Alguns arranjos causam estranheza, talvez pela distância e o
contraste de trabalhos passados de Ana, que variavam entre os sambas, as
baladas e algumas sapecadas no rock. Mas, isso só vem mostrar sua versatilidade.
Cantar é isso. Encarar as consoantes musicais e suas diferenças rítmicas. O
álbum “#AC” traz um jeito moderno de transformar MPB em algo pop.
Passando a percussão por cima de um arranjo eletrônico, Ana
tira do mundo cibernético a estética do disco. Encontra debaixo d’água a marola
certa de espalhar a voz, vestida num vermelho vibrante, tal qual sua
personalidade.
Antes de ser uma cantora, vejo-a boa compositora. Ana sabe
atingir de jeito quem a ouve, suas canções ficam matutando, ora prestamos
intimamente atenção à letra, ora embalamos ao arranjo. Gosto mais dela cantando
suas próprias canções as dos outros, imagino que ela componha pensando com as
cordas vocais.
“#AC” foi lançado tipicamente aos tempos modernos, no auge do
contemporâneo, na epopeia cibernética. Já no iTunes correu para o topo da lista
dos downloads e não por menos, lá manteve-se.
O álbum traz pigmentos do cotidiano nas canções, arrisca
algum samba-canção em certas passagens e tasca numa música a seguinte e
corriqueira frase: “Quem te pega, quem te paga e quem te come, tudo no iPhone”.
De um clássico de Chico Buarque nasceu “Resposta da Rita”. A
pedido de Maria Bethânia, Ana compôs uma resposta peituda para “A Rita”, de
Buarque e convidou-o a gravarem juntos. Por cima do resmungo poético de Chico,
Ana torna saliente as retrucas da intriga canção. É linda!
“Combustível” já foi parar na novela das nove, e “Luz Acesa”
na novela das seis. O campo das novelas sempre foi um gigante negócio pra
música, e espalha-se entre um público que muitas vezes não se permite ligar o
rádio ou buscar um CD.
Ana Carolina reinventa um mergulho numa estética jovial, o
que é característica de seu público, mas não deixará de conquistar nova gente.
Suas nadadeiras estão bem afiadas e certamente fará um show ainda melhor do que
o CD.
O trabalho saiu de uma parceria com o músico Edu Krieger e o
coprodutor Alê Siqueira. A hashtag (#) que antecede as iniciais de Ana Carolina
no título do álbum é fruto da mesma inspiração que datilografa as canções. Ana
passa horas na internet, velejando pelo Twitter... esse vício adentrou ao vício
da música!
Ana mete a mão em tudo que envolve seu trabalho, participa-se
inteiramente em todos o processos de criação e deixa evidente que em “#AC” não
ficou apenas à beira da piscina alisando a água fria com a ponta dos dedos. Tá
na cara que ela pulou de uma vez só, e sem sentir o gelo da água soltou o
timbre marcante lá embaixo mesmo. O mercado fonográfico é isso aí!
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