segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Quem é Anitta?


Honório Gurgel, zona norte do Rio de Janeiro. Trinta de março de mil novecentos e noventa e três. Um ano após o Impeachment de Fernando Collor, ano em que Gilberto Gil é homenageado na sétima edição do Prêmio da Música Brasileira. Tom Jobim participa do Roda Viva. Chico Buarque lança o “Paratodos”. Itamar Franco é o presidente. O cruzeiro passa para cruzeiro real. O fusca volta a ser fabricado depois de sete anos fora de produção. Despede-se, neste mesmo ano, Cassiano Gabus Mendes, e na Globo estreia Mulheres de Areia e Renascer. Vem ao mundo Larissa de Machado Macedo. Ela cantaria na igreja, escutaria musicas com o avô, Mariah Carey... e em dois mil e dez seria MC Anitta. Quem é Anitta?

Não vamos discutir o “Fora Collor”, nem vamos falar de Tom Jobim, nem de Cassiano Gabus Mendes, nem das novelas da Globo, nem do cruzeiro, nem do Chico Buarque, nem de Gilberto Gil. Mas, enquanto o Brasil vivia em fervores culturais e políticos, algo iria contra isso tudo... Larissa. Hoje, Anitta!

Por que, contra isso tudo?

Diz ela, que ouvia as músicas do avô, que gostava de todo tipo de música e que cantava todo tipo de música. E mesmo assim tornou-se a Anitta de hoje. Nem ruim, nem boa!

Penso até que na década de 90 foi o período em que a música começou a sofrer, as gravadoras inexistirem e as rádios ganharam ainda mais um estilo publicitário. Foi o momento em que qualquer coisa poderia ganhar o nome de música, mas no século XXI isso foi confirmado definitivamente. Hoje, quase todo o novo, é ruim demais! É época de remasterizar, de relançar. Estamos vivendo do ontem, pra suprir o hoje!

Anitta veio nessa leva do século XXI... como se James Brown tivesse criado “vertentes” do funk. E não criou.

O funk entrou como um estilo, feito aqueles que embalavam a ingenuidade dos jovens. Entrou como se fosse a Xuxa fazendo sucesso. Era rápido o caminho da produção para crianças, na música. Como é rápido o sucesso pelo caminho do funk. Anitta era do funk, diz ela. Depois do sucesso, diz que é do pop. Ou, do “popular”. É sim, popular, como a feira é popular. Como a 25 de Março é popular. O barato será sempre popular.

É uma batida sedutora, mas é uma voz sem novidade. Talvez fosse mais bela num outro estilo, fosse mais bonita no coral da igreja. Gosto da voz dela, da rouquidão que fica no finalzinho do canto. Mas, o estilo é extremamente chato. Acho o funk interessantíssimo. Porém, como porta de entrada pra música, é um abuso de paciência! Quer cantar funk, assuma! Não use-o como porta de acesso ao meio. Fazer sucesso com a turma jovem é fácil, quero ver levá-los para a vida toda, como fazem àqueles nomes que citei lá no início deste texto.

Não sinto-me atraído pela inspiração que ela teve em Beyoncé, Mariah Carey e incomodo-me muito com o jeitinho de quem está mascando chiclete enquanto canta, feito Kelly Key. Não chame isso de “vertente” do que James Brown criou, Anitta!

Fazer sucesso com uma música nas novelas da Globo é uma escadinha rápida ao paraíso. Dê graças também ao Youtube, uma ferramenta genial, mas que nenhum grande músico ou nome da música precisou usar até a década de 90!

O Collor, um ano antes dela nascer, não saiu pelo povo. Entrou e saiu pela mídia. Calado! Esquartejado! Teve tudo tirado de seu controle.

A Anitta, entrou pela escadinha do funk. Pisou no degrau da mídia. Segure-se pra não sumir no degrau seguinte! Pois, a porta que há no final dessa escada pode ser a de um abismo, ou de um novo disco, que também pode significar um abismo. A música anda meio descaracterizada, com tanta “vertente”.

Não desgosto da Anitta! Mas, quase não me agrada.

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