segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
“Hécuba”, em cartaz no Teatro Vivo
Mais um espetáculo de Gabriel Villela está em cartaz no Teatro Vivo, em São Paulo. Sem perder sua digital sensível ao visual cenográfico do espetáculo, o diretor parece copiar seus próprios aspectos em tudo que monta. Seus guarda-chuvas continuam a compor as cenas, mesmo que desnecessários. Walderez de Barros é a Hécuba, de Eurípides, num texto firme, triste, sóbrio e apreensivo.
Mesmo com tantas cores no palco, o texto de Eurípides desabrocha uma tragédia grega, um confronto troiano. Hécuba, a rainha de Troia, alimenta-se do rancor pela morte de seus dois filhos, Polixena e Polidoro. Com a ajuda das troianas, Hécuba vinga-se do Quersoneso Trácio, que encomendou o corpo de suas proles. O texto tenta passar alguma mensagem, mas sua adaptação torna isso quase que insuficiente, o confronto liderado pelas histórias dos reinos, contadas no roteiro, recobrem qualquer mensagem, que não seja a da vingança. Com o texto que lhe foi entregue, Walderez interpreta como um furacão a rainha Hécuba, ela desenha uma cena intensa, um olhar voraz e surpreende com um timbre incrível. No elenco também estão Fernando Neves, Flávio Tolezani, Nábia Vilela, Luiz Araújo, Luisa Renaux, Leonardo Diniz, Marcelo Boffat e Rogério Romera, escondidos por detrás de máscaras e da atuação de Walderez.
A iluminação de Miló Martins é um traço forte que compõe o espetáculo, estando muito bem desenhada. O figurino é um grande baile de cores, de tecidos bem cortados, mas perde-se do contexto do texto e de uma atração para a nacionalidade brasileira. Um rainha, sem traços de rainha, com a dureza selvagem, mas que é característica do texto, porém um cajado cravado de pequenos búzios, em plena Troia? A dor da rainha troiana é um reflexo muito similar aos fatos atuais, mas o espetáculo tem um corte muito brusco para ser realizado em sessenta minutos. Ou o espetáculo é sóbrio, ou ele é colorido, transitar pelos dois numa tragédia é como pintar de roxo o cavalo de Napoleão. No texto de Eurípides, Hécuba é uma mulher sã e rica, na adaptação de Vilela, não há essa passagem. Ela já assume o palco com a face entristecida. O texto teatral tem que resumir-se e contar sua história, e não fazer o público buscá-la em complementos após sair do espetáculo, isso é lição de casa.
O cenário assinado por Márcio Vinícius é um belo acerto, ele consegue valorizar a cena e acompanhar o brilho da luz. Os adereços revivem bem as arenas dionisíacas, quando falamos de máscaras, mas o closet de Villela cai novamente sobre outro espetáculo seu, e coloca nas mãos de atores guarda-chuvas que não se encaixam em nenhum sentido, nem mesmo cênico. Ainda não consegui entender o porquê de tantos guarda-chuvas em seus espetáculos. As músicas entoadas pelos atores são um retrato épico, mas caem novamente em sua mesma característica de carimbar sempre a mesma digital em diversos espetáculos. Uma direção precisa ser mutável, na medida em que o espetáculo muda de roteiro, ou então, é melhor manter o mesmo texto por anos em cartaz.
O Teatro Vivo, mais uma vez, recebe uma encenação clássica, e desta forma segue sua linha curatorial, descartando qualquer forma mais burlesca e alternativa de roteiro e mantém-se num cordel contínuo de espetáculos, evidenciando um elitismo cultural, mesmo com oportunidades apresentadas pelo programa de cultura da empresa de telefonia móvel, o Vivo Encena, é preciso abrir os camarins para uma transformação daquele palco. O teatro precisa ser mutável, mantendo-se em sua essência de transmitir cultura, humor e entretenimento. Essa não é uma característica exclusiva do Teatro Vivo, este é um conceito que tomou conta das curadorias teatrais. Os palcos são entradas para toda a manifestação cultural, desejável a grande parte da sociedade, não apenas as seletivas clássicas, ou ao humor que se faz na televisão e transfigura-se em stand up nos palcos, como tem feito o Teatro Frei Caneca. O Vivo é o teatro mais bem preparado do Brasil, com o devido acesso para deficientes auditivos, visuais e motores. Colaboradores voluntários da Vivo dão aos espectadores com deficiência visual informações referentes a todo o meio cênico do espetáculo, assim como interpretações em libras e legendas, para deficientes auditivos.
“Hécuba” estará em cartaz durante todo o mês de janeiro do próximo ano no Teatro Vivo, em São Paulo. Os ingressos podem ser comprados na bilheteria do teatro, ou pelo Ingresso Rápido, na internet. Sextas às 21h30 e domingo às 20h, ao valor de R$ 40,0, e aos sábados às 21h, sob o valor de R$ 60,0.
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
Fernanda Montenegro vive cartas de Simone de Beauvoir em “Viver Sem Tempos Mortos”
Um doce, ácido, cálido e voraz encontro com Simone de Beauvoir está na voz e no olhar de Fernanda Montenegro, em cartaz no Teatro Raul Cortez, em São Paulo. Dirigida pelo ímpar Felipe Hirsch, Fernanda volta aos palcos interpretando uma gama muito bem selecionada de cartas de Simone para Jean-Paul Sartre.
O texto é sustentado por cartas e a autobiografia de Simone de Beauvoir, pesquisa e compilação realizada por Newton Goldman, que leva ao palco uma tradução resumida de uma das pensadoras mais influentes do século XX. Juntar grande parte da obra de Simone já é algo muito complexo, por exemplo, a escritora compôs seis volumes de autobiografias, além de infinitas cartas, algumas destas remontam a intensa vida dela, desta vez vivida pela dama do teatro, Fernanda Montenegro.
Fernanda faz teatro com um brilho especial nos olhos, é possível visualizar a personagem através de seu olhar, que penetra a cada um na plateia e remonta o roteiro com sua marcante voz. Eu só compararia a voz de Fernanda com um daqueles bons perfumes franceses, que marcam o cheiro por vários dias em um tecido. Ela doma um dos mais belos timbres que refinam um texto e que toma vorazmente conta do teatro para explanar cartas que falam de amor, de sexo, que revelam a audácia de Simone e a energia que a caracterizava um trator do pensamento.
As correspondências trocadas entre Simone e Sartre, seu grande amor, era o maior treinamento de sentimentos e ideais que a pensadora praticava. A direção de Felipe Hirsch é um pergaminho que vai se desenrolando com cautela no palco, e fazendo de uma arena sóbria o calor de cada carta interpretada pela atriz. Sua interpretação é uma memória póstuma, uma pitada brutal de concentração, um saboroso roteiro gozado por palavras lindas e parafraseadas pelo comportamento de Fernanda, que permanece o espetáculo inteiro sobre uma cadeira ao centro do palco, enquanto é banhada por um feixe de luz, desenhado por Beto Bruel, enquanto a impecável produção fica por conta de Carmem Mello e realização da Trigonos Produções Culturais.
A voz aveludada de Fernanda Montenegro vai interrompendo o silêncio à medida que casa-se com ele, e assim a história de Simone torna-se teatral. Ainda assim, senti falta de algumas das frases de Simone feitas no Brasil, enquanto a pensadora hospedava-se no Recife, sofrendo com o calor, e amando Nelson Algren, um escritor norte-americano pelo qual apaixonou-se após romper com Sartre. Aqui no Brasil, Simone e Sartre vieram para participar de um Congresso de Crítica e Literatura, o grupo, que ainda contava com Camus, era chamado de existencialista, pela maneira particular e contraditória a muitos costumes da época. Alberto Ribeiro e João de Barro retrataram este estilo de vida e reflexo ao que vemos de fora com a marchinha “Chiquita Bacana”, que foi um sucesso, menos aos ouvidos de Simone. Enquanto o Congresso acontecia, o Brasil suava com a derrota do Santos, de Pelé, para o Ferroviário, de 4x0.
Daniela Thomas é responsável pela direção de arte do espetáculo “Viver Sem Tempos Mortos”, que volta com mais valorização da atriz sobre o palco, com uma interpretação típica de sua experiência teatral. Fernanda veste-se sóbria, mantém o público voltado a cada palavra bem contada do texto, e reconta essa impecável história deixando exposto o eterno amor de Simone para Sartre e sua aventura em vida. O mais espetacular é que Fernanda não se descreve Simone de Beauvoir, ela é a atriz que interpreta a intensidade.
O espetáculo esta em curta temporada no Teatro Raul Cortez, na Fecomércio, em São Paulo, até o dia 11 de dezembro, com apresentações extras nos dias 1 e 8/12, 21h30, ao valor de R$ 80,0. Sextas às 21h30, domingo 18h, com os ingressos por R$ 80,0. E aos sábados às 21h00, e os ingressos por R$ 100,0.
terça-feira, 29 de novembro de 2011
“Minhas Sinceras Desculpas”, com Eduardo Sterblitch
Essa é minha primeira crítica dirigida parcialmente ao público, assim como foi um dos únicos espetáculos que já assisti onde a crítica está para o público. Eduardo Sterblitch não é o César Polvilho da TV, personagem que apresenta o programa Pânico, na Rede TV. No palco, o ator tenta contar sua história através de uma tragicomédia, que é ligeiramente traduzida para humor pelo próprio público catequizado pela televisão e que esperava um encontro com os personagens do ator.
“Minhas Sinceras Desculpas”, que teve sua última apresentação no Citibank Hall, em São Paulo, não é um monólogo, tampouco foi um espetáculo que me arrancou risos, Eduardo é um ator de teatro, que ganha a vida fazendo humor na televisão. Sua experiência teatral, com o espetáculo, parece um despejo frustrado de sua trajetória cênica, o ator rebusca sua própria história e a expõe ás vistas do público de uma forma direta, utilizando exemplos da burguesia moderna e do comodismo humano, onde o público aprendeu a saciar-se apenas com a cultura televisiva.
Eduardo é um dos atores mais versáteis que conheço, e sem dúvidas uma das melhores revelações que surgiram nos últimos anos. Suas expressões, e as vezes a falta delas, contornam sua maneira pitoresca de fazer humor. Eram os personagens que o público esperava no palco, e ao público ele os deu. Ao início da peça somos surpreendidos com Paulo Autran, em áudio, recitando “José”, de Drummond. Eduardo também interpretou rapidamente uma gama de imitações levando a plateia ao riso, porém em seguida metralhou a todos com a verdade de seu texto. “Minhas Sinceras Desculpas”, segundo o roteiro, é um pedido de desculpas pelo comportamento escroto da sociedade atual, de suas mazelas e expectativas frágeis.
Sterblitch não preocupa-se em fazer o público rir, segundo sua recomendação no início do espetáculo, porém faz piadas no decorrer do texto retratando sua frustração para com as expectativas do público, e assassina um texto que poderia ser teatral, e mesmo assim é aclamado pelo público, que ora o odeia em cena, ora o adora. O texto, talvez não tenha estrutura, porque tem o propósito de tentar estruturar-se em alguma apresentação, onde o público não seja leviano à televisão, ou ao humor barato, mas ele desestrutura a plateia.
O ator coloca uma lupa sobre o público, porém de uma forma um pouco grosseira, sem importar-se com limites, abusa de sua liberdade humorística para explicar quem é o público do teatro, e porque eles esperavam um ator de televisão, ao invés do homem que cresceu no teatro. Em diversos momentos o público gargalhava sei lá do que, pois não havia motivo, nem para humor, nem para aplausos. Eduardo Sterblitch é um ator, porém ele mesmo precisa optar por desvincular sua imagem de seus personagens. Quando um ator não consegue passar a mensagem de um personagem sem retratar o personagem anterior, sua missão com o texto falhou.
O ator frustrado que subiu ao palco para revelar o que a plateia fazia no lugar de público, não me fez rir, assim como me trouxe momentos de reflexão. Não há como recomendar, ou não recomendar o espetáculo, até porque não se sabe se ele continuará as apresentações. O fato é que esta é uma peça inédita, com um “texto” que se constrói e se destrói em cena. Nem mesmo a resenha da revista Veja conseguiu definir o espetáculo, aliás, as resenhas da revista Veja nunca conseguem definir nada, talvez isso seja fruto de sua superficialidade jornalística. O texto do espetáculo utiliza quase todos os recursos do humor, menos a inteligência, pois ainda há uma lacuna desnecessária no roteiro, uma falta de sentido que fica perdida pelo caminho. A peça só atraiu o público pela fama televisiva do ator, esta que ele gostaria de apagar enquanto estivesse sob as ribaltas do teatro. Há uma beleza cênica, de figurino, de movimento, mas estão perdidas num texto que navega sobre uma interrogação. O ator fala muita coisa, e não interpreta nada. O espetáculo resume-se num número de stand up, com recursos e produção, para ser um monólogo é necessário um texto de monólogo. Mas, ao mesmo tempo, Sterblitch revela-se um clown do contemporâneo, um código da sociedade do espetáculo. E ser um clown é uma grande arte.
O cenário de Márcia Moon foi desenhado com preocupação ao clima do texto, e construído com perfeição. Durante o espetáculo uma banda estilo Jazz acompanha o ator, o interrompendo para apresentações musicais, esboçando um show a parte, com a direção musical de Marcinho Eiras, que traz ao palco três guitarras que são tocadas simultaneamente por ele. Os músicos trazem a elegância da música americana, a força da voz negra paralela as perfeitas cifras solfejadas e dedilhadas nos instrumentos. A iluminação de Osvaldo Vieira “Pelé” é uma saborosa fatia do espetáculo, que foi realizado pela EBPZ Empreendimentos Culturais.
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
Roberto Carlos lota shows em São Paulo
Não é novidade para ninguém que Roberto Carlos mais uma vez deslocou inúmeros fãs para a plateia de seu show, que desta vez aconteceu no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo. Sempre com preços salgados, os ingressos esgotaram em poucos dias, havendo a necessidade de abrirem novas datas de apresentações, que só deram mais fôlego ao artista, que embalou sucessos de sua majestosa carreira.
O show, que deselegantemente começou com meia hora de atraso (no último sábado), iniciou-se com a orquestra entoando “Como é Grande o Meu Amor Por Você”, composição de Roberto feita em 1967, quando preparava um novo LP. Naquele instante o público era o coral, que anunciava o Rei com composições muito conhecidas, mas incansavelmente cantadas. A iluminação do show foi estrategicamente içada em barras e realizou um espetáculo a parte.
O roteiro do show ficou por conta de canções antigas que reuniu as mais saudosas vozes a cantarem, mas o clima romântico, típico das recentes apresentações de Roberto, foi substituído pelo embalo do rock’n roll, com canções do tipo “Quando”, uma das minhas preferidas de todos os álbuns do cantor.
Roberto Carlos nunca se anunciou como sendo Rei, porém creio que hoje lhe agrada esse título, como forma de carinho dos fãs e recíproca dos críticos. A verdade é que o palco é sem dúvidas o império de Roberto, e o público o coroa acertando todas as letras de suas canções. As rosas encerraram o espetáculo sendo lançadas para os fãs, todas com um beijo do Rei.
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
Chiquinha Gonzaga renasce nos dedos de jovens pianistas
Não teria sido possível realizar um encontro entre Chiquinha Gonzaga e os jovens pianistas Alexandre Dias e Wandrei Braga, pois antes mesmo que os dois poetas das teclas tivessem vindo ao mundo, a primeira mulher a compor uma canção no Brasil deixara os saraus da vida, para os do céu. Foi aos onze anos de idade, que Chiquinha começou a compor, e agora, em 2011, os pianistas Alexandre e Wandrei reuniram, junto ao Instituto Moreira Salles, um acervo digital da compositora, e o lançaram nas cidades do Rio de Janeiro, Brasília e encerraram em São Paulo.
Francisca Edwiges Neves Gonzaga, conhecida como Chiquinha Gonzaga, nasceu no ano de 1847, filha do general do Exército Imperial Brasileiro com uma humilde negra, que passou-lhe nos genes o gosto pelos ritmos populares, entoados em rodas pelos escravos. Chiquinha frequentava os encontros destes povos e buscava inspirações para suas futuras obras. A primeira mulher a se expor tocando um instrumento e compondo canções separou-se do primeiro marido e foi impedida de criar os filhos menores, ela passou a tocar em troca do sustento do filho mais velho, o que pôde criar.
Chiquinha introduziu as mais influentes partituras no teatro brasileiro e fundou a Sociedade Brasileira dos Autores Teatrais, ao todo ela compôs 77 músicas para peças. O pianista Alexandre Dias, em sua apresentação em São Paulo deixou a força de Chiquinha Gonzaga tomar-lhe no palco e interpretou uma dessas peças, tocando a introdução do primeiro ato de “Fantasia”, o que lhe rendeu ovação e muitos aplausos. Aquela interpretação foi além do que se pode emocionar, o pianista compactuou com a compositora o mesmo talento em frente a um piano, e demonstrou a afinidade com as teclas e a paixão que sente por elas.
Chiquinha Gonzaga adentrou com suas composições no Palácio do Catete, sede do Governo brasileiro no Rio de Janeiro. Ela era amiga da primeira-dama Nair de Tefé, que casou-se com o presidente Hermes da Fonseca. Chiquinha foi duramente criticada por tocar um maxixe nas dependências do Palácio, e mesmo assim tornou esplêndido diversos ritmos que fizeram sucesso em seus dedos pelas teclas, as polcas, valsas, tangos, fados, lundus, quadrilhas e serenatas, além do choro, que marcou sua carreira a intitulando como primeira chorona brasileira. As canções “Linda Morena” e “Carijó” foram relembradas por Alexandre Dias, com total maestria.
O pianista Wandrei Braga calou-me de emoção e deixou meus ouvidos chegarem ao piano que posto sobre o palco vazava aquela famosa composição de Chiquinha, “Lua Branca”, também trouxe ao teatro as canções divinas “Agnus Dei”, “Ave Maria” e “Prece a Nossa Senhora das Dores” em adaptações para piano solo. Os olhos de Chiquinha Gonzaga passeavam pelo palco celebrando-se no cenário ao fundo, que mostrava-nos silhuetas de partituras, frases e fotos da compositora. A polca “Atraente”, grande sucesso, contagiava-me com a vontade de sair bailando pelo teatro. O sorriso tímido de Chiquinha era quase igual a timidez de Wandrei, que cada vez que olhava para o público buscava o fôlego vivaz para mais uma canção que beijava o lindo piano.
Ninguém jamais me fará tirar da cabeça que o piano é o mais lindo entre os instrumentos, ele é a regência de vorazes orquestras e o coração destes dois pianistas, Alexandre Dias e Wandrei Braga, que deram mais uma vez os merecidos aplausos e méritos a Chiquinha Gonzaga. Ontem (17) o suntuoso Teatro Humboldt estava vazio, mas ganhou as poltronas com cada nota que corria as fileiras. É uma pena que a cultura ainda atinja poucos, e a informação sobre estes eventos não seja valorizada. Os ingressos não custavam mais do que 10 reais, além disso um quilo de alimento substituía o valor.
O acervo digital, reunido pelos pianistas e o Instituto Moreira Salles, está livre para acesso e nele encontram-se as obras inteiras da compositora que estreou a música popular brasileira, no site www.chiquinhagonzaga.com.br. O projeto é incentivado pelo Ministério da Cultura e patrocinado pela Natura. Espero sempre os encontrar por todo canto, espelhando a musicalidade popular de Chiquinha Gonzaga e sua genial maestria de fazer música, regendo-se pelos galãs dedos de Alexandre e Wandrei. Assim como ela entrou pra história, os dois continuam tecendo-a e fazendo-a.
quarta-feira, 19 de outubro de 2011
Elisa Lucinda e Chiquinha Gonzaga, por Nyldo Moreira
Música: Chiquinha Gonzaga
Interpretação: Nyldo Moreira
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
“Três Possibilidades”, espetáculo apresenta nova direção em São Paulo
A comédia romântica, “Três Possibilidades” encara mais uma temporada na capital paulista, desta vez, com a direção de Marcos Wainberg, que redesenha o palco e projeta muito mais um romance, do que uma comédia. O triângulo estreia Sheila Mello, ainda inexperiente, e a dupla Tiago Pessoa e Guilherme Chelucci.
O texto é uma livre adaptação do filme Três Formas de Amar, e leva ao palco Leo, interpretado por Tiago Pessoa, o personagem é um jovem apaixonado pela literatura, e divide o apartamento com Vinicius, vivido por Guilherme Chelucci. Leo demonstra seu interesse sexual e amoroso por Vinicius, e é sempre interrompido por Alexia, interpretada por Sheila Mello, a nova moradora do apartamento. Os três prometem manter a amizade, não infringindo-a com qualquer outro tipo de relação, porém as confusões apimentam uma leve comédia à partir de alguns desacordos.
A adaptação já foi montada em outras temporadas, porém foi ganhando experiência ao longo de novas direções e a mudança de atores. Em cartaz no Teatro Ressurreição, a nova montagem retrata um clima mais intimista, sexual e romântico. A peça toca num tema amplo e tão discutido recentemente, a homossexualidade. É importante que textos desta natureza ganhem os palcos do teatro brasileiro, já que a arte é um instrumento pedagógico, além do entretenimento que proporciona.
O diretor Marcos Wainberg reserva-se da simplicidade cênica, o que facilita a evolução dos atores no palco, além de tornar mais íntima a relação dos personagens. Quando acontece de uma peça abusar demais do cenário, da luz e do figurino, perde-se o texto e ganha-se um deslumbre desnecessário. A iluminação de Robson Araujo é pontual, delineada com arte e precisão recobre as cenas climatizando o espetáculo com o apelo antes não encontrado no texto. A montagem de Três Possibilidades, que esteve em cartaz no Teatro Bibi Ferreira, trazia todos os elementos de cena juntos, que atrapalhavam o texto. Agora está tudo de acordo. O espetáculo tem a trilha sonora adequada e as trocas de roupas necessárias.
Sheila Mello demonstra muito bem que o palco não é mais só para dançar, mas a ex loira do É o Tcham ainda não sabe bem como colocar um texto na prática do palco, falta-lhe melhor direcionamento e naturalidade. Um ator precisa viver um personagem no palco, e não a leitura do texto. Porém, sua desenvoltura em momentos mais picantes do espetáculo merece aplausos. Eu ainda não tinha visto Guilherme Chelucci no teatro, em sua primeira entrada parecia que a coxia lhe puxaria de volta para trás, porém com o tempo no palco o texto foi tornando-se personagem e o corpo ganhou presença nas cenas. Ele é o foco do humor na peça e faz isso muito bem. Tiago Pessoa é o personagem que aguça as confusões do espetáculo, tem ótima presença de palco e total afinidade com os outros atores. Vale a pena sair de casa para assisti-lo, quero ainda vê-lo em outras produções que levem sua marca, pois é fácil notar sua digital neste projeto.
O espetáculo é um projeto da Pessoa Produção e Vellado Produção, em cartaz no Teatro Ressurreição, em São Paulo. As sextas e sábados, 23h30. Os ingressos custam entre R$ 40,0 e 20,0 à venda na bilheteria do teatro ou pelo Ingresso.com, na internet. “Três Possibilidades” não me arrancou tantas risadas, por ser mais um texto de reflexão, é um romance sem o ardor de um drama. Acredito que tenha sido essa a proposta.
quarta-feira, 5 de outubro de 2011
Elisa Lucinda em “Parem de Falar Mal da Rotina”
Há dez anos Elisa Lucinda colocou nos palcos uma das produções mais compatíveis com o paladar do público, “Parem de Falar Mal da Rotina”, em cartaz no Teatro Vivo, é um dos espetáculos que mais merecem aplausos nos ultimos tempos. Com direção e roteiro da própria atriz, Elisa utiliza a voz para declamar seus poemas mais tácitos e verossímeis, além de aproximar a plateia da própria realidade.
O espetáculo, que extravasa o tempo comum de peças de teatro, passa por uma intimista relação entre o público e a atriz. Não há texto de escritor, há palavras de um cotidiano, frases cômicas de uma mulher sábia, poemas aquecidos à valentia de uma afro expressiva e não acomodada aos seus direitos. Elisa não pincela por temas, ela vai além do que os limites cravam na sociedade, “Parem de Falar Mal da Rotina” expõe as verdades aos sorrisos dos espectadores de suas próprias histórias.
A peça é uma inspiração dos livros de Elisa, “O Semelhante”, “Eu Te Amo e suas Estreias” e “A Fúria da Beleza”, que resultou num banho de palavras despejadas à bem temperada iluminação que pontua os assuntos ditos pela personagem. Na verdade Elisa não faz uma personagem, seu olhar, sorriso, lágrimas, dor e amor saem do coração brechó da própria atriz. Cada história nasce do observatório de Elisa, das andanças de uma poeta que lhe faz escrever a cara do brasileiro, os costumes mundanos e as críticas mais do que sociais, sociáveis. Sim, pois o humor do espetáculo leva a plateia ao palco e lança ao público suas verdades, o jeito preconceituoso de cada um, os orgulhos, a corrupção e a vaidade.
“Parem de Falar Mal da Rotina” esmiúça os cárceres que celam o cotidiano, captam em uma só mulher e em suas observações os comportamentos do ser humano, tudo com uma comicidade incrível, que eleva Elisa Lucinda à catarse artística de sua história na dramaturgia. O cenário é a própria casa. O banho, que acorda o espetáculo, já traz a atriz nua ao palco, transformando o trabalho de interpretação ainda mais excepcional. Ela fica à vontade e aproveita o espaço que o texto lhe promove para visitar cada ponto do cenário, quando critíca os padrões, que não deveriam ser padrões, as hipocrisias e, como o título da peça diz, a rotina que é de cada um de nós.
No texto não há lacuna, as linhas do script são passadas pelas agulhas afiadas regidas pela voz grauda de Elisa, que salienta com poemas e costura com canções que libertam o roteiro. A atriz tem a vêemencia vocal que abrange a mistura de mpb, samba, bossa e jazz num ritmo batucado por seu próprio timbre. Enfim, o espetáculo já foi até chamado, por espectadores, de uma missa da realidade brasileira. Isso resume tudo.
A peça “Parem de Falar Mal da Rotina” é um impecável trabalho da multi Elisa Lucinda, em cartaz no respeitoso Teatro Vivo, em São Paulo. A temporada é curta e apresentada aos sábados às 21h e domingo às 19h. Os ingressos custam R$ 50,0 e podem ser comprados pela internet no Ingresso Rápido, ou na bilheteria do teatro. O espetáculo é patrocinado pelo Vivo Encena.
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
Beatriz Segall e Herson Capri em “Conversando com Mamãe”
A capital paulista recebe mais uma saborosa produção de Sandro Chain, a comédia “Conversando com Mamãe”, longa do argentino Santiago Carlos Oves, com a versão teatral de Jordi Galceran, tradução de Pedro Freire e a leve e precisa direção de Susana Garcia. O roteiro é sensível e cômico, capaz de emocionar com muito humor.
Beatriz Segall dá vida à graciosa mãe do espetáculo, com fantástica interpretação e um incrível trabalho de cenas ao lado de Herson Capri, que vive o filho Jaime. O roteiro leva o público ao palco, retrata o ser materno que há em toda mãe e as verdadeiras características de um filho, permitindo-nos a imediata identificação. Jaime era um homem de negócios, frustrado pela crise economica tenta salvar as finanças idealizando a venda do apartamento em que mora sua mãe, desde aí começa a confusão familiar contracenada entre dois personagens. A grande implicancia da irredutível mãe é com a sogra de seu filho, com quem faz inúmeras piadas e arrebata a graça do público. Diversos assuntos familiares são postos à cheque no espetáculo, enquanto Jaime é silenciado pelas histórias da clássica mamãe, mas que também não deixa de lado o marcante perfil irreverente.
O texto é simplório, não emplaca nenhum clímax, porém torna-se próximo ao público enquanto revela a intensa relação entre mãe e filho, além de mostrar a estupenda comicidade de Beatriz, facilmente dirigida por Susana Garcia. É fácil levar ao gosto do público uma senhora simpática, simples, sensível e nada puritana, e isso é a madura inteligência deste roteiro. Capri banha-se da sabedoria cênica de sua companheira de palco, e também mostra o versátil e firme ator escolhido categoricamente para o papel.
Paulo César Medeiros é responsável pela arte moderna da luz, vestindo o palco com cores simples e tons pontuais para as cenas. O cenário de Marcos Flaksman retrata ligeiramente a classe social que torna mais simples a relação entre os personagens, e que faz o público sentir-se em casa. Kalma Murtinho é a figurinista das trocas que regam o roteiro com total harmonia. A sensível trilha sonora de Alexandre Elias contempla ainda mais a direção de Susana, que rege este grupo compatível ao seu brilhante trabalho.
Os atores demonstram perfeita sintonia, necessária para a relação proposta pelo texto. Os movimentos, tons de voz e a concentração dramática de Beatriz e Capri vigoram o espetáculo com a bela e respeitosa construção do humor. As cenas ganham sentido, enquanto o roteiro desenrola-se pela sabedoria artística de uma das melhores duplas em cartaz atualmente. Cada gesto e fala aproximam o público para uma realidade retratada pelo espelho que é “Conversando com Mamãe”.
A peça está em cartaz no Teatro Folha, em São Paulo, sob a realização da Chaim Produções e Capri Produções, com uma folgada e disputada temporada até 18 de dezembro. O preço para sextas às 21h30 é de R$ 50,0 e R$ 60,0. E aos sábados às 20h e 22h e domingos às 19h30 é de R$ 60,0 e R$ 70,0. Os ingressos são vendidos pela internet, no Ingresso.com e na bilheteria do teatro. “Conversando com Mamãe” é patrocinado pelo Banco Volkswagen.
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
Ary Toledo a todo vapor, de volta à São Paulo
Ary Toledo está em cartaz no Teatro Silvio Romero, em São Paulo, com suas anedotas e a interpretação de um veterano garimpeiro do humor. O artista arrebata gargalhadas do público, que já espera por sua irreverência e um dos melhores timings da história do teatro brasileiro.
O espetáculo conta com diversas piadas sobre sogras, português, política e a criatividade do brasileiro, além de cutucar os temas mais polêmicos de forma cômica e sem nenhuma censura. Ary aproveita sua experiência para banhar o palco com seu espaço cênico, as vozes e centenas de interpretações emitidas pelo ator engrandecem sua forma única de fazer humor.
Ary é da época em que se enfrentava o AI-5, e de forma peculiar contava piadas que atacavam diretamente o ato. Ele foi preso, mas nunca recriminado por sua arte. Apesar do apelo sexual que seus roteiros seguem, o que lhe caracterizou um piadista de anedotas, Ary é um dos comediantes mais adorados pelo público, por saber fazer rir sem precisar atrapalhar a arte teatral, como temos visto em alguns “atores”, que não sabem ao menos fazer a cena acontecer. Ary Toledo foi um dos primeiros e mais corajosos humoristas a ensinarem, de fato, a fazer o humor com naturalidade – com um banquinho, um microfone, e o talento sobre o palco.
Vinicius de Moraes e Elis Regina foram os conselheiros para que Ary seguisse a carreira de humorista. Quando ele chegou a São Paulo, atuou no Teatro de Arena e passou a compor canções, tornando seu talento ainda mais vasto.
Agora, Ary está de volta aos palcos paulistanos com mais obscenidades, músicas de sua peculiar composição e tudo que a experiência lhe permite falar com mais vontade. A ótima e pontual iluminação do espetáculo é o ponto alto para auxiliar o roteiro e a interpretação. O Monólogo do F, famosa interpretação do ator, reúne mais de 500 palavras iniciadas apenas por essa letra. O artista rima piadas à atualidade brasileira, respinga sua inteligência em cada história contada no roteiro e faz de seu humor cada vez mais exuberante.
Ary Toledo está em cartaz no Teatro Silvio Romero, em São Paulo, com apresentações sextas e sábados, às 21h e aos domingos, às 19h. O ingresso custa R$ 50,0 e pode ser comprado na bilheteria do teatro, apenas em dinheiro (forma rústica, que deve ser melhorada para conforto e melhor oferta de público). O humorista também segue em turnê em outras cidades.
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
“Varekai”, a superprodução do Cirque du Soleil estreia em São Paulo
Chegou ao Brasil o maior circo do mundo, com 58 perfomers, uma tenda gigantesca pesando mais de 5 mil kilos e muita acrobacia e cores. Varekai foi o espetáculo escolhido para desembarcar em São Paulo, com o Cirque du Soleil, sob a criação e direção de Dominic Champagne, um mundo de etnias resume-se a um perfeito tema cigano sobre um esplêndido picadeiro.
“Onde quer que seja”, é o significado de Varekai na linguagem cigana, assim Dominic presta a grandiosa homenagem a alma nômade, à sedutora e animada vida gitana, com personagens enigmáticos, engraçados e belos. Para o Cirque, os clows não são somente personagens com narizes vermelhos, pois eles vão muito além disso. Com o roteiro, é possível viajar por inúmeros estilos musicais, onde o som embala-se pelas cenas, ao contrário dos musicais teatrais. Porém, Varekai também é teatro, balé, contorcionismo e acrobacia. Varekai é um globo de culturas, vislumbrando o batuque cigano descoberto por Ícaro, que encontra-se em seu desejo de viver sem agregar limites, renascendo em branco inocente e vulneravelmente conquistado pela Noiva, a engrenagem de sua metamorfose.
O humor, como em toda arte circense, desce ao espetáculo como um bom gole refrescante, os clowns interagem com o público, o convida a brincar no picadeiro e fazem da simplicidade a elegância do riso. Num arco, desce do topo da tenda uma bela moça variando movimentos, o Aerial Hoop é uma permormance conhecida, mas sempre muito ousada pelo equilíbrio. Os Icarian Games também trazem a força dos corpos e equilibram-se entre a sintonia de cada artista. A Georgian Dance exibe um ato de batidas ciganas com coreografias históricas inspiradas nas lutas Geórgicas contra as forças que tentaram dominar o seu território. O Solo on Crutches nos permite viajar na imaginação do criador, um homem com duas muletas evoluí-se em movimentos impulsionados pelo entusiasmo e equilíbrio.
A iluminação, de Nol Van Genuchten, é uma cascata de ideias, de cores sintilantes e estudadas para desenhar as cenas e refletir-se no cenário florestal de árvores que ganham sentido pelas escaladas dos personagens observadores, assinado por Stéphane Roy. O palco conta com cinco alçapões e embocam os personagens iludindo o público para o sumiço destes. O The Catwalk é um caminho suspenso, por onde é possível refugiar personagens e encaminhar aparelhos, sua estrutura lembra uma imensa espinha de um pássaro, tornando o sentido paralelo ao tema de liberdade do roteiro. No alto, uma passagem chamada The Lookout recolhe personagens e revelam novas criaturas que descobrem-se ao mundo de Varekai, que para Ícaro tornam-se familiares com o tempo.
O Guia é o personagem que traz a luz aos caminhos, sempre acompanhado do Vigia, emplacando aplausos pela ótima interpretação de humor. Nosso idioma é sutilmente arriscado pelos personagens, que demonstram respeito à turnê. O Vigia é um cientista que reserva coleções de memórias do mundo, traz a cultura dos sons e dos sinais para a comunicação com os demais personagens. Os trapézios são de praxe nos roteiros circenses, quatro jovens exibem a perfeita sincronia no Triple Trapeze, enquanto os Water Meteors registram a agilidade de movimentos dos pequenos orientais sustendando cordas com bolas metálicas nas extremidades. O Slippery Surface traz acrobatas que deslizam no palco, com diversas cores e efeitos, e os artistas mais ousados do espetáculo realizam um número de aterrisagem, com o Russian Swings, embalados por balanços que os arremeçam simultaneamente um contra o outro. Uma jovem chega ao palco com o Handbalancing on Canes, suportado o próprio corpo sobre totens, desafiando a flexibilidade e a força. Ela despede-se do espetáculo levando Ícaro ao ar, que antes abria o show com uma rede suspensa valseando ao ar.
Varekai é um beijo na arte de fazer arte, um relacionamento íntimo com os figurinos exuberantes de Eiko Ishioda, mesclando tons vívidos em lycras nobres, junto ao make-up inigualável de Nathalie Gagné, que demonstra o design em rostos. Varekai é a música de todos os cantos do mundo, dos sopros europeus, dos batuques latinos e gitanos, das guitarras americanas e do lirismo nato do Cirque du Soleil, nas vozes dos personagens: O Patriarca e A Musa. Varekai é o embrenhar do homem na curiosidade, debruçado ao calor de um vulcão. É um olhar analítico sobre as danças e as belezas refletidas em tons vívidos de iluminação, é ainda uma direção fantástica da variedade teatral, burlesca e clássica.
Varekai, do Cirque du Soleil, estreou em Montreal, no ano de 2002 e já foi visto por mais de 6 milhões de pessoas em mais de 15 países. O espetáculo está em São Paulo, com a Grand Chapiteau (Grande Tenda), no Parque Villa Lobos, pela realização da Time For Fun e o patrocínio exclusivo do Bradesco. Os ingressos variam entre R$ 395,0 e 140,0 para apresentações de terças aos domingos. Em turnê, Varekai ficará em São Paulo até novembro, em seguida partirá para o Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Recife, Salvador, Curitiba e Porto Alegre.
quarta-feira, 31 de agosto de 2011
“Hedwig e o centímetro enfurecido”: rock, amor e traição
Eu sou suspeito para falar sobre o roteiro de Hedwig, mesmo sendo um defensor das produções nacionais, tenho que dobrar-me a este belo e seguro texto. O musical desembarcou no último final de semana em São Paulo, após temporada no Rio de Janeiro, sob a ótima e notável direção de Evandro Mesquita, que distribuí sua experiência musical aos acordes do espetáculo.
Hansel era um alemão apaixonado pelo rádio e as músicas, foi criado pela mãe na Alemanha Ocidental e acompanhou a queda do muro de Berlin com certo desconforto. Ainda na juventude, Hansel conhece o militar Luther, interpretado pela multi Eline Porto, que reveza-se em papéis masculinos. O recruta promete ao jovem casá-lo e viverem nos EUA, para isso Hansel submete-se a uma cirurgia de mudança de sexo. O resultado foi o pior possível, o novo sexo lhe trouxe perturbações estéticas, quanto ao centímetro que lhe restou entre as pernas. Sua nova identidade passa a ser Hedwig, a traída e fascinada por rock.
O texto de John Cameron Mitchell é saboroso, quente, irreverente e bem costurado. Em algumas cenas provoca confusão, mas ao decorrer do espetáculo a história volta ao eixo. Stephen Trask é o pai das letras e músicas em versão norte-americana, traduzidas por Jonas Calmon Klabin. A musicalidade estronda o teatro com um rock pesado e ao mesmo tempo sensível, há um balanço dos acordes, que em algumas vezes repetem-se dando a impressão de estarmos ouvindo o mesmo som. É tudo muito bom, mas seria ótimo se as notas não ficassem, em algumas músicas, tão similares. É inegável o talento musical de Evandro Mesquita, e surpreendente na direção do espetacular “Hedwig e o centímetro enfurecido”, que sutilmemente movimenta com versatilidade os atores no palco, que ora também comovem a sensualidade de seus corpos envaidecendo a personagem.
Hedwig é vivida em duplicidade artística, perfeita direção de cena e identidade que cada ator deposita ao personagem. Pierre Baitelli não deixa nenhuma nota fora da pauta, cada verso passa por sua afinada voz que não deixa de lado a rigidez do compasso musical. Os movimentos em cena, as expressões muito bem desenhadas, os gestos e as passagens entre as personagens elevam a qualidade do espetáculo. Assim exerce o ofício árduo de cenas irreverentes, agitadas e emocionates, o ator Felipe Carvalhido, que vive Hedwig junto ao Pierre. Carvalhido enriquece as cenas com seu olhar cálido, que a roqueira exige ao personagem. Cada passo no palco arranca-lhe qualquer timidez e ensurdesse os olhos de qualquer um, cegando nossa audição. Os sentidos invertem-se e revertem-se, enquanto tudo no espetáculo nos chama a atenção. E ali é possível rir e concentrar-se na emoção que o humor promove. São os olhos do público que dizem isso, enquanto guardam emoções e soltam os risos. A dupla tem a alta sensibilidade de fazer o público assistir objetos que não estão em cena.
O cenário é impagável, adequado e de muito bom gosto. A arte medieval e metálica do palco é assinada por Suzane Queiroz, enquanto a iluminação de Luiz Paulo Nenen é pontual e pincela a cena como numa impecável produção de rock.O figurino de Marta Reis exibe um desfile em tons exuberantes e cortes “punks”, como assim surgiam os estilos exóticos da época. Daniel Reggio é responsável pelas perucas e maquiagem - adereços que participam com destaque no espetáculo.
Hedwig tem total “força na peruca”, capaz de sofrer de amor, mesmo que com a mesma resistencia de Simone de Beavouir, sua dureza em cena é articulada com a peculiaridade de cada ator, distribuindo a irreverente personalidade da roqueira. Danilo Timm, ao lado de Evandro Mesquita, dirige a musicalidade vívida que reveza entre as consistentes vozes de Felipe Carvalhido e Pierre Baitelli. Flávio Senna Neto é o produtor musical. No palco estão os talentosos artistas da música, que ao vivo soam um contagiante som de seus instrumentos: Diego Andrade, na bateria, Fabrizio Iorio, no teclado, Melvin Ribeiro, no baixo e Pedro Nogueira, na guitarra. Eline Porto divide seu talento contando a história de personagens que passaram pela vida de Hedwig, encanta enquanto canta e interpreta Yitzhak.
É um dos poucos espetáculos que ouso recomendar, a produção de Dan Klabin e Jonas Calmon Klabin é digna dos sinceros aplausos que saudam o show. “Hedwig e o centímetro enfurecido” está em cartaz no Teatro Nair Bello, no Shopping Frei Caneca, em São Paulo, até o dia 16 de setembro. Os ingressos podem ser comprados na bilheteria do teatro ou no Ingresso.com, ao valor de R$ 60,0. Horário: Sexta, às 21h30. Sábado, às 21h e domingo, às 18h. O projeto é realizado pela Oz., e registrado no Ministério da Cultura, com o patrocínio da Riachuelo e da Oi.
domingo, 28 de agosto de 2011
Wanderléa e “A Terceira Força”, em São Paulo
A eterna Ternurinha está de volta aos palcos paulistanos com um vasto e nostálgico repertório. Ontem (27), Wanderléa apresentou o show “A Terceira Força”, com produção de Thiago Marques Luiz, no intimista Teatro Fecap.
Wanderléa subiu ao palco desenhado pela filha Yasmin Flores, já aquecendo a voz para animar o público que não hesitou em chamá-la de “rainha”. Com muita disposição, a cantora mandou a ver num repertório intenso, e deixou nas cordas afinadas do baixo e da guitarra aquele rock que extremecia o lado B e também os sucessos que se eternizaram em sua voz.
A musa do iê-iê-iê relembrou coisas que tocavam pelas agulhas das vitrolas, “Quero ser uma locomotiva”, de Jorge Mautner, vislumbrou o ritmo das discotecas de Ternurinha, além de “Back in Bahia”, de Gilberto Gil, “Menino Bonito”, de Rita Lee, “Quando”, de Roberto e Erasmo, “Feito Gente”, de Walter Franco e “Não vou ficar”, de Tim Maia. Banhada pelo belo desenho de luz, Wanderléa não deixou de lado seu famoso bailado e os eternos moviventos de mãos, que levantou o público ao coreografar e cantar a imortalizada “Pare o Casamento”, de Resnik e Vitor Yong, versão Luis Keller, com direto à buquê de noiva para a plateia.
Notas remasterizadas ao vivo no palco, brilhante afinação e sintonia com a banda, assim “A Terceira Força” é um laboratório da cantora para um novo álbum que está por vir. Enquanto o público relembrava os sucessos e ouvia alguns que pouco foram cantados durante a carreira da artista, Wanderléa soltou a voz num pout-porri de grandes hits, passeando pelo melhor do rock brasileiro “Prova de Fogo”, “Banho de Lua” e “Exército do Surf”. Para dar o toque romantico à turnê, Léo Califórnia, produtor e marido da cantora, incluiu no repertório belas notas em “Esqueça”, de Roberto Carlos, “Te Amo”, “Horóscopo”, “É o tempo do amor”, “Foi Assim”, “Boa noite, meu bem” e o bis final, “Você vai ser meu escândalo”, que fechou o show com aplausos de quem queria mais.
Wanderleá ainda apresenta hoje (28) o show “A Terceira Força”, em São Paulo, no Teatro Fecap, ao ótimo preço de R$ 60,0, para quem é fã do verdadeiro rock brasileiro. Foi muito bom relembrar tudo que não se faz mais hoje, com a mesma qualidade e o mesmo timbre, que a cantora não deixa de lado, com o mesmo ritmo animado de anos atrás. Foto: Divulgação; Thiago Marques Luiz; respectivamente.
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
Dia do Ator
Ser ator é viver um pouco de cada coisa, de cada sorriso e de cada lágrima que a gente derrama sobre um palco cheio de luz, ou até no escuro do teatro, quando a cena pede silêncio e solidão. Aos que escolheram o ofício é porque de fato amam o que fazem, e é o amor que move a cena, que descortina um espetáculo e que nos acompanha no sucesso.
Um grande artista tem que viver o sabor de todos os palcos, de todas as histórias, tem que saber viver o amor do outro, brilhar com o outro e como bem disse Fauzi Arap: “Quanto menos preconceituoso, maior o artista”.
Viver uma grande comédia é saber lidar com o humor, é descartar as dores do mundo para fazer graça no palco. Mas um ator não exerce o ofício somente no palco, veste algo e encanta numa praça, na arena ou entre amigos, este que solfeja a cena é o grande ator.
Viver um bom drama é trazer para os olhos o sofrimento, a perda, a emoção e os sentimentos mais calados que berram por lágrimas. Ser teatral é respeitar o texto, a direção e os valores que arte impôs até aqui.
Hoje é o dia de todos os atores, inclusive daqueles que seguem com uma trupe celeste, é dia de lembrar o olhar de Maria Della Costa, da serenidade cômica de Paulo Autran, das gargalhadas contagiantes de Nair Bello, dos jargões de Ítalo Rossi, da sabedoria de Zé Renato Pécora e Raul Cortez, e tanta gente que faz um grande e saudoso elenco.
Não é dia do ator preguiçoso, sem vontade, do que não é cena nem canto, é dia de viver a arte fantástica de Denise Fraga, dos consistentes textos de Juca de Oliveira, do humor viril de Eduardo Martini, das direções robustas de Jô Soares, da experiência de Bibi Ferreira, da vida de Fernanda Montenegro, das calorosas comédias de Gerson Steves, Vivi Alfano, Otávio Martins, Rachel Ripani e Rosi Campos. Hoje é dia do ator de fato, do que encanta no cinema, no teatro e na televisão, de todos aqueles que aprenderam, não na escola de teatro, mas na vida artística, o respeito pela cena.
Parabéns aos atores e àqueles que com tanta disciplina nos produzem e dirigem, ao Manoel Carlos, ao Roberto Lage, a Glória Perez, Célia Forte e Selma Morente, os bravos Charles Moeller e Claudio Botelho, ao Nilton Travesso, Carlos Alberto de Nóbrega, Tônia Carreiro, Daniel Filho, Marcos Caruso, Marco Nanini, Francisco Cuoco, Glória Pires, Beatriz Segall, Fúlvio Stefanini, Miguel Falabella, Glória Menezes e Tarcísio Meira, Regina Duarte, e a vasta lista do que há de melhor na arte cênica brasileira.
sábado, 13 de agosto de 2011
Fafá de Belém e Wagner Tisos, em piano e voz
O encontro, que demorou para acontecer, está em cartaz no palco do Teatro Fecap, em São Paulo: Fafá de Belém e Wagner Tisos. O maestro já curava os intensos repertórios de Fafá, que com sua boca modesta sopra as canções mais marcantes da música popular brasileira.
Na playlist do encontro não ficaram de fora eternizados sucessos de Wagner, como “Coração de Estudante” e “Sete Tempos”, que passaram pela voz da cantora entre os memoráveis títulos de Villa-Lobos, Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Waldir Azevedo, Dorival Caymmi e Gilberto Gil. Fafá não poupou voz para nos relembrar a sensualidade de “Sob Medida”, composição de Chico Buarque, que passeou um lindo som pelo teatro, arranjado no piano do companheiro músico e no violoncelo de Márcio Malard.
O Teatro Fecap ficou pequeno para tanta voz, Fafá é uma cantora de orquestra, de grandes bandas, e arrisca a nova temporada acompanhada da participação especial de sua filha Mariana Belém, que ainda escorrega em algumas notas, e não demosntra traquejo com o palco. Raul Mascarenhas, convidado para as apresentações, não compareceu por problemas de saúde, segundo a cantora.
Wagner Tisos e Márcio Malard deram um show à parte antes da entrada de Fafá de Belém, por seus dedos e ao som do violoncelo passaram lembranças de Tom e Milton Nascimento, além do delicioso sucesso “Brasileirinho”.
O espetáculo foi curto para mostrar a potência de Fafá, que trouxe pouco público e boa acústica, apesar do timbre de sua voz não acompanhar perfeitamente o som dos instrumentos. A iluminação coloriu belamente o palco, que trouxe ainda “Foi Assim”, de Paulo André Barata e Ruy Barata, em uma fantástica e instimista interpretação. A cantora vestia o mesmo verde que apresentou-se no Teatro Municipal, em “Elas Cantam Roberto”, enquanto a filha trazia as mesmas cores no figurino que vestiu em sua apresentação no Ibirapuera, em homenagem as mães.
É impossível não deixar-se ir ao som de Fafá, que ipnotiza qualquer um ao seu timbre marcante, à alegria contagiante, pois só ela canta e sorri divinamente com total harmonia e beleza. O show fica em cartaz ainda neste sábado (13) e domingo (14), no Teatro Fecap, em São Paulo, ao preço de R$ 60,0. Foto: Divulgação / Portal Terra, respectivamente.
sexta-feira, 12 de agosto de 2011
“A Tempestade”, de Shakespeare
A última peça de Willian Shakespeare, encenada pela primeira vez em 1611, na Inglaterra, está em cartaz no Teatro das Artes, em São Paulo, sob a disperça direção de Marcelo Lazzaratto, com beleza nos figurinos e dinâmica cenotécnica. “A Tempestade” é a obra impecável do autor, que salpica entre vingança e romance, um tempero cômico.
Um duque deposto, o par romantico, os três bêbados e lords conspiradores alimentam o robusto texto de Shakespeare, que passa-se numa ilha exclusa, habitada por Próspero e sua filha Miranda, exilados após serem destronados de Milão. O escravo Caliban, deformado e ousado, serve ao legítimo duque, porém encontra dois tripulantes da embarcação que trazia o rei de Nápoles, Alonso, e Antônio, que num golpe político usurpou o ducado de seu irmão. Uma tempestade, provocada por Ariel, um espírito capaz de transforma-se em ar, água e fogo, catraiou a corte naquela ilha, onde a história ganha seu desenrolar.
Carlos Palma interpreta o mágico e legítimo duque de Milão, Próspero, com fraca impostação vocal, confuso em suas palavras, que o esmaecem no texto. O ator que deveria ser o conto central da história, deixa perder o fio da meada pela ausência de naturalidade e voz. Karen Coelho vive Miranda, que antes era interpretada por Thaila Ayala. A atriz abre sobre o palco sua mala dramática e nos permite assistir o texto por meio de sua interpretação e fisionomia muito bem trabalhadas. O Príncipe Ferdinand é vivido por Sergio Abreu, do qual não tenho muito o que descrever, além de sua neutra participação, que poderia exbanjar o personagem em uma melhor direção e interpretação.
O figurino de cores e tons marcantes não perde-se nas cenas, ganha o foco dos olhares juntos à maquiagem de Patrick Guisso, rigorosamente delineada. A costura e o desenho das roupas é assinada por Beth Filipecki, Renaldo Machado e Ed Galvão. O cenário de André Cortez é movimentado pelos próprios atores, e ganha a transparência para evolução das cenas atravez das entradas praticáveis elaboradas para evolução dos personagens, sábio instrumento cenotécnico utilizado para elevar o espetáculo à atualidade. A iluminação respinga nas cenas um sintético toque tecnológico e refaz a fotografia desta antiga história, desenho de Davi de Brito e Vânia Jaconis.
O numeroso elenco dirigido por Marcelo Lazzaratto, não é tão bem marcado no palco, há muita gente conturbando algumas cenas e abafando o som que não chega com qualidade à plateia. A surpresa e o grande recheio deste bolo fica por conta de Paulo Goulart Filho, que interpreta Ariel com total desenvoltura circense, evoluindo no palco com arrancadas de pássaro, com a vazão fugaz de uma correnteza ou do ar. A delicadeza no olhar, mesclada à destreza que o personagem lhe cobra é perfeitamente interpretada por ele, enquanto sua voz avança num timbre impecável. O baile do coro, os movimentos dos bufões e a musicalidade de André Abujamra destacam-se muito melhor do que a composição de atores.
O som do fagote com o silêncio interrompido pelo duduk, são soprados por Vadim Klokov, que nos leva à Europa com total beleza sonora. Demian Pinto baila os dedos sobre o piano, com segurança e rigidez. Gilson Barbosa, Lieni de Oliveira Calixto e Ellen Hummel sopram o Oboé fazendo caminhar as notas muito bem arranjadas. Nicette Bruno deixa sua voz tomar conta do teatro, quando exibe sua imagem em três cenas divididas em projeções ao cenário, deixando a textura de sua pele dar o toque misterioso à cena.
A produção é bela obra de Regilson Feliciano, com direção geral de produção de Alexandre Brazil e Erike Busoni. A direção ainda grita ordem. O espetáculo é apresentado pela Eletrobras, com o patrocínio do Sonda, Telefônica e Lorenzetti. Copatrocínio da Porto Seguro e Viana Negócios Imobiliários. “A Tempestade”estará em cartaz no Teatro das Artes, em São Paulo, localizado no Shopping Eldorado, até o dia 28 de agosto. Sexta e sábado às 21h e domingo às 20h, e os ingressos custam R$ 50,0 comercializados via internet ou na bilheteria do teatro, pelo Ingresso.com. Foto: Divulgação.
sábado, 6 de agosto de 2011
“Na Boca do Leão” está o melhor da comédia
O texto de Billy Van Zandt e Jane Milmore extravasa a comédia sobre o leão da receita federal, com a consistente direção de Eduardo Martini o roteiro desenrola uma saborosa confusão que não deixa ninguém ficar de fora das gargalhadas.
No elenco está Bruno Albertini, que passa o tempo todo sobre o palco, ele interpreta Ricardo, que tenta burlar a receita federal declarando ser esposo de Darcy, interpretado por Eduardo Martini. Porém Darcy é seu amigo, e decorrente a ambiguidade que o nome propõe, Gerson Steves, que vive o fiscal do Imposto de Renda anúncia sua visita ao suposto casal e dá início a grande confusão, que traz às cenas Vivi Alfano, interpretando a espalhafatosa mãe de Ricardo, Luci Pereira, proprietária do apartamento e ligeiramente intrometida, Carina Sacchelli, namorada de Ricardo, Jésus Adriano e Sissi Zucato.
O texto é uma das grandes comédias do momento, sem dúvidas a sábia cartada de Eduardo Martini para os palcos. Não há o que apontar nos scripts, que acompanham a ótima e animada trilha sonora de Sergio Luis. Como se não bastasse o brilho da direção, Eduardo ainda assina a cenografia com elegantes móveis da Artefacto. Yara Leite esculpe o palco com um perfeito design de luz, que tempera as cenas pontualmente.
O ator Bruno Albertini, acostumado às direções de Eduardo, não desempenha a total naturalidade que seu difícil personagem pede. Por estar em grande parte do tempo no palco, sua desenvoltura requer uma leitura analítica e a atuação despreendida, pois lhe falta se divertir mais no palco, soltar-se da preocupação que ainda o insegura. Pelo menos foi assim na estreia. Vivi Alfano rasga a seda em determinadas cenas, diverte o público e arrebata aplausos com sua fabulosa atuação. Gerson Steves não me surpreendeu, após ganhar a plateia do Zorro, ele mais uma vez passa-se por um personagem desajeitado. Sua atuação é cômica como de costume, permite que ele divirta-se enquanto não deixa de mostrar-se um incrível ator. O timbre da voz e os movimentos no palco o destacam na peça.
Adriana Hitomi assina os belos figurinos do espetáculo, e também nos diverte com a costura que veste Eduardo Martini nas cenas. A auto maquiagem do ator enquadra-se ao pacote de humor promovido por sua atuação versátil, que reveza-se entre um homem e um homem disfarçado de mulher, para ajudar o amigo a não cair na malha fina. Luci Pereira desempenha bem o papel, não esforça-se muito para soltar a voz, o que lhe ajuda a ganhar as cenas. Carina Sacchelli é um rosto novo no teatro, que ainda deve preocupar o diretor, ela ainda é presa e lhe falta naturalidade, porém é uma boa aposta e deve encarar-se como um desafio próprio. Sissi Zucato brilha em sua curta participação, enquanto Jésus Adriano estreia bem em seu pequeno texto.
Estimo que as comédias mantenham-se preocupadas com o protesto e a realidade, juntamente ao divertimento que nos permite sorrir e felicitar o teatro brasileiro. “Na Boca do Leão” não abusa, nem exagera nos cacos, e sim exibe a cara do teatro de humor construído para o sabor do público e do próprio elenco. O projeto é patrocinado pela Ticket e Porto Seguro, sob a lei de Incentivo à Cultura, pois algo que realmente vale a pena o governo cultural tem realizado. A Produção executiva é de Marcos Meneghessi, ao lado da produção de Adriana Amorim e coordenação de Três Jóias Produção.
“Na Boca do Leão” estreou no dia 2 de agosto e exibe-se em curta temporada no Teatro Folha, em São Paulo, até o dia 18 do mesmo mês. Os ingressos custam R$ 20,0 ou R$ 30,0. Horário, 21h, de terça à quinta-feira. Fotos: Gustavo Mendes e Marcos Meneghessi, respectivamente.
segunda-feira, 4 de julho de 2011
“O Filho da Mãe”, em bela performance, está de volta aos palcos
A reestréia aconteceu no último sábado (2), no Teatro Folha, em São Paulo. Eduardo Martini e Bruno Lopes trouxeram de volta aos palcos o fabuloso texto de Regiana Antonini, espelhando no teatro a fidedigna relação entre mãe e filho. Com emoção e humor Eduardo revela sua contínua impecável direção nas cenas.
O texto vem um pouco reduzido da temporada anterior, e desenrola a relação entre mãe e filho muito bem costurada por Regiana, que estampa sempre a marca familiar em seus roteiros. Eduardo Martini, que dirige e interpreta Valentina, não deixa de derramar ao deleite cômico da peça sua irreverência e ainda revela-se num estilo diferente do que ele apresenta em seus espetáculos, põe paixão e emoção nas expressões da mãe Valentina e emite uma voz súplica e antecipa as saudades do filho Fernando, interpretado por Bruno Lopes, que partirá para Nova York, onde estudará cinema. Valentina é separada do pai de Fernando, porém deixa sempre escapar a paixão que ainda tem pelo ex-marido, quando com a bela performance de Eduardo leva às inquietudes da personagem esse amor que está intrínseco no texto.
A iluminação de Marcos Meneghessi mantém as cores caseiras que são suficientes para qualquer apartamento, para acompanhar os momentos de emoção da peça ora a luz isola os atores formando uma cena, ora amplia-se para todo o palco. Os figurinos retalham cores bem ornadas, vestem bem às idades de cada personagem e deixam Valentina bem feminina, escondendo qualquer sinal masculino do ator. A costura elegante e bonita é assinada por Adriana Hitomi. Os óculos da Ótica Ventura, utilizados por Valentina, são de ótimo bom gosto. O cenário é preparado para um apartamento de classe média, desta vez sem a cozinha, que o deixava bem mais amplo. As paredes também foram reduzidas, por conta da altura do teatro, o que acabou prejudicando a beleza da cena, que deixa vazar o espaço preto das cortinas e perde a dimensão que havia entre a janela do apartamento e o cenário de fundo.
A trilha sonora contagia, na voz de Tim Maia, ídolo de Valentina, as músicas caem no humor e na emoção da peça, costurando as cenas e dando sentido ao contexto. Os atores entregam-se aos personagens de forma apaixonante. Na temporada passada do espetáculo, Bruno Lopes aprendia como ser um grande intérprete, hoje ele mostra sua serena desenvoltura, que brevemente se destacará ainda mais. Eduardo Martini, sem dúvidas, leva sua infância e vida para o olhar de sua personagem, assim como qualquer mãe identificaria o perfil comum de uma dedicada senhora da família. A voz não estava no melhor dos tons, enquanto os aplausos interrompiam o texto, os atores prosseguiam com as falas. A acústica do teatro, junto ao volume da voz dos atores prejudicava o bom entendimento do texto.
Um fato inesperado inibiu o prosseguimento da peça com a falta de energia que apagou o shopping Pátio Higienópolis, onde fica o Teatro Folha. Durante o tempo no escuro os atores improvisaram um papo com o público, o que levou-me à aplaudi-los em pé ao fim do espetáculo. A cena foi retomada pelos talentosos atores, que demonstraram imenso controle da situação. Ponto negativo para o teatro e o shopping, que de forma despreparada recebem os espectadores. Talvez ainda não conheçam a existência de um gerador, contentando-se apenas com luzes escassas de emergência.
Mais uma vez Yara Leite arrebata aplausos para sua produção, ao lado do assistente Bruno Albertini e da administração de Adriana Amorim. A comédia “O Filho da Mãe” ficará em cartaz até 27 de agosto, no Teatro Folha, localizado no bairro do Higienópolis, apenas aos sábados, às 20h. Os ingressos vão de R$ 40,0 à R$ 50,0 e podem ser comprados na bilheteria do teatro ou pelo ingresso.com na internet.
quarta-feira, 15 de junho de 2011
Wolf Maia tem nova página em seu pior script
Na última quinta-feira (9), o ator e diretor Wolf Maia foi condenado pelo crime de injúria, cometido em 2000, enquanto estreava a peça “Relax... It’s Sex”, em Campinas. O técnico de iluminação Denivaldo Pereira da Silva moveu uma ação contra o Wolf, alegando que foi vítima de racismo ao ter sido chamado de “preto fedorento que saiu do esgoto com mal de Parkinson”. O diretor foi condenado a dois anos e dois meses de prisão, mas pôde optar por indenizar o técnico em 20 salários mínimos e um período de trabalho comunitário. Será que alguém com tamanha tirania moral saberá motivar um trabalho à comunidade?
Wolf Maia tem uma escola de atores em São Paulo e recentemente participou da série “Lara com Z”, ao lado de Suzana Vieira. Não vou tecer nenhum comentário sobre alguns de seus fracassos, pois desta vez espero que a cultura volte-se contra ele. Wolf, em sua fala infame, mostrou-se incapaz de participar da cultura de um país miscigenado, ou até mesmo de dirigir uma escola de atores. Certa vez ouvi da sábia Dercy Gonçalves que escola não forma ator, uso suas palavras para acertar um “martelo” sobre os palcos de Wolf.
O papel de um diretor de teatro deve ser articular o espetáculo e conduzi-lo de forma harmônica. Como será que Wolf ensina os alunos a tratarem técnicos de iluminação? Segundo o diretor, a estréia não saiu como desejava, descarregando sua fúria pérfida na equipe. O fracasso de uma estréia deve-se em grande parte ao fracasso do diretor.
A arte de encenar tem perdido espaço para a arrogância e aos lucros financeiros. Peças sem sentido algum, nem um roteiro bem estruturado têm levado aos bolsos dos atores e diretores o prestígio, que poderia vir aclamado por aplausos do público. Espero que as platéias de Wolf migrem aos espetáculos devera culturais, pois drama se faz com respeito à história que o teatro pautou no tempo.
terça-feira, 17 de maio de 2011
“O Fantasma da Máscara”: musical adaptado com ótima brasilidade e humor
O Teatro Raul Cortez, em São Paulo, recebe a peça “O Fantasma da Máscara”, texto de Vitor Louis Stutz, com direção de Rosi Campos. O musical tem bela performance, dança e músicas coreografam muito bem o texto, além da linguagem clara, moderna e pueril.
Há tempos eu não via um texto infantil adequado à classificação livre, ultimamente tenho assistido coisas horríveis direcionadas às crianças. “O Fantasma da Máscara” trata com leveza um livreto dramático e clássico, da livre adaptação de O Fantasma da Ópera. O musical exibe cores reluzentes em figurinos e compartilha com o público um ótimo entusiasmo dos atores em cena. Rosi Campos, com o musical, explica a ideal forma de dirigir cenas voltadas ao lúdico infantil, o que deveria ser aplicado a outros diretores que, ao invés de colorir, assombram. O espetáculo teve um atraso de 30 minutos, que independente do motivo, não justificado, foi desrespeitoso e fora dos padrões que um espetáculo deve seguir.
Belinha, vivida pela atriz Cristina Cândido, que no dia substituiu Lisah Martins, é uma cantora lírica muito famosa, ela sofre um sequestro liderado por Dilma (Naíma), assistente do Fantasma. A cantora, no dia de seu aniversário, recebe um presente de seu irmão Zeca (Pedro Bosnich), comprado na loja de Pierre (Alexandre Pessôa), um francês ganancioso que dá início a série de confusões que caracteriza o humor do espetáculo. Beto Marden interpreta com modernidade o Fantasma da Máscara, usa de tiradas políticas, muito mais compreensíveis pelo público adulto, e protagoniza razoavelmente um tirano atrapalhado. No musical também participa a personagem Helena, vivida por Luciana Milano (standing), uma enfermeira que surgirá após o suspense do texto.
Cristina Cândido atrai por sua intensa voz, além de graça e concentração em cena, enquanto Beto Marden responde ao suspense com sucessivas cenas atrapalhadas e com um terror controlado para a classificação etária. Cacos e ironias podem construir bem um roteiro, desde quando tratados com rigor. Beto, em dado momento, menciona a personagem Dilma como “cachorrona”, fazendo alusão às letras de funk, porém este é um caco desapropriado para o texto, mesmo com a resposta cômica de Naíma, em sua personagem. Todos os atores envolvem-se bem ao texto e contracenam de forma correta, porém, o que era fundamental para Pedro Bosnich fica a desejar, falta mais fôlego à voz do ator, que destaca-se melhor na produção.
O autor das coreografias, que limitam-se a atores, e não retratam tanto balé e dança, é Jarbas Homem de Mello, que trabalha muito mais o movimento dos atores e deslocamentos no palco. O cenário de Ciça Gut é dinâmico e prático, visto que ao fundo do palco Osiris Junior implantou um cenário digital. Laura Figueiredo é responsável pelo ótimo desenho de luz, que infantiliza e envaidece o clima de suspense e humor proposto pelo espetáculo. Os figurinos de Livia Schurr e Pedro Bosnich, que também assina a direção de produção, refletem com beleza as luzes e colorem o palco movimentando perfeitamente as cenas, com a bela composição das maquiagens de Chloé Gaya. A trilha sonora de Charles Dallas e Walter Junior é memorável e muito bem ritmada.
O musical “O Fantasma da Máscara”, em cartaz no Teatro Raul Cortez, em São Paulo, tem duração de 70 minutos, perfeito para seu público. A realização da BM produções é apresentada pela Porto Seguro, assídua na cultura, e pela Fini. Os ingressos à R$ 40,0 (meia-entrada R$ 20,0) estão à venda na bilheteria do teatro ou pela internet com a Ingresso Rápido, para apresentações aos sábados e domingos, às 16h.
segunda-feira, 2 de maio de 2011
Onze Homens e Uma Sentença, agora sem Zé Renato
Onde eram Doze Homens, no drama de Reginald Rose, dirigido por Eduardo Tolentino, agora são onze, Zé Renato deixou a trupe para a poltrona do espectador. O homem que nos fez rir, hoje mistura o sorriso às lágrimas de saudades. Não veremos mais em cartaz José Renato Pécora, que nesta noite, quando ia para sua rotineira viagem ao Rio de Janeiro, faleceu antes mesmo de embarcar no ônibus. Zé Renato gostava de viajar de ônibus sempre pela noite, assim chegava ao Rio enquanto amanhecia o dia, este era um de seus grandes prazeres.
Zé Renato foi amigo da arte, fundador do Teatro de Arena ele voltou recentemente aos palcos com o espetáculo “Doze Homens e Uma Sentença”, recomendado e premiado. O ator fazia parte do grupo Tapa, que hoje sente a falta de um amigo, de um personagem que não terá mais a voz de um grande ator, de um homem que realizava a arte de encenar e a amava. Com 85 anos de idade, José Renato Pécora entrou para a enciclopédia do teatro, em 1958 Giafrancesco Guarnieri deu-lhe a direção de seu texto “Eles não Usam Black-Tie”, que falava sobre uma greve operária e fazia reflexões sobre o ser humano. Ainda passaram por sua direção textos de Augusto Boal, Nelson Rodrigues, Oduvaldo Vianna Filho, Chico de Assis e Dias Gomes.
O ator foi o primeiro aluno da Escola de Artes Dramáticas, em São Paulo, assim ao terminar o curso propôs o formato de arena para espetáculos. Zé Renato apresentava peças em ginásios e escolas e até atuou para uma platéia de ministros e o presidente Café Filho, no Palácio do Catete, a peça “Uma Mulher e Três Palhaços”, ao lado de Eva Wilma e grandes atores, que ganhou duas páginas no Jornal O Cruzeiro. Ele ainda foi ousado, e administrou o Teatro Ruth Escobar, em São Paulo, que hoje vive seus dias de pena.
Zé era um boêmio de músicas, de piadas e de rir delas. Um infarto o levou para a platéia eterna, onde outros grandes atores aguardam que se abram cortinas para mais respeito e dedicação ao teatro. Algum tempo antes de sua morte, Zé Renato foi ao programa do Jô, onde aclamava patrocinadores a peça “Doze Homens e Uma Sentença”, em cartaz no Teatro Imprensa, em São Paulo, com temporada prevista até Junho.
Zé Renato completava o verdadeiro “teatro de atores”, era o ator que se impunha ao centro de uma arena para encenar a sua volta, permitia com sua idéia, similar a um picadeiro, que todos pudessem visualizar o espetáculo em todos os ângulos, popularizando a arte da cena. Ao engenheiro do teatro, ao sorriso do humor e ao sentimento do drama ficam meus aplausos em luto.
sábado, 2 de abril de 2011
Maria Bethânia empresta a voz para a música e a poesia
Acompanhada de Jaime Alem, no violão e Carlos César, na percussão Maria Bethânia volta aos palcos do teatro emprestando a voz às palavras. Música e poesia costuram uma leitura ininterrupta, “Iansã” é saudada no início da leitura pela canção de Gil e Caetano, enquanto o som do atabaque ascende ao palco com luzes delineando “Bethânia e as Palavras”. A leitura foi criada na Universidade Federal de Minas Gerais, especialmente para mestres e alunos de escolas públicas. Entre tantas lindas palavras, exaltações à educação resumem a intenção do espetáculo, junto ao resgate aos tão importantes e nobres poetas.
Vestindo casaco branco, celebrando Mãe Menininha do Cantuá, sobre o vermelho de Santa Bárbara, Maria Bethânia une todos os seus grandes poetas para conversarem ao som do batuque, da viola e de seu inigualável timbre. Seus três reis magos, Guimarães Rosa, Fernando Pessoa e Dorival Caymmi encontram-se em músicas e poesia, versos e citações, cruzando entre Brasil e Portugal, além do São Francisco de Roberto Mendes e Capinam, em Águas e Mágoas de Carlos Drumond de Andrade. Passeando pelos trilhos da literatura Villa Lobos e Ferreira Gullar fazem a voz de Bethânia vislumbrar o “Trenzinho Caipira”, com o “Comboio Malandro”de Antônio Jacinto, “Vou danado pra Catende”, de Ascenso Ferreira e “Trem de Ferro”, de Manuel Bandeira.
Dona Canô é homenageada com sua imagem projetada ao fundo do palco, onde o único cenário de Bethânia é a voz, pois para uma intérprete se faz necessário o timbre que lhe contempla. “E Depois de uma Tarde”, de Clarice Lispector finda a noite poética junto aos heterônimos de Pessoa, às canções de Chico Buarque e os arranjos fantásticos do maestro Jaime Alem. Encontrar com “Bethânia e as Palavras” é estar aos batuques de uma festa na casa de mãe Canô em Santo Amaro da Purificação, para quem esteve a “Ladainha de Sto. Amaro”, poema de sua irmã Mabel Veloso, é capaz de nos fazer ouvir e caminhar pelas ruas do recôncavo baiano sobre os ladrilhos e terras.
Os poetas Castro Alves e Vinícius de Moraes explodem amores e pátria no mesmo cenário de Moraes Moreira, que fala de Luzia, de Lusíadas, e da canção “Sonhei que estava em Portugal”. Bethânia revela-se poeta e compositora, conta através de versos próprios sua vida em Santo Amaro, na família e na escola. O “Berimbau”, de Manuel Bandeira e “João Valentão”, de Caymmi santificam a Bahia em nossa história. “Romaria”, de Renato Teixeira e “Cálice Bento”, vestem o “Poema do Menino Jesus”, de Alberto Caeiro, um dos heterônimos de Fernando Pessoa, capaz de tocar e enxugar lágrimas de emoção.
“Uma Canção Desnaturada”, de Buarque, “Quero Ser Tambor”, de Craveirinha, “O Poeta Come Amendoim”, de Mário de Andrade, “Jenipapo Absoluto”, de Caetano Veloso e “Abc do Sertão”, de Luis Gonzaga completam o livro de poesias de um dos mais lindos espetáculos que eu já vi em todos os tempos. A Icatu Seguros patrocina a leitura “Bethânia e as Palavras”, incentivada pelo Ministério da Cultura. As notas dos violões e o embalo do atabaque abrem aos orixás o templo de Maria Bethânia e seus versos, aos educadores e educandos, e a todos os amantes das palavras. A canção “Ronda”, de Paulo Vanzolini despede-nos de toda poesia e música. A leitura esteve em cartaz por três dias no Teatro Faap, ao preço de R$ 60,0 ou R$ 30,0 meia entrada, ou mediante doação de um livro. Bethânia segue com o espetáculo para Porto Alegre e Curitiba. Foto: Daniel Marcusso; Foto: Divulgação; respectivamente.