terça-feira, 26 de outubro de 2010

“A Gaiola das Loucas”, um musical de plumas e paetês


Estreou essa semana em São Paulo o musical “A Gaiola das Loucas”, no Teatro Bradesco, com texto de Harvey Fierstein e direção de Miguel Falabella, que também atua. O musical faz voar plumas quando exibe as danças bem coreografadas e cospe fogo ao criticar a homofobia de forma indireta. Mas de contraponto o espetáculo especula muito mais o homossexualismo e esquece de exuberar mais o lado artístico disso tudo, com uma partitura engessada e camadas de humor a gaiola solta suas loucas.

O espetáculo é baseado na peça “La Cage Aux Folles”, de Jean Poiret, e agora traz a história num musical com versão brasileira de Miguel Falabella, que interpreta o personagem Georges, um homossexual que vive com Albin, que num cabaré ganha os espetáculos como a travesti Zazá, interpretação fabulosa de Diogo Vilela. Jean Michel é filho de Georges com uma mulher a qual se aventurou, porém o jovem foi criado pelo casal de homossexuais tendo Albin como uma mãe. Jean anuncia seu noivado com Anne Dindon, vivida por Carla Martelli, a moça é filha de um deputado extremamente conservador, que ao descobrir a formação da família que sua filha está prestes a entrar tenta proibir este casamento, mas Jacqueline, amiga de Albin e Georges, interpretada por Sylvia Massari, tem em mãos o trunfo que poderá reverter a proibição do deputado Dindon, elevando o humor do texto.

Ontem (25) estive na exibição do espetáculo para convidados, neste tive o desprazer de assistir o musical do balcão nobre, onde a estrutura nos inibe de enxergar qualquer detalhe importante para se escrever uma crítica respeitosa ao musical, além do mais não há como falar de expressões, passos de dança, cortes do figurino quando se vê em grande parte do tempo apenas as cabeças dos atores, talvez eu consiga lhes dizer melhor como são as perucas dos personagens, ou da iluminação, assim como quando estamos sobrevoando uma cidade e só enxergamos pequenos objetos e a iluminação das ruas. Não consigo ao menos citar os atores que compõe o elenco, nos números de dança e também de interpretação, quase não vi seus rostos, não acho justo falar de nomes sem citar as interpretações.

Olhando de frente minha visão enxergava bem a iluminação de Maneco Quinderé, que trança cores sublimes por todo o palco, mesclando a energia dessas cores com os telões de led que engrandecem o show de tecnologia que o espetáculo traz. O figurino assinado por Cláudio Tovar, mesmo de longe me permite saborear a elegância e cuidado, plumas e paetês envolvem os tecidos com um desenho nobre, porém este é outro detalhe do qual não posso transmitir com tanta autonomia, desta forma não irei escrever sobre o que vi nas fotos, um crítico de teatro escreve aquilo que vive no momento do espetáculo. Os cenários têm suas trocas rápidas, porém não são tantos cenários, tudo gira em torno de cortinas, telões, e a montagem cenográfica fica por conta da casa do casal, do restaurante onde se encontram e do terraço de um outro restaurante, além de elementos que são usados no palco do cabaré, como uma escada muito bem desenhada que recebe os passos das loucas.

O texto deste musical explora muito mais os temas homossexuais, no palco vários homens trajados de mulher dão o toque feminino e transformista do espetáculo, porém são poucos os números de dança, tratando-se de uma história que também acontece no cabaré, acredito que poderia haver mais cenas dançantes. A coreografia de Chet Walker, ensaiada junto com a coreógrafa assistente Fernanda Chamma, pinta e borda um ânimo bacana no musical, e ganha mais ritmo no segundo ato. O movimento das roupas ajuda bastante na beleza do conjunto de tudo. A direção musical e adaptação do original é de Carlos Bauzys, com assistência de Daniel Rocha, que também assume a regência. A partitura é um tanto engessada, parece que ouvimos as mesmas notas em várias músicas, o segundo ato vem mais embalado e com diferenças entre uma música e outra. O timbre de Diogo Vilela é espetacular, assim como o de Miguel Falabella também surpreende. A co-direção do espetáculo é assinada por Cininha de Paula, que creio ainda precisar explorar melhor o palco do Teatro Bradesco, pois a diferença de visibilidades entre o Oi Casa Grande, que recebeu o Gaiola no Rio de Janeiro, e o Bradesco é bem perceptiva, mesmo os preços sendo um pouco mais populares nos balcões e frisa, é bem desagradável ver cenas em parcialidade.

A produção geral de Sandro Chaim fica em cartaz até 19 de dezembro no Teatro Bradesco, do Shopping Bourbon, em São Paulo. O musical “A Gaiola das Loucas” é apresentado de quinta e sábado, às 21h. Sexta, às 21:30h e aos domingos, 19h. Os ingressos vão de R$ 20 a R$ 170,0 e podem ser comprados na bilheteria do teatro, ou na internet no site do Ingresso Rápido.

3 comentários:

  1. adorei a crítica! Adoro a forma que você escreve Nyldo! Parabens! Amigo e excelente profissional! Abraços!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Nyldo, meu amigo!

    Fico extremamente sentida pelo acontecido. A sensura está voltando aí e temos que lutar contra isso!
    Sabemos que por trás disso tudo existe o jogo de interesses entre as partes, mas é uma tremenda perda para a arte e para a sociedade não podermos expressar o que sentimos para melhoria de um todo.
    Mais triste é saber que essas coisas se arrastam há anos... E pensar por quanto tempo mais isso existirá.
    O homem e seus egos.

    Sabendo de sua capacidade, tenho certeza que oportunidades mais justas virão em breve.
    Mantenha seu blog com o jornalísmo verídico que tanto apreciamos! Nunca desanime pois estaremos com você!


    Beijo no coração!

    --
    STELLA MENZ

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