Honório
Gurgel, zona norte do Rio de Janeiro. Trinta de março de mil novecentos e
noventa e três. Um ano após o Impeachment de Fernando Collor, ano em que Gilberto
Gil é homenageado na sétima edição do Prêmio da Música Brasileira. Tom Jobim
participa do Roda Viva. Chico Buarque lança o “Paratodos”. Itamar Franco é o
presidente. O cruzeiro passa para cruzeiro real. O fusca volta a ser fabricado
depois de sete anos fora de produção. Despede-se, neste mesmo ano, Cassiano
Gabus Mendes, e na Globo estreia Mulheres de Areia e Renascer. Vem ao mundo
Larissa de Machado Macedo. Ela cantaria na igreja, escutaria musicas com o avô,
Mariah Carey... e em dois mil e dez seria MC Anitta. Quem é Anitta?
Não
vamos discutir o “Fora Collor”, nem vamos falar de Tom Jobim, nem de Cassiano
Gabus Mendes, nem das novelas da Globo, nem do cruzeiro, nem do Chico Buarque,
nem de Gilberto Gil. Mas, enquanto o Brasil vivia em fervores culturais e
políticos, algo iria contra isso tudo... Larissa. Hoje, Anitta!
Por
que, contra isso tudo?
Diz
ela, que ouvia as músicas do avô, que gostava de todo tipo de música e que
cantava todo tipo de música. E mesmo assim tornou-se a Anitta de hoje. Nem ruim,
nem boa!
Penso
até que na década de 90 foi o período em que a música começou a sofrer, as
gravadoras inexistirem e as rádios ganharam ainda mais um estilo publicitário.
Foi o momento em que qualquer coisa poderia ganhar o nome de música, mas no
século XXI isso foi confirmado definitivamente. Hoje, quase todo o novo, é ruim
demais! É época de remasterizar, de relançar. Estamos vivendo do ontem, pra
suprir o hoje!
Anitta
veio nessa leva do século XXI... como se James Brown tivesse criado “vertentes”
do funk. E não criou.
O funk entrou como um estilo, feito aqueles que embalavam a
ingenuidade dos jovens. Entrou como se fosse a Xuxa fazendo sucesso. Era rápido
o caminho da produção para crianças, na música. Como é rápido o sucesso pelo
caminho do funk. Anitta era do funk, diz ela. Depois do sucesso, diz que é do
pop. Ou, do “popular”. É sim, popular, como a feira é popular. Como a 25 de Março
é popular. O barato será sempre popular.
É uma batida sedutora, mas é uma voz sem novidade. Talvez
fosse mais bela num outro estilo, fosse mais bonita no coral da igreja. Gosto
da voz dela, da rouquidão que fica no finalzinho do canto. Mas, o estilo é
extremamente chato. Acho o funk interessantíssimo. Porém, como porta de entrada
pra música, é um abuso de paciência! Quer cantar funk, assuma! Não use-o como
porta de acesso ao meio. Fazer sucesso com a turma jovem é fácil, quero ver
levá-los para a vida toda, como fazem àqueles nomes que citei lá no início
deste texto.
Não sinto-me atraído pela inspiração que ela teve em
Beyoncé, Mariah Carey e incomodo-me muito com o jeitinho de quem está mascando
chiclete enquanto canta, feito Kelly Key. Não chame isso de “vertente” do que
James Brown criou, Anitta!
Fazer sucesso com uma música nas novelas da Globo é uma
escadinha rápida ao paraíso. Dê graças também ao Youtube, uma ferramenta
genial, mas que nenhum grande músico ou nome da música precisou usar até a
década de 90!
O Collor, um ano antes dela nascer, não saiu pelo povo.
Entrou e saiu pela mídia. Calado! Esquartejado! Teve tudo tirado de seu
controle.
A Anitta, entrou pela escadinha do funk. Pisou no degrau da
mídia. Segure-se pra não sumir no degrau seguinte! Pois, a porta que há no
final dessa escada pode ser a de um abismo, ou de um novo disco, que também
pode significar um abismo. A música anda meio descaracterizada, com tanta
“vertente”.
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