sábado, 29 de junho de 2013

O funk que fala por nós


Não adianta vir dizer que não ouve funk, ou escandalizar o ritmo, que hoje, em grande parcela sai da boca dos morros e comunidades! O ritmo é saudável ao corpo. Claro, tem letra que não desce. É um escárnio. Mas, recentemente eu ouvi uma que dá uma ré no Brasil, pra gente enxergar um pouco do que o povo anda gritando nas ruas.

Sabe por que o funk desce dos morros e das comunidades? Porque são pessoas do morro e das comunidades, das periferias, que são sensíveis às agressões da desigualdade e a deslealdade governamental.

Essa semana, ouvindo uma série de produções rápidas que a internet fornece, encontrei um vídeo compartilhado na mesma rede em que foram marcadas as centenas de manifestações, que inclusive fiz parte, Brasil afora. Fiquei lisonjeado de fazer parte de uma história tão coerente vinda do povo e que confunde-se com a música, um funk que fala pelos cartazes, que fala por nós!

Não precisa ser nenhum gênio pra desabafar a má sorte de termos políticos do nível que temos, nem pra contar as sombras que habitam o nosso País. Mas, é preciso saber dizer com menos arrogância a que somos atacados diariamente pela política e com um pouco mais de sabedoria. Isso, o MC Garden botou belamente em prática. Fiquei orgulhoso de ouvir esse funk, que ele produziu ao lado do DJ Vinícius Boladão.

Mas boladão mesmo, eu estou com a rapidez em que os políticos estão manifestando a vontade do povo. Evidentemente existe uma má índole ainda imperando sob suas áureas. Mas, não pensem eles que esqueceremos na hora de votar, que nós precisamos gritar nas ruas para que tomassem tento.

Ouçam esse funk, mas ouçam mesmo! O funk chama-se “Isso é Brasil”, e vocês vão concordar comigo. A juventude está bem acordada e com a voz afinada e afiada. É um funk que vale a pena e que bota no bolso qualquer Anitta, Catra, Leozinho, Naldo e afins...

terça-feira, 25 de junho de 2013

Ana Carolina lança novo álbum mergulhando numa outra estética


Alguns arranjos causam estranheza, talvez pela distância e o contraste de trabalhos passados de Ana, que variavam entre os sambas, as baladas e algumas sapecadas no rock. Mas, isso só vem mostrar sua versatilidade. Cantar é isso. Encarar as consoantes musicais e suas diferenças rítmicas. O álbum “#AC” traz um jeito moderno de transformar MPB em algo pop.

Passando a percussão por cima de um arranjo eletrônico, Ana tira do mundo cibernético a estética do disco. Encontra debaixo d’água a marola certa de espalhar a voz, vestida num vermelho vibrante, tal qual sua personalidade.

Antes de ser uma cantora, vejo-a boa compositora. Ana sabe atingir de jeito quem a ouve, suas canções ficam matutando, ora prestamos intimamente atenção à letra, ora embalamos ao arranjo. Gosto mais dela cantando suas próprias canções as dos outros, imagino que ela componha pensando com as cordas vocais.

“#AC” foi lançado tipicamente aos tempos modernos, no auge do contemporâneo, na epopeia cibernética. Já no iTunes correu para o topo da lista dos downloads e não por menos, lá manteve-se.

O álbum traz pigmentos do cotidiano nas canções, arrisca algum samba-canção em certas passagens e tasca numa música a seguinte e corriqueira frase: “Quem te pega, quem te paga e quem te come, tudo no iPhone”.

De um clássico de Chico Buarque nasceu “Resposta da Rita”. A pedido de Maria Bethânia, Ana compôs uma resposta peituda para “A Rita”, de Buarque e convidou-o a gravarem juntos. Por cima do resmungo poético de Chico, Ana torna saliente as retrucas da intriga canção. É linda!
“Combustível” já foi parar na novela das nove, e “Luz Acesa” na novela das seis. O campo das novelas sempre foi um gigante negócio pra música, e espalha-se entre um público que muitas vezes não se permite ligar o rádio ou buscar um CD.

Ana Carolina reinventa um mergulho numa estética jovial, o que é característica de seu público, mas não deixará de conquistar nova gente. Suas nadadeiras estão bem afiadas e certamente fará um show ainda melhor do que o CD.

O trabalho saiu de uma parceria com o músico Edu Krieger e o coprodutor Alê Siqueira. A hashtag (#) que antecede as iniciais de Ana Carolina no título do álbum é fruto da mesma inspiração que datilografa as canções. Ana passa horas na internet, velejando pelo Twitter... esse vício adentrou ao vício da música!

Ana mete a mão em tudo que envolve seu trabalho, participa-se inteiramente em todos o processos de criação e deixa evidente que em “#AC” não ficou apenas à beira da piscina alisando a água fria com a ponta dos dedos. Tá na cara que ela pulou de uma vez só, e sem sentir o gelo da água soltou o timbre marcante lá embaixo mesmo. O mercado fonográfico é isso aí!

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Ei, você que ria do Hino Nacional na escola: é hora de cantar sério!


Vou usar a modinha da internet - rir e brincar na hora do Hino: “quem nunca?”

Ainda acontece, o cara de trás cutuca o traseiro do amigo com o dedo... dobra os joelhos pra derrubá-lo. Conta uma piada. Faz paródia com a letra. Careta. Dedo do meio. Tudo muito diferente do que há anos era praticado: mão no peito, postura ereta e sem os plurais nas palavras em que o povo insiste em cantar errado. Qualquer vacilo, a palmatória suava às mãos.

Sem dúvidas, a letra mais bela de todos os hinos no mundo. Isso não é patriotismo, e se for... que seja! É o único Hino em que a poesia é orquestrada. O Brasil pode não ser uma poesia, mas sua representação em música e pavilhão são a expressão notória da poesia.

É dessa poesia que eu venho falar hoje. Tenho ido aos protestos em São Paulo, e até as lágrimas caíram-me nesses dias. Olhar para o alto e adorar aquelas mesmas estrelas que brilham na bandeira, enxugar as vistas com os lenços brancos que penduram às janelas dos apartamentos, os aplausos, os velhos e os novos lado a lado nas ruas, as frases de indignação nos cartazes, os olhos lotados de esperança e vontade, o Brasil com a cara no pavilhão!

Tô fora de falar dos vândalos! Sem visibilidade, eles somem. A mídia está adorando todo tipo de vândalo, afinal, do que viveu a mídia até hoje, se não do sangue?

Estou vendo de volta o Hino Nacional brasileiro nos olhos, nas mãos e na boca do povo. A canção mais bela no ato mais justo, ele não podia faltar. O divino maravilhoso que percorreu os protestos mais gloriosos da história. O Hino estava na voz dos estudantes da Ditadura Militar, estava no calor das Diretas Já, no sentimento de justiça no impeachment do Collor... e hoje, na futura história do presente em que um País saiu de seu coma. O coma que fazia feliz o Governo e a política. O coma que fazia o tripúdio politico para conosco. O coma que arrancou os tubos e passou a respirar um ar que é tão nosso. O Brasil não é dos senhores, políticos!

O Hino Nacional está reescrito em todos os cantos do Brasil... já não é apenas do Ipiranga que ouve-se o povo heróico e bravo retumbante. O sol da liberdade brilha seus raios fugidos do Oiapoque ao Chuí.

O penhor dessa igualdade ainda está sendo conquistado pelos braços fortes, agora sim, podemos usar “braço forte” no plural. Essa é a grandeza mais gloriosa que o futuro desta pátria espelha! O Brasil é um só... tá aí, nas ruas.

Iluminado ao sol do Novo Mundo, de uma nova terra, que não é mais a terra da balburdia e do carnaval da Constituição. Deitado eternamente em berço esplêndido é apenas um verso poético que ganhou movimento. “Paz no futuro e glória no passado”!
O Hino ganhou força, sem palmatórias, sem castigo. Renasceu do meio do povo... cantam juntos no País e no mundo inteiro. Embaixo da flâmula verde, amarela e azul voltamos ao sentido de Ordem e Progresso. É isso que nós queremos.

Isso responde ao que vocês, políticos, ironicamente ainda não entenderam? Vocês não sabem mesmo o que estamos fazendo nas ruas? Ordem e Progresso! É isso...

Minha tia, dona Maria Luzia, cheia de bolinhas de gude nos bolsos, cantava o Hino dos estudantes durante a Ditadura Militar. Minha avó, Marly Batista, estava no bolso das greves que semearam profissões de hoje. Minha mãe, Ylram Batista, pintou a cara de verde e amarelo para depor Fernando Collor de Mello. O que estas duas últimas tem em comum? Além de mãe e filha, são professoras, baianas, mulheres e tem voz. Nenhum preconceito derrubou o direito dessas mulheres. E você, Marcos Feliciano, ainda acha que significa algo para a nação? Você é apenas um suvenir da impunidade. Que, quando cair no chão vai quebrar.

Elas lutaram no passado pelo futuro! Eu, e seus filhos, netos, sobrinhos, amigos e irmãos, filhos da Pátria Mãe, fazemos jus às suas glórias. Somos nós que vamos às ruas. Na Rio Branco, onde lutaram pela repressão. Na Avenida 7 de Setembro, onde nem só de carnaval vivia a Bahia. No vão do MASP, onde colocamos um “presidente” em seu devido lugar.

A gente não precisa de futebol agora. Jogador sabe cantar o resumido Hino que entoam antes das partidas? Nem cantar, nem interpretar. Vide Ronaldo e Pelé!

Cantem! Amem! Exaltem! Tirem do peito, da voz, da alma, das mãos, do passado, do presente e pelo futuro, o Hino Nacional Brasileiro...

Mas, se ergues da justiça a clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme, quem te adora, a própria morte.

Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!

segunda-feira, 17 de junho de 2013

A verdadeira bomba de efeito moral


São incontáveis os shows de Gal Costa que já assisti, porém, no último sábado, quando ela apresentou o show “Recanto”, em São Paulo, a inquietude tomou conta de mim e de última hora levantei-me e resolvi ir até o show. Comprei em cima da hora e entrei. Gal estava inexorável. Do meio de sua voz, veio do público um grito “vem pra rua, vem”. São Paulo, que vive um montante de protestos legítimos, dava o salvo da atualidade frente a cantora dos mais gloriosos tempos após emprestar-lhe a voz à “Neguinho”, canção de Caetano que aqueceu a ocasião. Como era antes! A resposta foi a que marcou-me de maneira mais inigualável possível, Gal disparou: “protesto aqui é através da letra da canção.” E seguiu cantando...


Resolvi refletir sobre isso, usando a música. Onde vamos parar com a revolta do Estado? Mais uma vez, o governo se arma e tenta domar o povo como insossos. O Brasil nunca esteve dormindo, apenas engolindo sapos!

Parece que mais uma vez vivemos a revolta de uma “contrarrevolução”,  os franceses lutaram, os cubanos lutaram, os ingleses e os russos também, até os americanos lutaram. O brasileiro cantou, e de armas na boca gritava. Quem não ouviu a ditadura no rádio?

Eles entregam flores e recebem balas, pedem um abraço e levam porrada, pedem paz e ganham a guerra! Fogo, tiro... eles batem os cassetetes nos escudos, os pés no chão, empinam os fuzis e gritam feito ferozes treinados: tal qual os sons que ensurdeceram gente na Ditadura Militar.  1964 outra vez!

Minha Nossa, o que estão fazendo? Os jovens? Ah, lutando por seus direitos! Os policiais? Impedindo o exercício do direito, apoiando-se em represálias. Não concordo com a quebradeira dos bens públicos, mas o Estado não é um bem público, quis apenas, no tempo, tornar-se um mal necessário. Ordem e Progresso! Só na bandeira. Manto, que aliás, nem os militares respeitam. Vi gente ser presa com a bandeira no corpo. É lei, respeitar o manto.

Não aguento mais ver o Datena falar como se fosse jornalista, prendendo os órgãos genitais em cima de um muro. E o Arnaldo Jabor, nunca foi meu porta-voz. Nem do Brasil!

O que me indigna é que muitos dos políticos que foram postos a ponta pés pra fora do Brasil, que foram calados, hoje, estão posando de militares. É a contrarrevolta?!

A Dilma vaiada num estádio. Mas, eu me pergunto, o que faziam lá vaiando a presidenta? Pagam caro num ingresso para o jogo, frequentam o estádio superfaturado e sentem-se no direito de irem contra algo em que os próprios fazem parte? É legal, mas ou eu vou ao estádio, ou eu vaio a presidenta. Eu vaio a presidenta!

Não são 20 centavos a mais, são todos os impostos que roubam a nossa liberdade financeira. Lembram do pãozinho? Uma vez eu voltei à padaria com todas as balinhas que recebia de troco (no lugar do 1 centavo) e paguei o pão com as balinhas. Resultado, subiram o preço do pão e extinguiram o 1 centavo.

Não vivi as guerras, não vivi a Ditadura. Mas estão editando os capítulos de um novo tempo do descaramento do Estado. O governo tem polícia! Nós, temos voz.

Quando Gal disse no sábado em seu show: “aqui protestamos com música”, entendi mais ainda a genialidade de quem lutou pela nossa liberdade e com os mesmos sons relutam essa liberdade. Não demorou muito, após essa fala, e seguiu o repertório, com o retrato dos tempos, “O Amor”, “Baby” e Vapor Barato”!

Quem não conheceu Julinho da Adelaide? A censura era de uma ignorância tamanha que não o conhecia... deixou-nos passar as mais intensas canções de Chico Buarque. A censura de hoje é contra a voz, e sofre da mesma burrice!

Não digo nada além disso... a música que ilustrou o passado pode muito bem armar as mãos e a boca do presente:

“Por entre fotos e nomes. Sem livros e sem fuzil. Sem fome, sem telefone, no coração do Brasil.”
(Alegria, Alegria, Caetano Veloso)

“Por isso cuidado meu bem, há perigo na esquina. Eles venceram e o sinal está fechado pra nós, que somos jovens.”
(Como Nossos Pais, Belchior)

“Mamãe, mamãe, não chore. A vida é assim mesmo. Eu fui embora.”
(Mamãe Coragem, Caetano Veloso)

“Pois temos o sorriso engarrafado.”
(Parque Industrial, Tom Zé)

“Você vai, eu fico. Você fica, eu vou. Por uma questão de ordem. Por uma questão de desordem.”
(Questão de Ordem, Gilberto Gil)

“Há soldados armados. Amados ou não. Quase todos perdidos, de armas na mão.”
(Pra não dizer que falei das flores, Geraldo Vandré)

“Como é difícil, Pai, abrir a porta.”
(Cálice, Chico Buarque)

“Que sonha com a volta do irmão do Henfil, com tanta gente que partiu num rabo de foguete. Chora! A nossa Pátria Mãe gentil.”
(O Bêbado e o Equilibrista, Aldir Blanc e João Bosco)

“Porque você mata uma e vem outra em meu lugar.”
(Mosca na Sopa, Raul Seixas)

“Acender as velas já é profissão.”
(Acender as Velas, Zé Keti)

“Sonhei que tinha gente lá fora batendo no portão, que aflição. Era a dura, numa muito escura viatura.”
(Acorda Amor, Chico Buarque)

“É proibido proibir.”
(É proibido Proibir, Caetano Veloso)

“A família protegida. Um palavrão reprimido. Um pregador que condena. Uma bomba por quinzena.”
(São, São Paulo, Tom Zé)

“É preciso estar atento e forte. Não temos tempo de temer a morte.”
(Divino Maravilhoso, Caetano Veloso e Gilberto Gil)

“Eu estou tão cansado, mas não pra dizer que eu estou indo embora.”
(Vapor Barato, Waly Salomão)

“Paz no futuro e glória no passado.”
(Hino Nacional Brasileiro, Joaquim Osório Duque Estrada)

“Podem me prender. Podem me bater. Podem até deixar-me sem comer, que eu não mudo de opinião. Vinte centavos eu não pago não.”
(Opinião, Zé Keti adaptada por Elza Soares)

E em pleno ano de 2011, Caetano Veloso compõe a seguinte canção pra Gal:

“Nego abre banco, igreja, sauna, escola. Nego abre os braços e a voz. Talvez seja sua vez: Neguinho que eu falo é nós.”

As pessoas usam lenços, camisas, panos sobre o rosto, não para esconderem a face. Mas pra se preservarem da covardia dos gases. E vocês, policiais? Onde estava a identificação de muitos de vocês. Soldado sem nome, é soldado sem honra. Honra, não é fruto de sangue. Sangue é coisa de humano! Vocês, sabem o que é humano?

Em resumo, a bomba de efeito moral não é a que a polícia joga com as mãos esquivas atrás do escudo. Moral tem um efeito muito além e mais humano do que isso. É mais fácil cegar um jornalista do que permiti-lo ver e contar a verdade. Não é o vinagre! Não é o jornalista! Não é o estudante!

O problema do Governo é o povo!