do timbre romântico, da voz entre grave e agudo, do samba, do rock e da bossa calou qualquer tristeza e não censurou sua irreverência e contentamento. “Folhetim” deu ao show romantismo, “Brasil” saudade de um país limpo e alegre e “Força Estranha” despediu o público que pedia mais bis.

A Poladian presenteou São Paulo com mais uma ótima produção. Gal Costa, que fez shows pelo mundo inteiro, tem ensaiado um Total repertório saudoso, com qualidade musical e acordes de Luiz Miranda, que passeia pelas cordas do violão amando o som brasileiro. Hoje tem Rita Lee no mesmo palco, onde no mês passado Ney Matogrosso recitou seu grandioso som. Rita se apresenta às 21h, no Grande Auditório, do Parque Anhembi.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

“Nosso Lar” exibirá sessão para surdos, mas ainda é pouco


O filme que leva a direção de Wagner de Assis, como uma das maiores produções e bilheterias do cinema nacional, que já arrebatou mais de 3 milhões de espectadores, “Nosso Lar” chegará hoje ao cinema em São Paulo, no Cine Artlpex, do Espaço Unibanco do Shopping Frei Caneca uma sessão do filme com legendas especialmente para deficientes auditivos.

A grande crítica aqui não será sobre o filme, sim sobre o horário em que essa sessão será exibida, às 16:30, nesta sexta-feira, onde os surdos também trabalham, ou será que os mesmos precisam deixar o serviço mais cedo para acompanhar uma sessão em que torna-se quase que exclusiva, privando-se apenas a uma cidade, por enquanto, e nesta sala em específico? Sem dúvidas a importância das legendas num filme nacional deve-se ganhar âmbito nacional, São Paulo não é a única cidade que habita deficientes auditivos, além do mais o assunto precisa ser tratado com mais respeito, se há lugares reservados para cadeirantes numa sala, também precisa haver legendas, todas as especialidades precisam ser tratadas com total igualdade, somos todos moradores do mesmo planeta, pagantes dos mesmos impostos e garantidos pela mesma constituição.

O filme é baseado no livro de Chico Xavier, onde conta a história de André Luiz, interpretado por Renato Prieto, onde após sua morte acorda com sentidos comuns, sede, fome e frio, no umbral ele súplica para sair do purgatório e recebe a luz que o leva para o Nosso Lar, onde os espíritos têm a oportunidade de cura e regeneração. Nesta cidade ele pôde prestar todo apoio aos atendimentos espirituais e médicos, assim lhe é concebido o direito de ir à Terra visitar sua família, quando ele percebe que a vida continua para todos.

O filme caracteriza-se por sua sensibilidade e leveza, exprime toda a espiritualidade de Chico Xavier, a ótima produção da Cinética Filmes e Iafa Britz, conta com a distribuição da Fox Film do Brasil, a qual tem sido procurada e especulada por deficientes auditivos para que a exibição do longa-metragem com legendas passe também para os finais de semana e ganhe um projeto, onde todo o Brasil receba as sessões. Apenas uma exibição, dentro do horário comercial e numa sexta-feira aplica-se ao descaso às questões humanitárias, todas as pessoas têm direito ao entretenimento e acesso à cultura, porém este tem sido imoralmente violado.

A exibição será hoje (1) no Cine Artplex, do Shopping Frei Caneca, em São Paulo, e ficará até o dia 7 de outubro, às 16:30h. Outros filmes nacionais também já tiveram em suas versões legendas, como “Chico Xavier” e “Os Desafinados”, porém foi alegado pouco público, mas não há como exigir a presença dos surdos em apenas um dia, num horário comercial e em apenas uma sala. Aos que puderem comparecer é importante o incentivo à igualdade, legendar um filme não é um trabalho que eleve tanto os gastos, os filmes brasileiros têm ganhado sucessivos êxitos internacionalmente, vamos deixar a cultura individualista e despreocupada no lixo e dar acesso à todos os espectadores em todos os filmes. A cultura precisa de apelo, para ganhar mais respeito e espaço no Brasil.