Não
vou dizer que Beth está de volta ao samba, porque do samba ela sempre foi. Beth
voltou ao nosso meio, aos nossos olhos e aos nossos ouvidos. A madrinha do
samba e a atual detentora da coroa do gênero volta com o samba na rua e a
estampar nos palcos as iluminadas cores da Mangueira. Beth já pensa no próximo
DVD e tem mais é que pensar, a saudade estava batendo mais do que os tantãs.
Parece
até ironia, duas das nossas mais gloriosas sambistas ficarem impedidas de
baterem as sandálias no chão. Beth Carvalho e Elza Soares já podem cantar,
ainda sentadas. O bom é que estão de volta à arena de suas vidas. Ao posto e ao
congá que lhes foi batizado: o palco!
Beth
com seu cavaquinho e a feminilidade arranhada nas cordas fazem renascer Nelson
Cavaquinho sob a genialidade de Cartola. Como se arrastasse a barra da saia de
Clara Nunes na terra de Angola e batesse as solas no chão de Clementina, Beth
abre a voz com a mesma força que a Mangueira desbrava a avenida. Beth é o
samba!
Como
se búzios fossem chacoalhados nas mãos de uma mãe e os orixás ouvissem os urros
dos filhos, num terreiro lavado por água de cheiro e manjericão, Beth da o tom
aos batuques e não os batuques a ela.
Um
ano internada, como se aguardasse os amigos no botequim, onde batemos com as
mãos na mesa, e o dedo na caixa de fósforo. Onde apoia-se a água que sua do
copo de cerveja e o camarão escorre seu óleo. Na tábua que bate a carta e
arranham-se os naipes e entre as pernas agarram-se o timbau e os tantãs. Beth
fez do quarto a sala do samba, a extensão de sua casa. Como é o palco!
A
mesma Beth que passou o óleo do batismo e alfazema que abre os caminhos pra
grandes nomes do samba. A mesma Beth que regravou os sambas na terra sagrada da
Bahia e rebuscou os sambas cariocas descendo morros e deixando mais rosa a
avenida verde da Sapucaí. Beth ainda é Beth. Atrás de Beth Carvalho “só não vai
quem já morreu”!
Beth,
você fez tanta falta! Tínhamos que repetir mil vezes os seus discos e recordar,
quase que diariamente, sua imagem nos vídeos da internet.
O
samba voltou ao tom correto. Temos a grande voz e a suntuosa presença outra
vez. E essa saudade sua só vai nos fazer querê-la ainda mais nos palcos.
Hoje
não escrevo como crítico. Apenas exprimo a importância de Beth Carvalho para a
música.
O
samba sem Beth Carvalho é como um rádio desligado, um violão sem cordas, um
pandeiro sem o couro. Não é nada!
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