Resolvi refletir sobre isso, usando a música. Onde vamos
parar com a revolta do Estado? Mais uma vez, o governo se arma e tenta domar o
povo como insossos. O Brasil nunca esteve dormindo, apenas engolindo sapos!
Parece que mais uma vez vivemos a revolta de uma
“contrarrevolução”, os franceses
lutaram, os cubanos lutaram, os ingleses e os russos também, até os americanos
lutaram. O brasileiro cantou, e de armas na boca gritava. Quem não ouviu a
ditadura no rádio?
Eles entregam flores e recebem balas, pedem um abraço e
levam porrada, pedem paz e ganham a guerra! Fogo, tiro... eles batem os
cassetetes nos escudos, os pés no chão, empinam os fuzis e gritam feito ferozes
treinados: tal qual os sons que ensurdeceram gente na Ditadura Militar. 1964 outra vez!
Minha Nossa, o que estão fazendo? Os jovens? Ah, lutando por
seus direitos! Os policiais? Impedindo o exercício do direito, apoiando-se em
represálias. Não concordo com a quebradeira dos bens públicos, mas o Estado não
é um bem público, quis apenas, no tempo, tornar-se um mal necessário. Ordem e
Progresso! Só na bandeira. Manto, que aliás, nem os militares respeitam. Vi
gente ser presa com a bandeira no corpo. É lei, respeitar o manto.
Não aguento mais ver o Datena falar como se fosse
jornalista, prendendo os órgãos genitais em cima de um muro. E o Arnaldo Jabor,
nunca foi meu porta-voz. Nem do Brasil!
O que me indigna é que muitos dos políticos que foram postos
a ponta pés pra fora do Brasil, que foram calados, hoje, estão posando de
militares. É a contrarrevolta?!
A Dilma vaiada num estádio. Mas, eu me pergunto, o que
faziam lá vaiando a presidenta? Pagam caro num ingresso para o jogo, frequentam
o estádio superfaturado e sentem-se no direito de irem contra algo em que os
próprios fazem parte? É legal, mas ou eu vou ao estádio, ou eu vaio a
presidenta. Eu vaio a presidenta!
Não são 20 centavos a mais, são todos os impostos que roubam
a nossa liberdade financeira. Lembram do pãozinho? Uma vez eu voltei à padaria
com todas as balinhas que recebia de troco (no lugar do 1 centavo) e paguei o
pão com as balinhas. Resultado, subiram o preço do pão e extinguiram o 1
centavo.
Não vivi as guerras, não vivi a Ditadura. Mas estão editando
os capítulos de um novo tempo do descaramento do Estado. O governo tem polícia!
Nós, temos voz.
Quando Gal disse no sábado em seu show: “aqui protestamos
com música”, entendi mais ainda a genialidade de quem lutou pela nossa
liberdade e com os mesmos sons relutam essa liberdade. Não demorou muito, após
essa fala, e seguiu o repertório, com o retrato dos tempos, “O Amor”, “Baby” e
Vapor Barato”!
Quem não conheceu Julinho da Adelaide? A censura era de uma
ignorância tamanha que não o conhecia... deixou-nos passar as mais intensas
canções de Chico Buarque. A censura de hoje é contra a voz, e sofre da mesma
burrice!
Não digo nada além disso... a música que ilustrou o passado
pode muito bem armar as mãos e a boca do presente:
“Por entre fotos e nomes. Sem livros e sem fuzil. Sem fome, sem telefone, no
coração do Brasil.”
(Alegria, Alegria, Caetano Veloso)
“Por isso cuidado meu bem, há perigo na esquina. Eles
venceram e o sinal está fechado pra nós, que somos jovens.”
(Como Nossos Pais, Belchior)
“Mamãe, mamãe, não chore. A vida é assim mesmo. Eu fui
embora.”
(Mamãe Coragem, Caetano Veloso)
“Pois temos o sorriso engarrafado.”
(Parque Industrial, Tom Zé)
“Você vai, eu fico. Você fica, eu vou. Por uma questão de
ordem. Por uma questão de desordem.”
(Questão de Ordem, Gilberto Gil)
“Há soldados armados. Amados ou não. Quase todos perdidos,
de armas na mão.”
(Pra não dizer que falei das flores, Geraldo Vandré)
“Como é difícil, Pai, abrir a porta.”
(Cálice, Chico Buarque)
“Que sonha com a volta do irmão do Henfil, com tanta gente
que partiu num rabo de foguete. Chora! A nossa Pátria Mãe gentil.”
(O Bêbado e o Equilibrista, Aldir Blanc e João Bosco)
“Porque você mata uma e vem outra em meu lugar.”
(Mosca na Sopa, Raul Seixas)
“Acender as velas já é profissão.”
(Acender as Velas, Zé Keti)
“Sonhei que tinha gente lá fora batendo no portão, que
aflição. Era a dura, numa muito escura viatura.”
(Acorda Amor, Chico Buarque)
“É proibido proibir.”
(É proibido Proibir, Caetano Veloso)
“A família protegida. Um palavrão reprimido. Um pregador que
condena. Uma bomba por quinzena.”
(São, São Paulo, Tom Zé)
“É preciso estar atento e forte. Não temos tempo de temer a
morte.”
(Divino Maravilhoso, Caetano Veloso e Gilberto Gil)
“Eu estou tão cansado, mas não pra dizer que eu estou indo
embora.”
(Vapor Barato, Waly Salomão)
“Paz no futuro e glória no passado.”
(Hino Nacional Brasileiro, Joaquim Osório Duque Estrada)
“Podem me prender. Podem me bater. Podem até deixar-me sem
comer, que eu não mudo de opinião. Vinte centavos eu não pago não.”
(Opinião, Zé Keti adaptada por Elza Soares)
E em pleno ano de 2011, Caetano Veloso compõe a seguinte
canção pra Gal:
“Nego abre banco, igreja, sauna, escola. Nego abre os braços e a voz. Talvez
seja sua vez: Neguinho que eu falo é nós.”
As pessoas usam lenços, camisas, panos sobre o rosto, não
para esconderem a face. Mas pra se preservarem da covardia dos gases. E vocês,
policiais? Onde estava a identificação de muitos de vocês. Soldado sem nome, é
soldado sem honra. Honra, não é fruto de sangue. Sangue é coisa de humano!
Vocês, sabem o que é humano?
Em resumo, a bomba de efeito moral não é a que a polícia
joga com as mãos esquivas atrás do escudo. Moral tem um efeito muito além e
mais humano do que isso. É mais fácil cegar um jornalista do que permiti-lo ver
e contar a verdade. Não é o vinagre! Não é o jornalista! Não é o estudante!
O problema do Governo é o povo!