terça-feira, 25 de junho de 2013

Ana Carolina lança novo álbum mergulhando numa outra estética


Alguns arranjos causam estranheza, talvez pela distância e o contraste de trabalhos passados de Ana, que variavam entre os sambas, as baladas e algumas sapecadas no rock. Mas, isso só vem mostrar sua versatilidade. Cantar é isso. Encarar as consoantes musicais e suas diferenças rítmicas. O álbum “#AC” traz um jeito moderno de transformar MPB em algo pop.

Passando a percussão por cima de um arranjo eletrônico, Ana tira do mundo cibernético a estética do disco. Encontra debaixo d’água a marola certa de espalhar a voz, vestida num vermelho vibrante, tal qual sua personalidade.

Antes de ser uma cantora, vejo-a boa compositora. Ana sabe atingir de jeito quem a ouve, suas canções ficam matutando, ora prestamos intimamente atenção à letra, ora embalamos ao arranjo. Gosto mais dela cantando suas próprias canções as dos outros, imagino que ela componha pensando com as cordas vocais.

“#AC” foi lançado tipicamente aos tempos modernos, no auge do contemporâneo, na epopeia cibernética. Já no iTunes correu para o topo da lista dos downloads e não por menos, lá manteve-se.

O álbum traz pigmentos do cotidiano nas canções, arrisca algum samba-canção em certas passagens e tasca numa música a seguinte e corriqueira frase: “Quem te pega, quem te paga e quem te come, tudo no iPhone”.

De um clássico de Chico Buarque nasceu “Resposta da Rita”. A pedido de Maria Bethânia, Ana compôs uma resposta peituda para “A Rita”, de Buarque e convidou-o a gravarem juntos. Por cima do resmungo poético de Chico, Ana torna saliente as retrucas da intriga canção. É linda!
“Combustível” já foi parar na novela das nove, e “Luz Acesa” na novela das seis. O campo das novelas sempre foi um gigante negócio pra música, e espalha-se entre um público que muitas vezes não se permite ligar o rádio ou buscar um CD.

Ana Carolina reinventa um mergulho numa estética jovial, o que é característica de seu público, mas não deixará de conquistar nova gente. Suas nadadeiras estão bem afiadas e certamente fará um show ainda melhor do que o CD.

O trabalho saiu de uma parceria com o músico Edu Krieger e o coprodutor Alê Siqueira. A hashtag (#) que antecede as iniciais de Ana Carolina no título do álbum é fruto da mesma inspiração que datilografa as canções. Ana passa horas na internet, velejando pelo Twitter... esse vício adentrou ao vício da música!

Ana mete a mão em tudo que envolve seu trabalho, participa-se inteiramente em todos o processos de criação e deixa evidente que em “#AC” não ficou apenas à beira da piscina alisando a água fria com a ponta dos dedos. Tá na cara que ela pulou de uma vez só, e sem sentir o gelo da água soltou o timbre marcante lá embaixo mesmo. O mercado fonográfico é isso aí!

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